1 de junho de 2007

Só agora Bush se deu conta do aquecimento global

(Original aqui)

George W. Bush é um espanto. Quem o ouviu falar nesta quinta (31) ficou com a impressão de que o presidente americano não fez outra coisa o tempo inteiro a não ser liderar a humanidade no combate ao aquecimento global. Mas a notável virada que ele anunciou na maneira como encara a questão (o aquecimento global passou a existir para ele) e como pretende enfrentá-la foi recebida com justificado ceticismo.

Bush foi o último no grande establishment americano (detesto a palavra, mas não achei outra) a admitir que o aquecimento global é um problema – vários estados e as principais empresas em seu país, incluindo as do setor de petróleo, há tempos embarcaram em programas destinados a entender, delinear e combater o efeito estufa.

O presidente americano sofre também severa pressão internacional, especialmente por parte dos países europeus, que há muito tempo estabeleceram metas de redução da emissão. Exatamente as metas que Bush sempre se recusou em sequer considerar. Estão aí as razões para a profunda desconfiança com que foi recebido seu discurso: ele sugere uma conversão de Saulo a Paulo que, na verdade, mais parece um truque de marketing político. E não fala em fixar metas.

Bush falou em fixar encontros com os 15 maiores emissores, entre eles o Brasil, nos próximos 18 meses – quando ele deixará a Casa Branca. É o que se chama, em bom português, de empurrar com a barriga. A proposta do presidente americano é sedutora principalmente para países como Índia e China, que estão entre os grandes poluidores mas (ainda?) livres da obrigação de estabelecer metas de redução de emissões.

A principal idéia que os europeus gostariam de discutir no próximo encontro de cúpula do G-8, na Alemanha, no final da semana que vem, é a de calcular limites de emissões de maneira a não permitir que as temperaturas médias subam mais do que 2 graus. Na prática, isto significaria que algumas das principais economias ricas – e a dos Estados Unidos é a maior delas – teriam de cortar suas emissões em até 50%.

O simples fato do presidente americano ter admitido a existência do problema, depois de tê-lo ignorado desde o primeiro dia no cargo, é um grande passo – para os Estados Unidos, talvez. Para o resto do mundo, é apenas a admissão do isolamento internacional de Washington. “Novas tecnologias nos deram uma nova compreensão do problema ao mesmo tempo que nos dão novos métodos de resolvê-lo”, discursou Bush.

É uma questão de pouquíssimo tempo para que os países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, sejam chamados também a uma considerável quota de sacrifício. Mas é impossível imaginar que eles façam qualquer coisa sem ver, primeiro, os ricos empenhados em soluções práticas. Nada disso ficou claro na surpreendente “conversão” de Bush.

Em relação ao clima, ele parece repetir o que fez no Iraque: deu-se conta de que as coisas estão andando errado quando já é tarde demais.


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