"Daí também ele [o estoicismo] nos fazer outra recomendação essencial: já que a única dimensão da vida real é a do presente e já que, por definição, esse presente vive em perpétua flutuação, é sábio habituar-se a não se apegar ao que passa. Sem isso, preparamos para nós mesmos os piores sofrimentos que possam existir.
“Em defesa do ‘não apego’
“É nesse sentido que o estoicismo, em um espírito próximo ao do budismo, defende uma atitude de ‘não-apego’ aos bens deste mundo, como sugere Epicteto em um texto que os mestres tibetanos sem dúvida não renegariam:
“Compreenda bem o que Epicteto quer dizer: não se trata absolutamente de ser indiferente, muito menos de faltar aos deveres que a compaixão pelos outros nos impõe, em especial por aqueles que amamos. Nem por isso podemos deixar de desconfiar como da própria sombra dos apegos que nos fazem esquecer o que os budistas chamam de ‘impermanência’, o fato de que nada é estável neste mundo, que tudo muda e passa, e que não compreender isso é preparar para si mesmo os horríveis tormentos da nostalgia e da esperança. É preciso saber contentar-se com o presente, amá-lo o bastante para não desejar nada além dele, nem lamentar o que quer que seja. A razão, que nos guia e nos convida a viver conforme a natureza cósmica, deve ser então purificada dos sedimentos que a sobrecarregam e falsificam, assim que ela se perde nas dimensões irreais do tempo: o passado e o futuro.
“Mas, mesmo quando capturada pelo espírito, essa verdade ainda está longe de ser posta em prática. Por essa razão, Marco Aurélio convida seu discípulo a encarná-la concretamente:
Fonte: FERRY, Luc. Aprender a viver. Trad. Vera Lucia dos Reis. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. Pág. 66-68.
E depois dizem que a filosofia não serve pra nada. Querem exemplo mais contundente do que o postado acima? Ao invés de ler livros de auto-ajuda, as pessoas deveriam ler os grandes clássicos da filosofia. Sem dúvida alguma, sentir-se-iam muito mais confortadas se parassem para pensar e para agir com a razão, deixando de lado os extremos da emoção e, conseqüentemente, deixando de lado todo o sofrimento pelo qual sempre passam...
“Em defesa do ‘não apego’
“É nesse sentido que o estoicismo, em um espírito próximo ao do budismo, defende uma atitude de ‘não-apego’ aos bens deste mundo, como sugere Epicteto em um texto que os mestres tibetanos sem dúvida não renegariam:
“O primeiro e principal exercício, o que conduz de imediato às portas do bem, consiste, quando uma coisa nos prende, em considerar que ela não é daquelas que não nos podem ser tiradas: que ela é como uma panela, ou uma taça de cristal, que quando se quebra não nos perturba porque lembramos o que ela é. O mesmo acontece aqui: se abraças um filho, um irmão ou um amigo, não te abandones sem reservas à imaginação... Lembra-te que amas um mortal, um ser que não é absolutamente tu mesmo. Ele e foi concedido para o momento, mas não para sempre, nem sem que te possa ser tomado... Que mal existe em murmurar entre dentes, enquanto se abraça o filho: ‘amanhã ele morrerá?’
“Compreenda bem o que Epicteto quer dizer: não se trata absolutamente de ser indiferente, muito menos de faltar aos deveres que a compaixão pelos outros nos impõe, em especial por aqueles que amamos. Nem por isso podemos deixar de desconfiar como da própria sombra dos apegos que nos fazem esquecer o que os budistas chamam de ‘impermanência’, o fato de que nada é estável neste mundo, que tudo muda e passa, e que não compreender isso é preparar para si mesmo os horríveis tormentos da nostalgia e da esperança. É preciso saber contentar-se com o presente, amá-lo o bastante para não desejar nada além dele, nem lamentar o que quer que seja. A razão, que nos guia e nos convida a viver conforme a natureza cósmica, deve ser então purificada dos sedimentos que a sobrecarregam e falsificam, assim que ela se perde nas dimensões irreais do tempo: o passado e o futuro.
“Mas, mesmo quando capturada pelo espírito, essa verdade ainda está longe de ser posta em prática. Por essa razão, Marco Aurélio convida seu discípulo a encarná-la concretamente:
“Se, eu afirmo, separas dessa faculdade diretora tudo o que a ela se juntou em conseqüência das paixões, tudo o que está além do presente e todo o passado, farás de ti mesmo, como disse Empédocles, ‘uma esfera bem redonda, altiva em sua alegria e solidão’. Tu te exercitarás a viver apenas no momento em que vives, quer dizer, no presente; e poderás passar todo o tempo que te resta até a morte, sem perturbação, nobremente e de um modo agradável para teu próprio demônio.”
Fonte: FERRY, Luc. Aprender a viver. Trad. Vera Lucia dos Reis. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. Pág. 66-68.
E depois dizem que a filosofia não serve pra nada. Querem exemplo mais contundente do que o postado acima? Ao invés de ler livros de auto-ajuda, as pessoas deveriam ler os grandes clássicos da filosofia. Sem dúvida alguma, sentir-se-iam muito mais confortadas se parassem para pensar e para agir com a razão, deixando de lado os extremos da emoção e, conseqüentemente, deixando de lado todo o sofrimento pelo qual sempre passam...
Nenhum comentário:
Postar um comentário