(Original aqui)
Em 2001, governador do DF renunciou para não ser cassado.
Hoje, diz que deixa política se financiamento público de campanha não for aprovado.
Pivô do escândalo da violação do painel do Senado, em 2001, após a votação da cassação do então senador Luiz Estevão, o atual governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), diz ser favorável ao fim do voto secreto.
“Enquanto deputado e senador puder votar escondido atrás do painel, nenhuma democracia vai ser plena”, declarou o governador ao G1.
Ele, à época no PSDB, e o senador Antonio Carlos Magalhães, do então PFL (atual DEM), renunciaram para não correrem o risco de serem cassados, acusados de violar o painel do Senado para ter acesso aos votos de cada senador.
Arruda viu a lista de votação. Sabe quem votou a favor e quem votou contra a cassação. Mas diz que jamais revelará os votos. Perguntado se não acha que revelar os nomes é prestar um serviço à nação, Arruda desconversa: “A sociedade é muito mais sábia do que a gente imagina.”
O governador diz torcer para que acabe a reeleição, e os mandatos passem a ser de cinco anos, coincidentes com as eleições para presidente e prefeito. Também afirma querer financiamento público das campanhas eleitorais.
“Se não passar o financiamento público de campanha, quem continuar na carreira política é doido. Eu estou fora.”
Há pouco menos de cinco meses à frente do Governo do Distrito Federal (GDF), Arruda diz ter tomado medidas impopulares, contrariado muitos interesses e afirma estar “pagando um preço alto por isso”.
Além de extinguir 20 secretarias, ele cortou 11 mil empregos no Instituto Candango de Solidariedade (ICS) e outros 10 mil cargos em comissão.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista, a sexta da série com governadores no G1.
Painel do Senado
G1 – Hoje, o sr. admite que errou no caso do painel do Senado, em 2001. Nesse intervalo de seis anos, depois de renunciar, o sr. voltou, em 2004, como o deputado federal proporcionalmente mais votado do país e em 2006 foi eleito no 1º turno para governar o Distrito Federal. Gostaria que o sr. rememorasse esse episódio do painel do Senado e falasse sobre a experiência de ter atingido o fundo do poço.
José Roberto Arruda – Em termos pessoais, é uma experiência muito dura. Em termos políticos, acaba sendo uma experiência rica. Porque político, no Brasil, nunca erra. Nunca vi um político dizer que errou. O caboclo sai da cadeia e diz que não tem nada com aquilo. Então, eu acho que... eu tenho vergonha na cara. Eu não deveria ter olhado a lista. Eu teria mil atenuantes: dizer que muito mais gente viu, dizer que era para um objetivo nobre de o painel não ser modificado, eu poderia falar coisas. Mas o que interessa é que eu errei, que eu não deveria ter olhado. Reconheci o erro e paguei um preço muito alto por isso. Vivi os dois lados: ao sair da glória para o fundo do poço, você reconhece quem são seus verdadeiros amigos, quais são os verdadeiros valores da vida. E quando você renasce, como foi o meu caso, você renasce refeito, uma outra pessoa, com outros valores, com outras idéias, com muito mais experiência, com muito mais humildade.
G1 – O sr. já se declarou favorável à extinção do voto secreto no Congresso Nacional...
Arruda – Claro. Você vê... eu não quero, com isso, justificar o erro que cometi. Mas, já que vi a lista, o que eu posso dizer é o seguinte: enquanto deputado e senador puder votar escondido atrás do painel, nenhuma democracia vai ser plena. A plenitude democrática é exatamente você fazer com que os votos dos seus representantes sejam conhecidos por toda a sociedade.
G1 – O sr. viu a lista. Quem votou contra a cassação do então senador Luiz Estevão que mais surpreendeu o senhor?
Arruda – Foram tantos...
G1 – Quem? Quantos?
Arruda – Muita gente.
G1 – O sr. algum dia vai falar quem são?
Arruda – Não.
G1 – Por quê?
Arruda – Porque eu já errei vendo a lista e não vou errar outra vez falando o que vi.
G1 – O sr. não acha que prestará um serviço à nação dizendo quem são as pessoas que pregam um discurso diferente daquilo que praticam?
Arruda – A sociedade sabe. Não precisa falar nada. A sociedade é muito mais sábia do que a gente imagina.
Reeleição
G1 – O senhor se considera um governador de oposição?
Arruda – Acho que governador nenhum é de governo ou de oposição. As questões políticas, programáticas e ideológicas são defendidas no Congresso Nacional. Governador governa. No meu caso, eu sou hospedeiro dos poderes da República. Tenho com o Governo federal relações as melhores possíveis, e vou continuar tendo. E acho que, sinceramente, não fui eleito para fazer política partidária. Minha responsabilidade é governar Brasília.
G1 – Na eleição de 2010, onde o sr. imagina que estará: candidatando-se à Presidência da República, à reeleição para o Governo do Distrito Federal, à Câmara dos Deputados, a senador...?
Arruda – Sinceramente, não tenho a menor idéia.
G1 – O sr. é a favor da reeleição?
Arruda – Eu preferia hoje que não existisse. Eu sou a favor de uma reforma política que dê cinco anos de mandato para todo mundo, sem reeleição. Sou a favor de mandatos coincidentes para presidente, governador, prefeitos, vereador, de cinco em cinco anos.
G1 – O cenário político está marcado por escândalos. As pessoas já não sabem mais quem está envolvido em qual, dado o número de acusados e de casos...
Arruda – É a banalização do escândalo.
G1 – E como resolver?
Arruda – Eu acho que, se não passar o financiamento público de campanha, quem continuar na carreira política é doido. Eu não continuo.
G1 – O sr. tem esperança de que isso [o financiamento público de campanha] aconteça?
Arruda – Se não acontecer, fica muito difícil. Passa a ser... você... busca recursos para a campanha - e todo mundo busca - e depois isso é colocado no mesmo caldeirão da corrupção, do desvio de dinheiro público, e tudo vira igual, todos são iguais. Eu não estou disposto mais a isso, não. Eu acho que já dei a minha contribuição. Se não vier o financiamento público de campanha, a tendência é que só os milionários do Brasil possam ser candidatos. E eu estou fora.
PAC
G1 – O senhor já declarou que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é uma ilusão. Mesmo assim, tenta levar para o Distrito Federal a maior quantidade possível de recursos previstos no programa do Lula.
Arruda – O que eu digo é o seguinte: o PAC, em termos macroeconômicos, na minha visão, é um equívoco. Por quê? Porque o PAC parte do princípio de que é o Estado que é o motor da economia. E não é. Nem aqui nem em lugar nenhum do mundo. No mundo moderno, o Estado tem que regular, criar um ambiente propício aos investimentos no setor público. Agora, já que ele [o PAC] existe... E ele existe como o quê? Como um ajuntamento de projetos existentes dentro dele [do setor público], nada mais do que isso. Ele cumpre uma finalidade, devo admitir, que é o de fazer com que esses projetos andem. Por isso, tem o seu mérito.
G1 – No começo deste ano, os governadores e o presidente Lula se reuniram. Das coisas que ficaram definidas naquela reunião, o que foi feito de concreto até agora?
Arruda – Nós apresentamos uma lista de 14 pontos. Desses 14 pontos, sete foram aceitos pelo presidente e, desses, até agora, nenhum andou. O único que teve um desenvolvimento foi o Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica], mesmo fora daquilo que foi combinado com a gente. Nós tivemos que ir ao Senado e ganhar no voto o nosso ponto de vista.
G1 – O sr. poderia recordar alguns desses 14 pontos?
Arruda – Renegociação da dívida, repartição da CPMF [Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras], isenção de IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] para as empresas de saneamento.
G1 – O presidente Lula, e os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo, já disseram reiteradas vezes que a repartição da CPMF com os estados não será feita...
Arruda – (Interrompendo) É, mas é decisão do Congresso, né?
Democratas
G1 – O sr. é o único governador do Democratas. O partido tem força sem a aliança com o PSDB?
Arruda – Acho que é um partido [o Democratas] em reconstrução. É um partido que sabe que o país mudou e que precisa mudar. Agora, tem um caminho enorme pela frente, que é a defesa do pensamento liberal clássico, do Estado como ente regulador, da defesa da livre iniciativa e da economia de mercado.
G1 – Sua eleição pôs fim a uma dicotomia no Distrito Federal entre PT e PMDB...
Arruda – (Interrompendo) Eu acho que acabou [essa disputa] na cidade. A cidade amadureceu politicamente. E esse maniqueísmo já tinha cansado, de ser quase um revezamento entre PT, Roriz, Roriz e PT. Eu acho que a cidade é plural. A cidade é muito maior do que essas duas posições, por mais que elas mereçam respeito. Mas a cidade tem um pensamento político mais complexo.
G1 – Que avaliação o senhor faz desses quase 150 dias de governo?
Arruda – Estou vivendo momentos de muitas dificuldades, estou contrariando muitos interesses e estou pagando um preço alto por isso, claro. Diminuí 20 secretarias, diminuí 10 mil cargos em comissão, acabei com 11 mil empregos no ICS [Instituto Candango de Solidariedade], entreguei 124 prédios alugados, entreguei 600 carros alugados, fiz uma economia de R$ 400 milhões nos três primeiros meses. Claro que isso contraria interesses. Isso, sem contar, os prédios que eu implodi, as invasões que eu proibi, as vans que eu proibi. Nós compramos muitas brigas ao mesmo tempo, mas era absolutamente necessário, por voltar a cidade ao império da lei, da ordem.
Distrito Federal
G1 – O sr. e seu vice-governador são do Democratas (ex-PFL). Quando essa chapa foi lançada, houve um mal-estar em Brasília, principalmente com os aliados do então governador Joaquim Roriz (PMDB), que apoiava a candidatura da então vice-governadora, Maria de Lourdes Abadia (PSDB). Como é hoje sua relação com essa base aliada ao ex-governador Roriz?
Arruda – Nós acabamos, pelas circunstâncias que você sabe, ganhando a eleição sozinhos, com o apoio do PPS e de outros pequenos partidos. Mas não tivemos o apoio nem do PMDB, do Roriz, nem do PSDB, nem de ninguém. Ficamos sozinhos contra todos. E acabamos ganhando a eleição no 1º turno. Isso nos deu a tranqüilidade de poder fazer mudanças profundas tanto no aparelho do estado, como na forma de governar. Agora, temos tido uma relação elegante com todos eles, boa, mas sem maiores comprometimentos.
Invasões e vans
G1 – O sr. falou nas questões das invasões e condomínios irregulares e das vans. Como ficará isso daqui para a frente?
Arruda – No caso das terras, vamos continuar proibindo de forma enérgica qualquer uso indisciplinado do solo. Foi o uso indisciplinado do solo que calamitou a vida no Rio de Janeiro, por exemplo. Eu não vou deixar que, em Brasília, se repita o que aconteceu no Rio: as invasões, as favelas, o uso indisciplinado que, depois, gera violência, drogas e tudo isso. E, ao mesmo tempo, vou usar a decisão do Supremo Tribunal Federal [STF] e regularizar todos os condomínios já existentes.
G1 – E com relação às vans?
Arruda – Está proibido. Pronto. E agora vamos fazer edital de licitação para ônibus e microônibus. Mas nós não vamos mais dar linha de van de presente para ninguém.
BRB
G1 – O sr. escolheu técnicos para ocupar algumas secretárias e cargos estratégicos no Governo do Distrito Federal (GDF). Uma delas é o ex-presidente do Banco de Brasília (BRB) Roberto Figueiredo Guimarães, que acabou saindo do cargo depois de ter o nome envolvido na Operação Navalha, da Polícia Federal [que investiga fraudes em licitações e desvio de dinheiro público]. O sr. acertou nessas escolhas técnicas?
Arruda – Bom... o BRB... ele... claro que esse assunto em que ele [Roberto Figueiredo Guimarães] foi envolvido é um assunto anterior ao meu governo, diz respeito ao estado do Maranhão. Mesmo assim, ele pediu demissão e eu aceitei. O presidente interino [Laécio Barros Júnior] deve ficar algum tempo até que eu decida o presidente definitivo. E esses nomes técnicos que eu escolhi estão me dando o melhor retorno. Veja o caso do Cássio Taniguchi [secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente], que foi prefeito de Curitiba duas vezes, o caso da Maria Helena Castro [secretária de Educação], que foi a segunda do Paulo Renato no Ministério da Educação, o Luiz Tacca [Júnior, secretário da Fazenda], que foi secretário da Fazenda de São Paulo.
G1 – O sr. já possui alguns nomes para a presidência do BRB?
Arruda – Não, não, não. Não estou mexendo com isso agora, não.
G1 – O sr. não tem pressa?
Arruda – Não tenho pressa. [O BRB] Está muito bem presidido pelo servidor de carreira que está lá interinamente.
Copa do Mundo
G1 – Muito provavelmente, a Copa do Mundo de 2014 será disputada no Brasil. O estádio Mané Garrinha, em Brasília, briga para ser uma das sedes da competição...
Arruda – No dia 1º de junho, estarei em Londres entregando o meu caderno de encargos ao presidente da CBF [Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira].
G1 – Brasília será uma das sedes?
Arruda – Vai ser, se Deus quiser.
Em 2001, governador do DF renunciou para não ser cassado.
Hoje, diz que deixa política se financiamento público de campanha não for aprovado.
Pivô do escândalo da violação do painel do Senado, em 2001, após a votação da cassação do então senador Luiz Estevão, o atual governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), diz ser favorável ao fim do voto secreto.
“Enquanto deputado e senador puder votar escondido atrás do painel, nenhuma democracia vai ser plena”, declarou o governador ao G1.
Ele, à época no PSDB, e o senador Antonio Carlos Magalhães, do então PFL (atual DEM), renunciaram para não correrem o risco de serem cassados, acusados de violar o painel do Senado para ter acesso aos votos de cada senador.
Arruda viu a lista de votação. Sabe quem votou a favor e quem votou contra a cassação. Mas diz que jamais revelará os votos. Perguntado se não acha que revelar os nomes é prestar um serviço à nação, Arruda desconversa: “A sociedade é muito mais sábia do que a gente imagina.”
O governador diz torcer para que acabe a reeleição, e os mandatos passem a ser de cinco anos, coincidentes com as eleições para presidente e prefeito. Também afirma querer financiamento público das campanhas eleitorais.
“Se não passar o financiamento público de campanha, quem continuar na carreira política é doido. Eu estou fora.”
Há pouco menos de cinco meses à frente do Governo do Distrito Federal (GDF), Arruda diz ter tomado medidas impopulares, contrariado muitos interesses e afirma estar “pagando um preço alto por isso”.
Além de extinguir 20 secretarias, ele cortou 11 mil empregos no Instituto Candango de Solidariedade (ICS) e outros 10 mil cargos em comissão.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista, a sexta da série com governadores no G1.
Painel do Senado
G1 – Hoje, o sr. admite que errou no caso do painel do Senado, em 2001. Nesse intervalo de seis anos, depois de renunciar, o sr. voltou, em 2004, como o deputado federal proporcionalmente mais votado do país e em 2006 foi eleito no 1º turno para governar o Distrito Federal. Gostaria que o sr. rememorasse esse episódio do painel do Senado e falasse sobre a experiência de ter atingido o fundo do poço.
José Roberto Arruda – Em termos pessoais, é uma experiência muito dura. Em termos políticos, acaba sendo uma experiência rica. Porque político, no Brasil, nunca erra. Nunca vi um político dizer que errou. O caboclo sai da cadeia e diz que não tem nada com aquilo. Então, eu acho que... eu tenho vergonha na cara. Eu não deveria ter olhado a lista. Eu teria mil atenuantes: dizer que muito mais gente viu, dizer que era para um objetivo nobre de o painel não ser modificado, eu poderia falar coisas. Mas o que interessa é que eu errei, que eu não deveria ter olhado. Reconheci o erro e paguei um preço muito alto por isso. Vivi os dois lados: ao sair da glória para o fundo do poço, você reconhece quem são seus verdadeiros amigos, quais são os verdadeiros valores da vida. E quando você renasce, como foi o meu caso, você renasce refeito, uma outra pessoa, com outros valores, com outras idéias, com muito mais experiência, com muito mais humildade.
G1 – O sr. já se declarou favorável à extinção do voto secreto no Congresso Nacional...
Arruda – Claro. Você vê... eu não quero, com isso, justificar o erro que cometi. Mas, já que vi a lista, o que eu posso dizer é o seguinte: enquanto deputado e senador puder votar escondido atrás do painel, nenhuma democracia vai ser plena. A plenitude democrática é exatamente você fazer com que os votos dos seus representantes sejam conhecidos por toda a sociedade.
G1 – O sr. viu a lista. Quem votou contra a cassação do então senador Luiz Estevão que mais surpreendeu o senhor?
Arruda – Foram tantos...
G1 – Quem? Quantos?
Arruda – Muita gente.
G1 – O sr. algum dia vai falar quem são?
Arruda – Não.
G1 – Por quê?
Arruda – Porque eu já errei vendo a lista e não vou errar outra vez falando o que vi.
G1 – O sr. não acha que prestará um serviço à nação dizendo quem são as pessoas que pregam um discurso diferente daquilo que praticam?
Arruda – A sociedade sabe. Não precisa falar nada. A sociedade é muito mais sábia do que a gente imagina.
Reeleição
G1 – O senhor se considera um governador de oposição?
Arruda – Acho que governador nenhum é de governo ou de oposição. As questões políticas, programáticas e ideológicas são defendidas no Congresso Nacional. Governador governa. No meu caso, eu sou hospedeiro dos poderes da República. Tenho com o Governo federal relações as melhores possíveis, e vou continuar tendo. E acho que, sinceramente, não fui eleito para fazer política partidária. Minha responsabilidade é governar Brasília.
G1 – Na eleição de 2010, onde o sr. imagina que estará: candidatando-se à Presidência da República, à reeleição para o Governo do Distrito Federal, à Câmara dos Deputados, a senador...?
Arruda – Sinceramente, não tenho a menor idéia.
G1 – O sr. é a favor da reeleição?
Arruda – Eu preferia hoje que não existisse. Eu sou a favor de uma reforma política que dê cinco anos de mandato para todo mundo, sem reeleição. Sou a favor de mandatos coincidentes para presidente, governador, prefeitos, vereador, de cinco em cinco anos.
G1 – O cenário político está marcado por escândalos. As pessoas já não sabem mais quem está envolvido em qual, dado o número de acusados e de casos...
Arruda – É a banalização do escândalo.
G1 – E como resolver?
Arruda – Eu acho que, se não passar o financiamento público de campanha, quem continuar na carreira política é doido. Eu não continuo.
G1 – O sr. tem esperança de que isso [o financiamento público de campanha] aconteça?
Arruda – Se não acontecer, fica muito difícil. Passa a ser... você... busca recursos para a campanha - e todo mundo busca - e depois isso é colocado no mesmo caldeirão da corrupção, do desvio de dinheiro público, e tudo vira igual, todos são iguais. Eu não estou disposto mais a isso, não. Eu acho que já dei a minha contribuição. Se não vier o financiamento público de campanha, a tendência é que só os milionários do Brasil possam ser candidatos. E eu estou fora.
PAC
G1 – O senhor já declarou que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é uma ilusão. Mesmo assim, tenta levar para o Distrito Federal a maior quantidade possível de recursos previstos no programa do Lula.
Arruda – O que eu digo é o seguinte: o PAC, em termos macroeconômicos, na minha visão, é um equívoco. Por quê? Porque o PAC parte do princípio de que é o Estado que é o motor da economia. E não é. Nem aqui nem em lugar nenhum do mundo. No mundo moderno, o Estado tem que regular, criar um ambiente propício aos investimentos no setor público. Agora, já que ele [o PAC] existe... E ele existe como o quê? Como um ajuntamento de projetos existentes dentro dele [do setor público], nada mais do que isso. Ele cumpre uma finalidade, devo admitir, que é o de fazer com que esses projetos andem. Por isso, tem o seu mérito.
G1 – No começo deste ano, os governadores e o presidente Lula se reuniram. Das coisas que ficaram definidas naquela reunião, o que foi feito de concreto até agora?
Arruda – Nós apresentamos uma lista de 14 pontos. Desses 14 pontos, sete foram aceitos pelo presidente e, desses, até agora, nenhum andou. O único que teve um desenvolvimento foi o Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica], mesmo fora daquilo que foi combinado com a gente. Nós tivemos que ir ao Senado e ganhar no voto o nosso ponto de vista.
G1 – O sr. poderia recordar alguns desses 14 pontos?
Arruda – Renegociação da dívida, repartição da CPMF [Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras], isenção de IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] para as empresas de saneamento.
G1 – O presidente Lula, e os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo, já disseram reiteradas vezes que a repartição da CPMF com os estados não será feita...
Arruda – (Interrompendo) É, mas é decisão do Congresso, né?
Democratas
G1 – O sr. é o único governador do Democratas. O partido tem força sem a aliança com o PSDB?
Arruda – Acho que é um partido [o Democratas] em reconstrução. É um partido que sabe que o país mudou e que precisa mudar. Agora, tem um caminho enorme pela frente, que é a defesa do pensamento liberal clássico, do Estado como ente regulador, da defesa da livre iniciativa e da economia de mercado.
G1 – Sua eleição pôs fim a uma dicotomia no Distrito Federal entre PT e PMDB...
Arruda – (Interrompendo) Eu acho que acabou [essa disputa] na cidade. A cidade amadureceu politicamente. E esse maniqueísmo já tinha cansado, de ser quase um revezamento entre PT, Roriz, Roriz e PT. Eu acho que a cidade é plural. A cidade é muito maior do que essas duas posições, por mais que elas mereçam respeito. Mas a cidade tem um pensamento político mais complexo.
G1 – Que avaliação o senhor faz desses quase 150 dias de governo?
Arruda – Estou vivendo momentos de muitas dificuldades, estou contrariando muitos interesses e estou pagando um preço alto por isso, claro. Diminuí 20 secretarias, diminuí 10 mil cargos em comissão, acabei com 11 mil empregos no ICS [Instituto Candango de Solidariedade], entreguei 124 prédios alugados, entreguei 600 carros alugados, fiz uma economia de R$ 400 milhões nos três primeiros meses. Claro que isso contraria interesses. Isso, sem contar, os prédios que eu implodi, as invasões que eu proibi, as vans que eu proibi. Nós compramos muitas brigas ao mesmo tempo, mas era absolutamente necessário, por voltar a cidade ao império da lei, da ordem.
Distrito Federal
G1 – O sr. e seu vice-governador são do Democratas (ex-PFL). Quando essa chapa foi lançada, houve um mal-estar em Brasília, principalmente com os aliados do então governador Joaquim Roriz (PMDB), que apoiava a candidatura da então vice-governadora, Maria de Lourdes Abadia (PSDB). Como é hoje sua relação com essa base aliada ao ex-governador Roriz?
Arruda – Nós acabamos, pelas circunstâncias que você sabe, ganhando a eleição sozinhos, com o apoio do PPS e de outros pequenos partidos. Mas não tivemos o apoio nem do PMDB, do Roriz, nem do PSDB, nem de ninguém. Ficamos sozinhos contra todos. E acabamos ganhando a eleição no 1º turno. Isso nos deu a tranqüilidade de poder fazer mudanças profundas tanto no aparelho do estado, como na forma de governar. Agora, temos tido uma relação elegante com todos eles, boa, mas sem maiores comprometimentos.
Invasões e vans
G1 – O sr. falou nas questões das invasões e condomínios irregulares e das vans. Como ficará isso daqui para a frente?
Arruda – No caso das terras, vamos continuar proibindo de forma enérgica qualquer uso indisciplinado do solo. Foi o uso indisciplinado do solo que calamitou a vida no Rio de Janeiro, por exemplo. Eu não vou deixar que, em Brasília, se repita o que aconteceu no Rio: as invasões, as favelas, o uso indisciplinado que, depois, gera violência, drogas e tudo isso. E, ao mesmo tempo, vou usar a decisão do Supremo Tribunal Federal [STF] e regularizar todos os condomínios já existentes.
G1 – E com relação às vans?
Arruda – Está proibido. Pronto. E agora vamos fazer edital de licitação para ônibus e microônibus. Mas nós não vamos mais dar linha de van de presente para ninguém.
BRB
G1 – O sr. escolheu técnicos para ocupar algumas secretárias e cargos estratégicos no Governo do Distrito Federal (GDF). Uma delas é o ex-presidente do Banco de Brasília (BRB) Roberto Figueiredo Guimarães, que acabou saindo do cargo depois de ter o nome envolvido na Operação Navalha, da Polícia Federal [que investiga fraudes em licitações e desvio de dinheiro público]. O sr. acertou nessas escolhas técnicas?
Arruda – Bom... o BRB... ele... claro que esse assunto em que ele [Roberto Figueiredo Guimarães] foi envolvido é um assunto anterior ao meu governo, diz respeito ao estado do Maranhão. Mesmo assim, ele pediu demissão e eu aceitei. O presidente interino [Laécio Barros Júnior] deve ficar algum tempo até que eu decida o presidente definitivo. E esses nomes técnicos que eu escolhi estão me dando o melhor retorno. Veja o caso do Cássio Taniguchi [secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente], que foi prefeito de Curitiba duas vezes, o caso da Maria Helena Castro [secretária de Educação], que foi a segunda do Paulo Renato no Ministério da Educação, o Luiz Tacca [Júnior, secretário da Fazenda], que foi secretário da Fazenda de São Paulo.
G1 – O sr. já possui alguns nomes para a presidência do BRB?
Arruda – Não, não, não. Não estou mexendo com isso agora, não.
G1 – O sr. não tem pressa?
Arruda – Não tenho pressa. [O BRB] Está muito bem presidido pelo servidor de carreira que está lá interinamente.
Copa do Mundo
G1 – Muito provavelmente, a Copa do Mundo de 2014 será disputada no Brasil. O estádio Mané Garrinha, em Brasília, briga para ser uma das sedes da competição...
Arruda – No dia 1º de junho, estarei em Londres entregando o meu caderno de encargos ao presidente da CBF [Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira].
G1 – Brasília será uma das sedes?
Arruda – Vai ser, se Deus quiser.
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