24 de junho de 2007

Só de sacanagem

A Ana Carolina lê este texto em uma de suas músicas, chamada Beatriz. Vale pensar.

Meu coração está aos pulos. Quantas vezes minha esperança será posta a prova? Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro, que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais. Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais. Quantas vezes a minha esperança vai esperar no cais? É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz. Mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz. Meu coração tá no escuro. A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó, e os justos que os precederam: não roubarás. "Devolva o lápis do coleguinha", "esse apontador não é seu, meu filho." Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear. Mais honesta ainda eu vou ficar, só de sacanagem. Dirão "deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" e eu vou dizer "não importa, será esse o meu carnaval". Vou confiar, mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau. Dirão "é inútil, todo mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal" e eu direi: "Não admito. A minha esperança é imortal." E eu repito: "Ouviram? Imortal. Sei que não dá pra mudar o começo, mas se a gente quiser, vai dar pra mudar o final."



Um comentário:

Anônimo disse...

Assim como as músicas maravilhosas e verdadeiras os textos e versos de poesia que ela cita tanto no cd como no dvd, não poderião ser diferentes, ou seja, tudo de bom.