25 de abril de 2007

É uma hipocrisia danada

Ontem, dia 23, o presidente Lula lançou o PDE -- Plano de Desenvolvimento da Educação, apelidado de "PAC da Educação".

Em uma de suas falas, o presidente -- como sempre -- acusou "os governos anteriores" de não terem feito nada pela educação. E ele, agora, no alto de sua bondade para com o povo brasileiro, é o único que dá importância à educação e, por isso, vai investir R$ 8 bilhões até 2010.

Duas incongruências no discurso do presidente:

  1. "Governos anteriores": será que ele inclui seu próprio governo anterior? Pois no primeiro mandato, Lula não fez nada pela educação.
  2. Se ele está tão preocupado assim com a educação, por que demitiu Cristovam Buarque no início de 2004? Cristovam pedia, à época, tal montante de recursos para a educação básica -- foco central do PDE.

Veremos se o PDE vai mesmo sair do papel.


Uma grande aventura

(Original aqui)

Os monges do deserto afirmavam que era necessário deixar a mão dos anjos agir. Para isto, de vez em quando faziam coisas absurdas - como falar com flores ou rir sem razão. Os alquimistas seguem os “sinais de Deus”; pistas que muitas vezes não fazem sentido, mas que terminam levando a algum lugar.

Diz o mestre:

Não tenha medo de ser chamado de louco - faça hoje alguma coisa que não combina com a lógica que você aprendeu. Contrarie um pouco o comportamento sério que lhe ensinaram a ter. Esta pequena coisa, por menor que seja, pode abrir as portas para uma grande aventura - humana e espiritual.


É uma vergonha

É uma verdadeira vergonha o que diversos canais de notícias estão fazendo/falando sobre o finado Boris Ieltsin, ex-presidente da Rússia.

Tenho lido diversos textos sobre o assunto (afinal, todos sabem que a Rússia é uma das minhas paixões), e tenho visto que a grande maioria destaca como ponto positivo o fato de que ele instaurou uma economia de mercado e a democracia liberal no país. Ao invés de dizerem isso, as reportagens deveriam dizer que Ieltsin, na verdade, instaurou uma economia de rapina (chegando a vender empresas estatais por 10% ou 15% do valor original delas, em suas duas fases de privatização) e instaurou uma pseudo-democracia liberal, já que a população passou a ter o "direito" a votar, mas não o de efetivamente decidir (a própria reeleição do Ieltsin, em 1996, que o diga).

As reportagens exaltam: "a morte do primeiro presidente eleito democraticamente". Mas não destacam o fato de que, na verdade, o próprio Ieltsin deu um semi-golpe de estado, já que ele havia sido eleito em 1990 como presidente da Rússia MAS da Rússia que fazia parte da União Soviética. Fazendo uma analogia ao Brasil, seria como se hoje o Brasil se desmembrasse e o Aécio Neves se tornasse o presidente do país chamado Minas Gerais. Ele foi eleito para presidente? Não, foi eleito para governador. Com Ieltsin foi a mesma coisa: ele foi eleito para o cargo de presidente (que, à época, poderia ser associado ao de um governador aqui no Brasil) da Rússia, mas ainda sujeito à legislação nacional do país (a União Soviética). Quando a URSS deixou de existir, ele simplesmente se manteve no cargo por "hereditariedade", e não sendo eleito pelo povo. Sua real eleição só aconteceu em 1996, em um processo considerado extremamente manipulado por observadores internacionais.

Há diversas outras coisas a serem ditas sobre ele, e que devido ao avançado da hora, não o farei hoje (amanhã tenho de dar aula cedo). Mas acho importante destacar aqui o fato de que Ieltsin não foi este governante tão "bonzinho" que a mídia está tentando mostrar. Ao contrário, foi um governante que, devido à corrupção desenfreada, fez o país chegar à bancarrota em 1998, vendeu as indústrias nacionais a preço de banana e fez com que a qualidade de vida dos cidadãos russos, que, em alguns aspectos, já não era muito boa durante o período soviético, ficasse ainda pior.


23 de abril de 2007

Morre o ex-presidente da Rússia Boris Yeltsin

Notícia foi confirmada pelo Kremlin nesta segunda-feira (23).
Ele tinha 76 anos e morreu de 'falência cardíaca', segundo autoridades russas.

Morreu nesta segunda-feira (23) o ex-presidente da Rússia Boris Yeltsin, aos 76 anos, de falência cardíaca. Yeltsin foi o primeiro chefe de Estado russo depois da queda da União Soviética. Ele sofreu uma falência vascular e coronariana e morreu no Hospital Central de Moscou.

Segundo informações dadas pelo Kremlin, Yeltsin morreu "repentinamente". Ele governou o país de 1991 até 1999.

Yeltsin vai ser lembrado como uma figura contraditória. Ele participou do progresso de abertura política que levou ao fim do comunismo, mas, uma vez no poder, adotou atitudes despóticas e acabou levando a Rússia para uma debilitada situação econômica, com aumento do desemprego e da inflação.

Yeltsin começou a aparecer no cenário internacional quando a política de abertura promovida por Mikhail Gorbachev, o presidente da então União Soviética, ficou ameaçada.

O golpe planejado pela linha dura do exército comunista, em 1991, levou o povo às ruas de Moscou. Mulheres e homens de todas as idades enfrentaram os tanques em cenas impressionantes.

Ele liderou a resistência popular que acabou mudando o mapa do leste europeu. A tentativa de golpe tirou Gorbachev e a "perestroika" (reforma econômica) de cena, mas consolidou o desejo dos russos pela democracia.

Depois do colapso da União Soviética, Yeltsin se tornou o primeiro presidente eleito pelo voto democrático na Rússia, a república mais importante da antiga potência comunista. O novo governo abriu as portas do país ao capitalismo neoliberal. Mas a liberalização da economia e a democratização política acabaram custando caro.

Com Yeltsin, os russos conheceram o desemprego e a inflação. A corrupção minou as estruturas do Estado. A fome passou a atingir todas as categorias sociais e todos os setores da vida russa. Além da insatisfação popular, ele enfrentou uma batalha política nos primeiros tempos do seu governo.

Em 1993, a oposição se amotinou no parlamento, num desafio ao presidente. Sob o comando de Yeltsin, os tanques bombardearam o prédio.

No final do mesmo ano, Yeltsin não hesitou em lançar uma violenta ofensiva contra os separatistas da República da Chechênia.

A postura corajosa convivia com atitude debochada. Yeltsin gostava de beber e cometia gafes de todos os tipos. Diante das câmeras de tevê, ele beliscava secretárias. Ironizava a imprensa e fez o presidente dos EUA, Bill Clinton, soltar sonoras gargalhadas numa cena jamais imaginada durante a Guerra Fria.

Saúde

A saúde era outro ponto fraco de Yeltsin. Ele foi parar no hospital várias vezes. E parecia não ter forças para governar.

Ainda assim, com o apoio da comunidade internacional, conseguiu se reeleger. Dias antes da eleição, ele foi internado numa casa de repouso nos subúrbios de Moscou, só apareceu para votar e foi internado em seguida para uma série de exames. A saúde do número 1 do Kremlim era mais grave do que se imaginava e ele sofreu uma operação cardíaca, mas se recuperou e voltou a comandar o país. Mas por pouco tempo.

Para os eleitores, Yeltsin sempre dançou conforme a música. Em um comício durante a campanha da reeleição, ele mostrou ter fôlego para enfrentar todos os tipos de situação, até mesmo dançar rock.

Nos últimos tempos, além dos constantes problemas de saúde, Yeltsin passou a enfrentar o processo de degradação econômica e social do país. A Duma, Câmara dos Deputados russa, pediu o impeachment do presidente. O país foi à bancarrota e teve que recorrer ao fundo monetário internacional várias vezes.

Desacreditado pelas potências que o ajudaram a manter o poder, e constantemente afastado do Kremlin por conta da saúde frágil, Yeltsin acabou dividindo o governo com o ex-chefe da KGB, Yevgueny Primakov.

Em fevereiro de 1999, Yeltsin ignorava os médicos e abandonava o tratamento de uma úlcera para comparecer ao enterro do Rei Hussein, da Jordânia. A idéia era mostrar à comunidade intenacional que estava recuperado. Mas antes do fim do enterro ele foi embora aparentando mal-estar.

O presidente que foi às ruas corajosamente em defesa da democratização da rússia terminou seus dias abatido pelo desânimo de uma missão impossível: devolver a grandeza ao país dos czares.

Yeltsin nasceu em 1º de fevereiro de 1931, em uma família de camponeses, perto da cidade de Yekaterinburgo, nos montes Urais, e se formou engenheiro antes de entrar para a política no Partido Comunista, aos 37 anos.

Em junho de 1991, ele foi eleito o primeiro presidente da Federação Russa e, em agosto do mesmo ano, liderou os democratas a desafiar a junta de generais e burocratas do governo que depuseram Gorbachev em um golpe.

Foi reeleito em 3 de julho 1996. No entanto, desacreditado pela crises financeiras do verão (hemisfério norte) de 1998, Yeltsin renunciou repentinamente antes do fim de seu mandato, no dia 31 de dezembro de 1999.

Estados Unidos

Chamando Yeltsin de "figura histórica", a Casa Branca lamentou a morte do ex-presidente russo e ofereceu suas condolências à viúva.

"Foi uma figura histórica durante um tempo de grandes mudanças e desafios para a Rússia. Nossas condolências vão para a senhora Yeltsin, sua família e o povo da Rússia", disse o porta-voz da Segurança Nacional, Gordon Johndroe.

O último presidente soviético, Mikhail Gorbachev, esteve entre os primeiros a expressar condolências pela morte daquele que foi seu ex-adversário político.

"Dou minhas profundas condolências à família de um homem em cujos ombros repousaram muitas grandes obras para o bem do país e erros sérios: um trágico destino", disse o ex-líder soviético, citado pela agência Interfax.


Yeltsin ajudou a empurrar a União Soviética para o abismo

(Por William Waack -- Original aqui)

Lembro-me bem de duas cenas que vivi com Boris Yeltsin. A primeira em 1992, numa escadaria dentro do Kremlin. O presidente russo descia os degraus meio trôpego, amparado por dois guarda-costas, quando se deparou com um grupinho de repórteres estrangeiros. Incitados por nós, os tradutores perguntaram ao presidente se ele estava bêbado. “Cheira aqui”, respondeu Yeltsin, abrindo a boca e apontando lá para dentro.

Outra cena inesquecível foi a da despedida das tropas do Exército Vermelho da então Alemanha Oriental. Era verão, fim de agosto, fazia muito calor e Yeltsin tinha tomado, digamos assim, alguns refrescos. Num jardim próximo à entrada principal da imponente embaixada russa, na Unter den Linden, ele viu a banda militar, pronta para executar os hinos da Rússia e da Alemanha. Camisa arregaçada, gravata frouxa, sem paletó, Yeltsin começou a reger a banda – para enorme constrangimento dos políticos alemães, muito preocupados em ver a solenidade do momento indo vodca abaixo.

Os russos, com seu peculiar espírito de humor, costumavam dizer que só mesmo Yeltsin reunia condições para mandar pra valer no Kremlin. Afinal, era um cabeludo, e a história recente do país ensinava que a alternância se dava entre carecas e cabeludos: Lênin (calvo quase careca), Stálin (densos cabelos negros), Kruschev (careca brilhosa), Brejnev (até as sobrancelhas eram grossas), Andropov (calvo até as orelhas), Chernenko (muitos cabelos brancos), Gorbachev (careca com mancha). Para tornar a piada um fato, é só observar que Vladimir Putin, o sucessor de Yeltsin, é careca.

Yeltsin sabia que o experimento de Gorbachev terminaria numa implosão. Mas decidiu não aguardá-la: foi um dos políticos de maior destaque no esforço coletivo de empurrar a União Soviética para o abismo. Não se pode dizer que ele tivesse, digamos, uma clara visão de futuro e de mundo. Era um tático, um dirigente acostumado a lidar com viradas súbitas de vento e a elas se adaptar.

Mesmo assim, subestimou dois fatores importantes. O primeiro foi o peso e a inércia de um sistema – o da economia de comando – que até hoje está bem dentro da cabeça de milhões de russos. Instituições políticas que acompanham uma economia de mercado, nas quais ele parecia acreditar com certa ingenuidade, não se constroem de um dia para o outro. Yeltsin mandou tanques bombardearem um Parlamento, em outubro de 1993, que lhe parecia excessivo em sua oposição à Presidência.

O segundo foi a impressionante rapidez com que o sistema de máfias e oligarquias, apenas mal encoberto pelo regime de partido único, tomou conta da Rússia num espetáculo único de rapinagem da propriedade “pública” (na verdade, já nas mãos de diversos grupos). Yeltsin presidiu sobre um período de acumulação primitiva de capital talvez não visto na história da Europa moderna.

Foi também quem decidiu enterrar, mais do que simbolicamente, um passado longínquo, mas sempre presente. Yeltsin admitiu que a família real russa havia sido exterminada por ordens de Lênin e mandou que as ossadas do Czar, sua mulher e seus filhos, descobertas em Yekatirenburg (onde Yeltsin fez boa parte da própria carreira política), fossem sepultados com grandes honras em São Petersburgo. Foi, por assim dizer, o funeral formal também do regime que ele ajudou a destruir.

Yeltsin parece ter sido menos ladrão do que muitas das figuras que o cercaram, inclusive alguns dos principais promotores de uma economia de mercado que enriqueceu inicialmente apenas a bem poucos. Ele cultivava uma genuína desconfiança em relação ao “aparato”, especialmente seus serviços secretos. É provável que aí tivesse cometido seu principal erro.

Lembro-me, ainda dos tempos de Yeltsin, de conversas em Moscou com integrantes e ex-integrantes do “aparato” e dos “órgãos”, como era conhecida a teia de serviços secretos. Yeltsin era por eles criticado não pela dissolução da URSS – que os inteligentes da KGB sabiam ser inevitável – mas, sim, por não tê-los imediatamente aproveitado no período após a implosão. Afinal, queixava-se um desses ex-integrantes, um coronel da KGB com mais de 30 anos de serviços à pátria, “só nós sabemos como administrar este imenso país, somos a elite de gerenciamento”.

Putin foi a resposta deles a Yeltsin.


Morre o ex-presidente da Rússia Boris Yeltsin

Segundo informações dadas pelo Kremlin, Yeltsin morreu "repentinamente". Ele, que foi o primeiro presidente eleito do país após o fim da União Soviética, governou de 1991 até 1999.

Yeltsin vai ser lembrado como uma figura contraditória. Ele participou do progresso de abertura política que levou ao fim do comunismo, mas, uma vez no poder, adotou atitudes despóticas e acabou levando a Rússia para uma debilitada situação econômica, com aumento do desemprego e da inflação.

Yeltsin começou a aparecer no cenário internacional quando a política de abertura promovida por Mikhail Gorbachev, o presidente da então União Soviética, ficou ameaçada.

O golpe planejado pela linha dura do exército comunista, em 1991, levou o povo às ruas de Moscou. Mulheres e homens de todas as idades enfrentaram os tanques em cenas impressionantes.

Ele liderou a resistência popular que acabou mudando o mapa do leste europeu. A tentativa de golpe tirou Gorbachev e a "perestroika" (reforma econômica) de cena, mas consolidou o desejo dos russos pela democracia.

Depois do colapso da União Soviética, Yeltsin se tornou o primeiro presidente eleito pelo voto democrático na Rússia, a república mais importante da antiga potência comunista. O novo governo abriu as portas do país ao capitalismo neoliberal. Mas a liberalização da economia e a democratização política acabaram custando caro.

Com Yeltsin, os russos conheceram o desemprego e a inflação. A corrupção minou as estruturas do estado. A fome passou a atingir todas as categorias sociais e todos os setores da vida russa. Além da insatisfação popular, ele enfrentou uma batalha política nos primeiros tempos do seu governo.

Em 1993, a oposição se amotinou no parlamento, num desafio ao presidente. Sob o comando de Yeltsin, os tanques bombardearam o prédio.

No final do mesmo ano, Yeltsin não hesitou em lançar uma violenta ofensiva contra os separatistas da República da Chechênia.

A postura corajosa convivia com atitude debochada. Yeltsin gostava de beber e cometia gafes de todos os tipos. Diante das câmeras de tevê, ele beliscava secretárias. Ironizava a imprensa e fez o presidente dos EUA, Bill Clinton, soltar sonoras gargalhadas numa cena jamais imaginada durante a Guerra Fria.

Saúde

A saúde era outro ponto fraco de Yeltsin. Ele foi parar no hospital várias vezes. E parecia não ter forças para governar.

Ainda assim, com o apoio da comunidade internacional, conseguiu se reeleger. Dias antes da eleição, ele foi internado numa casa de repouso nos subúrbios de Moscou, só apareceu para votar e foi internado em seguida para uma série de exames. A saúde do número 1 do Kremlim era mais grave do que se imaginava e ele sofreu uma operação cardíaca, mas se recuperou e voltou a comandar o país. Mas por pouco tempo.

Para os eleitores, Yeltsin sempre dançou conforme a música. Em um comício durante a campanha da reeleição, ele mostrou ter fôlego para enfrentar todos os tipos de situação, até mesmo dançar rock.

Nos últimos tempos, além dos constantes problemas de saúde, Yeltsin passou a enfrentar o processo de degradação econômica e social do país. A Duma, Câmara dos Deputados russa, pediu o impeachment do presidente. O país foi à bancarrota e teve que recorrer ao fundo monetário internacional várias vezes.

Desacreditado pelas potências que o ajudaram a manter o poder, e constantemente afastado do Kremlin por conta da saúde frágil, Yeltsin acabou dividindo o governo com o ex-chefe da KGB, Yevgueny Primakov.

Em fevereiro de 1999, Yeltsin ignorava os médicos e abandonava o tratamento de uma úlcera para comparecer ao enterro do Rei Hussein, da Jordânia. A idéia era mostrar à comunidade intenacional que estava recuperado. Mas antes do fim do enterro ele foi embora aparentando mal-estar.

O presidente que foi às ruas corajosamente em defesa da democratização da rússia terminou seus dias abatido pelo desânimo de uma missão impossível: devolver a grandeza ao país dos czares.

Estados Unidos

Chamando Yeltsin de "figura histórica", a Casa Branca lamentou a morte do ex-presidente russo e ofereceu suas condolências à viúva.

"Foi uma figura histórica durante um tempo de grandes mudanças e desafios para a Rússia. Nossas condolências vão para a senhora Yeltsin, sua família e o povo da Rússia", disse o porta-voz da Segurança Nacional, Gordon Johndroe.


21 de abril de 2007

O poder da mídia

Recentemente foi divulgado o fato de que parte da rede McDonald's na América Latina foi vendida a um grupo argentino. As 544 lojas no Brasil também foram vendidas. Um dos sócios minoritários que comprou as lojas é uma empresa de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central no período FHC.

Onde entra a mídia nisso? Manchete do portal G1 ontem: "Ex-presidente do Banco Central compra rede McDonald's".

Precisava de tanto?


Sobre a China

Ontem coloquei aqui uma notícia falando sobre o crescimento chinês no primeiro trimestre deste ano, de 11,1%, e como isto afetou, dois dias atrás, o mercado financeiro internacional. A bolsa de Shanghai, naquele dia, caiu 4,5%, levantando um certo medo inicial de que a queda do final de fevereiro se repetisse (o que, felizmente, não aconteceu).

O que surpreende é o seguinte: os chineses não param! Nos últimos 25 anos, em média, o crescimento anual do PIB foi de 9,4%. Como é sabido, é tal crescimento que faz co que o mundo esteja, nos últimos 5 ou 6 anos, tendo um crescimento constante -- moderado, mas constante, e com perspectivas de continuidade.

O curioso é ver as relações de poder entre o "Ocidente" (englobando aí uma multiplicidade de idéias) e a China, claramente baseadas na idéia de "dois pesos, duas medidas". Os EUA se colocam contrários a regimes ditatoriais tais como o cubano, o norte-coreano e o iraquiano no período de Sadam Hussein. Mas não falam nada (ou falam muito pouco) sobre a China. Por outro lado, os chineses são extremamente discretos ao criticarem os EUA; preferem ficar na deles, quietinhos, "comendo quieto". E que comilança! Em 20 anos, de 1981 a 2001, o número de pessoas abaixo da linha de pobreza caiu de 53% para 8% da população.

O que faz a China crescer tanto? É o chamado "socialismo de mercado", eufemismo para a situação política e econômica chinesa: façam o que quiserem na esfera da economia, mas não metam o bedelho na esfera política. O Partido Comunista Chinês (PCC -- não confundam as siglas!) mantém o controle político do país de maneira centralizada e, em conseqüência, a economia cresce e muito (já foi provado que países politicamente fechados crescem mais do que democracias).

A questão que surge é: será que é bom ter liberdade e crescer 3% ao ano, ou é melhor ter certas liberdades suprimidas e crescer 10% ao ano?


Sobre a reeleição

Há uns dias atrás, coloquei algumas reportagens falando sobre a questão da reeleição, que, ao meu ver, foi o tema político da semana. Diversos jornais e revistas debateram as idéias que têm surgido ultimamente neste sentido, idéias estas sintetizadas na emenda constitucional proposta pelo deputado Jutahy Magalhães (PSDB-BA).

De um lado, a favor do fim da reeleição e da extensão do mandato presidencial de 4 para 5 anos, estão o presidente Lula, o governador de MG, Aécio Neves (PSDB), e o governador de São Paulo, José Serra (também PSDB). Demonstração clara de que, como tenho dito nas aulas, quase nenhum partido e/ou político tem fidelidade ideológica, e isto por um motivo simples já antecipado por Maquiavel há quase 500 anos: interessa ao político apenas a manutenção do poder, e nada mais.

De outro lado, contrário à reeleição e à extensão do mandato presidencial, vi apenas o ex-presidente Fernando Henrique se manifestar -- em termos de figuras públicas (caso eu esteja errado, por favor me corrijam).

Os principais argumentos a favor do fim da reeleição são os seguintes: com a reeleição, o político não pensaria em governar, e sim em obter apoio para poder ser reeleito e, no segundo mandato, para conseguir eleger aquele que ele indicar. Além disso, o político teria mais facilidade ao tentar se reeleger por ter em mãos a máquina pública, o que já lhe daria uma grande vantagem ao concorrer com os demais; acabando-se com a reeleição, faz-se com que todos estejam em igualdade de condições. Por fim, sem reeleição, necessariamente deveria haver renovação política, com a possibilidade de surgimento de novas lideranças, evitando a "ossificação" de velhas "raposas políticas".

Já os argumentos a favor da reeleição são os seguintes: a reeleição permite o estabelecimento de uma política pública de longo prazo, que permita que determinadas ações sociais se enraizem na sociedade, evitando-se o tão conhecido cancelamento de programas sociais do governo anterior tão logo um novo governo assuma. A reeleição permite que o próprio governante-candidato seja avaliado: se a população não estiver satisfeita com seu trabalho, escolhe-se outro, e se gostar, o mantém no cargo. Além disso, argumenta-se que 4 anos seja muito pouco, em termos políticos, para se fazer reais mudanças na sociedade.

Claro que estes são alguns dos argumentos teóricos. Na prática a coisa é um pouco diferente: voltamos novamente a Maquiavel e a busca e/ou manutenção do poder a qualquer custo.

Lula, Aécio e Serra estão unidos por motivos diferentes. O primeiro lança o discurso "bonzinho" dizendo que, "historicamente", sempre foi contra a reeleição, e que não vai mudar seu discurso agora. Até dá vontade de perguntar: se o Lula sempre foi contra a reeleição, por que então se candidatou no ano passado? "Ah, as bases queriam..." Bom, não vou entrar no mérito da questão aqui. Mas, para além de argumentos "bonzinhos", o fato é que o fim da reeleição beneficiaria o atual presidente. Na pior das hipóteses, e supondo-se que ele mantenha a popularidade que tem agora (e que surpreende a todos), ele conseguiria eleger seu sucessor em 2010 e poderia voltar em 2015. Na melhor das hipóteses, o próprio Lula se candidataria em 2010 mesmo, e teria um terceiro mandato de forma legal. Já para os dois do PSDB, o interesse também não é tão "bonzinho": quem não quer um ano a mais na presidência? E, com a divisão interna do PSDB entre os dois (qual será o candidato em 2010?), a proposta do fim da reeleição cai como uma luva: um apóia o outro em 2010, e o outro apóia o um em 2015. E no final todos vivem felizes para sempre.

Já FHC se coloca contra o fim da reeleição por questões mais teóricas, mas com repercussões bem práticas. Publicou-se nos jornais o fato de que Fernando Henrique teme que a emenda acabe abrindo espaço para a segunda reeleição, ou seja, que uma eventual emenda constitucional acabe permitindo o candidato se candidatar a um terceiro mandato. O que, legalmente falando, é plausível: se a constituição for emendada até um ano antes da eleição, tudo pode acontecer.

Pessoalmente, sou favorável à reeleição e contrário a todo este debate. Não apenas pelos argumentos já colocados anteriormente, mas principalmente por algo que o ex-presidente FHC disse: uma nova mudança de regras ante a aproximação de novas eleições poderia criar um clima de instabilidade. Vejam a história política do Brasil nos últimos 20 anos, período da Nova República iniciado com a redemocratização em 1985. Primeiro, morre Tancredo, assume Sarney. Cria-se uma nova constituição. Primeiro presidente eleito pelo povo em 29 anos sai do cargo no meio do mandato. Mudança da constituição em 1997, logo antes das eleições, permitindo-se a reeleição. Lula sendo eleito em 2002 (alguns consideram que só aí o Brasil realmente fez sua transição para a democracia). E agora, novamente com as perspectivas de novas eleições (daqui a 4 anos!), já se pensa em mudar a constituição novamente... Ou seja, dá a impressão que os deputados mudam a constituição na hora que querem apenas para satisfazer seus interesses e atingir seus objetivos, o que é extremamente negativo para a imagem legal do Brasil. Mantendo-se a reeleição e o mandato de 4 anos, mantém-se a estabilidade. Só não sabemos se os objetivos políticos dos principais envolvidos será mantido também.


20 de abril de 2007

Pensamento do dia

"O amor é igual ao capim: ele nasce, você cuida, ele cresce, verde e forte... E aí vem uma vaca e acaba com tudo."


19 de abril de 2007

Os caras não páram nunca!

Economia da China cresce 11,1% no primeiro trimestre
A inflação ficou em 2,7% nos primeiros três meses do ano.
O saldo comercial do país praticamente dobrou no primeiro trimestre.

A economia chinesa voltou a registrar um crescimento de dois dígitos, desta vez no primeiro trimestre de 2007, com uma alta de 11,1%, anunciou nesta quinta-feira (19) o Instituto Nacional de Estatísticas do país.

Em 2006, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) chinês foi de 10,7% de janeiro a dezembro, o que representou o quarto ano consecutivo de crescimento de dois dígitos e o maior em 11 anos.

Apesar das autoridades chinesas demonstrarem satisfação com o contínuo desenvolvimento da economia nacional, também desejariam ter um maior controle sobre o crescimento - tradicionalmente determinado pelos investimentos e as exportações -, com uma orientação voltada ao consumo.

Como em todos os anos, Pequim fixou um objetivo prudente de 8% de aumento do PIB, que deve ser novamente superado, segundo todas as estimativas, incluindo a de organismos internacionais como o Banco Mundial (Bird).

Banco Mundial
O Bird prevê um crescimento de 10% para 2007, antes de uma desaceleração para 9,5% em 2008, por causa das políticas mais rígidas adotadas por Pequim, em particular no que diz respeito ao ajuste monetário (juros mais altos).

Outro dado que preocupa é a inflação, que ficou em 2,7% nos primeiros três meses do ano, mas apenas em março chegou a 3,3%, contra 1,5% em todo o ano de 2006 e 1,2% entre janeiro e março do ano passado.

O saldo comercial do país praticamente dobrou no primeiro trimestre em comparação com o mesmo período em 2006 (US$ 46,44 bilhões). Após a divulgação dos índices, o primeiro-ministro chinês Wen Jiabao pediu a adoção de medidas eficazes para controlar o crescimento exagerado do excedente comercial do país.

Wen também se pronunciou a favor de medidas para impedir que o importante crescimento da economia não produza um superaquecimento, segundo um comunicado do governo.


Pensamento do Dia

"Bebo porque sou egocêntrico: gosto de ver o mundo girando ao meu redor."


O manifesto do Partido Comunista

Por algum motivo que não sei qual é, resolvi colocar aqui um breve resumo do livro "O manifesto do Partido Comunista", de Karl Marx. Devido ao avançado da hora, não farei uma apresentação sobre as circunstâncias em que o livro foi escrito; isto pode ser obtido em uma pesquisa simples do Google.

Vou ver se amanhã ou depois escrevo mais sobre a reeleição, tema que tem dominado o debate político da semana.

No início da Revolução Industrial as condições de vida dos operários eram miseráveis. Há relatos que dizem que era comum patrões obrigarem os operários, inclusive mulheres e crianças, a cumprirem jornada diária de trabalho de quinze ou mais horas, sem direito a benefícios ou qualquer assistência. Erros e faltas eram severamente punidos. Crianças eram regularmente chicoteadas no trabalho. Em 1769 estabeleceu-se, por lei, a pena de morte ao operário que danificasse uma máquina. Mas por quê isso estava acontecendo? Para tentar explicar essa degradante situação, surgiram pensadores que concluíram que ela não era decorrente da Revolução Industrial em si, mas sim do novo tipo de sociedade que surgiu com ela: a capitalista. Concluíram também que o capitalismo é totalmente injusto e irracional e o grande problema estava na propriedade privada. Os donos das terras, minas, bancos, empresas só eram ricos porque exploravam o trabalhador. Pensemos o seguinte: o dono de uma empresa ganha muito mais que seus 1000 funcionários, mas será que ele trabalha mais do que eles e merece receber mais? Com certeza não. A solução seria acabar com a propriedade privada e instituir a coletividade. Não haveria o meu e o seu, mas sim o nosso. Todos trabalhariam e repartiriam o fruto de seus esforços. Não haveria empregado, patrão ou desigualdades sociais. Todos os homens teriam iguais chances de estudo e trabalho. A humanidade finalmente entraria numa fase de harmonia, na qual todos seriam socialmente iguais e absolutamente livres. Essa sociedade seria chamada de comunista.

Em 1848 mudou-se completamente o método de análise da sociedade, da luta de classes e da própria construção de uma sociedade socialista. Em O Manifesto do Partido Comunista, Karl Marx e Friedrich Engels formularam uma nova concepção da História.

Para os dois pensadores, a burguesia moderna nasceu das cinzas da sociedade feudal e, ao invés de remover as disputas de classe (objetivo pelo qual a burguesia foi criada), fez o contrário: manteve no mínimo o mesmo esquema de dominação, e quase sempre piorou ainda mais a situação dos proletários.

Por burguesia compreende-se a classe dos capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção social, que empregam o trabalho assalariado. Por proletariado compreende-se a classe dos trabalhadores assalariados modernos que, privados de meios de produção próprios, vêem-se obrigados a vender sua força de trabalho para poder existir.

Marx diz também que a burguesia, além de dominar os proletários de seu próprio país, está também invadindo outros países, tentando dominar seus proletários. Isto ocorre porque a burguesia deseja obter lucros cada vez maiores, e se a população do seu país já não consegue absorver os bens produzidos, então a solução é tentar vender estes bens em outros lugares do mundo. Vale notar que esta internacionalização dos bens refere-se tanto à capacidade material quanto à capacidade intelectual.

Com o objetivo de dominar e explorar os cidadãos, a burguesia centralizou os meios de produção, concentrou a propriedade em poucas mãos e aglomerou as populações. Assim, províncias que antes viviam isoladamente, ou no máximo com um pequeno contato com outras, foram unidas, sendo regidas por uma lei, por um só governo, um só interesse nacional.

A burguesia utilizou o capitalismo para chegar à perfeição material através da superprodução. Contudo, como absorver esta superprodução? Através da conquista de novos mercados e da exploração mais intensa dos mercados antigos. Novamente, caímos no problema da exploração do proletariado pela burguesia.

O operário transforma-se em um acessório para a máquina, e seus salários decrescem à medida em que seu trabalho torna-se mais e mais enfadonho. O custo do operário reduz-se aos meios de manutenção básicos para seu sustento e perpetuação.

Por mais que as pessoas pensem que os sindicatos e as uniões trabalhistas ajam em benefício da classe operária, quem está por trás de tais atitudes é a classe burguesa. A burguesia utiliza a união proletária em seu próprio favor, fazendo com que esta união acabe com os restos da monarquia, com os proprietários rurais, com os pequenos burgueses. Estes, estando derrotados, não irão oferecer resistência ao ímpeto dominador da classe burguesa.

Chegará um momento em que, devido a esta manipulação do proletariado por parte da burguesia para atingir os objetivos desta última, os primeiros irão ter condições intelectuais de unirem-se contra a burguesia. Na hora decisiva, a ação será estritamente violenta.

A classe média não pode ser considerada como uma classe proletária porque defende seus interesses próprios, e não os do proletariado. A burguesia atrapalha a classe média, e é por isto que esta luta contra aquela. A classe média é, portanto, conservadora, e não revolucionária. Quando é revolucionária, luta não pelos seus interesses atuais, mas por seus interesses futuros.

Os comunistas, portanto, aparecem como a elite dirigente dos operários, com o objetivo de transformá-los em uma classe com representatividade, derrubar a supremacia burguesa e conquistar o poder político.

O objetivo primordial dos comunistas é destruir a propriedade privada. Isto porque é esta propriedade que faz com que a burguesia seja cada vez mais gananciosa, exigindo mais e mais dos operários.

Marx acha que os operários estão em um círculo vicioso: o trabalho assalariado não cria propriedade para o proletário, e sim capital; este capital explora o trabalho assalariado, que só pode aumentar sob a condição de produzir novo trabalho assalariado, a fim de explorá-lo novamente.

O problema da propriedade privada é que ela pertence a um décimo da população. E é justamente por não existir aos nove décimos que ela pertence ao último décimo. Desta forma, o comunismo quer não expropriar alguém de suas posses, mas apenas destruir o poder de escravizar o trabalho alheio por meio desta atual apropriação.

Os operários não têm pátria. Isto significa dizer que as condições de exploração são iguais em qualquer parte do mundo, pois as idéias dominantes de um local são as idéias da classe dominante.

As etapas para atingir-se o “ápice” socialista seriam: 1º) o advento do proletariado como classe dominante; 2º) arrancar pouco a pouco todo o capital da burguesia, transferindo-o ao Estado; 3º) remoção dos antagonismos de classe, pois, existindo-se apenas a classe operária, já no poder, não haveria outras classes; 4º) exclusão do poder político, que nada mais é do que o poder organizado de uma classe para a opressão de outra.


18 de abril de 2007

A cortina de fumaça da reeleição

(Original aqui)

Realmente não entendo como se pode fazer política para favorecer o adversário, que todo dia te trata como inimigo, e não respeita o pacto democrático da Constituição de 1988. Como é possível que na base do governo, e mesmo no PT, alguns apóiem a tese do fim da reeleição, para facilitar um acordo entre José Serra e Aécio Neves em 2010? Ou será que não é isso?

O que não significa, é claro, que o instituto da reeleição não possa ser revogado a médio prazo. Mas não é verdade que nosso principal problema político-eleitoral, ou institucional, é a reeleição. Até agora ela só ajudou ao país. E por isso tem até apoio popular.

Vamos cuidar do principal, que é a fidelidade partidária, o financiamento público de campanha e o voto em lista. Vamos dar um tempo para o próprio país decidir sobre a reeleição.

Mas uma dúvida precisa ser esclarecida: quem colocou esse jabuti na árvore?


Fim da reeleição une Lula e tucanos

'Há um ambiente propício', diz deputado autor da PEC.
PSDB está dividido entre Serra e Aécio em 2010.

Três das principais figuras políticas com influência na disputa eleitoral de 2010 estão afinadas sobre o fim da reeleição no país. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os governadores tucanos José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) já se posicionaram a favor da proposta, mas jogaram a decisão para o Congresso.

O consenso entre eles, segundo avaliação de políticos, cria condições favoráveis à condução desse debate. Mais, é um condimento conveniente à pacificação do PSDB, hoje dividido entre os dois tucanos, potenciais candidatos do partido ao Palácio do Planalto em 2010.

"Há um ambiente propício. Os três concordam. Isso é apenas o início de um longo processo. Agora, é um nó difícil de desatar", disse à Reuters o deputado Jutahy Magalhães (PSDB-BA), reconhecendo as dificuldades de levar o projeto adiante.

Apesar dos movimentos favoráveis, o maior partido da oposição está dividido em relação ao assunto. Tucanos temem que o governo, com maioria absoluta na Câmara, não cumpra o acordo e consiga uma brecha para um terceiro mandato de Lula.

Emissários do PT junto à oposição garantem que não há perigo de traição. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já avisou que não quer pagar para ver.

Mandato de cinco anos
A concordância entre os três líderes políticos é mais ampla. Além de acabar com o dispositivo constitucional, todos eles defendem a extensão do mandato presidencial para cinco anos. Nesta quarta (18), o presidente Lula afirmou que o debate "não está na pauta do governo".

"O presidente não tomará nenhuma iniciativa a respeito do debate atual sobre o fim da reeleição", disse a jornalistas o porta-voz Marcelo Baumbach.

"Na opinião do presidente, cabe aos políticos e ao Congresso Nacional deliberar sobre a questão", acrescentou Baumbach, lembrando que Lula, "historicamente" é contrário à reeleição e a favor da extensão do mandato em um ano.

Mais cedo, Serra foi na mesma linha. Em visita ao Congresso Nacional, ele admitiu a simpatia pela revisão da regra, mas jogou a articulação do assunto para a Câmara e o Senado. Na véspera, Aécio Neves já havia se manifestado nesse sentido.

Segundo interlocutores, Aécio e Serra vivem tempos de paz. A proposta de acabar com o instituto da reeleição foi um importante ingrediente para o armistício. A idéia é lançar um deles em 2010 com a garantia de que o outro seja o candidato do partido na disputa seguinte. O que não combinaram, porém, é quem seria o primeiro a concorrer.

O fim da reeleição está previsto em proposta de emenda constitucional (PEC) apresentada em 2006 pelo deputado Jutahy Junior (PSDB-BA). Os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), também concordam com a alteração legal.


FHC defende reeleição e critica PAC

De acordo com ex-presidente, reeleição permite julgamento do governo.
Para o tucano, PAC é "um conjunto de siglas".

O ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), posicionou-se na terça-feira (17) contrariamente a duas bandeiras que têm animado os governadores tucanos: o fim da reeleição e a revisão das dívidas estaduais.

"Fui e continuo sendo favorável porque eu acho que é um sistema que funciona mais adequadamente, mas não vou fazer disso um cavalo de batalha", disse o atual presidente de honra do PSDB sobre a reeleição antes de almoçar com a governadora tucana do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, no Palácio Piratini, sede do governo do Estado.

"É uma questão que os parlamentares vão discutir ". A reeleição foi aprovada em 1997 e possibilitou o segundo mandato de FHC, que se encerrou em 2002. Hoje a tese do fim da reeleição une setores representativos do PSDB e do PT- como os governadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP) e o presidente petista Ricardo Berzoini (SP) - que pressionam por mandato de cinco anos.

Na opinião do ex-presidente, uma nova mudança de regras ante a aproximação de novas eleições poderia criar um clima de instabilidade. "É claro. Não podemos transformar o Brasil em laboratório de experimentação e também não dá para resolver tudo de uma vez". De acordo com ele, o Brasil precisa avançar não só em comparação com o próprio passado mas também em relação a outros países.

FHC explicou que defende a reeleição desde a Constituinte porque ela permite que a população "julgue" se o governo vai bem ou mal. Segundo ele, com apenas um mandato de quatro anos o presidente ou governador tem na verdade apenas "dois anos e meio" para governar. "Porque depois todo mundo vai para o para lado do novo pólo que está se formando" , afirmou.

"O que precisa corrigir são os eventuais abusos dos que estão exercendo o cargo" , disse o ex-presidente. Isto, na opinião dele, depende de uma legislação que estabeleça até o afastamento do cargo nesses casos, mas principalmente da "virtude, do comportamento cívico e da cultura política" de cada governante. Senão, comentou, "afasta um, mas fica o outro e faz o mesmo abuso" .

PAC

Ao mesmo tempo em que afirmou que torce "sempre a favor do Brasil" , ao contrário da posição "que alguns tiveram durante o meu governo, contra tudo" , FHC classificou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado recentemente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como "um conjunto de siglas". "Eu me lembro do Fome Zero. Cadê? Não existe, é marketing. Eu espero que o PAC deixe de ser só uma marca para ser uma realidade. Por enquanto é sigla".

CPI

O ex-presidente também defendeu a instalação da CPI do Apagão Aéreo, que segundo ele seria o resultado de um processo provocado pela "falta de investimento, um pouquinho de falta de disciplina e uma certa ambigüidade na condução das coisas". "Não sou parlamentar para defender isto ou aquilo, mas como pessoa que está fora quero saber o que aconteceu" . Ele acredita que a CPI não vai atrapalhar a vida do governo se for feita com "critério".

Estados

Ao lado da governadora gaúcha, que vem pedindo o aval da Secretaria do Tesouro Nacional para um empréstimo de até US$ 1 bilhão do Banco Mundial (Bird) destinado a alongar o perfil da dívida do Rio Grande do Sul com o governo federal, FHC disse ainda que "não adianta" os estados tentarem renegociar os contratos firmados com a União quando ele próprio era presidente.

De acordo com ele, na época a dívida dos governos estaduais era "impagável" , com juros de 6% a 7% ao mês junto aos bancos privados. "Isto tudo foi consolidado e passou paa o Banco Central. Baixamos a taxa de juros e demos um prazo para pagamento".

Para o ex-presidente, os estados devem agora cortar a "raiz do problema" , que são os gastos excessivos, "sobretudo com a parte de aposentadorias, do pessoal". No fim da tarde, FHC fez a palestra de encerramento do 20º Fórum da Liberdade, promovido pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE), este ano com o tema "propriedade e desenvolvimento".


Juros em queda

A ampla maioria dos analistas acha que o Comitê de Política Monetária do BC, o Copom, vai reduzir a taxa básica de juros de 12,75% para 12,5%, na reunião desta quarta-feira. Manterá assim o ritmo moderado de quedas de 0,25 ponto por reunião.

Mas um número cada vez maior de analistas, talvez já a maioria, entende que o Copom já poderia – ou deveria – estar reduzindo os juros em ritmo mais intenso.

Tirante o pessoal do plantão – aqueles para os quais o BC é burro qualquer que seja sua decisão – são cada vez mais numerosos os economistas de perfil técnico (e favoráveis ao rumo geral da política monetária) que afirmam que a taxa de juros brasileira está um ou dos pontos acima do necessário para manter a inflação no chão.

E por que não acreditam que o BC reduzirá a taxa em meio pontinho na reunião de quarta? Porque o BC, de algum modo, passou a mensagem de que o ritmo seria assim – de 0,25 em 0,25 – por um longo tempo.

Conclusão: para mudar o ritmo, o BC precisaria antes dar um sinal ao mercado, já que previsibilidade é um componente importante da política de controle da inflação.
E se for assim, o BC agora reduz a taxa conforme o esperado e, na ata, a ser divulgada semana que vem, abriria as portas para quedas maiores.

A conferir.

De todo modo, reparem como as circunstâncias hoje são melhores em relação à última reunião do Copom, no começo de março.

Inflação – excluindo alimentos, já em desaceleração, os demais itens permanecem bem comportados. As expectativas embutidas nas taxas de juros futuras sinalizam inflação anualizada entre 3,5% e 4% por muitos meses à frente. (O centro da meta é 4,5%).

Dólar – desvalorizou, o que ajuda a derrubar a inflação.

Juros - as taxas de juros de mercado caíram, sinalizando previsão de inflação a menor.
O risco Brasil, sinalizador dos juros externos, continua caindo.
O único indicador que piorou um pouquinho foi o petróleo, um tanto mais alto. Mas já está caindo.

Enfim, e se é consolo, as previsões para o médio prazo são de convergência dos juros para os níveis internacionais. Mais devagar ou mais depressa, mas os juros brasileiros serão equivalentes ao de países normais, tal é o prognóstico hoje.


15 de abril de 2007

Tristeza em pleno domingo

Depois deste triste acontecimento, o jeito é continuar vendo a minissérie "Roma" (que recomendo a todos).

Richarlyson marca contra e São Paulo empata

Com um gol contra de Richarlyson, o São Paulo ficou no empate por 1 a 1 com o São Caetano, neste domingo, no Pacaembu, pela primeira partida das semifinais do Campeonato Paulista.

O jogo de volta acontece no próximo sábado, no Morumbi. Por ter ficado em segundo lugar na fase de classificação, o São Paulo joga até por um empate que avança à decisão. Já o São Caetano precisa vencer para avançar.

O São Paulo começou a partida indo para cima do São Caetano. Logo aos 4min, Hugo recebeu na intermediária e chutou rasteiro, mas o goleiro Luiz defendeu sem problemas para o time do ABC.

Aos 7min, Somália recebeu na área e se enroscou com Miranda. Os jogadores do São Caetano ficaram pedindo pênalti, mas o árbitro Paulo César de Oliveira mandou o lance seguir.

Apesar disso, o São Paulo manteve o domínio da partida. Aos 15min, Ilsinho se livrou de dois marcadores, invadiu a área e bateu cruzado. A bola saiu rente à trave direita de Luiz.

De tanto insistir, o time tricolor abriu o placar aos 29min, quando Jadílson avançou pela ala esquerda e cruzou rasteiro. Hugo apareceu livre na área e chutou de primeira, abrindo o marcador do jogo.

O São Caetano não se intimidou com o gol sofrido e passou a criar boas chances de gol. Porém, quem conseguiu balançar as redes foi o São Paulo, mas o gol foi anulado pela arbitragem.

Na jogada, Ilsinho invadiu a área pela direita e cruzou. Souza apareceu livre e mandou a bola para o fundo do gol do São Caetano, mas o assistente marcou impedimento e o tento foi invalidado.

A segunda etapa veio e o time do Morumbi voltou a ter um gol anulado. Aos 8min, Leandro cruzou da direita e Alex Silva cabeceou para o fundo do gol, mas, como estava impedido, o lance foi invalidado.

Dois minutos depois saiu o gol de empate do São Caetano. Em uma falta cobrada para a área do São Paulo, Richarlyson cabeceou contra o próprio gol. Rogério Ceni ainda tocou na bola antes de ela entrar.

Após o gol, o São Paulo passou a pressionar o São Caetano, que se postava em seu campo de defesa e tentava surpreender o time tricolor nos contra-ataques. Em uma de suas investidas, aos 13min, Luiz Henrique apareceu na área, mas Rogério saiu do gol para pegar a bola.

Insistindo bastante no ataque, o São Paulo quase voltou a liderar o marcador aos 27min, quando Aloísio achou Souza livre na área. O meia dominou e bateu cruzado, mas a bola passou rente à trave direita de Luiz.

O jogo manteve o mesmo panorama até o final da partida, com o São Paulo atacando e o São Caetano apostando nos contra-ataques. Porém, com os erros de finalização do time tricolor e as defesas do goleiro Luiz, o placar permaneceu empatado até o final.


Água entre os dedos

O ser humano é um bicho estranho.

Às vezes reclama de tudo, achando que não consegue atingir seus objetivos, que nada presta, que tudo está uma droga...

... Mas de repente a maré muda, e ele passa a ter tudo com o que sempre sonhou. Ou, pelo menos, obtém algo que possa satisfazer seus interesses e suas vontades.

E aí ele deixa este algo escapar, como água por entre os dedos. Por que ele faz isto? Medo, insegurança, ou o que?

Às vezes, eu não consigo me entender.


Visitantes

Cento e seis visitantes em nove dias. Acho que está bom, né? Apesar de que nem todos deixam comentários (tenho apenas uma comentadora, que é a oficial), mesmo assim agradeço a todos que visitam meu blog. Espero que ele seja útil de alguma maneira!


14 de abril de 2007

Anfavea: câmbio não prejudica indústrias de automóveis

Para entidade, problemas estão relacionados à competitividade.
Presidente criticou as altas taxas de juros.

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogelio Golfarb, negou nesta sexta-feira (13) que o atual patamar do câmbio esteja prejudicando a competitividade das indústrias do setor automotivo. Segundo ele, o problema da indústria está relacionado à competitividade e, no passado, quando o real estava mais desvalorizado, o câmbio acabava compensando as ineficiências das empresas e do país.

"Não adianta reclamar do câmbio, pois ele é resultado das melhorias macroeconômicas do país. Nossos problemas estão relacionados à competitividade", afirmou, após participar de seminário promovido pela Petrobras, em São Bernardo do Campo, sobre os impactos do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) na competitividade da indústria petroquímica do ABC.

Golfarb deu essa resposta após ser questionado sobre se a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que as associações industriais reclamam do câmbio, mas as empresas associadas batem recorde de produção e exportação, teria sido direcionada ao setor automobilístico.

Como exemplo, o presidente da Anfavea citou especificamente que o real desvalorizado compensava, por exemplo, o não recebimento dos créditos de ICMS aos exportadores, previstos pela Lei Kandir. "O ICMS é uma questão bastante complicada, pois envolve o Governo Federal e os estaduais. Mas estamos procurando fórmulas para resolver essa questão, afinal a reforma fiscal é um tema muito grande", informou.

Segundo ele, embora a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) tenha sido reduzida ao longo dos últimos anos, o que permitiu crédito mais barato às montadoras por meio do BNDES, os juros brasileiros continuam mais altos que os da China e os da Coréia do Sul.

Infra-estrutura

Outra questão citada por Golfarb foram os problemas de logística e transportes no país. Ele destacou que, embora a indústria automotiva não tenha sido contemplada nas medidas do PAC, ela será beneficiada indiretamente e de forma concreta pelas investimentos em rodovias, ferrovias e portos brasileiros.

"Os projetos na área de transportes vão resgatar as vantagens logísticas do ABC e a região receberá um novo impulso, após a descentralização do setor, desde 1997", declarou, citando especificamente as obras do Rodoanel, Ferroanel e o Porto de Santos, com obras tanto na via de acesso quanto no calado. "O PAC vai ao encontro destas questões, mas devo destacar que o tempo de execução dessas medidas é fundamental para a vida competitiva do país", ressaltou.

O executivo destacou ainda que as empresas têm trabalhado para obter ganhos de qualidade, produtividade e escala, e ainda que as exportações tenham caído, o mercado interno tem apresentado crescimento. "O crescimento nas vendas de automóveis que obtivemos no primeiro trimestre traz muito otimismo para a indústria", disse, ressaltando que os juros mais baixos e a ampliação de acesso ao crédito permitiram que o setor revisasse sua expectativa de crescimento de produção para 2007, de 7,7% para 14,5%.


Vereador perde o mandato por trocar de partido

Eleito para a Câmara de Guarapuava (PR), Osdival Gomes trocou o PMDB pelo PP.
Decisão é inédita no Brasil. Afastado ainda pode recorrer à Justiça.

Pela primeira vez no Brasil, um político perdeu o mandato por causa da infidelidade partidária. Depois de 20 anos atuando como vereador, Osdival Gomes, de Guarapuava, perdeu o mandato ao trocar o PMDB pelo PP. Uma decisão recente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) considera que o mandato pertence ao partido e não ao político.

O vereador Osdival Gomes foi eleito pelo mesmo partido do presidente da Câmara, Ademir Strechar. A decisão do afastamento atendeu a um pedido do diretório municipal do PMDB após consulta à assessoria jurídica da Câmara de Guarapuava.

“O presidente [da Câmara] tem poder pra isso, mas agora o vereador pode entrar na Justiça pra reverter essa situação”, afirma Strechar. Gomes não foi encontrado pela reportagem. A empregada do vereador informou que ele está viajando.


Manual de conservar caminhos (Paulo Coelho)

1] O caminho começa em uma encruzilhada. Ali você pode parar e pensar em que direção seguir. Mas não fique muito tempo pensando, ou jamais sairá do lugar. Faça a clássica de Castañeda: qual destes caminhos tem um coração? Reflita bastante sobre as escolhas que estão adiante, mas uma vez dado o primeiro passo, esqueça definitivamente a encruzilhada, ou sempre ficará sendo torturado pela inútil pergunta: “será que escolhi o caminho certo?” Se você escutou seu coração antes de fazer o primeiro movimento, você escolheu o caminho certo.

2] O caminho não dura para sempre. É uma benção percorrê-lo durante algum tempo, mas um dia ele irá terminar, portanto esteja sempre pronto para despedir-se a qualquer momento. Por mais que você fique deslumbrado por certas paisagens, ou assustado com algumas partes onde é necessário muito esforço para seguir adiante, não se apegue a nada. Nem às horas de euforia, nem aos intermináveis dias onde tudo parece difícil, e o progresso é lento. Cedo ou tarde um anjo virá, e sua jornada chega ao final, não esqueça.

3] Honre seu caminho. Foi sua escolha, sua decisão, e na medida que você respeita o chão onde pisa, também este chão passa a respeitar seus pés. Faça sempre o que for melhor para conservar e manter seu caminho, e ele fará o mesmo por você.

4] Esteja bem equipado. Leve um ancinho, uma pá, um canivete. Entenda que para as folhas secas os canivetes são inúteis, e para as ervas muito enraizadas os ancinhos são inúteis. Saiba sempre que ferramenta utilizar a cada momento. E cuide delas, porque são suas maiores aliadas.

5] O caminho vai para frente e para trás. Às vezes é preciso voltar porque foi perdido algo, ou uma mensagem que devia ser entregue foi esquecida no seu bolso. Um caminho bem cuidado permite que você volte atrás sem grandes problemas.

6] Cuide do caminho, antes de cuidar do que está a sua volta: atenção e concentração são fundamentais. Não se deixe distrair pelas folhas secas que estão nas margens, ou pela maneira como os outros estão cuidando dos seus caminhos. Use sua energia para cuidar e conservar o chão que acolhe seus passos.

7] Tenha paciência. Às vezes é preciso repetir as mesmas tarefas, como arrancar ervas daninhas ou fechar buracos que surgiram depois de uma chuva inesperada. Não se aborreça com isso, faz parte da viagem. Mesmo cansado, mesmo com certas tarefas repetitivas, tenha paciência.

8] Os caminhos se cruzam: as pessoas podem dizer como está o tempo. Escute os conselhos, tome suas próprias decisões. Só você é responsável pelo caminho que lhe foi confiado.

9] A natureza segue suas próprias regras: desta maneira, você tem que estar preparado para súbitas mudanças do outono, o gelo escorregadio no inverno, as tentações das flores na primavera, a sede e as chuvas de verão. Em cada uma destas estações, aproveite o que há de melhor, e não reclame das suas características.

10] Faça do seu caminho um espelho de si mesmo: não se deixe de maneira nenhuma influenciar pela maneira como os outros cuidam de seus caminhos. Você tem sua alma para escutar, e os pássaros para contar o que sua alma está dizendo. Que suas histórias sejam belas e agradem tudo que está a sua volta. Sobretudo, que as histórias que sua alma conta durante a jornada sejam refletidas em cada segundo de percurso.

11] Ame seu caminho: sem isso, nada faz sentido.


13 de abril de 2007

Para finalizar

Modéstia beeem à parte, uma das melhores fotos que já tirei na vida. É o Museu de Cosmonáutica, em Moscou, com a torre de TV "Ostankino" ao fundo.



12 de abril de 2007

Mais notícias espaciais

RÚSSIA CELEBRA CENTENÁRIO DO 'PAI' DE SEU PROGRAMA ESPACIAL
Sergei Korolev (1907-1966) foi responsável por missões históricas.
Ele criou os foguetes que levaram Sputnik e Yuri Gagarin.

Com a emissão de moedas comemorativas, a inauguração de um museu e outros atos oficiais, a Rússia comemorou hoje o centenário do nascimento de Sergei Korolev, pai da cosmonáutica soviética e responsável pelos atos mais notáveis na história da exploração espacial.

O Banco Central da Rússia e o da Ucrânia colocaram em circulação moedas comemorativas dedicadas ao centenário de Korolev, figura-chave no desenho, construção e lançamento do famoso Sputnik, primeiro satélite artificial da Terra, que foi colocado em órbita em 4 de outubro de 1957.

Em Moscou, foi inaugurada solenemente uma casa-museu dedicada ao lendário cientista, que enviou ao espaço Yuri Gagarin, o primeiro ser humano a cruzar o limiar dos cosmos, em 12 de abril de 1961.

Representantes de instituições militares, científicas e do setor aeronáutico depositaram flores no túmulo de Korolev, que fica no Panteão de figuras ilustres nas muralhas do Kremlin, na Praça Vermelha.

Os atos de maior destaque ocorreram na cidade de Korolev (pronuncia-se "Caralióv"), 15 quilômetros a nordeste de Moscou, denominada assim em homenagem ao cientista e onde está localizado o Centro de Controle de Vôos Espaciais, empresas construtoras de naves espaciais e outras entidades do setor aeronáutico.

Até 16 de janeiro de 1966, dia de sua morte, a figura de Korolev era um enigma. Durante décadas, seu rosto, nome e sobrenome foram segredo de Estado. A imprensa soviética se referia a Korolev apenas pelo cargo que ocupava, de "Construtor Chefe".

Korolev nasceu na Ucrânia e, em 1932, com apenas 20 anos, liderou uma equipe de engenheiros que se dedicavam à fabricação de motores de reação.

Devido a uma denúncia, Korolev foi preso e passou vários anos nos campos de concentração do sistema stalinista conhecido como Gulag. Em 1944, Korolev foi libertado junto com outros cientistas.

Imediatamente após o fim da Segunda Guerra Mundial, Korolev e outros cientistas soviéticos foram enviados à Alemanha para recolher informações sobre o programa de aparelhos aéreos com motores a reação que o país desenvolvia.

Posteriormente, nas estepes de Volga, com a ajuda de engenheiros alemães prisioneiros, Korolev participou dos trabalhos de reconstrução do foguete alemão V-2 e da construção dos primeiros foguetes soviéticos capazes de levar armas nucleares.

A partir do foguete alemão, desenhado por Wernher von Braun, Korolev e seus colegas conseguiram delinear e fabricar foguetes com capacidade de alcançar a órbita terrestre, o que permitiu o lançamento do Sputnik e do foguete-nave Vostok, no qual Gagarin viajou ao espaço.

Sob a direção de Korolev foram criados os três primeiros satélites artificiais soviéticos. O cientista participou do programa para fotografar a face oculta da Lua e também para colocar aparelhos automáticos na superfície lunar.

Korolev organizou outros vôos tripulados notáveis, como o protagonizado por Valentina Tereshkova, a primeira mulher a viajar ao espaço, e programas para investigar Marte e Vênus.


Centésimo post

Meus caros leitores, este é meu centésimo post. Poderia tê-lo feito anteriormente, mas esperei até hoje, 12 de abril, para que o post pudesse ser sobre algo especial. E este algo especial aconteceu neste mesmo dia, 12 de abril, mas há 46 anos atrás: à época, em 1961, Iuri Gagarin tornava-se o primeiro ser humano a literalmente "ir para o espaço".


Monumento de 40 metros de altura feito de titânio em homenagem a Iuri Gagarin em Moscou, Rússia (eu vi o monumento com meus próprios olhos :P).

Desnecessário falar sobre o acontecimento: a história qualquer um pode pegar na internet, e eu mesmo copiei e colei uma notícia do G1 logo abaixo. Mas o importante é destacar o fato de que este vôo foi um dos fatores que "produziu" o mundo durante, pelo menos, 30 anos: foi apenas após o vôo de Gagarin que a URSS e os EUA passaram a lutar sua Guerra Fria também no espaço, com todas as conseqüências que tal fato trouxe a toda a humanidade.

Russos lembram 46 anos do vôo de Gagarin
Em 12 de abril de 1961, Yuri Gagarin se tornou primeiro homem no espaço.
Diversas comemorações estão programadas na Rússia.

A Rússia lembra nesta quinta-feira (12) o 46º aniversário do primeiro vôo de um homem ao espaço, feito pelo major soviético Yuri Gagarin, na data que é celebrada como o Dia da Cosmonáutica.

Durante os atos oficiais, delegações do Governo e do Parlamento depositaram flores nos túmulos de Gagarin e Serguei Koroliov, considerado o pai da cosmonáutica, no Panteão de figuras ilustres nas muralhas do Kremlin, na Praça Vermelha.

A imprensa russa publicou diversas notas sobre Gagarin e o jornal "Izvestia" reproduziu, em um suplemento, a edição vespertina especial de 12 de abril de 1961, dedicada ao primeiro vôo do homem ao espaço.

"Em 12 de abril de 1961, a União Soviética pôs na órbita terrestre a primeira nave-satélite 'Vostok' com uma pessoa a bordo", dizia o comunicado da agência oficial "Tass", que há quase meio século foi lido por milhões de soviéticos.

Pelo mesmo comunicado, o mundo soube que o foguete que impulsionou a "Vostok" foi lançado às 9h07 (hora de Moscou), de um polígono militar secreto na república soviética do Cazaquistão, hoje um Estado independente.

Outros comunicados da "Tass" informaram que Gagarin, a bordo da "Vostok", disse que estava bem quando sobrevoou a América do Sul e a África. A "Vostok" realizou uma volta elíptica em torno da Terra com a distância máxima de 302 e mínima de 175 quilômetros.

"Da altura cósmica a Terra é vista com nitidez, se distinguem claramente as montanhas, as costas e as ilhas", escreveu Gagarin no relatório oficial sobre o vôo. O retorno à Terra representou um grande risco: a "Vostok" não tinha recursos técnicos para pousar na Terra, e Gagarin, a 7 mil metros de altura, teve que abandonar a nave em queda livre, com a ajuda do assento ejetável, e aterrissar com o pára-quedas.

Felizmente, o pára-quedas de Gagarin pousou em uma fazenda na região de Saratov, a quase 400 quilômetros de distância do lugar onde as brigadas de resgate o esperavam. Os moradores da localidade pensaram no início que se tratava de um espião americano.

Para a humanidade, a proeza do soviético marcou o começo de uma nova era e, para a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e os Estados Unidos, significou o início da corrida espacial para conquistar o cosmos.

Desde o início da exploração do espaço, centenas de cosmonautas e astronautas de vários países viajaram à órbita terrestre, onde atualmente opera a Estação Espacial Internacional (ISS), habitada permanentemente por profissionais e em algumas ocasiões por turistas.

O milionário americano Charles Simonyi, que atualmente está na ISS, celebrará a façanha de Gagarin em companhia de russos e americanos. Segundo o Centro de Controle de Vôos Espaciais (CCVE) da Rússia, Simonyi, os russos Mikhail Tyurin, Fiodor Yurchijin e Oleg Kotov, e os americanos Michael López-Alegria e Sunita Williams celebrarão a data com um jantar.


10 de abril de 2007

Fim da reeleição e mandato presidencial de 5 anos

(Original aqui)

A discussão sobre o mandato de cinco anos para presidente da República e governadores ganha força no Congresso. Agora, une uma parcela da oposição, mais precisamente do PSDB ligado a José Serra, e também uma ala do PT - a começar pelo presidente Lula, que já falou nisso algumas vezes.

Existe até uma proposta de emenda constitucional em tramitação na Câmara estabelecendo o mandato de cinco anos para presidente e governadores. Ela é de autoria do deputado Jutahy Magalhães (PSDB-BA). E, no último fim de semana, ele conversou sobre o assunto com o governador da Bahia, Jaques Wagner, um importante interlocutor do presidente Lula e também nome citado entre petistas para disputar a sucessão de Lula.

Os dois grupos falam em mandato de cinco anos, sem reeleição. Mas a oposição se preocupa com a possibilidade de esta mudança abrir uma brecha para o presidente Lula disputar um terceiro mandato - idéia que ele próprio diz rechaçar e petistas como Tarso Genro e o próprio Wagner garantem não passar pela cabeça do comando do PT.

O que une parcela do PSDB e este grupo do PT é o projeto político de cada um. O PSDB tem dois candidatos - José Serra e Aécio Neves - e poderia, assim, fazer um acerto entre os dois para que 2010 o partido tenha um candidato e 2015 o outro. E o PT se interessa pelo assunto porque avalia que Lula poderia ser novamente candidato em 2015.

Para ganhar o apoio dos atuais governadores, a proposta de emenda constitucional estabeleceria que os eleitos em 2010 teriam mandato de cinco anos. Desta forma, governadores eleitos agora pela primeira vez poderia disputar a reeleição para um mandato de cinco anos. E os vencedores cumpririam, então, nove anos de mandato em seus Estados.


Weber e o estado moderno

Após dois posts que estão diretamente relacionados com um assunto principal (a ausência de um estado no Iraque atual), coloco aqui aquele que considero um dos principais pensadores sobre o estado: Max Weber. O texto abaixo não tem a pretensão de buscar soluções para os problemas; apenas mostra o que é o estado e, em que sentido, os dois posts abaixo se relacionam.

Max Weber propõe-se a discutir sobre a vocação para a política através do estado. Este estado é definido através do seu meio de existência, que é a coação física. Caso a violência não estivesse presente, não existiria também o estado. O estado, portanto, é a única fonte do “direito” à violência. A política será então o conjunto de esforços visando à participação do poder ou à influência na divisão desse poder, seja entre estados, seja no interior de um único estado. Surge daí sua famosa definição: "o estado é um grupo político que reivindicou para si e obteve o monopólio legítimo do uso da força física dentro de determinado território".

Contudo, apesar de o estado basear-se na violência, ele é, antes de tudo, uma relação de dominação de um homem sobre outro homem. Esta dominação é legitimada através de três idéias puras: a primeira é a que diz que um homem admite ser dominado por outro devido à tradição e aos costumes; a segunda baseia-se no carisma do dominador, ou seja, em características especiais como devoção e confiança nesta pessoa; por fim, a terceira idéia de legitimidade é fundada na idéia de crença na validez de um estatuto legal (uma eleição, por exemplo).

A dominação, seja ela tradicionalista, carismática ou legalista, depende de um estado-maior administrativo – que irá garantir que as atividades desenvolvidas pelos dominados estejam de acordo com a vontade do dominador – e também dos meios materiais de gestão. Este estado-maior administrativo, todavia, não irá obedecer ao chefe apenas pelas questões de legitimidade acima citadas. Antes de tudo, interesses pessoais influenciam esta dominação: retribuição material e prestígio social. Desta forma, o salário e a dignidade dos servidores são bons exemplos para os dois tipos de recompensa esperada, e o temor de perder estas recompensas é o que liga o estado-maior administrativo aos detentores do poder.

O estado-maior administrativo divide-se em duas categorias: na primeira, o próprio estado-maior é possuidor dos instrumentos de gestão, ou seja, possuem edifícios, recursos financeiros, material de guerra. A segunda é exatamente o oposto: o estado-maior é privado dos meios de gestão. Por isto, sempre é importante determinar se o detentor do poder dirige e organiza a administração ou se a administração está nas mãos de pessoas economicamente independentes do poder.

Chama-se de agrupamento organizado “segundo o princípio das ordens” o agrupamento político nos quais os meios materiais de gestão são, total ou parcialmente, propriedade do estado-maior administrativo. Isto implica dizer que o soberano exerce seu poder através da dependência dos súditos e do uso da coação exercida pelo exército que ele comanda. Por isto, nota-se que o estado moderno conseguiu privar os funcionários e trabalhadores de quaisquer meios de gestão. Isto significa dizer que o estado é um agrupamento de dominação de caráter institucional que monopoliza, no seu território, o uso legítimo da violência física como instrumento de domínio e que reúne, nas mãos do seu dirigente, os meios materiais de gestão.


A ausência do Estado gera mais violência que a guerra

(Original aqui)

O eclipse do Estado é pior que a guerra. Sua inexistência deixa orfã a sociedade que não consegue subsistir sem regras e poderes adequados pra fazer valer a lei.

O esfacelamento de valores e das estruturas públicas permite a propagação de grupos e milícias que impõem à população a sua vontade unilateral.

A falência do Estado nessas circunstâncias gera desdobramentos muito mais sérios do que a incapacidade de assegurar o fornecimento de energia elétrica ou ampliar a expansão do emprego.

Ali onde inexiste a presença do Estado, a população vive jogada nas garras de um pesadelo hobesiano.

Essa é a advertência feito pelo professor de política internacional da Universidade de Londres, Toby Dodge, em artigo publicado domingo na Folha - "Morte do Estado impulsiona violência sem fim no Iraque" (só para assinantes), onde analisa o caos vivido hoje no Iraque depois da invasão norte-americana.

O problema maior, diz Dodge, não é nem a guerra, mas a ausência de regras.

Os EUA não apenas derrubaram Saddan mas esfacelaram o Estado iraquiano, inclusive suas estruturas físicas, arquivos, memória, comunicações, entregando a população a uma espécie de ano zero da civilização. O pesadelo de conflitos entre facções e bandos criminosos que germina nesse vale-tudo, gera uma espiral insandecida de violência e insegurança. É nesse ambiente infeccionado de autoritarismo e medo que germinam as milícias e bancos armados fazendo justiça com as próprias mãos.

A advertência do professor Toby Dodge remete a um caso extremo, mas é impossível ler trechos do seu artigo sem pensar nas periferias conflagradas das nossas metrópoles.
Vale refletir, por exemplo:


1. O reconhecimento de que a situação é precária, e está piorando, oculta desacordos e confusão quanto às causas subjacentes da (violência) que agora domina (...)

2. A capacidade administrativa do Estado já havia sido solapada por mais de uma década (entrou em colapso)

3. Os saqueadores começaram levando itens portáteis e valiosos, como computadores, e depois carregaram a mobília, e até pedaços dos prédios (...) os saqueadores estavam sistematicamente removendo os cabos elétricos ... para vendê-los como refugo.

4. . Diante desse pano de fundo ( situação de falência do Estado) a instabilidade é propelida por dois problemas interligados, que causaram a profunda insegurança e violência que agora dominam o país (...) um agudo vácuo de segurança, que foi aproveitado por grupos dispostos a usar a violência em benefício próprio. O crime organizado se tornou uma fonte dominante de insegurança.

5. O colapso do Estado, e o vácuo de segurança resultante (...) propeliram diferentes conjuntos de forças que usam a violência para seus próprios fins. O primeiro deles envolve quadrilhas criminosas de poderio industrial, as quais aterrorizam (...) a classe média...

6. Muito mais séria do que a incapacidade do governo para elevar a produção de eletricidade ou estimular o emprego, a capacidade que as quadrilhas criminosas continuam a exibir indica a falência do Estado.

7. O domínio das milícias não foi um resultado inevitável (...) mas uma resposta ao colapso do Estado: ...é preciso um governo capaz de exercer monopólio sobre os poderes de coerção, e dotado de capacidade administrativa que lhe confira legitimidade.

8. Diante do colapso da estrutura de Estado, a capacidade da sociedade de influenciar os acontecimentos de maneira positiva desaparece ...

9. O governo teria de reconstituir sua capacidade de administração e de segurança, e estabelecer o domínio da lei.

10. A incapacidade ( ...) para reconstruir essas instituições é o ponto focal do problema. Até que a capacidade do Estado seja reconstruída de maneira significativa, (...)continuará a (...) instabilidade violenta, e a população continuará nas garras de um pesadelo hobbesiano. Suas vidas serão desagradáveis..."


Irã deveria erguer monumento a George W. Bush

Por William Waack (Âncora do "Jornal da Globo" e do "Globo News Painel", foi correspondente internacional por 21 anos)

No quarto aniversário da derrubada da estátua de Saddam Hussein nesta segunda (9) em Bagdá, quem deveria erguer um monumento é o Irã: a George W. Bush. Americanos e iraquianos não comemoraram a efeméride. Cada vez menos americanos apóiam a guerra e cada vez mais iraquianos protestam contra os americanos. Na região, só o Irã está mais poderoso, mais confiante e mais disposto a exercer sua crescente auto-confiança.

Talvez seja apenas coincidência o fato do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ter escolhido o quarto aniversário da queda de Saddam para anunciar que seu país teria chegado ao estágio de produção industrial de urânio enriquecido. Conhecendo-se a ânsia com que Ahmadinejad procura holofotes, é melhor duvidar de uma coincidência. É bom duvidar também que a tal capacidade industrial de enriquecimento de urânio tenha sido atingida, mas essa é outra história.

No Iraque, a queda de Saddam foi lembrada com a maior manifestação organizada contra os americanos desde a invasão, há quatro anos. Milhares de pessoas tomaram as ruas de Najaf - o principal centro religioso, em volta da tumba do Imam Ali e do cemitério à sua sombra - para protestar contra os Estados Unidos. A manifestação foi convocada e dirigida pela imensa organização política e militar comandada por um clérigo radical xiita, Moktada al Sadr.

Ele é um pesadelo para os americanos. O nome de seu pai, um respeitado aiatolá assassinado a mando de Saddam, batizou o principal bairro xiita de Bagdá, Sadr City, uma gigantesca favela com 2 milhões de habitantes. Quem toma conta de Sadr City é o Exército Mahdi, uma milícia que já enfrentou tropas americanas em pelo menos duas ocasiões anteriores - em uma delas, em Najaf, em 2004, em confronto que só terminou com a intervenção do velho aiatolá al Sistani, que nasceu no Irã.

Sadr é um jovem ambicioso. Detém uma bancada importante no Parlamento iraquiano. Seu apoio político (e, comenta-se, também militar) é essencial para o primeiro ministro iraquiano, um político xiita que os americanos já acusaram várias vezes de tolerar esquadrões da morte que operam contra sunitas iraquianos. Há versões bastante controvertidas sobre a verdadeira autoridade de Sadr sobre as milícias Mahdi, sobre suas verdadeiras ligações com o Irã (neste momento ele estaria escondido por lá), sobre seus planos políticos (instaurar uma república islâmica depois de expulsar americanos e liquidar sunitas e curdos).

O que parece razoavelmente seguro de se afirmar, no quarto aniversário da queda de Saddam, é que os americanos estão tão longe de "estabilizar" o país quanto de determinar qualquer futuro político para o Iraque. Os combates nos quais milicianos do exército Mahdi se envolvem nestes dias ao Sul de Bagdá envolvem tropas curdas trazidas do Norte para ajudar os americanos a "acalmar" a capital - a derradeira jogada de Bush para tentar criar uma janela que ganhe tempo e permita a retirada das tropas ainda antes das próximas eleições.

Mais ainda: o episódio da captura dos 15 militares britânicos por iranianos, em águas do Golfo Pérsico, deu nova evidência ao envolvimento do Irã na guerra do Iraque. É difícil negar a interferência iraniana: quase não há controles na longa fronteira entre os dois países, mas é errado acreditar na versão simplista americana de que insurgentes iraquianos são financiados, armados e dirigidos por iranianos.

Na verdade, iranianos e iraquianos há séculos mantém um contato bastante estreito, baseado principalmente no fato de que todo xiita, se pudesse realizar o desejo, gostaria de ser enterrado à sombra do Imam Ali em Najaf. É comum encontrar iranianos rezando em Najaf e iraquianos rezando em Khom, a grande capital "teológica" dos xiitas no Irã. A interrupção desses contatos deflagrada por um Saddam foi apenas breve, em termos históricos.

Faltou aos americanos a compreensão do significado mais abrangente de religião e laços culturais para entender o que acontece naquele pedaço do Iraque - e que permitiu que árabes e iranianos, tradicionais adversários, pudessem estabelecer laços duradouros. A curto prazo - prazo de quatro anos - o principal erro americano foi a dupla dissolução do Exército iraquiano e do Partido Baath, dois dos principais fundamentos do Estado iraquiano.

Quatro anos depois da derrubada da estátua do ditador, o Iraque é um prato cheio para quem estuda instituições políticas e o papel do Estado na formação de nações. Com o perdão do cinismo, particularmente diante do banho de sangue (que mal começou), historiadores, sociólogos e cientistas políticos também deveriam erguer um monumento a George W. Bush. É difícil encontrar na História outros "experimentos" recentes nos quais tudo o que se previu que daria errado, aconteceu.

E em tão pouco tempo.


8 de abril de 2007

Kant e a fusão do "ser" com o "dever ser"

Dando seqüência a uma série de escritos sobre o "ser" e o "dever ser", coloco abaixo considerações sobre um dos principais conceitos de Kant: o do imperativo categórico, que relaciona questões de moral individual com questões do agir prático cotidiano e coletivo.

A norma moral tem a forma de um imperativo categórico. O comando nela contido assinala a relação entre um dever ser que a razão define objetivamente. O comando moral é categórico porque as ações a ele conformes são objetivamente necessárias, independentemente da sua finalidade material ou substantiva particular. A necessidade objetiva do comando categórico faz referência a que o dever moral vale para todos os homens enquanto seres racionais; o móbil, ou princípio subjetivo da ação, que pode variar segundo a situação ou o indivíduo, não determina o valor moral da ação.

O critério para a definição da boa conduta moral é formal: a moralidade da ação consiste precisamente na sua universalidade segundo a razão. Assim, o imperativo categórico é definido: “Aja sempre em conformidade com o princípio subjetivo, tal que, para você, ele deva transformar-se ao mesmo tempo em lei universal”. Os motivos materiais de nossas ações serão, pois, aceitos ou rejeitados segundo possamos ou não desejar que se constituam em leis internamente vinculantes.

Essa forma é algo que existe a priori da razão, e não resultado da observação empírica. Conseqüentemente, as normas morais que nos conduzem são elaboradas por nós mesmos enquanto seres racionais. Se criamos nossas próprias leis, somos livres, e só a conduta racionalmente fundada é compatível com a dignidade humana.

A observação empírica, e portanto arbitrária, do que seja bom ou mau para os homens, leva a uma situação em que aqueles que têm o poder de impor tal definição oprimem os que dela discordam. Conseqüentemente, a definição de “bom” e “mau” dependerá dos valores adotados por aqueles que fazem tal definição, o que inibe ou impede a liberdade individual.


6 de abril de 2007

Site para downloads de livros

Sugiro àqueles que têm interesse, que visitem o site http://www.culturabrasil.org/download.htm. Neste endereço é possível fazer download de diversos livros, de diversas áreas.

Platão e Maquiavel

Há um tempo atrás, uma amiga minha, em momento de inspiração filosófica, deparou-se com diversos pensamentos sobre a questão do "ser" e do "dever ser", característica da antiga filosofia grega. Em outro momento, ela avançou um pouco na História e escreveu sobre Maquiavel. Eu, "bonzinho" como sou, escrevi no blog dela que a solução era fácil: bastava unir Platão com Maquiavel que todos seríamos felizes para sempre. Tal idéia, ao que me parece, deu um nó na cabeça dela, e eu fiquei devendo uma resposta. Pois aqui está a resposta.

Em primeiro lugar, devemos falar um pouco de Platão. Ele foi o criador do chamado método idealista (que, a partir do séc. XVI, passou a ser chamado de racionalista). Neste método, o filosofo raciocina sobre o que seria ideal para o mundo em que vive e, a partir deste ideal racionalmente criado, analisa o seu mundo. Se opõe ao método empirista, criado posteriormente por Aristóteles. Com base no idealismo, Platão faz uma distinção que é a base de toda a sua teoria: a diferença entre o mundo ideal (MI) e o mundo material (MM). O mundo material é, por definição, imperfeito. Corresponde ao mundo físico no qual vivemos. Este mundo é imperfeito porque tudo nele é criado pelo ser humano, que é imperfeito. Já o mundo ideal (MI) é perfeito: nele está o que Platão chama de “entidades”, que é a representação perfeita de tudo que existe no MM. O MI é perfeito porque ele é criado com base na razão, e a razão humana sempre está correta.

Por sua vez, Maquiavel é considerado o primeiro filósofo político moderno por se focar no que realmente existe, e não no que deveria existir. A preocupação central de Maquiavel em todas as suas obras é o estado, o estado real que de fato existe e é capaz de impor a ordem, não o Eetado idealizado que na verdade nunca existiu. O pensamento de Maquiavel vai de encontro com o idealismo de Platão, Aristóteles e Santo Tomás de Aquino e, por outro lado, caminha ao lado da concepção dos historiadores antigos como Tácito, Tucídides e outros. Seu fundamento central é a realidade concreta, a verdade efetiva das coisas. Sua regra metodológica consiste em examinar a realidade da forma que ela é e não da forma como gostaria que ela fosse, sua problemática central na análise política é o descobrimento da forma como poderia ser resolvido o inevitável ciclo de estabilidade e caos. Maquiavel garante que a ordem na política não é natural e sim deve ser construída pelo homem a fim de eliminar o caos.

Ora, se ambos autores são conceitualmente distintos, como é possível uni-los? Pego aqui a frase que minha amiga citou em seu blog: "Não é a intenção que valida um ato, mas sim o seu resultado". Ora, como minha amiga muito bem escreveu, sem dúvida alguma que as pessoas não avaliam a intenção de quem faz algo, mas sim o resultado (e eu sei muito bem do que estou falando: as pessoas geralmente analisam apenas meus atos, mas não as intenções dos mesmos). Neste sentido, a união de Platão com Maquiavel se faz justamente nesta frase: se conseguíssemos fazer com que nossas boas intenções (idéia associada ao mundo ideal de Platão) fossem postas em prática da maneira exata como pensamos, não precisaríamos nos preocupar com o "dever ser"; bastaria apenas "sermos", sem preocupação alguma com o que outros diriam/fariam, e o resultado de nossas ações estaria em conformidade com o que sabemos ser correto (idéias platônicas e kantianas ao mesmo tempo).

No entanto, não sou nenhum ingênuo. Sei que isto é pura filosofia, já que na prática não é bem assim -- que o diga a corretíssima separação entre "ética da convicção" e "ética da responsabilidade", que teve suas origens em Maquiavel mas foi academicamente desenvolvida por Weber no início do século passado. Mesmo assim, ainda acredito ser possível unir Platão e Maquiavel: tomemos as idéias do mundo ideal, perfeito, de Platão, e as coloquemos em prática usando os métodos de Maquiavel: o parecer ser. Talvez isto não seja eticamente correto de se dizer, mas é a realidade. Na minha visão, o indivíduo deve ter consciência do que é certo e o que é errado e, mais que isso, deve agir de maneira a concretizar apenas o correto; no entanto, para ter seus nobres objetivos atingidos, às vezes ele deverá "sujar suas mãos".

Não levem tais afirmações muito ao pé da letra: não afirmo que as pessoas devam sair fazendo o mal para atingir o bem. Dou um exemplo bem simples do que quero dizer com a seguinte situação. Um grupo de homens vê uma garota bonita passando na rua. Todos têm de dizer uns para os outros: "Como ela é gostosa", "Como ela é bonita" ou algo do tipo. Se algum não fizer um comentário deste tipo, muitas vezes será atormentado pelos outros. Então, para evitar aborrecimentos, o indivíduo que não está nem aí para a garota tem de falar "Sim, como ela é gostosa", evitando o aborrecimento. Ou seja, o indivíduo tem em sua consciência a idéia de que não é necessário falar que todas as mulheres são bonitas ou gostosas, mas o faz apenas para se ver livre dos aborrecimentos. Ele mantém suas idéias do "ser", mas age com base no "dever ser".

Para terminar este longo (e, talvez para alguns, confuso post), coloco dois parágrafos do texto do Maquiavel, que explanam o que estou falando.

A um príncipe, portanto, não é essencial possuir todas as qualidades acima mencionadas, mas é bem necessário parecer possuí-las. Antes, ousarei dizer que, possuindo-as e usando-as sempre, elas são danosas, enquanto que, aparentando possuí-las, são úteis; por exemplo: parecer piedoso, fiel, humano, íntegro, religioso, e sê-lo realmente, mas estar com o espírito preparado e disposto de modo que, precisando não sê-lo, possas e saibas tornar-te o contrário, Deve-se compreender que um príncipe, e em particular um príncipe novo, não pode praticar todas aquelas coisas pelas quais os homens são considerados bons, uma vez que, freqüentemente, é obrigado, para manter o Estado, a agir contra a fé, contra a caridade, contra a humanidade, contra a religião. Porém, é preciso que ele tenha um espírito disposto a voltar-se segundo os ventos da sorte e as variações dos fatos o determinem e, como acima se disse, não apartar-se do bem, podendo, mas saber entrar no mal, se necessário.

Um príncipe, portanto, deve ter muito cuidado em não deixar escapar de sua boca nada que não seja repleto das cinco qualidades acima mencionadas, para parecer, ao vê-lo e ouvi-lo, todo piedade, todo fé, todo integridade, todo humanidade, todo religião; e nada existe mais necessário de ser aparentado do que esta última qualidade. É que os homens em geral julgam mais pelos olhos do que pelas mãos, porque a todos cabe ver mas poucos são capazes de sentir. Todos vêem o que tu aparentas, poucos sentem aquilo que tu és; e esses poucos não se atrevem a contrariar a opinião dos muitos que, aliás, estão protegidos pela majestade do Estado; e, nas ações de todos os homens, em especial dos príncipes, onde não existe tribunal a que recorrer, o que importa é o sucesso das mesmas, Procure, pois, um príncipe, vencer e manter o Estado: os meios serão sempre julgados honrosos e por todos louvados, porque o vulgo sempre se deixa levar pelas aparências e pelos resultados, e no mundo não existe senão o vulgo; os poucos não podem existir quando os muitos têm onde se apoiar. Algum príncipe dos tempos atuais, que não convém nomear, não prega senão a paz e fé, mas de uma e outra é ferrenho inimigo; uma e outra, se ele as tivesse praticado, ter-lhe-iam por mais de uma vez tolhido a reputação ou o Estado.

Obviamente, Maquiavel fala sobre o governante e sua relação para com o estado. Platão também, quando faz suas análises, engloba o estado, já que na época em que viveu o estado era tudo. O ideal, creio, é unir as duas visões não apenas no que diz respeito a temas políticos, mas a tudo que acontece em nossas vidas.