1 de janeiro de 2008

Antes de dormir... Ano Novo na Rússia

Agora há pouco comemoramos o ano novo. Até fiz uma postagem anterior, usando o celular e falando que nós fomos os terceiros no mundo a receber o ano novo, já que estou no terceiro fuso horário a partir da linha que divide um dia do outro.

Mas, para além disso, gostaria de escrever um pouco sobre como os russos comemoram o ano novo: com muitas semelhanças em relação ao nosso natal.

Os russos são ortodoxos, o que significa dizer que eles não comemoram o natal no dia 25 de dezembro. Aliás, lembro-me de outra vez em que estava aqui nesta época do ano: foi muito estranho ver os russos seguindo suas vidas normalmente nos dias que antecedem o natal e no próprio natal. Um dia útil como outro qualquer. Para eles, o natal é no dia 7 de janeiro, pois, ainda que sigam o "nosso" calendário, eles continuam comemorando o natal com 13 dias de "atraso", como era até os últimos dias do Império Russo.

Bom, fato é que para o ano novo os russos montam uma espécie de "árvore de natal" e dão presentes uns aos outros. Interessante ver como o poder político é influênciado pelas tradições: quando surgiu a União Soviética, eles não podiam simplesmente acabar com a festa de natal e com todo o simbolismo presente nela, ainda que a URSS se declarasse "um estado ateu" (e não laico -- interessante a diferença, escrevo sobre isso depois). Como não podiam simplesmente acabar com uma tradição por decreto, os líderes transferiram o simbolismo de uma festa religiosa para uma festa laica -- afinal de contas, em princípio o ano novo não tem nada de religioso ligado a si próprio. Assim, todo o simbolismo da árvore de natal e do dar presentes foi transferido para o ano novo. Some-se a isso uma "tradição" de 70 e poucos anos fazendo isso, e pronto... Até hoje é assim.

Aqui no albergue não houve o dar presentes, já que ninguém sabia exatamente quantos estariam aqui presentes. Mas houve uma pequena árvore de natal e comilança, muita comilança. Acho que os donos do albergue resolveram "abrir a mão" e as garotas que tomam conta fizeram comidas e mais comidas pra nós. No momento estão aqui no albergue um canadense que fala, além de inglês e francês, alemão e russo; um sul-coreano que fala inglês e russo; o alemão, falando russo e eu. Além, é claro, das três garotas que se alternam no comando do albergue.

Na mesa estão as comidas "tradicionais" do ano novo, o que os russos chamam de "salada": em um prato há uma "salada" de peixes, com atenção especial para o omul e para a nerpa, típicos do lago Baikal (e que, claro, não vou comer, pois não como animais em decomposição); outra "salada" é feita de uma espécie de feijão que eu não conhecia, e que o sul-coreano trouxe de lá, juntamente com arroz e macarrão; e a última "salada" é feita de batata, cenoura, beterraba, couve-flor, milho, ervilha e coisas do tipo, tudo cozido. Todas as três "saladas" têm sua "liga" formada com maionese -- sem sal, não sei o por quê (e dá-lhe Matheus tacando sal na comida). Além disso, há também o pão, que não pode faltar, frutas -- banana, laranja, maçã e abacaxi --, dois tipos distintos de queijo e chocolate. Para beber, além da champanhe, uma garrafa de Martini e algumas (ou várias!) doses de vodka, é claro.

Enfim, a festinha foi bem legal. O sul-coreano é uma figura, contando piadas o tempo todo. E cada um contou -- em russo, é claro -- como se comemora o ano novo em seus respectivos países. Um intercâmbio cultural e tanto!


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