Pois é. Como todos sabemos, hoje faleceu ACM. E foi só ele morrer que já começou o endeusamento do elemento. Fiz anteriormente uma pequena postagem sobre o assunto, mostrando apenas um detalhe que ouvi na Globonews durante o dia. Infelizmente não pude assistir ao Jornal das 10 agora à noite, pois eu estava em reunião, mas creio que o endeusamento continuou.
Como exemplo, vejam o que tirei do portal G1 (original aqui -- frases escolhidas a dedo, lá no original tem mais):
Eu fiz de propósito: peguei principalmente frases de membros do PT e/ou de pessoas com quem o falecido senador teve homéricos "arranca-rabos" durante sua vida. E o que tais figuras falam? Que o cara foi o máximo e que todos iremos sentir falta dele.
Todos?
Ainda retirado do portal G1, as principais manchetes sobre o tema (original aqui -- títulos mais recentes primeiro):
Até mesmo o Sardenberg, colunista sensato, que gosto muito, se rendeu às firulas do ex-senador: ele afirmou que "Ao longo da era ACM, a Bahia cresceu mais que a economia nacional, de modo que melhorou sua posição relativa no quadro nacional. Tornou-se um estado desenvolvido ou ao menos parcialmente desenvolvido." O máximo que o Sardenberg disse "contra" ACM foi o seguinte: "Sim, não esqueçamos as truculências e as outras coisas. Mas a Bahia tem também motivos para chorar por ACM. E celebrá-lo." (Original aqui)
Ou seja: até ontem, o cara era o Toninho Malvadeza. Faleceu e passa a ser o defensor da democracia, o libelo da igualdade social, aquele que lutou pelos necessitados da Bahia e do Brasil de maneira geral.
Neste momento, ninguém se lembra de sua associação com o regime militar brasileiro; ninguém se lembra de suas eleições manipuladas por colégios eleitorais; ninguém se lembra de sua passagem como ministro das Comunicações no período Sarney e de suas íntimas conexões com a Rede Globo; ninguém se lembra da violação do painel do Senado (parece-me que nem o Arruda se lembra disso, vide declaração acima).
Tá certo que, em termos políticos, o cara foi um monstro mesmo. Sempre conseguiu tudo o que quis, sempre fez as alianças que ele considerava necessárias para atingir seus objetivos (ainda que seus ideiais, se é que ele tinha algum outro que não apenas a proximidade ao poder, tivessem ido pelo ralo), sempre esteve junto de quem detinha a caneta. Neste ponto, é inegável que ACM seguiu à risca O Príncipe, de Maquiavel, e obteve tudo que quis. Mas eu pergunto: a que preço? Sendo inconstante em seus princípios, por exemplo?
Não digo que, se eu estivesse estado em seu lugar, teria feito tudo diferente. É difícil julgarmos os outros, ainda mais pela distância que nos separa destes elementos (senadores, deputados, etc.). Mas não consigo acreditar que ACM tenha sido as mil maravilhas que estão pregando agora na mídia. Além disso, vale lembrar: as melhorias que ele fez são inegáveis, mas é boa política "dar" melhorias à população em troca de apoio político?
Há uma série de outras questões que poderiam ser levantadas no momento, mas devido ao avançado da hora, abster-me-ei de fazê-las. O principal que quero destacar é que ele não foi, de forma alguma, o anjinho que os jornais e as pessoas públicas estão mostrando. Não mesmo! E claro que o leitor desavisado vai dizer "mas Matheus, o que você está dizendo é óbvio, todo mundo sabe disso". Mas o óbvio, muitas vezes, precisa ser dito, justamente por ser óbvio e por ninguém percebê-lo.
Como exemplo, vejam o que tirei do portal G1 (original aqui -- frases escolhidas a dedo, lá no original tem mais):
Aloizio Mercadante (PT-SP), senador
"Ele fará muita falta ao debate político. Neste momento de despedida, só consigo pensar nas qualidades de alguém que construiu toda sua vida como homem público."
Eduardo Suplicy (PT-SP), senador
"Sua presença no plenário, na presidência da Comissão de Constituição e Justiça ou do Senado, fazia sempre diferença. Seu falecimento é sem dúvida uma grande perda para a Bahia e para o Brasil. Ele via com bons olhos o projeto que apresentei, e que foi aprovado com o seu voto, para instituir gradualmente a Renda Básica de Cidadania."
Fernando Gabeira (PV-RJ), deputado federal
"Eu lamento a perda, não só para a Bahia, de um congressista experiente. Sempre tive boas relações com ele, apesar das divergências políticas. A experiência não é algo que falta no Congresso, há outros parlamentares experientes. O que falta no Congresso são pessoas que rompam com o corporativismo. E ACM não rompeu. Mas, apesar das divergências, tenho muito respeito por ele."
Jaques Wagner, governador da Bahia (PT)
"O senador tem marcas fortes na história política da Bahia. Ele foi uma referência no Estado, onde manteve presente sua ascendência política por mais de 40 anos e despertou paixões e ódios."
José Gomes Temporão, ministro da Saúde
"Era um homem polêmico, mas defendia suas visões e seus princípios com muita determinação e paixão. O povo baiano o admirava muito. O Brasil sofreu uma grande perda."
José Roberto Arruda, governador do Distrito Federal
"Com a morte do senador Antônio Carlos Magalhães, o Brasil perde um de seus maiores quadros políticos. Lamento, portanto, o triste acontecimento com o companheiro de partido, ao mesmo tempo em que me solidarizo com o sofrimento de seus familiares e amigos."
Marco Maia (PT-RS), deputado federal
“O senador deixa para o país uma história de luta e resistência. Apesar de ser um parlamentar polêmico, a polêmica sempre foi motivo de debate e reflexão. Essa será sempre a virtude do senador.”
Pedro Simon (PMDB-RS), senador
"O último vulto de uma geração de grandes homens públicos."
Roberto Jefferson, presidente do PTB
"Lembro que ele sofreu muito com a perda de seu filho Luiz Eduardo, preparado por ACM para a presidência do Brasil. ACM nunca se reestabeleceu por completo, perdendo muita luz e muita força, acabou sucumbindo à tristeza, à idade e ao estresse. Peço que Nosso Senhor do Bonfim o receba."
Eu fiz de propósito: peguei principalmente frases de membros do PT e/ou de pessoas com quem o falecido senador teve homéricos "arranca-rabos" durante sua vida. E o que tais figuras falam? Que o cara foi o máximo e que todos iremos sentir falta dele.
Todos?
Ainda retirado do portal G1, as principais manchetes sobre o tema (original aqui -- títulos mais recentes primeiro):
Após cortejo, ACM é velado em Salvador
Corpo de ACM chega a Salvador
Na despedida, baianos fazem fila para ver ACM
Centenas chegam para o velório de ACM
Corpo de ACM embarca para Salvador
FHC: ACM era um homem de coragem
'Bahia perdeu símbolo', diz nota do PSDB
Corpo de ACM deixa o Incor, em SP
Vice representará Lula no funeral de ACM
Collor: 'ACM vai fazer muita falta no Senado'
Aécio: ACM foi essencial para democracia
ACM será enterrado na tarde de sábado
Em nota, Waldir Pires lembra divergências com ACM
Rodrigo Maia: ACM era um guerreiro heróico
Saiba como foram os últimos dias de ACM
Roberto Jefferson: ACM sucumbiu à tristeza
Dornelles: ACM ajudou na redemocratização
Para deputado do PSOL, morte 'vira página'
Arruda lamenta morte de ACM
Mercadante diz que sentirá falta de ACM
Suplicy: ‘ACM fazia sempre diferença’
Líder do DEM lamenta morte de ACM
Peres: 'Ninguém era indiferente a ACM'
Virgílio: ACM derrotou morte algumas vezes
Veja frases sobre a morte do senador ACM
Chinaglia: 'ACM tinha coragem para o embate'
Renan decreta luto oficial no Senado por ACM
ACM formou geração, diz Cesar Maia
Para Cabral e Campos, ACM marcou época
Simon: ACM é último de geração de 'grandes'
ACM era o 'ponto de equilíbrio', diz Tuma
CPI faz um minuto de silêncio
Sarney: 'ACM foi construtor da Bahia moderna'
ACM via neto como futuro governador da BA
Vídeos: episódios da vida política de ACM
Para pesquisador, 'carlismo' está além de ACM
Linha do tempo: conheça a trajetória de ACM
Confira a biografia política do senador ACM
Morre o senador Antonio Carlos Magalhães
Até mesmo o Sardenberg, colunista sensato, que gosto muito, se rendeu às firulas do ex-senador: ele afirmou que "Ao longo da era ACM, a Bahia cresceu mais que a economia nacional, de modo que melhorou sua posição relativa no quadro nacional. Tornou-se um estado desenvolvido ou ao menos parcialmente desenvolvido." O máximo que o Sardenberg disse "contra" ACM foi o seguinte: "Sim, não esqueçamos as truculências e as outras coisas. Mas a Bahia tem também motivos para chorar por ACM. E celebrá-lo." (Original aqui)
Ou seja: até ontem, o cara era o Toninho Malvadeza. Faleceu e passa a ser o defensor da democracia, o libelo da igualdade social, aquele que lutou pelos necessitados da Bahia e do Brasil de maneira geral.
Neste momento, ninguém se lembra de sua associação com o regime militar brasileiro; ninguém se lembra de suas eleições manipuladas por colégios eleitorais; ninguém se lembra de sua passagem como ministro das Comunicações no período Sarney e de suas íntimas conexões com a Rede Globo; ninguém se lembra da violação do painel do Senado (parece-me que nem o Arruda se lembra disso, vide declaração acima).
Tá certo que, em termos políticos, o cara foi um monstro mesmo. Sempre conseguiu tudo o que quis, sempre fez as alianças que ele considerava necessárias para atingir seus objetivos (ainda que seus ideiais, se é que ele tinha algum outro que não apenas a proximidade ao poder, tivessem ido pelo ralo), sempre esteve junto de quem detinha a caneta. Neste ponto, é inegável que ACM seguiu à risca O Príncipe, de Maquiavel, e obteve tudo que quis. Mas eu pergunto: a que preço? Sendo inconstante em seus princípios, por exemplo?
Não digo que, se eu estivesse estado em seu lugar, teria feito tudo diferente. É difícil julgarmos os outros, ainda mais pela distância que nos separa destes elementos (senadores, deputados, etc.). Mas não consigo acreditar que ACM tenha sido as mil maravilhas que estão pregando agora na mídia. Além disso, vale lembrar: as melhorias que ele fez são inegáveis, mas é boa política "dar" melhorias à população em troca de apoio político?
Há uma série de outras questões que poderiam ser levantadas no momento, mas devido ao avançado da hora, abster-me-ei de fazê-las. O principal que quero destacar é que ele não foi, de forma alguma, o anjinho que os jornais e as pessoas públicas estão mostrando. Não mesmo! E claro que o leitor desavisado vai dizer "mas Matheus, o que você está dizendo é óbvio, todo mundo sabe disso". Mas o óbvio, muitas vezes, precisa ser dito, justamente por ser óbvio e por ninguém percebê-lo.
Um comentário:
Chuzinho meu amor, depois que morre todo mundo é bom e vira santo. Aí os trouxas falam: morreu caboclo bom!
Lembre-se que infelizmente nem todos são racionais e não usam a ferramente mais preciosa que Deus deu: o cérebro.
Beijão
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