(Original aqui)
Sem dúvida há coisas bem mais sérias e sensatas na viagem de Lula à Índia do que ocupar-se com declarações de Hugo Chávez. É culpa do próprio governo brasileiro, e especialmente de assessores de Lula, que o encontro entre dois dos quatro gigantescos “Bric’s” (Brasil, Russia, Índia e China) gere manchetes sobretudo em torno dos já costumeiros deslizes verbais do presidente venezuelano.
Chávez criou para Lula um problema de política externa, e a política externa de Lula é dúbia, ambígua e mal formulada. O mérito do presidente venezuelano, ao proferir grosseiras ofensas contra instituições brasileiras, é expor essa ambigüidade. Lula se comporta em política externa (para usar o tipo de comparação do qual ele gosta) como aqueles armandinhos de meio-campo que nem defendem e nem atacam direito -mas pegam bastante na bola.
Chega a ser engraçado observar o sorriso amarelo de assessores de Lula quando confrontados com as ofensas que Chávez dirigiu a um Congresso dominado por uma coligação que inclui o partido do presidente, o PT, e seus principais aliados (clique aqui para ler o ataque de Chávez). Vários desses assessores passaram a vida acadêmica e intelectual tratando de provar sua aversão ao “imperialismo norte-americano”, para serem chamados agora de papagaios de Washington? E por Chávez, em quem alguns genuinamente enxergam um “revolucionário”?
Há tempos observa-se um confronto de interesses entre o Brasil e a Venezuela -ressalvados os bons negócios de empresas brasileiras por lá (com um senão: já há um comitê criado na Fiesp para acudir empresários brasileiros credores de empresas venezuelanas). Ao Brasil não interessa um confronto verbal com os Estados Unidos, muito menos nos termos postulados por Chávez. Ao Brasil não interessa vizinhos pouco confiáveis, como o presidente boliviano Evo Morales, apoiado, financiado e, em boa parte, dirigido por Chávez.
Ao Brasil não interessa um “parceiro” (como Lula insiste em chamar Chávez) que persegue apenas a sua agenda política, não importa qual seja a nossa. E há algo que precisa, sim, ser dito aqui de maneira clara, e sobre a qual a política externa de Lula é incapaz de se pronunciar: o candidato a tirano em Caracas, um político desequilibrado e famoso por suas macaquices em palanques, ao fechar a RCTV cometeu um grave atentado à liberdade de expressão, comparável apenas ao que foi feito por ditaduras de direita na América do Sul (leia a coluna sobre Chávez).
É o recurso dos pobres de espírito e dos desonestos intelectuais dizer que Chávez fez algo “legal”, no sentido de estar amparado pela legislação. A História está cheia de tiranos, maiores ou menores, que tomaram “medidas legais” para coibir, oprimir ou calar vozes de dissenso, exatamente o que acontece na Venezuela agora. E aí está uma grande ambigüidade da política externa de Lula: ela não parece ser capaz de defender princípios -julga-se “esperta” por manobrar entre oportunidades.
Que ninguém me entenda errado, mas um general como Ernesto Geisel, que os atuais ocupantes do Planalto tanto admiram (pelos motivos equivocados, aliás), sabia peitar um outro país quando se julgava atacado. Fez isso com os Estados Unidos, diga-se de passagem. A atual política externa brasileira não sabe falar nem grosso e nem suave, mas nossos vizinhos sabem que ela sempre cederá. Foi assim com a Bolívia, com a Argentina e com a Venezuela. Será assim amanhã com o Paraguai?
É um engano brutal, típico de amadores com visão equivocada de História e relações internacionais, achar que ser bonzinho com um vizinho significa que o vizinho será bonzinho conosco. E mais uma coisa: política externa se faz também com palavras, sim. Elas ganham vida própria, pairam no ar, para o bem e para o mal.
Dizer, como Lula disse, que “Chávez cuida da Venezuela e eu do Brasil” é como pedir desculpas por ter sido esculhambado.
Sem dúvida há coisas bem mais sérias e sensatas na viagem de Lula à Índia do que ocupar-se com declarações de Hugo Chávez. É culpa do próprio governo brasileiro, e especialmente de assessores de Lula, que o encontro entre dois dos quatro gigantescos “Bric’s” (Brasil, Russia, Índia e China) gere manchetes sobretudo em torno dos já costumeiros deslizes verbais do presidente venezuelano.
Chávez criou para Lula um problema de política externa, e a política externa de Lula é dúbia, ambígua e mal formulada. O mérito do presidente venezuelano, ao proferir grosseiras ofensas contra instituições brasileiras, é expor essa ambigüidade. Lula se comporta em política externa (para usar o tipo de comparação do qual ele gosta) como aqueles armandinhos de meio-campo que nem defendem e nem atacam direito -mas pegam bastante na bola.
Chega a ser engraçado observar o sorriso amarelo de assessores de Lula quando confrontados com as ofensas que Chávez dirigiu a um Congresso dominado por uma coligação que inclui o partido do presidente, o PT, e seus principais aliados (clique aqui para ler o ataque de Chávez). Vários desses assessores passaram a vida acadêmica e intelectual tratando de provar sua aversão ao “imperialismo norte-americano”, para serem chamados agora de papagaios de Washington? E por Chávez, em quem alguns genuinamente enxergam um “revolucionário”?
Há tempos observa-se um confronto de interesses entre o Brasil e a Venezuela -ressalvados os bons negócios de empresas brasileiras por lá (com um senão: já há um comitê criado na Fiesp para acudir empresários brasileiros credores de empresas venezuelanas). Ao Brasil não interessa um confronto verbal com os Estados Unidos, muito menos nos termos postulados por Chávez. Ao Brasil não interessa vizinhos pouco confiáveis, como o presidente boliviano Evo Morales, apoiado, financiado e, em boa parte, dirigido por Chávez.
Ao Brasil não interessa um “parceiro” (como Lula insiste em chamar Chávez) que persegue apenas a sua agenda política, não importa qual seja a nossa. E há algo que precisa, sim, ser dito aqui de maneira clara, e sobre a qual a política externa de Lula é incapaz de se pronunciar: o candidato a tirano em Caracas, um político desequilibrado e famoso por suas macaquices em palanques, ao fechar a RCTV cometeu um grave atentado à liberdade de expressão, comparável apenas ao que foi feito por ditaduras de direita na América do Sul (leia a coluna sobre Chávez).
É o recurso dos pobres de espírito e dos desonestos intelectuais dizer que Chávez fez algo “legal”, no sentido de estar amparado pela legislação. A História está cheia de tiranos, maiores ou menores, que tomaram “medidas legais” para coibir, oprimir ou calar vozes de dissenso, exatamente o que acontece na Venezuela agora. E aí está uma grande ambigüidade da política externa de Lula: ela não parece ser capaz de defender princípios -julga-se “esperta” por manobrar entre oportunidades.
Que ninguém me entenda errado, mas um general como Ernesto Geisel, que os atuais ocupantes do Planalto tanto admiram (pelos motivos equivocados, aliás), sabia peitar um outro país quando se julgava atacado. Fez isso com os Estados Unidos, diga-se de passagem. A atual política externa brasileira não sabe falar nem grosso e nem suave, mas nossos vizinhos sabem que ela sempre cederá. Foi assim com a Bolívia, com a Argentina e com a Venezuela. Será assim amanhã com o Paraguai?
É um engano brutal, típico de amadores com visão equivocada de História e relações internacionais, achar que ser bonzinho com um vizinho significa que o vizinho será bonzinho conosco. E mais uma coisa: política externa se faz também com palavras, sim. Elas ganham vida própria, pairam no ar, para o bem e para o mal.
Dizer, como Lula disse, que “Chávez cuida da Venezuela e eu do Brasil” é como pedir desculpas por ter sido esculhambado.
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