30 de março de 2008

Domingo...

Bom, mais um domingo termina. Mais uma semana vai embora. Mais minutos se foram, incontáveis e irrecuperáveis. E eu páro e penso: o que fiz nestes minutos, horas e dias desta última semana pra melhorar o mundo?

Este tem sido um questionamento um tanto quanto freqüente nas últimas semanas. Será que esta "vidinha" de acordar, trabalhar, estudar à tarde, trabalhar e dormir leva a alguma coisa?

Quando eu era mais novo tinha esta grande preocupação: sentia-me uma pessoa privilegiada no mundo por ter tido todo o acesso possível à educação. No meio em que vivia, mesmo em Santos, mas principalmente aqui, considerava-me um privilegiado, pois um monte de gente ao meu redor não tinha a mesma chance que eu tinha. Não podiam estudar: precisavam trabalhar e não tinham tempo pra se informar, pra se educar.

Cresci, e as oportunidades que tive se transformaram, durante certo tempo da minha vida, em um pequeno fardo. Perguntava-me sempre: pra que adquirir todo este conhecimento? Por que tudo isso só pra mim? Por que eu tinha isso e outros não? Qual seria a minha "função social" por adquirir todo o conhecimento que tinha (e que continuou, ao longo dos anos, aumentando ainda mais)? Por que toda a facilidade com o intelectual?

Aí comecei a dar aula, e encontrei nesta função minha vocação -- e a resposta para o meu auto-imposto fardo: aprendi muito pra poder colaborar com a formação de outras pessoas. Finalmente havia encontrado o equilíbrio -- fundamental em qualquer situação da vida -- entre o que sabia e a transferência disto pros outros. Sentia-me finalmente realizado: o conhecimento adquirido -- às vezes às duras penas, porque, diferentemente do que quase todo mundo acha, minha família não foi e não é rica -- estava servindo para o desenvolvimento de outros. Nada me alegrava (e ainda me alegra) mais do que ver os alunos aprendendo o conteúdo e indo além do feijão-com-arroz que dou dentro de sala de aula. Nada me estimulava (e ainda me estimula) mais do que ver alguém começando o semestre sem saber nada e terminando o semestre sabendo um mínimo além do que no início.

Estes 6 anos dando aula -- um pouquinho mais se eu levar em consideração algumas aulas que dei ainda quando estava na graduação --, se por um lado trouxeram pra mim a certeza do que eu queria na minha vida, por outro trouxeram uma decepção que, em princípio, era pequena e possível de ser ignorada, mas que já não o é mais: a decepção de ver a que ponto a humanidade chegou. A decepção de ver que, na média, o ser humano busca apenas um beneficiozinho em relação à sua situação atual, e não uma melhora efetiva de sua condição. A decepção de ver que, na média, as pessoas reclamam, reclamam, reclamam de tudo, mas não fazem por merecer pra poder ter seus desejos satisfeitos; preferem continuar jogando na loteria ou, como ouvi inúmeras vezes, "esperar a chance pra ir pro Big Brother e ganhar um milhão fácil, fácil". Doce ilusão.

Atualmente, nada me entristece mais do que ver alunos pagando pra não estudar, pois levam a coisa nas coxas e não se dedicam. Nada me entristece mais do que ver que, na média, os alunos buscam compreender apenas aquilo que lhes é apresentado, não indo além e não buscando aprofundar seus conhecimentos -- seja lá em que área for. Nada me entristece mais do que perceber a falta de interesse que as pessoas, em geral, têm em relação a praticamente todos os aspectos de suas vidas.

É algo extremamente pessoal, eu sei; mas parece-me que as pessoas pensam assim: se eu tiver o meu mínimo necessário pra viver, está bom, mesmo sabendo que posso obter ainda mais. Parece-me a lógica da Bolsa-Família aplicada a todos: pra que me esforçar mais se já tenho o mínimo necessário e/ou já tenho minhas vontades satisfeitas? Vejo algumas pessoas que -- parece-me -- têm tanto potencial, mas simplesmente se deixam levar pela energia circundante que as deixa estagnadas, e tais pessoas acabam agindo como a "massa" age -- ficando estagnada.

Enfim, o desânimo com esta situação foi tão grande nos últimos dias, especificamente nas últimas duas semanas, que cheguei a pensar em largar o emprego e buscar outra coisa pra fazer na vida. Fiquei pensando da mesma forma que o ditado: pra que jogar pérolas aos porcos? Não, não estou chamando nenhum aluno meu de porco, que fique devidamente registrado; mas às vezes tenho a impressão de estar falando muito mais pras paredes dos prédios nos quais eu dou aula -- e tenho a certeza de que, se tais paredes falassem, elas já saberiam muito mais do que vários de meus alunos, tamanha a apatia que vejo no rosto de tais pessoas.

Mas, para além do desânimo, da chateação e da desesperança, ainda vejo uma luz no fim do túnel -- quase uma vela, um fiozinho de luz que está lá no final. Ainda vejo algumas pessoas que se importam em ir além do padrão, do pré-estabelecido, além do "socialmente definido", e atualmente são tais pessoas que ainda me estimulam a ir dar aula. Mas deixo claro que, quando esta luz se apagar, pego minhas coisas e "peço pra sair".


Um comentário:

Nayanne Paulina disse...

olha vou te falar uma coisa como aluna sua que fui, e não como amiga, se algum dia você deixar de dá aulas não só seus alunos estaram perdendo, o Brasil inteiro perderá, pq pessoas e profissionais como você são raros e são pessoas como você que ainda fazem a gente acreditar que esse país ainda pode melhorar, que esse país ainda tem solução.
eu me sentiria extremamente triste por saber que algum dia pessoas fúteis que não querem nada com a vida, desestimularam você a exerce sua profissão que você tanto gosta de realizar, e alias é uma profissão linda, pois levar o conhecimento para outras pessoas é algo maravilhoso e não é para qualquer um não, é somente para pessoas que tenham capacidade intelectual (e isso eu sei que vc tem demais), e essas pessoas as quais você se referiu não merecem que vc fique assiM, elas estão jogando o futuro delas no lixo, então meu querido amigo e ex-professor não se deixe desanimar por culpa de pessoas ignorantes, você é um ótimo professor e elas não estão sabendo aproveitar essa chance que a vidas as ofereceu. e como você mesmo fala "elas seram um concorrente a menos em um futuro emprego". Acho que falei tudo que eu queria, e só te peço uma coisa não "pegue suas coisas e peça pra sair" nós ainda precisamos muito de você e muitas pessoas ainda precisaram.
Beijos!
Te adoro muito!