31 de março de 2007

O dólar é barato

Por Carlos Alberto Sardenberg

E o dólar, hein?

Não tem como encarecer. O dólar caro do passado refletia a situação de uma economia que tinha pesados compromissos na moeda americana (importações a pagar, juros e dívida a amortizar) e, ao mesmo tempo, uma fraca capacidade de gerar dólares. Ou seja, o dólar era caro porque era escasso. E porque a confiança na economia brasileira, por causa mesmo dessa vulnerabilidade, era menor.

O cenário hoje é exatamente o contrário. O país tem uma enorme capacidade de gerar dólares (exportações anuais de US$ 140 bilhões, investimentos diretos que podem chegar a 20 bilhões ao ano, mais as aplicações em mercado financeiro e, finalmente, os dólares enviados por brasileiros que trabalham lá fora).

Quando o dólar custava mais de três reais, as reservas do Banco Central brasileiro eram de US$ 35 bilhões, as exportações, de US$ 60 bilhões, o superávit comercial mal aparecia, e a dívida externa era de US$ 220 bilhões.

Agora estamos no terceiro ano seguido de superávit em torno dos US$ 45 bilhões; as reservas chegam a US$ 110 bilhões e a dívida caiu para US$ 150 bilhões. Sendo que a dívida pública não chega a US$ 80 bilhões. Ou seja, o governo hoje é credor em dólares.

Com tudo isso, cai o risco de aplicar e emprestar ao Brasil. Governo e companhias privadas tomam empréstimos no exterior a juros cada vez menores – e é mais dólar que entra.

O dólar não está barato, o dólar é barato.


Limpar o caminho

Gostaria que minha vida, no momento, estivesse como esta imagem: sem obstáculos, sem preocupações, sem entraves, para que o caminho pudesse ser percorrido de maneira mais suave. Mas, como todos sabemos, as dificuldades se apresentam para que saibamos passar por cima delas. E é o que farei: meu caminho tornar-se-á livre e limpo, como a imagem, nem que pra isso eu precise usar um trator...




Um "dom"?

Certas pessoas têm um verdadeiro "dom": conseguem, em poucas palavras, de maneira bem sintética, colocar você pra baixo e fazer você se sentir mal por coisas que você acreditava superadas.

Eu me chateio no início. Mas, com o passar do tempo, a chateação se transforma em vingança. Que virá, mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra.


28 de março de 2007

Troca de partido: entenda decisão do TSE

TSE decidiu que o mandato parlamentar pertence ao partido e não ao deputado.
Para especialista, medida pode gerar "confusão".

Após uma consulta do PFL, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que o mandato dos vereadores, deputados estaduais e deputados federais pertence ao partido pelo qual o candidato foi eleito. Com isso, abre-se precedente para a legenda pedir de volta, na Justiça, a vaga daqueles que trocaram de partido.

Entenda como foi tomada a decisão e quais mudanças ela pode causar:

Pedido do PFL
No dia 1º de março, o então Partido da Frente Liberal (PFL), que oficializou nesta quarta (28) mudança do nome para Democratas, protocolou a consulta (CTA) número 1398 com a seguinte pergunta: “Os partidos e coligações têm o direito de preservar a vaga obtida pelo sistema eleitoral proporcional quando houver pedido de cancelamento de filiação ou de transferência do candidato eleito por um partido para outra legenda?”

Decisão do TSE
Por seis votos contra um, os ministros do tribunal definiram que os mandatos obtidos nas eleições por deputados estaduais, federais e vereadores pertencem aos partidos e não aos candidatos.

Motivos da decisão
De acordo com o ministro relator da consulta, Cesar Asfor Rocha, a Constituição estabelece, como condição de elegibilidade, a filiação partidária. Além disso, o relator citou o Código Eleitoral, que determina a eleição dos candidatos proporcionais (vereadores, deputados estaduais e deputados federais) por meio do quociente eleitoral, que considera a votação total dos partidos.

O que é quociente eleitoral
Somam-se todos os votos válidos (sem brancos ou nulos) referentes àquele cargo e divide-se o total pelo número de cadeiras em disputa. No caso da Câmara dos Deputados é considerado o total de votos válidos de cada estado e dividido pelo número de cadeiras a que cada estado tem direito. Se existem 20 cadeiras e 200 mil votos válidos, o quociente será 10 mil.

Isso significa que a cada 10 mil votos que o partido receber, elege um candidato - pela ordem dos mais votados. Por exemplo, se um candidato recebeu 45 mil votos e o partido como um todo 50 mil, mesmo tendo demais candidatos com baixa votação, conseguirá eleger cinco candidatos por causa do quociente eleitoral de 10 mil. Mesmo que o quinto colocado dentro daquele partido tenha um voto, ele será eleito. Um outro candidato, de partido diferente, que tenha tido votação maior, pode ficar de fora. O número de cadeiras de cada partido chama-se quociente partidário. As vagas que sobrarem são divididas de acordo com a proporcionalmente de cada partido na Casa.

O que muda e o que ainda pode mudar
De imediato, nada será alterado. No entanto, a decisão funciona como precedente para eventuais ações judiciais. Nesses casos, a legenda que se sentir prejudicada poderá reclamar na Justiça a vaga daquele que trocou de partido. Somente na Câmara dos Deputados, 36 parlamentares deixaram a legenda pela qual foram eleitos, o que, em tese, representa que podem perder o mandato.

Movimentação
PPS e Democratas (ex-PFL) já começaram a movimentação em relação à decisão. As legendas anunciaram que vão recorrer à Justiça para cancelar os diplomas dos deputados que deixaram o partido após as últimas eleições. Os partidos podem pedir a suspensão do diploma do eleito com base na decisão do TSE e solicitar expedição do diploma do suplente, que depois deve requerer sua posse na casa legislativa. Caso o Tribunal não atenda o pedido, pode-se recorrer ao Supremo Tribunal Federal.

Avaliação de especialista
Para o advogado especializado em direito eleitoral, Antônio Carlos Mendes, que já foi procurador do TRE de São Paulo e atuou no TSE quando exerceu função de sub-procurador da República, a decisão do TSE vai gerar “confusão”. “Quando há muitos interesses, as coisas se tornam de complexidade extrema.

Do ponto de vista jurídico deve prevalecer a orientação do TSE, mas haverá outra abordagem, do ponto de vista político, que vai gerar grande confusão.” Ele define o tema como um “caso difícil”, mas concorda com a decisão com base nos mesmos argumentos do TSE: a necessidade de filiação partidária e o quociente eleitoral.

Fonte: TSE e Antônio Carlos Mendes, advogado

27 de março de 2007

Confusão de conceitos

As pessoas acham que ser bonzinho é ser trouxa. Enganam-se tremendamente ao confundirem tais conceitos. E, como falam e fazem mais do que devem, depois ficam chorando pelos cantos.

Eu sou bonzinho, mas quando quero sei ser extremamente vingativo, sem nenhuma piedade. Esta faceta da minha personalidade estará presente nos próximos dias (ou semanas). E aí quero ver se continuarão com esta palhaçada.


26 de março de 2007

A semana começou bem

Domingo: churrasco dos alunos do Projeção. Tudo muito bom, sol, som que eu gosto (ainda que tenha tido uns forrós, que coisa horrível), só alegria. Mas o prenúncio de algo ruim se deu quando um "amigo" começou a pedir dicas demais sobre o que fazer em relação a mulheres. No final da festa, o fulano não apenas furou meu olho como queimou meu filme. Ao final do dia, vou conversar com certas pessoas que só fazem rir da minha desgraça.

Domingo para segunda: não sei o por quê, mas não dormi bem. Cochilei por aproximadamente uma hora e meia, e só.

Segunda: por algum motivo que não sei qual é, meu celular não despertou. Cheguei atrasado à aula (coisa que nunca aconteceu antes). Na hora do almoço, vou pegar o metrô -- atrasado -- para ir para o doutorado. O metrô no qual entro não funciona. Resultado: chego meia hora atrasado à aula (que, por sua vez, já tinha começado com 15 minutos de atraso). Na aula, fico meio que boiando no início, já que não havia lido todos os textos. Pra completar, a professora ainda me fala uma asneira do tamanho de um bonde e discute comigo, e se utiliza de sua autoridade pra buscar legitimidade pelo que falou. Eu não concordei, é claro, e surgiu o atrito (até que eu gostei desta parte do dia). À noite, dou minha aula quieto, e aí começam a falar asneiras em relação ao que eu não fiz no churrasco de ontem.

A semana realmente começou bem!


21 de março de 2007

Dicionário Aurélio é o pai dos burros

... No sentido de que dá origem a todos eles.

Nesta semana, venho aplicando provas para as turmas de Ciência Política. Nas diversas turmas, vi uma cena que muito me agradou: alunos puxando o dicionário e buscando definições de palavras desconhecidas. Trabalho excelente iniciado pela professora Valdíria, sem dúvida.

No entanto, algo me chamou a atenção hoje de manhã: um aluno disse que a definição do dicionário era diferente da que eu tinha dado em sala de aula. Resolvi folhear o dicionário e vi as seguintes definições:

  • Poder: Algo que se possui para mudar a vontade de outro.
  • Autoridade: O exercício do poder em uma estrutura hierárquica.
  • Legalidade: Legitimidade.
  • Legitimidade: O que é legal.

Ok. Tais dicionários tratam da linguagem "comum", e não da linguagem técnica da Ciência Política. Se alguém quer definições técnicas, que peguem o Dicionário de Política, do Norberto Bobbio. Isto é inegável e irrefutável.

Porém... Dizer que "legalidade = legitimidade" e "legitimidade = legalidade"... Que dicionário é este? Além de confundir dois conceitos extremamente diferentes mesmo no âmbito da linguagem "comum", ainda deixa o leitor na mão, já que um é igual ao outro e o outro é igual ao um, e nenhum deles é definido... Autoridade é poder apenas em uma estrutura hierárquica? Extremamente errado e inválido, mesmo na linguagem "comum"! Poder é algo que se possui? Também um absurdo!

Tais definições estreitas e extremamente erradas me fizeram advertir os alunos: usem o dicionário, mas com certa parcimônia. Pois, no que diz respeito à Ciência Política, o dicionário realmente é o pai dos burros, pois apresenta conceitos de forma errada, transformando os leitores em pessoas menos cultas após sua consulta.


20 de março de 2007

Maquiavel era maquiavélico?

Hoje a aula de "Metodologia Científica" para alunos de Sistemas de Informação foi interessante. Um grupo escolheu estudar o conceito de poder e sua aplicação na sociedade brasileira nos dias de hoje (juro que eu não os influenciei em nada na escolha do tema). E eles trouxeram, como objeto de pesquisa, dois dos autores que eu mais admiro: Nicolau Maquiavel e Max Weber.

Um deles já havia lido o livro "O príncipe", de Maquiavel, e estava meio que "deslumbrado", mostrando aos outros as supostas maquinações de Maquiavel e que, com o passar do tempo, deram origem ao adjetivo "maquiavélico" (como todos sabemos, tal adjetivo tem um sentido extremamente negativo: maquiavélico é aquele que é ardiloso, velhaco ou irônico). O aluno continuou sua "aula" falando sobre a famosa frase supostamente atribuída a Maquiavel: "Os fins justificam os meios".

Pois bem. Este aluno cometeu o erro clássico, que a grande maioria das pessoas comete: o de achar que Maquiavel foi realmente um filósofo político "malvado". Porém, Maquiavel não era nada disso: ao se analisar o conjunto de sua obra, percebe-se o caráter republicano (hoje diríamos democrático) de suas idéias e de suas propostas. Percebe-se, analisando-se o conjunto completo, que Maquiavel era totalmente favorável à participação popular (lembrando-se, sempre, de quem eram os "cidadãos" à época em que vive), o que até mesmo favoreceria a idéia lançada por Rousseau de que Maquiavel não escreveu um livro sobre como o governante deve governar, e sim um livro que mostrava ao povo como os governantes efetivamente se comportavam ao possuir o poder.

É inegável a importância do livro no cenário político contemporâneo. Ela realçou a questão das relações entre a política e a moral. Rompeu de maneira profunda com os clássicos políticos, notadamente com Platão e Aristóteles, dando origem a um novo "tipo" de Ciência Política -- aquela fundamentada no que é, e não no que deve ser. No entanto, a obra é muito mais citada do que lida, o que, eventualmente, traz problemas de interpretação como o citado anteriormente. É inegável, portanto, a necessidade premente de se ler o texto propriamente dito, ao invés de se buscar "o que disseram" sobre o mesmo. O livro pode ser facilmente encontrado em diversos sites na internet, e fica aqui a sugestão para que todos o leiam assim que possível.

19 de março de 2007

O pensar sobre o pensar

As pessoas não dão nada para disciplinas como "Metodologia Científica" ou "Filosofia". Acham que tais disciplinas são inúteis, desnecessárias, chatas, que não servem pra nada. As pessoas não percebem que é apenas por meio de tais disciplinas que hoje a ciência está onde está: em um patamar considerado por todos como extremamente elevado (ainda que eu tenha dúvidas sobre isto, mas fica pra outro momento).

Quando percebem as possibilidades teóricas e práticas que tais disciplinas trazem para seu quotidiano, só então acreditam que essas disciplinas têm mais a oferecer do que apenas "chatisse". Quando percebem que tais disciplinas trazem clareza, ordem, lógica e racionalidade ao pensamento humano, aí sim passam a dar o valor que as disciplinas têm e merecem. Quando percebem que, ao seguir um pensamento filosófico-metodológico estrito, conseguem resolver problemas do seu dia-a-dia, aí as disciplinas deixam de ser chatas e se tornam interessantes.

E eu, como professor dessas duas disciplinas, sinto-me realizado quando os alunos percebem que essas disciplinas são não apenas interessantes, mas profundamente importantes na maneira de pensar nos dias de hoje. Pena que, às vezes, tal reconhecimento venha tarde... Mas "antes tarde do que nunca". E, mais ainda, fico feliz por ser eu o responsável por despertar nos alunos o interesse pela ciência e pela pesquisa científica, coisa tão desprezada em nosso país...


18 de março de 2007

O que é estar sozinho?

Nos finais de semana, é quase sempre a mesma coisa: converso com determinada pessoa no msn, e esta pessoa sempre me deixa irritado porque ela acha que não pode "ficar parada" no fim de semana. Esta pessoa acha ruim o fato de "não ter nada pra fazer" e ter de ficar em casa em "pleno domingo". Esta pessoa diz que sente ódio quando marca alguma coisa com alguém no domingo (geralmente amigas dela) e as pessoas "dão pra trás", deixando-a sem fazer nada.

Relacionando-se com isto, outras pessoas, quando descobrem que moro sozinho em Brasília -- não apenas no sentido de que vivo em um apartamento sozinho, mas também no sentido de que não há ninguém da minha família aqui --, perguntam-me: "Como você consegue morar sozinho? Não é ruim?"

Parece-me que as pessoas acham que, para serem/estarem felizes, elas precisam estar rodeadas de pessoas, sejam conhecidas ou não. Parece-me que as pessoas projetam sua alegria e felicidade na presença de outros, e não em si próprias.

Sei que a idéia a seguir é um clichê, mas eu acredito piamente nela: se não estivermos bem conosco mesmos, será possível que a "mera" presença de outra(s) pessoa(s) vai nos fazer melhorar? De que adianta estarmos rodeados de diversas pessoas, sejam elas familiares, amigos ou desconhecidos, se não estivermos satisfeitos com nossa própria vida?

É claro que, às vezes, sentimos falta de outras pessoas que nos são próximas. Ontem mesmo, sábado, falei para uma amiga minha que eu estava "querendo colo", pois gostaria de ter a companhia de alguém. Mas... Querer colo não significa dizer que eu preciso da presença de alguém o tempo todo para estar satisfeito comigo mesmo.

É por isso que (eu acho) as pessoas se surpreendem quando digo que o parente mais próximo meu mora a 850 km daqui e, mesmo assim, eu estou bem. Estou bem porque estou satisfeito comigo, não tenho do que reclamar, estou feliz comigo próprio e, principalmente, com o que sou capaz de fazer. Se estou feliz comigo, por que preciso estar com alguém ao meu lado ou sair o tempo todo para me sentir satisfeito? Acredito que, se alguém tem tanta necessidade destes subterfúgios, significa dizer que tal pessoa não está satisfeita consigo mesma, e de nada adiantará o contato com outros -- irá apenas prejudicá-los, e não melhorará em nada a sua própria vida.


14 de março de 2007

Mais uma do Sardenberg

Companheiros

O presidente Lula está precisando dar um chega-pra-lá no companheiro Hugo Chávez. E terá uma oportunidade em breve: no seu périplo anti-Bush, Chávez disse que pretende ter uma conversa com Lula, para dizer ao companheiro que o Brasil não deve usar alimentos (cana-de-açúcar ou soja) para produzir combustíveis (etanol e biodiesel) para os carros dos ricos.

Se Lula quiser responder à altura, vai aqui uma modesta sugestão: dizer que a gente topa parar de produzir o etanol e cancela o acordo com Bush, se ele, Chávez, parar de vender petróleo para os carros dos americanos.

Oitenta por cento do petróleo venezuelano, produto poluente, registre-se, vai para os EUA, o mercado mais rico do mundo. Com isso, Chávez faz um caminhão de dinheiro para alimentar sua revolução bolivariana.

Eis o ponto: é o consumidor americano que financia Chávez. Mas se ele quiser impor um dano enorme ao imperialismo, basta negar o petróleo aos americanos e vender só para os companheiros da América Latina.

Claro que ele não vai fazer isso. Mas acha errado o Brasil alimentar o plano de vender etanol para os EUA e pelo mundo afora.

Eu realmente não entendo como esse pessoal, inclusive aqui no Brasil, acredita nesse Chávez.


12 de março de 2007

Não sumi

Ok, sumi nos últimos dias, mas não sumi. Na verdade, foi apenas um pouco de falta de tempo, mas não abandonei o blog. Continuarei postando aqui sempre!


8 de março de 2007

Juros em queda (texto do Sardenberg)

Juros em queda

Pontos a notar na decisão do Copom de reduzir a taxa básica de juros de 13% para 12,75% ao ano:

. foi por unanimidade (as duas decisões anteriores haviam sido por 5 a 3).

. foi a 14a. redução seguida da taxa de juros, indicando um consistente processo.

. fica implícito que a queda de juros continua, no ritmo indicado no comunicado anterior do BC e que pode ser assim reduzido: de 0,25 em 0,25 se vai mais longe.

. a taxa real de juros, descontada a inflação esperada, está na casa dos 8,5%, o nível mais baixo desde a introdução do regime de metas de inflação.

. a taxa real de juros já chegou a 8% no Brasil, mas por um mau motivo, a alta da inflação. Agora, a taxa está na casa do 8% com inflação baixa e expectativa contida.

Há especialistas no assunto que acreditam que o BC poderia ter sido mais rápido na redução dos juros. Mas não se pode negar que o BC está entregando o serviço que se espera dele: colocar a inflação no chão e mantê-la lá. Conseguiu isso e está derrubando os juros.

Não é pouca coisa.

Ah!, mas o Brasil não cresce, dizem.

Sim, mas que tal procurar as causas em outro lugar?


6 de março de 2007

Atitude científica

Ontem, segunda, dei aula na parte da manhã e na parte da noite para alunos do curso de Sistemas de Informação. A disciplina ministrada foi "Metodologia Científica".

Na primeira aula, sempre falo sobre o que é o conhecimento e como ele é organizado. É uma pequena introdução para o desenvolvimento da disciplina, já que os alunos terão de aprender os métodos e as técnicas consideradas científicas para poder organizar o conhecimento que eles adquirirão/criarão durante o decorrer do curso. Começo sempre falando sobre filosofia, já que é ela que introduziu na humanidade algumas das características fundamentais para o que hoje chamamos de ciência.

É interessante ver as reações das pessoas quando percebem que muito do que temos hoje como "método científico" teve sua origem há uns 2.300 anos atrás. É interessante ver a cara de "susto" dos alunos quando percebem que certos conceitos surgiram lá atrás e continuam presentes, vivos, funcionais. Os alunos percebem que filosofia não é "falar besteira sobre alguma coisa" ou "falar água demais".

Mas o mais interessante de tudo não é isso. O mais interessante é ver as reações dos alunos quando eu lanço a clássica pergunta: "Prove que Deus existe". Por que faço tal pergunta? Porque é necessário separar os tipos de conhecimento existentes (teológico/religioso, filosófico, comum e científico). E já procuro, logo no início, imprimir nos alunos uma característica fundamental da atitude científica -- a impessoalidade.

Ora, como é possível ser imparcial se o indivíduo pensar com base em seus valores e crenças pessoais? Isto é impossível. Por isso, procuro sempre enfatizar o fato de que um cientista, um pesquisador -- e todos que estamos em uma instituição de ensino superior, queiramos ou não, somos cientistas e pesquisadores -- deve buscar ao máximo deixar seus valores e crenças de lado, pois tais valores e crenças não devem/podem influenciar o trabalho científico-acadêmico de maneira alguma.

Quais os valores mais arraigados em um indivíduo? São os valores teológicos. Ainda mais no Brasil, pais considerado com o maior número de católicos do mundo, por um lado, e país com uma das maiores taxas de crescimento de igrejas protestantes/evangélicas. Então, sempre procuro, logo de início, enfatizar o fato de que tais valores não podem influenciar o trabalho que os alunos vão fazer.

Em 2005, um grupo resolveu estudar o racismo no Brasil. O trabalho foi extremamente bem feito: os alunos fizeram uma pesquisa bibliográfica, entrevistaram algumas pessoas e apresentaram os resultados utilizando-se de critérios estatísticos. Apesar de algumas falhas, o trabalho, no geral, foi realmente bem feito. Mas houve um item que, a meu ver, era extremamente preocupante: ao final, o grupo afirmou algo como "o racismo não deve existir porque todos somos filhos de Deus e, perante Ele, somos todos iguais". As palavras eram outras, mas o sentido era este.

Por que isto me preocupou? Porque, para um trabalho científico, é impossível o pesquisador comprovar esta frase. Em um trabalho científico-acadêmico, devem ser feitas apenas afirmações que possam, de alguma maneira, ser comprovadas. Se há algo que é uma especulação -- seja uma especulação racional, como qual deve ser o melhor tipo de governo, ou uma especulação teológica, do tipo "o céu é azul porque Deus quer" --, este algo não deve estar presente de maneira alguma. Cientificamente, é possível fazer afirmações apenas sobre aquilo que temos como provar. Especulações, especialmente aquelas que têm como fundamento a origem divida de algo, são impensáveis em um trabalho acadêmico-científico.

É por isto que sempre lanço algumas perguntinhas bem "provocantes" para os alunos. Muitos ficam indignados, achando que sou ateu, mas ao final sempre deixo claro que meu objetivo não é abalar a fé de ninguém. Meu objetivo é bem mais simples: tentar fazer com que meus alunos tenham uma atitude verdadeiramente científica em seus trabalhos. E, cá entre nós, também me divertir um pouquinho: é um barato ver a cara de surpresa/susto dos alunos quando vejo a expressão de pânico deles ao perguntar "prove que Deus existe".


4 de março de 2007

Reflexões por imagens

Abaixo coloco uma seqüência de fotos. Talvez vocês já as tenham visto. Em todo caso, tais imagens servem para fazermos uma reflexão sobre nós mesmos e nosso papel no mundo e no universo de uma maneira geral. Toda vez que meu ego começa a subir demais à cabeça, vejo tais imagens e penso o quão insignificante eu sou em termos físicos. É em momentos como estes que me pergunto: qual o objetivo de tudo isto?

Apesar das legendas estarem em inglês, imagino que todos conseguirão entender.







Voltando à normalidade

Boa noite a todos.

Acredito que a partir de hoje estarei voltando à normalidade. Sabem como é: primeira semana de aula, correria com os primeiros dias de cada disciplina, explicações repetidas em todas as turmas, atividades extra-classe, montagem de pastas com originais de textos, e-mails diversos de alunos que não entendem o que dizemos em sala de aula... E aula. Aula e mais aula.

Aula foi o que não faltou nesta minha semana. Aula todos os dias, de manhã e à tarde -- inclusive no final de semana. Trabalhei ontem (sábado) das 8 h da manhã às 18 h da tarde. Trabalhei hoje (domingo) das 8:30 h às 12:30 h. Aula para alunos de graduação, de pós-graduação e até mesmo aulas de inglês, substituindo um amigo que não pôde trabalhar em um dia específico.

Querem mais atividades? Ida à UnB na segunda à tarde para fazer a inscrição para o doutorado. Visita ao STJ na terça-feira, acompanhando os alunos em visita orientada da faculdade. Ida ao Plano na quarta para me despedir de um amigo que vai ficar um ano na Rússia. Ida a Planaltina na quinta para pegar um contrato. Sexta à tarde, descanso propositado em casa -- até tive vontade de escrever no blog, mas ao mesmo tempo não tive... Contradição inexplicável.

Fora todas estas atividades, a falta de ritmo para dar aulas. Pois é, depois de quase dois meses de férias (oficiais ou "forçadas", como no início de fevereiro), percebi que estava fora do ritmo para dar aula. Especialmente nos três primeiros dias da semana, cansava-me extremamente rápido durante as aulas. Na quinta, na sexta, ontem (sábado) e hoje (domingo) já não me cansei tão rapidamente -- pois já estava constantemente cansado, e não havia como ficar mais. A semana realmente foi puxada. Mas creio que agora já estou pegando este ritmo novamente.

Mas a semana não foi apenas de cansaço e dores de cabeça (tive uma quase insuportável na terça à noite), nem apenas de irritações nos olhos (frequentes especialmente ontem e hoje, acho que devido ao pouco tempo de sono). A semana foi também de bons momentos. Um deles refere-se ao contato constante com certa pessoa, que consegue melhorar meu animo se ele estiver ruim e deixá-lo melhor ainda se já estiver bom. Outro momento bom foi estar com um amigo especial (o que viajou para a Rússia). Partiu-me o coração (de verdade) quando saí do apartamento da namorada dele e entrei no elevador pra ir embora. Um dos meus poucos amigos verdadeiros que, como outros, seguiu um caminho diferente e, a partir de agora, estará fisicamente distante. Outro momento especial -- que aconteceu duas vezes, na verdade -- foi falar com minha família, especialmente com meu sobrinho. Desnecessário explicar em detalhes a beleza e plenitude de tais momentos.

Mas não apenas de assuntos materiais foi feita a minha semana. Temas mais filosóficos também estiveram presentes, fazendo-me pensar sobre diversos temas nos momentos de descanso (como a hora do banho, por exemplo). Tais momentos filosóficos tiveram seu ápice ontem, sábado, das 19:20 às 21 h, durante o eclipse total da lua -- quando subi ao telhado do meu prédio e fiquei ali, sozinho, acompanhando o evento. Apesar do cansaço e do sono, foi um ótimo período durante o qual pude refletir sobre um monte de coisas que, quem sabe, escreverei aqui no futuro...