14 de julho de 2009

1812

"Nas estradas geladas, luzidias como espelhos, os cavalos tombavam, obrigando-os a abandonar as carroças que transportavam o tesouro. Do norte chegava um vento gelado, capaz de queimar; o cano do fuzil grudava nas mãos, a pele inchava, cheia de bolhas; e as extremidades dos dedos, duras e descoradas, pareciam bolas de marfim. Cobertos de andrajos, os olhos injetados, o rosto tumefato, infestados de vermes - fazia três meses que não trocavam de farda nem de roupa de baixo -, os antigos vencedores da Europa lutavam contra a agonia. Se adormecessem, era a morte; se resistissem, se um passante os arrastasse um pouco mais adiante, ela estava apenas adiada. Os mais fracos morriam primeiro, o sangue na boca e, antes mesmo que expirassem, seus camaradas já os haviam despido. Neste oceano de barbárie, nunca há de ter havido semelhante trajetória de cadáveres na extensão da que seguiram os que fizeram essa campanha; eles estão em todos os cantos, em todas as estradas, frescos e velhos. A natureza humana, exaurida, desgastada pelo sofrimento, punha sua trama a nu, sua fibra fundamental; já não havia hierarquia nem disciplina; só um egoísmo feroz; todos curvados sob o mesmo nível de miséria. A própria velha guarda tinha perdido a bela compostura, e Napoleão se viu obrigado a chamá-la à ordem: "Não dêem ouvidos a esses fracos que a desgraça abate e que não sabem sofrer. Façam justiça, pelas próprias mãos, com aqueles que, dentre vocês, saírem da fila durante a marcha; estabeleçam uma disciplina interior em cada companhia, e que os homens que se comportarem mal sejam apedrejados pelos camaradas"."

J. Lucas-Dubreton, sobre 1812

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