Estou a conversar com uma amiga no msn (aliás, algo que acho bom, pois há muito, muito tempo não conversava com ela). E ela me disse que o povo fica dizendo por aí que eu sou chato e que eu "me acho".
No que diz respeito ao primeiro assunto, o que é ser chato? Pelo que me foi dito, chato é o prof que chega na hora, que cobra trabalhos, que é exigente. Isto é ser chato? Claro que sim! Pelo menos para aquelas mentes que são pequenas e que pensam em curto prazo. Pra estas pessoas (vejam como sou bonzinho: nem estou dizendo que estas pessoas não têm cérebro, estou apenas dizendo que elas pensam em um horizonte muito curto) bom é o professor que chega atrasado e que sai mais cedo, que enrola na aula e que não cobra nada da matéria. Porque assim fica mais fácil passar na disciplina e acabar logo o curso pro indivíduo "entrar no mercado de trabalho" e começar a ganhar dinheiro, muito dinheiro.
Porém, devido à pequenez da visão de tais pessoas, elas não percebem que o professor "chato" é aquele que se preocupa com o futuro do aluno. Porque o aluno, tadinho, o aluno no primeiro semestre não sabe o que quer da vida (generalizações, pessoal. Casos específicos: não se ofendam.) O aluno não sabe que, em pouco tempo (4 anos), estará passando por uma banca formada por 3 professores que avaliarão um projeto dele e, no semestre seguinte, avaliarão a monografia final do curso do aluno. O aluno não sabe que fará uma prova fodida da OAB, na qual, em média, apenas 15% são aprovados. O aluno não tem idéia de que será cobrado não pelo que ele (acha que) sabe, mas pelo que ele nem imagina que existe. O aluno não sabe que, quando (ou melhor, se) ele for um advogado, ele não poderá chegar atrasado, ele não vai dizer pro juiz "mas 'seu' juiz, minha mãe tá doente" ou "eu perdi o ônibus" ou "minha impressora deu pau". Ele não sabe que ele tem o período da faculdade pra cometer as cagadas da vida dele, mas também para aprender com os erros e corrigir tais cagadas, porque depois, quando (se) ele for um advogado, ele não terá segundas ou terceiras chamadas.
Falo por experiência própria: tive professores que, quando eu era aluno, eu os chamava de "chatos". Chatos porque cobravam o detalhe do detalhe. Chatos porque chegavam na hora. Chatos porque passavam exercício o tempo todo. Chatos porque me obrigavam a pensar no momento em que eu queria vagabundear. Mas hoje, dotado de outra perspectiva, a perspectiva do cara que fez duas graduações, um mestrado e está no meio de um doutorado, eu vejo que aqueles professores que eu tachava de "chatos" foram os que efetivamente contribuíram para minha formação acadêmica: as disciplinas cujo conteúdo eu mais me lembro são justamente aquelas que foram ministradas por professores "chatos". E a disciplina do "professor legal"? Não faço a mínima idéia do que estudei.
Havia uma disciplina no meu curso chamada "Estudos e pesquisas para a paz". O professor era "legal": vinha uma semana sim, outra não. A aula era das 14 h às 17:50 h. Ele chegava geralmente às 15 h e saía às 17 h. Era uma maravilha! Mas perguntem-me se me lembro do conteúdo? Nem um pouco. Sei que fiz um trabalho final sobre o papel da Rússia na manutenção da segurança internacional no mundo contemporâneo (eu já era fascinado pela Rússia à época). Por outro lado, fiz uma disciplina chamada "Teoria Política Contemporânea". O professor cobrou, durante o semestre, seis avaliações: três eram respectivamente de três provas, aplicadas durante o semestre e com conteúdo cumulativo; outra era de um trabalho escrito; outra era de uma apresentação oral; e a sexta nota era a média de resumos que nós tínhamos de entregar em todas as aulas sobre o texto daquela respectiva aula. À época eu achava que ele era um professor filho da puta, um mal amado, pois cobrava tudo, tirava ponto por cada vírgula fora do lugar. Consegui passar com 9,1 de média final, e esta é uma das matérias cujo conteúdo sei até hoje de cabeça. Como eu disse, é tudo uma questão de perspectiva, e hoje sou extremamente grato ao professor que eu achava filho da puta e tenho uma decepção enorme com o professor "legal".
Para aqueles que chegaram até aqui: eu não sou um professor "legal". Sou um filho da puta. Um chato. E fodam-se aqueles que não gostam disto. Sou assim e continuarei sendo. Continuarei apertando, porque acho que o aluno tem de aprender mesmo -- e só se aprende ralando. E aquele aluno que é aluno mas não quer ralar pra mim é burro -- burro porque paga uma fortuna de faculdade e está cagando e andando pro conteúdo, ou seja, está jogando dinheiro fora. É burro.
Em relação ao segundo ponto, de que "o Matheus se acha". Gente, eu não me acho: eu sou realista. E fodam-se todos aqueles que acham que, quando eu digo que "sou realista", estou sendo metido. Fodam-se mesmo. Fodam-se porque eu fiz por merecer: eu ralei pra caramba no meu primeiro grau, quando eu tinha apenas 10 minutos por dia pra almoçar porque precisava levar minha irmã pra escola. Ralei no segundo grau, quando estudava de manhã e trabalhava à tarde. Ralei durante minha primeira graduação, quando eu trabalhava de manhã e à tarde e estudava à noite, chegando em casa às 0 h em um ônibus no qual cabiam 60 pessoas e ele vinha com 100 pessoas. Ralei durante a UnB -- nem sempre trabalhando, mas sempre lendo muito (acham que eu tenho ceratocone e preciso fazer uma operação que custa 4 mil reais por cada olho à toa?). Ralei durante o meu mestrado, morando no Plano e vindo dar aula em Taguatinga o tempo todo sem carro, andando sempre de van, de metrô e/ou de ônibus (como continuo fazendo até hoje). Ralo agora, trabalhando todos os dias de manhã e à noite, fazendo doutorado duas vezes por semana à tarde (e tendo de ler, em média, 150 páginas por semana) e estudando russo uma vez por semana. Portanto, meus caros, eu não me acho: eu apenas sei muito bem qual a minha capacidade intelectual, e eu me utilizo de tal capacidade sempre que posso.
Se você acha que "eu me acho", você tem duas opções:
1) Continuar nesta sua vida medíocre, esperando sentado que as benesses da vida caiam no seu colo;
2) Correr atrás, como eu corri, pra um dia chegar e poder dizer "eu não me acho, eu apenas sou realista em relação à minha própria capacidade".
É aquela velha história: antes de me criticar, me supere. E, enquanto você for aquele aluno padrão do primeiro semestre, que ainda acha que a responsabilidade pelo seu desenvolvimento intelectual é do professor, e não sua, não reclame da vida. Pois a responsabilidade não é do professor, é sua. Se vire, corra atrás, mas não fique tentando menosprezar o outro só porque o outro conseguiu -- por mérito próprio -- e você não.
No que diz respeito ao primeiro assunto, o que é ser chato? Pelo que me foi dito, chato é o prof que chega na hora, que cobra trabalhos, que é exigente. Isto é ser chato? Claro que sim! Pelo menos para aquelas mentes que são pequenas e que pensam em curto prazo. Pra estas pessoas (vejam como sou bonzinho: nem estou dizendo que estas pessoas não têm cérebro, estou apenas dizendo que elas pensam em um horizonte muito curto) bom é o professor que chega atrasado e que sai mais cedo, que enrola na aula e que não cobra nada da matéria. Porque assim fica mais fácil passar na disciplina e acabar logo o curso pro indivíduo "entrar no mercado de trabalho" e começar a ganhar dinheiro, muito dinheiro.
Porém, devido à pequenez da visão de tais pessoas, elas não percebem que o professor "chato" é aquele que se preocupa com o futuro do aluno. Porque o aluno, tadinho, o aluno no primeiro semestre não sabe o que quer da vida (generalizações, pessoal. Casos específicos: não se ofendam.) O aluno não sabe que, em pouco tempo (4 anos), estará passando por uma banca formada por 3 professores que avaliarão um projeto dele e, no semestre seguinte, avaliarão a monografia final do curso do aluno. O aluno não sabe que fará uma prova fodida da OAB, na qual, em média, apenas 15% são aprovados. O aluno não tem idéia de que será cobrado não pelo que ele (acha que) sabe, mas pelo que ele nem imagina que existe. O aluno não sabe que, quando (ou melhor, se) ele for um advogado, ele não poderá chegar atrasado, ele não vai dizer pro juiz "mas 'seu' juiz, minha mãe tá doente" ou "eu perdi o ônibus" ou "minha impressora deu pau". Ele não sabe que ele tem o período da faculdade pra cometer as cagadas da vida dele, mas também para aprender com os erros e corrigir tais cagadas, porque depois, quando (se) ele for um advogado, ele não terá segundas ou terceiras chamadas.
Falo por experiência própria: tive professores que, quando eu era aluno, eu os chamava de "chatos". Chatos porque cobravam o detalhe do detalhe. Chatos porque chegavam na hora. Chatos porque passavam exercício o tempo todo. Chatos porque me obrigavam a pensar no momento em que eu queria vagabundear. Mas hoje, dotado de outra perspectiva, a perspectiva do cara que fez duas graduações, um mestrado e está no meio de um doutorado, eu vejo que aqueles professores que eu tachava de "chatos" foram os que efetivamente contribuíram para minha formação acadêmica: as disciplinas cujo conteúdo eu mais me lembro são justamente aquelas que foram ministradas por professores "chatos". E a disciplina do "professor legal"? Não faço a mínima idéia do que estudei.
Havia uma disciplina no meu curso chamada "Estudos e pesquisas para a paz". O professor era "legal": vinha uma semana sim, outra não. A aula era das 14 h às 17:50 h. Ele chegava geralmente às 15 h e saía às 17 h. Era uma maravilha! Mas perguntem-me se me lembro do conteúdo? Nem um pouco. Sei que fiz um trabalho final sobre o papel da Rússia na manutenção da segurança internacional no mundo contemporâneo (eu já era fascinado pela Rússia à época). Por outro lado, fiz uma disciplina chamada "Teoria Política Contemporânea". O professor cobrou, durante o semestre, seis avaliações: três eram respectivamente de três provas, aplicadas durante o semestre e com conteúdo cumulativo; outra era de um trabalho escrito; outra era de uma apresentação oral; e a sexta nota era a média de resumos que nós tínhamos de entregar em todas as aulas sobre o texto daquela respectiva aula. À época eu achava que ele era um professor filho da puta, um mal amado, pois cobrava tudo, tirava ponto por cada vírgula fora do lugar. Consegui passar com 9,1 de média final, e esta é uma das matérias cujo conteúdo sei até hoje de cabeça. Como eu disse, é tudo uma questão de perspectiva, e hoje sou extremamente grato ao professor que eu achava filho da puta e tenho uma decepção enorme com o professor "legal".
Para aqueles que chegaram até aqui: eu não sou um professor "legal". Sou um filho da puta. Um chato. E fodam-se aqueles que não gostam disto. Sou assim e continuarei sendo. Continuarei apertando, porque acho que o aluno tem de aprender mesmo -- e só se aprende ralando. E aquele aluno que é aluno mas não quer ralar pra mim é burro -- burro porque paga uma fortuna de faculdade e está cagando e andando pro conteúdo, ou seja, está jogando dinheiro fora. É burro.
Em relação ao segundo ponto, de que "o Matheus se acha". Gente, eu não me acho: eu sou realista. E fodam-se todos aqueles que acham que, quando eu digo que "sou realista", estou sendo metido. Fodam-se mesmo. Fodam-se porque eu fiz por merecer: eu ralei pra caramba no meu primeiro grau, quando eu tinha apenas 10 minutos por dia pra almoçar porque precisava levar minha irmã pra escola. Ralei no segundo grau, quando estudava de manhã e trabalhava à tarde. Ralei durante minha primeira graduação, quando eu trabalhava de manhã e à tarde e estudava à noite, chegando em casa às 0 h em um ônibus no qual cabiam 60 pessoas e ele vinha com 100 pessoas. Ralei durante a UnB -- nem sempre trabalhando, mas sempre lendo muito (acham que eu tenho ceratocone e preciso fazer uma operação que custa 4 mil reais por cada olho à toa?). Ralei durante o meu mestrado, morando no Plano e vindo dar aula em Taguatinga o tempo todo sem carro, andando sempre de van, de metrô e/ou de ônibus (como continuo fazendo até hoje). Ralo agora, trabalhando todos os dias de manhã e à noite, fazendo doutorado duas vezes por semana à tarde (e tendo de ler, em média, 150 páginas por semana) e estudando russo uma vez por semana. Portanto, meus caros, eu não me acho: eu apenas sei muito bem qual a minha capacidade intelectual, e eu me utilizo de tal capacidade sempre que posso.
Se você acha que "eu me acho", você tem duas opções:
1) Continuar nesta sua vida medíocre, esperando sentado que as benesses da vida caiam no seu colo;
2) Correr atrás, como eu corri, pra um dia chegar e poder dizer "eu não me acho, eu apenas sou realista em relação à minha própria capacidade".
É aquela velha história: antes de me criticar, me supere. E, enquanto você for aquele aluno padrão do primeiro semestre, que ainda acha que a responsabilidade pelo seu desenvolvimento intelectual é do professor, e não sua, não reclame da vida. Pois a responsabilidade não é do professor, é sua. Se vire, corra atrás, mas não fique tentando menosprezar o outro só porque o outro conseguiu -- por mérito próprio -- e você não.
Um comentário:
Tesudo...
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