20 de novembro de 2007

Engraçado

Engraçado. Engraçado como eu entitulo tantas postagens do meu blog com esta palavra: "engraçado".

Uma vez vi um filme com o Mel Gibson, se não me engano. Eu era pequeno, estava aprendendo inglês, e minha mãe (minha professora) veio me falar da expressão "funny" e dos sentidos que a palavra tem (bem como em português). No filme o Mel Gibson perguntava para seu interlocutor: "funny funny or funny strange"? Acho que, na maioria das vezes em que entitulei minhas postagens com a palavra "engraçado", eu queria mesmo era dizer "estranho". Igual a esta postagem de agora: entitulei como "engraçado", mas ela não tem nada de engraçada. Mas também não tem nada de estranho. Ou tem para quem for ler, não sei. Enfim, deixemos isto pra lá, pelo menos por enquanto, até porque o objetivo não é falar sobre as minhas próprias postagens e seus respectivos títulos.

Hoje passei o filme "A outra história americana" para meus alunos do curso de Sistemas de Informação. E não, meu objetivo nesta postagem não é falar novamente sobre racismo e suas origens, ainda que eu queira escrever sobre o tema novamente (fá-lo-ei em um futuro próximo). Meu objetivo aqui é falar sobre outra coisa: sobre a incapacidade que o homem (ser humano do sexo masculino) tem de admitir suas emoções em público.

O filme tem alguns momentos brutos, mas também tem seus momentos poéticos (a profa. Valdíria que o diga). Momentos nos quais não se deve racionalizar sobre o filme, e simplesmente deixar-se levar pelo que aparece na tela.

Mas o ser humano do sexo masculino, ou pelo menos a grande maioria, não pode dar o braço a torcer e dizer que a cena é bela: para afirmar sua masculinidade (em 99% dos casos para os outros machos ao seu redor), ele precisa ironizar a cena, precisa ignorar a beleza intrínseca à cena e menosprezá-la como se fosse "coisa de mulher" (como se homens não tivessem emoções).

Notei isto de maneira bem forte hoje durante o filme. Há determinadas cenas nas quais a personagem principal se mostra frágil (talvez até sensível), e os "homens" (a grande maioria, afinal lembrem-se de que o curso é de Sistemas de Informação) não perdiam uma chance de fazer uma gracinha com as cenas. Piadinhas pra lá e pra cá atrapalhando um pouco a projeção do filme (até porque não foi com datashow, foi em uma TV de 29 polegadas para 60 alunos).

Mas talvez o mais curioso venha depois do filme: o mesmo acaba, o pessoal vai embora, ficam apenas alguns conversando comigo (umas 10 pessoas, quatro mulheres). E aí, quando há pouca gente olhando, quando há poucos ouvindo, os alunos se abrem e dizem que "a cena X é realmente muito bonita". Evitam tanto quanto podem dizer que a cena é emocionante, evitam dizer que a cena os emociona. Até que um mais corajoso fala exatamente estas palavras: "se bobear dá até pra sair umas lágrimas". Como agora tem poucos presentes, os demais não zoam quem disse tal frase, não o chamam de viadinho nem nada. Apenas perguntam se eu concordo com isso, meio que querendo rir mas esperando a reação do "professor" pra rir com legitimidade. E eu digo que concordo, porque toda vez que vejo este filme, especialmente a cena final, da personagem principal com seu irmão mais novo morto em seus braços, eu me relembro do meu irmão mais novo e, automaticamente, me coloco na pele da personagem principal. Digo que reflito sempre no meu papel como modelo de irmão mais velho pra todos os meus irmãos, falo da responsabilidade que sinto por ser o mais velho e falo, principalmente, que eu espero nunca ter meu irmão falecido em meus braços; é algo horrível só de se pensar. Aì todos ficam sérios e compreendem que não há problema algum em se reconhecer que as cenas são, sim, emocionantes.

Ah, e por favor, não venham falar besteira. Por mais que eu tenha escrito recentemente sobre a primazia que acho fundamental se dar à razão sobre a emoção, é óbvio que tenho emoções, e muito fortes, muito intensas. Pela minha família e amigos verdadeiros. Mas isto não vai de encontro ao fato de que continuo achando que nossas ações precisam ser baseadas em pensamentos, e não em sentimentos. Ter emoções é algo fundamental a qualquer ser humano; o questionável é deixar se levar por elas na hora de se tomar decisões.


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