3 de janeiro de 2008

Dia ótimo

O dia hoje, mais uma vez, foi ótimo! Uwe e eu saímos bem cedo do albergue, por volta das 6 h da manhã, e fomos direto pra estação de trem. Lá pegamos um trem pro sul do Lago Baikal. O trem ia direto pra cidade de Slyudyanka, e nós íamos também para esta cidade... Porém de uma maneira um pouco "diferente": a pé.

Depois de 3 horas no trem (é um trem suburbano que pára em tudo quanto é lugar; demoramos esse tempo todo pra andar 200 km), descemos em uma cidade antes de Slyudyanka chamada Kultuk. Cidade pequena, apenas 2 mil habitantes, sem muita coisa pra ver ou fazer. Andamos uns 10 min a partir da estação e vimos novamente o Baikal. Porém, ainda estava meio nublado e praticamente sem sol, e por isso resolvemos não perder tempo: fomos direto ao local no qual se alugam equipamentos de inverno e alugamos dois pares de esquis. Em seguida, bússola em mãos, mapa na cabeça, despachamo-nos em direção a Slyudyanka.

Nos primeiros 10 minutos parecia que ia ser muito fácil: sem muitas montanhas nem nada, uma pequena planície que conseguimos rapidamente vencer. Em seguida, no entanto, começou o sofrimento: montanhas e mais montanhas pra subir e descer. E o mais "legal" é que, na hora de descer as montanhas, não dava pra descer no esqui: tivemos de tirá-los e carregá-los enquanto subíamos e descíamos as montanhas, com o pé afundando na neve e esta chegando até o joelho.

E outra coisa "muito" legal pra mim: minha bota não é pra este tipo de coisa. Digamos que ela seja uma bota bem "urbana", feita apenas pro asfalto e pra neve no asfalto. Ou seja, ela não tem aqueles grifos no solado que permitem à bota ficar presa na neve enquanto o caboclo caminha. Resultado: pra cada metro que eu tentava subir nas montanhas, escorregava uns dois ou três... Na subida o Uwe (alemão que estava comigo) disparava, pois a bota dele era pra escalada... Em compensação, na descida eu o alcançava, pois a minha bota escorregava mais que tudo.

Tudo estava nos conformes quando, de repente, nos deparamos com um riozinho. Que ótimo! Água límpida e geladinha pra gente beber. Acabou-se a sede, encheram-se as garrafinhas, e lá fomos nós seguindo o riozinho... Que se transformou num rio... Que se transformou em algo com uns 20 metros de uma margem a outra. Problema nenhum, não é mesmo? Vocês que pensam! Esperimentem andar em um frio de uns -15 graus ao lado de uma massa de água razoável... Caracas, hoUwe momentos em que eu nem sentia mais meu pé, nem a ponta do meu nariz e nem o meu queixo... Tive de tirar o lanço do bolso não pra limpar o nariz, mas pra aquecê-lo na medida do possível, porque não aguentava mais de dor. O Uwe também não aguentou: perguntou se eu tinha um outro capuz porque ele já não conseguia mais ver nada, por causa da neve que caía, e ainda tinha de segurar os esquis... E agora era o nariz congelado que não o permitia andar direito. Punk demais! Pelo menos um lado positivo -- os sucos que levamos estavam beeeem geladinhos, uma delícia pra beber... :P

O trajeto todo foi de 8 km e durou mais ou menos 6 h. Chegamos a Slyudyanka por volta das 15:30 h. Já estava começando a ficar meio escuro, mas mesmo assim deu pra tirar umas fotos da cidade e do lago. Ainda andamos bastante na cidade, comemos um pouco e descansamos na estação de trem vendo "King Kong" (o novo) em russo. Em seguida fomos para a "gigantesca" rodoviária, pois o trem de volta pra Irkutsk sairia apenas ás 20 h e não queríamos demorar tanto pra chegar em casa. Saímos de lá por volta das 18:30 h e chegamos a Irkutsk lá pelas 20:45 h.

Aí foi outro sofrimento. A lotação nos deixou na estação de trem, e lá fomos nós pegar outra lotação pro albergue. Porém, os primeiros 8 dias de janeiro aqui na Rússia formam uma semana de feriado, o que significa dizer que há menos ônibus, menos bondes e menos lotações... E aí o sofrimento recomeçou: a estação de trem de Irkutsk fica bem próximo ao rio. E nós tínhamos acabado de sair da lotação quentinha, quase dormindo, e fomos "jogados" na rua em um frio de -16 graus... Pés, mãos e ponta do nariz congelando, quase que literalmente. Pegamos um bonde pra uma parte da cidade chamada "Studgorodok" (mais ou menos como "cidadezinha dos estudantes", um bairro) e lá ficamos ainda uns 20 min esperando outra lotação até oa albergue. Cheguei aqui sem sentir os dedos dos pés e a ponta do nariz -- o que é meio perigoso, pois se o frio passar de certo limite a parte congelada literalmente morre e o indivíduo a perde.

Mesmo assim, com todas as dificuldades, o dia foi ótimo. Nunca havia me imaginado atravessando florestas com neve no chão e neve no ar (ou seja, enquanto estava nevando), mas lá fui eu. Espero poder repetir a dose da próxima vez, já que o trajeto de 30 km que eu ia fazer teve de ser cancelado devido ao fato do Lago Baikal não estar completamente congelado... :(


Nenhum comentário: