9 de junho de 2007

Sobre São Petersburgo, Rússia

Há uns dias atrás, uma amiga minha pediu para que eu falasse alguma coisa sobre o comunismo. Claro que ela estava sendo bem espertinha: daqui duas semanas e meia ela vai fazer uma prova minha sobre o assunto, e pediu pra que eu escrevesse para, quem sabe, usar as próprias palavras do prof na prova. Espertinha, a garota. Mas na verdade não vou escrever sobre o comunismo, ou pelo menos não em termos acadêmicos, e sim em termos práticos.

Agora há pouco, coloquei algumas fotos em meu fotolog (ver link à esquerda). Fotos que eu tirei quando estive em São Petersburgo em setembro do ano passado. É engraçado: a grande maioria das pessoas que vai à Rússia e visita as duas cidades (Moscou e São Petersburgo) se apaixona pela segunda. Acham a cidade muito mais bonita, mais aconchegante, mais "livre". Comparam sempre Moscou a São Paulo e São Petesrburgo ao Rio de Janeiro. Acho que é por isso que eu adoro Moscou: eu não gosto do Rio!

Indicação de chegada a São Petersburgo. Em cima, em branco, está escrito "São Petersburgo". Logo abaixo lê-se "Leningrado -- Cidade Herói", em referência ao heroísmo dos habitantes da cidade que ficaram presos na mesma durante quase dois anos durante a Segunda Guerra Mundial -- o famoso "bloqueio de Leningrado".

Mas há algo em São Petersburgo que, inegavelmente, me atrai: a história da cidade durante seu período comunista. Na verdade, a Rússia inteira me atrai, e não é só por causa do comunismo, mas isto é uma história. Fato é que a cidade de São Petersburgo é uma cidade importantíssima devido ao seu papel central em diversos eventos importantes do século XX, e eventos importantes não apenas para a própria Rússia mas, também, em nível mundial.

O primeiro fato presenciado em São Petersburgo é o cruzador "Aurora". Foi deste navio que saiu o tiro sinalizando o início da Revolução Russa, em 1917. Foi a partir dele que o sinal foi lançado para que os revolucionários tomassem o chamado "Palácio de Inverno" (atualmente, no edifício de tal Palácio situa-se o Museu Hermitage, o terceiro maior museu do mundo). A tomada de tal Palácio configura-se como o primeiro episódio da Revolução Russa, com a tripulação do "Aurora" efetivamente participando do ataque ao Palácio.

Entrada do cruzador "Aurora", no Rio Neva.

Cruzador "Aurora".

Cruzador "Aurora", por outro ângulo.

Outro local que chama atenção é a chamada "Praça do Palácio", logo atrás do Museu Hermitage. Lá também ocorreram diversos eventos de repercussão mundial, como o chamado "Domingo Sangrento" em 1905, quando a guarda do czar simplesmente atirou em uma manifestação pacífica de trabalhadores e religiosos. Em 1917, mais uma vez, a Praça foi o centro das atenções, pois lá aconteceram diversas disputas durante o período revolucionário.

Visão da "Praça do Palácio". Do lado esquerdo, ao fundo, vê-se o Rio Neva e suas fontes. O prédio verde no centro da foto ao fundo é o atual Museu Hermitage, antigo Palácio de Inverno. Do lado direito de tal edifício vê-se a Praça do Palácio, com a coluna de granito vermelho, com 47,5 m de altura e 500 toneladas.

Uma vez tomado o poder, os bolcheviques trataram de construir diversos prédios e monumentos que simbolizassem sua retumbante vitória -- sim, retumbante, considerando-se as condições da época. Claro que o Governo Provisório estava em frangalhos e que a Rússia estava externa e internamente desmoralizada devido às sucessivas derrodas na Primeira Guerra Mundial, mas o êxito bolchevique não deixa de ter seu valor considerável. Neste sentido, uma das coisas mais interessantes a serem notadas na Rússia, em qualquer cidade que se visite ainda hoje, são as referências ao comunismo. Os bolcheviques foram muito espertos: ao invés de fazer seus símbolos em metal, fizeram em concreto, nas paredes dos edifícios. Espertos por um motivo muito simples: em vários deles a estrutura é tal que, para o símbolo ser desfeito, deve-se destruir o edifício e reconstruí-lo, coisa até certo ponto muito complicada.

"Proletários de todo o mundo, uni-vos!"

"Primeiro conselho da Ditadura do Proletariado"

Outra coisa bem presente são as referências ao primeiro governante russo-soviético: Lênin. Já diria Maiakóvski: "Lênin viveu, Lênin está vivo, Lênin viverá!" As referências estão em toda parte, desde nomes de ruas, de praças e de edifícios até estações de metrô. O pior de tudo é ver que a juventude russa não dá a mínima importância pra esta incrível figura histórica, que, ao correr atrás de determinado plano político, conseguiu "simplesmente" mudar a história do mundo inteiro. Para mim, Lênin é uma das três figuras mais importantes do século XX, e um dos meus "ídolos". Não é à toa que eu tenho uns 10 livros sobre ele, bem como um busto em gesso que trouxe de lá... :P

Esta foto tem uma pequena história interessante. Estávamos voltando do Palácio de Verão por uma avenida que, para mim, era desconhecida. Assim que avistei, ao longe, a estátua de Lênin, pedi para o motorista da van parar, pois eu precisava tirar uma foto do mesmo. E não é que o motorista parou e foi todo solícito?

Em suma, a Rússia, é fascinante. Tá certo que eu sou meio suspeito pra falar de lá: como todos meus amigos e conhecidos sabem, eu sou simplesmente apaixonado pelo país, pela sua cultura, pela sua história, pela sua riqueza intelectual. Mas creio que, mesmo para os anti-comunistas, o país tem seu destaque, já que lá foi o berço do socialismo "prático". Da mesma forma, é inegável que, apesar dos erros, o sistema socialista foi capaz de fazer boa parte do que prometeu: basta nos lembrarmos de que, até 15 anos atrás (pouco tempo em termos de história), a União Soviética era o país com mais alto grau de alfabetização do mundo. Claro que há vários "contras" contra o sistema, e não vou entrar no mérito agora, mas também dizer que o socialismo não fez nada além de criar uma ditadura é uma falácia sem limites.

Eu, dentro do Palácio de Verão. O que existe de dourado no Palácio é realmente de ouro.


Um comentário:

Cintia Rodrigues disse...

LIndas fotos. Realamente a Rússia e sua história são fascinantes!