(Original aqui)
Talvez se Paul Wolfowitz tivesse entrado com tanques e a 82nd Airborne no Banco Mundial ele tivesse conseguido promover mais depressa sua namorada, mas os resultados teriam sido os mesmos que ele conseguiu em Bagdá: confusão, profundas divisões entre aliados e ex-aliados e a completa falta de perspectivas. O indivíduo Wolfowitz e suas paixões pessoais e políticas foram tratados aqui na última coluna. O que interessa agora é examinar o que a renúncia do presidente do Banco Mundial significa para a política externa norte-americana.
Não é cinismo quando se afirma que somos privilegiados em poder assistir em tão pouco tempo à derrocada de uma postura completamente equivocada para resolver problemas internacionais -a postura do governo Bush. Se pudéssemos fornecer um retrato 3 x 4 da arrogância de quem se acha imbuído de uma missão, e da visão “certa” do mundo (que transforma automaticamente em adversário ou incompetente quem dela discorda), surgiria o rosto de Wolfowitz, e seus cabelos engomados com a própria saliva (lembram-se da cena dele lambendo o pente antes de passá-lo pela cabeleira?).
A burocracia do Banco Mundial sentiu em poucos dias em 2005, quando Wolfowitz assumiu a presidência, como as coisas tinham sido conduzidas pela turma de Bush no Pentágono e no Departamento de Estado. Wolfowitz confiava nas opiniões de um círculo muito pequeno de colaboradores, desprezava qualquer dissenso e declarava mal intencionado ou corrupto qualquer adversário. Tinha posições categóricas e definitivas sobre alguns assuntos, que tratou de empurrar goela abaixo de uma escada administrativa que ele considerava inepta e preguiçosa.
Eram exatamente as mesmas palavras que Wolfowitz & Cia usavam para descrever os procedimentos internos no Pentágono, no Departamento de Estado e na própria CIA, com a qual ele teve alguns de seus piores conflitos. Wolfowitz e sua turma de neoconservadores ignoravam conselhos, pareceres ou mesmo informações razoavelmente seguras que não se ajustassem à sua visão “certa” de mundo, que consiste, basicamente, em acreditar que valores americanos (tais como eles os definem) podem ser implantados em qualquer parte do mundo em bem pouco tempo.
Desde o desastre do Iraque a realidade vem se impondo com notável rapidez aos amadores e missionários em política externa do tipo de Wolfowitz. Talvez a grande lição, extremamente positiva para o resto do mundo, seja a de que a Casa Branca não tem capacidade de resolver sózinha nenhum grande problema internacional. O episódio do Banco Mundial é bastante ilustrativo: se dependesse de Wolfowitz e de Washington, ele teria ficado no banco. Os europeus contribuem menos do que os Estados Unidos para os US$ 22 bilhões que o Banco Mundial distribui anualmente para países pobres, mas impuseram a saída de um presidente que nunca engoliram.
É tenue, na atuação de personagens como Wolfowitz (Bush e muitos outros também), a linha que separa convicção de teimosia, princípios de dogmas, coragem de burrice. Wolfowitz (e Bush) é teimoso, dogmático e burro. São péssimas características para quem quer transformar o mundo à imagem que eles fazem das relações internacionais. Não nos esqueçamos, porém, de que nenhum desses neoconservadores -apegados antes às suas crenças do que aos fatos- tomou de assalto o poder.
Eles espelham um bom segmento do jeito de pensar e agir da sociedade americana. A decepção do eleitor americano com Bush vem em grande parte do fato de ter percebido, com notável atraso, que nem a economia nem a guerra do Iraque andaram como ele prometia que andariam. Nesse sentido, é interessante notar como os republicanos começam a perder o Sul do país, que foi essencial para suas últimas vitórias.
Talvez a derrota pessoal -que é sobretudo uma derrota política- de gente como Wolfowitz inicie um processo de elaboração de outro tipo de plataformas intelectuais, um processo no qual os "think tanks" republicanos se mostraram tão competentes e imaginativos. Não é ainda o que parece. Nas críticas de Wolfowitz e seus amigos à “consciência liberal” americana há bons fundamentos. O refluxo dos neoconservadores é só um trecho de uma revolução cultural ainda em andamento.
Talvez se Paul Wolfowitz tivesse entrado com tanques e a 82nd Airborne no Banco Mundial ele tivesse conseguido promover mais depressa sua namorada, mas os resultados teriam sido os mesmos que ele conseguiu em Bagdá: confusão, profundas divisões entre aliados e ex-aliados e a completa falta de perspectivas. O indivíduo Wolfowitz e suas paixões pessoais e políticas foram tratados aqui na última coluna. O que interessa agora é examinar o que a renúncia do presidente do Banco Mundial significa para a política externa norte-americana.
Não é cinismo quando se afirma que somos privilegiados em poder assistir em tão pouco tempo à derrocada de uma postura completamente equivocada para resolver problemas internacionais -a postura do governo Bush. Se pudéssemos fornecer um retrato 3 x 4 da arrogância de quem se acha imbuído de uma missão, e da visão “certa” do mundo (que transforma automaticamente em adversário ou incompetente quem dela discorda), surgiria o rosto de Wolfowitz, e seus cabelos engomados com a própria saliva (lembram-se da cena dele lambendo o pente antes de passá-lo pela cabeleira?).
A burocracia do Banco Mundial sentiu em poucos dias em 2005, quando Wolfowitz assumiu a presidência, como as coisas tinham sido conduzidas pela turma de Bush no Pentágono e no Departamento de Estado. Wolfowitz confiava nas opiniões de um círculo muito pequeno de colaboradores, desprezava qualquer dissenso e declarava mal intencionado ou corrupto qualquer adversário. Tinha posições categóricas e definitivas sobre alguns assuntos, que tratou de empurrar goela abaixo de uma escada administrativa que ele considerava inepta e preguiçosa.
Eram exatamente as mesmas palavras que Wolfowitz & Cia usavam para descrever os procedimentos internos no Pentágono, no Departamento de Estado e na própria CIA, com a qual ele teve alguns de seus piores conflitos. Wolfowitz e sua turma de neoconservadores ignoravam conselhos, pareceres ou mesmo informações razoavelmente seguras que não se ajustassem à sua visão “certa” de mundo, que consiste, basicamente, em acreditar que valores americanos (tais como eles os definem) podem ser implantados em qualquer parte do mundo em bem pouco tempo.
Desde o desastre do Iraque a realidade vem se impondo com notável rapidez aos amadores e missionários em política externa do tipo de Wolfowitz. Talvez a grande lição, extremamente positiva para o resto do mundo, seja a de que a Casa Branca não tem capacidade de resolver sózinha nenhum grande problema internacional. O episódio do Banco Mundial é bastante ilustrativo: se dependesse de Wolfowitz e de Washington, ele teria ficado no banco. Os europeus contribuem menos do que os Estados Unidos para os US$ 22 bilhões que o Banco Mundial distribui anualmente para países pobres, mas impuseram a saída de um presidente que nunca engoliram.
É tenue, na atuação de personagens como Wolfowitz (Bush e muitos outros também), a linha que separa convicção de teimosia, princípios de dogmas, coragem de burrice. Wolfowitz (e Bush) é teimoso, dogmático e burro. São péssimas características para quem quer transformar o mundo à imagem que eles fazem das relações internacionais. Não nos esqueçamos, porém, de que nenhum desses neoconservadores -apegados antes às suas crenças do que aos fatos- tomou de assalto o poder.
Eles espelham um bom segmento do jeito de pensar e agir da sociedade americana. A decepção do eleitor americano com Bush vem em grande parte do fato de ter percebido, com notável atraso, que nem a economia nem a guerra do Iraque andaram como ele prometia que andariam. Nesse sentido, é interessante notar como os republicanos começam a perder o Sul do país, que foi essencial para suas últimas vitórias.
Talvez a derrota pessoal -que é sobretudo uma derrota política- de gente como Wolfowitz inicie um processo de elaboração de outro tipo de plataformas intelectuais, um processo no qual os "think tanks" republicanos se mostraram tão competentes e imaginativos. Não é ainda o que parece. Nas críticas de Wolfowitz e seus amigos à “consciência liberal” americana há bons fundamentos. O refluxo dos neoconservadores é só um trecho de uma revolução cultural ainda em andamento.
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