12 de outubro de 2008

O canto do patinho feio

(Original aqui.)

Um dia antes dos primeiros treinos para o Grande Prêmio do Japão, Rubens Barrichello admitiu em uma entrevista coletiva que pode, sim, sair da Fórmula 1 ao fim deste ano. Não que esta seja a vontade dele, deixou bem claro. O piloto ainda negocia com a Honda, seu atual time, e disse que se alguém de fora acenar com um contrato de três anos, ele assina. O problema é aparecer este ‘alguém’ interessado nos serviços do brasileiro, que, aos 36 anos, não vê a hora de iniciar sua 17ª temporada na categoria.

Nesta mesma entrevista, Rubens abriu o jogo sobre as intenções da equipe, que está de olho em seu compatriota Bruno Senna, atual vice-campeão da GP2. Não é segredo no paddock que a petrolífera brasileira que há dez anos é parceira da Williams negocia uma possível transferência para a Honda. Um argumento tentador nesta nova aliança seria a chance da empresa escolher de um dos pilotos, o que pode fazer com que o experiente Barrichello dê a vez ao jovem Senna.

O que não deixaria de ser, no fim das contas, mais uma pitada de ironia numa careira recheada de situações embaraçosas, de azares e de escolhas discutíveis. Rubens Barrichello chegou à Fórmula 1 em 1993 como um jovem talento, na esteira do sucesso do tio de Bruno, Ayrton Senna. O tricampeão, acima dos 30 anos e já e olho na aposentadoria, enxergou nele seu sucessor e tratou de lhe mostrar o caminho das pedras. Mas, infelizmente, saiu de cena cedo demais. E enquanto Ayrton entrava para a história, o menino Rubinho começava a perder o rumo.

Durante a década em que manteve o status de principal brasileiro na categoria máxima, Barrichello carregou diferentes cruzes. Primeiro, nos anos de Jordan, impôs a si próprio a pressão de substituir Senna, tarefa ingrata e impossível. Já em descrédito com a imprensa e ridicularizado pela torcida, recomeçou a vida na Stewart, mas continuou lutando feito um Dom Quixote a bordo de carros fracos. Ao assinar com a Ferrari, sepultou o sonho de ser campeão, vendendo sem cerimônia seus melhores anos em favor do companheiro de equipe.

De fato, foi guiando para os italianos que ele conseguiu todas as nove vitórias e boa parte de suas treze poles. Mas é verdade, também, que ele viveu na equipe de Maranello o supremo dos infernos. A decisão de renovar o contrato, vivida dias antes da emblemática tirada de pé no GP da Áustria de 2002, foi calcada numa convicção que ele repetia em todo momento: a de que o alemão era o presente e ele, Rubens, o futuro. Se realmente acreditava nisso ou se tentava se convencer com um discurso pronto, é algo que só saberemos quando ele escrever suas memórias.

Infelizmente, a passagem pela Honda, que prometia tanto, não vingou. Nestes três anos na equipe, Barrichello subiu ao pódio apenas uma vez e marcou metade dos pontos do companheiro, que chegou até a vencer uma corrida. E agora corre o risco de ser sacado da equipe mais por questões mercadológicas do que técnicas. Se os rumores se confirmarem, isso pode significar o fim da linha para Rubens na categoria. Um fim melancólico para um personagem que tinha tudo para virar um belo cisne, mas que entrou para a história como o eterno patinho feio da Fórmula 1.

O jornalista Alexander Grünwald é produtor do programa Grid Motor, do SporTV, e dono do Grün Blog. Ele escreve neste espaço todas as sextas-feiras.

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