Aviso aos navegantes: escrevi este texto no dia 30 de novembro de 2004. Não me perguntem por quê: apenas me deu vontade de colocá-lo aqui, tal qual foi escrito na época. Por mais que pareça, o texto não é direcionado a ninguém: apenas estava eu lendo algumas coisas sobre o assunto, lembrei-me do texto e resolvi colocá-lo aqui. Não vou nem mesmo alterar o texto no sentido de corrigir os erros ali presentes; quero deixá-lo tal qual escrevi há mais de dois anos. Feitas tais ressalvas, vamos ao texto.
Esta imagem não tem como título "A Morte". Esta imagem representa a morte. Representa a morte de Dmitri, de branco, que foi morto por Ivan, seu pai. A imagem representa a morte dos dois -- a morte física de Dmitri e a morte moral, a morte da consciência, de Ivan.
"Diz a lenda" que Ivan, o Terrível -- um dos mais famosos e conhecidos czares da Rússia imperial (não lembro exatamente quando ele reinou) -- matou seu próprio filho, Dmitri. O motivo é que o Dmitri teria conspirado contra o pai em busca do poder imperial, e por este motivo Ivan, "o Terrível", matou o próprio filho.
A imagem deixa clara a morte de Dmitri, com o machucado na cabeça. Mas o pintor (não me perguntem o nome) foi maravilhosamente bem-sucedido ao retratar, no rosto de Ivan, o pânico, o arrependimento, o absurdo, a morte deste próprio. Parece-me que Ivan só percebe a merda que fez após a concretização do ato, após a morte do filho que ouso chamar de "querido" (porque parto do pressuposto de que todos os filhos são queridos pelos/para os pais).
A morte está presente no dia-a-dia de todos. Quando menos esperamos, um ente querido se vai (eu tive a presença da morte neste ano por duas vezes, em julho e em setembro, infelizmente). A morte acontece também em outros planos -- a morte de objetivos, a morte de projetos, a morte de idéias...
Neste exato momento, sinto que algo está morrendo. Eu tento lutar, tento fazer com que este algo não morra, mas já não tenho mais vontade de lutar contra isso. Ainda é difícil ignorar, ainda é difícil achar que "tudo já acabou", pois não acabou -- mas, se por um lado não acabou, por outro não está "de pé", como dizemos...
Sinto que, lentamente, este "fio de vida" que se encerra dentro de mim está ficando cada vez mais fino, cada vez mais tênue... E o pior -- por incrível que pareça, acho isto bom, por um lado. Claro que por outro lado é ruim, pois eu não queria que fosse assim; mas ao mesmo tempo me sinto bem com este final que -- ao que parece -- se aproxima. Sinto-me bem porque percebo que quando o "fio de vida" se apagar, o sofrimento também irá embora. Sinto que, quando tudo acabar (se acabar), estarei triste, é claro, mas não sofrerei mais -- ou melhor, sofrerei por ter acabado, mas não sofrerei por "estar acabando". Quando (Se) acabar, sentir-me-ei triste por ter acabado, mas também sentir-me-ei feliz por não ter mais por que sofrer.
E, quando (se) acabar... Não quero me gabar muito, mas a pessoa estará na posição de Ivan, e eu na posição de Dmitri: ela terá matado o que de mais precioso tinha, e após a morte, perceberá -- como Ivan -- que perdeu uma das bênçãos mais preciosas da sua vida.
PS: Uns dias atrás escrevi que eu estava "no fundo do poço"... Percebo agora como é verdadeiro o ditado -- "o buraco é mais embaixo".
Esta imagem não tem como título "A Morte". Esta imagem representa a morte. Representa a morte de Dmitri, de branco, que foi morto por Ivan, seu pai. A imagem representa a morte dos dois -- a morte física de Dmitri e a morte moral, a morte da consciência, de Ivan.
"Diz a lenda" que Ivan, o Terrível -- um dos mais famosos e conhecidos czares da Rússia imperial (não lembro exatamente quando ele reinou) -- matou seu próprio filho, Dmitri. O motivo é que o Dmitri teria conspirado contra o pai em busca do poder imperial, e por este motivo Ivan, "o Terrível", matou o próprio filho.
A imagem deixa clara a morte de Dmitri, com o machucado na cabeça. Mas o pintor (não me perguntem o nome) foi maravilhosamente bem-sucedido ao retratar, no rosto de Ivan, o pânico, o arrependimento, o absurdo, a morte deste próprio. Parece-me que Ivan só percebe a merda que fez após a concretização do ato, após a morte do filho que ouso chamar de "querido" (porque parto do pressuposto de que todos os filhos são queridos pelos/para os pais).
A morte está presente no dia-a-dia de todos. Quando menos esperamos, um ente querido se vai (eu tive a presença da morte neste ano por duas vezes, em julho e em setembro, infelizmente). A morte acontece também em outros planos -- a morte de objetivos, a morte de projetos, a morte de idéias...
Neste exato momento, sinto que algo está morrendo. Eu tento lutar, tento fazer com que este algo não morra, mas já não tenho mais vontade de lutar contra isso. Ainda é difícil ignorar, ainda é difícil achar que "tudo já acabou", pois não acabou -- mas, se por um lado não acabou, por outro não está "de pé", como dizemos...
Sinto que, lentamente, este "fio de vida" que se encerra dentro de mim está ficando cada vez mais fino, cada vez mais tênue... E o pior -- por incrível que pareça, acho isto bom, por um lado. Claro que por outro lado é ruim, pois eu não queria que fosse assim; mas ao mesmo tempo me sinto bem com este final que -- ao que parece -- se aproxima. Sinto-me bem porque percebo que quando o "fio de vida" se apagar, o sofrimento também irá embora. Sinto que, quando tudo acabar (se acabar), estarei triste, é claro, mas não sofrerei mais -- ou melhor, sofrerei por ter acabado, mas não sofrerei por "estar acabando". Quando (Se) acabar, sentir-me-ei triste por ter acabado, mas também sentir-me-ei feliz por não ter mais por que sofrer.
E, quando (se) acabar... Não quero me gabar muito, mas a pessoa estará na posição de Ivan, e eu na posição de Dmitri: ela terá matado o que de mais precioso tinha, e após a morte, perceberá -- como Ivan -- que perdeu uma das bênçãos mais preciosas da sua vida.
PS: Uns dias atrás escrevi que eu estava "no fundo do poço"... Percebo agora como é verdadeiro o ditado -- "o buraco é mais embaixo".
Um comentário:
po vc colou esse texto de algum blog seu.. tu ainda ta no fundo do poço?
beijos
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