17 de abril de 2008

Texto sobre o Tibete

Ultimamente, tem-se falado muito sobre a opressão da China em relação ao Tibete. Coincidentemente, ao vascular meus arquivos antigos em meu computador, encontrei um texto escrito em 2001 por um professor da Universidade de Brasília. A título de difusão de idéias diversas, além daquelas veiculadas na mídia, publico aqui o texto de tal professor (isto não quer dizer, em absoluto, que concordo com tudo que está escrito; quero apenas mostrar outros pontos de vista sobre o assunto).

DIVIDIR PARA IMPERAR

A Sociologia ensina que, quando o desenvolvimento aparece, a onipresença divina encolhe-se. Restringe-se às quatro paredes das igrejas e monastérios. Hoje o doente busca o médico antes de pedir cura para Deus. Quem quer emprego busca trabalho e o pretendente ao casamento parte para o namoro sem preocupação com promessas e doações em dinheiro que antigamente se fazia aos santos casamenteiros.

Os efeitos do progresso econômico-social da China implantados no Tibet em l959 incomodam profundamente os defensores das velhas estruturas medievais da oligarquia religiosa. Oligarquia esta permanentemente insatisfeita com os resultados positivos do processo revolucionário que cortou as bases de sustentação da integração do poder civil com o poder religioso. A história social chinesa está repleta de mártires e heróis. O mesmo se pode também dizer em relação à evolução histórica ocidental. Nesta parte do mundo foi férrea e árdua a luta contra a opressão da ditadura eclesiástica conhecida notadamente do século XI ao século XIV da era cristã.

No medievo, a Igreja Católica moldava e dominava o Estado. Hoje no Tibet as forças políticas reacionárias com fachada religiosa pretendem recuperar o poder que detinham até meio século passado. Uma década após a Revolução de 1949 criou-se políticas públicas retirando das mãos dos senhores dos monastérios tibetanos o monopólio do cultivo da terra. Acabou-se então com o monopólio da criação do gado. Colocou-se um ponto final no controle político exercido pelo alto clero e pelas elites dominantes locais. Estes dois grupos impediam, inclusive, o fim da abominável exploração da mão-de-obra dos servos que perfaziam naquela época 90% da população.

Por causa do processo revolucionário em ação, a economia e as riquezas produtivas deixaram de concentrar-se em certas castas do clero. Saudosista dos velhos tempos, a aristocracia religiosa tibetana, atualmente no estrangeiro, insiste em transformar a espada da fé e a espada da política no trono do poder. Isso com o apoio explícito do capital que controla grandes órgãos formadores da opinião pública mundial.

A mídia ocidental, injusta e propositadamente, omite as virtudes da postura laica do modelo de desenvolvimento chinês aplicada no Tibet. A sabedoria de arrumar a casa antes de abrir a porta para visitas transformou-se em regra básica dos bons princípios de hospitalidade e da boa vizinhança. Tal sabedoria, associada aos conhecimentos da vivência em rigorosas condições climáticas com baixas densidades de oxigênio, ajudaram criar uma sensata política de desenvolvimento sustentável para o Tibet. Tal política competentemente disciplina o fluxo turístico para a região. Atualmente são alimentadas inversões econômicas extremamente selecionadas, inversões adaptadas tanto à cultura quanto ao meio ambiente local. Graças a isso o Tibet não corre o risco de transformar-se em prostíbulo de turistas oriundos de países ricos. Livre da poluição visual dos outdoors, lá quase não existe propagandas da Coca-Cola, das marcas de cigarro, de bebidas alcoólicas para sujar as lindíssimas paisagens. As cadeias de McDonald´s, Pizzas Hut e outras coisas do fast-food, como querem não poucos críticos da atual política em relação ao Tibet, ainda não invadiram Lhasa nem outras cidades da região. Graças a esta política tão condenada no Ocidente, as paredes do Monastério Potala não foram ainda pichadas pela juventude ocidentalizada de calças jeans e tênis. Nos templos tibetanos as tradições são respeitas e mantidas de forma a causar inveja a muitas outras religiões e igrejas no Ocidente.

Graças à atual política, no Tibet não existe mercado do sexo infantil. Anda-se em qualquer lugar, a qualquer hora sem perigo de ser assaltado. Desconhecem-se casas noturnas com o som ensurdecedor da poluição sonora da tecno music ou do heavy metal, por exemplo, para roubar a paz e o silêncio das montanhas. Lá nada interfere no ritmo da musicalidade piedosa das orações nos templos.

Nas cidades tibetanas ainda se desconhece o turismo regado a drogas, como o conhecido nos Países Baixos, Singapura, Malásia, México, Vietnã, Colômbia ou Brasil. Em resumo, esta parte da China tão bem conservada, cultural e ecologicamente falando, se hoje é o que é, louva-se ao respeito que os chineses devotam por sua rica história, e também por sua determinação de zelar e lutar pela soberania de seu território. A Grande Muralha, uma das sete maravilhas do mundo, é formidável exemplo comprovador da nossa afirmação.

O apoio nascido nos Estados Unidos da América aos separatistas liderados por Dalai Lama faz parte da clássica estratégia geopolítica dos dominadores de dividir para imperar. A intensidade de tal apoio começa a transformar-se em grave problema nas relações internacionais, envolvendo inclusive a Índia. Pode significar destruições e desgraças. Poderá abrir chagas incuráveis em um dos últimos recantos da Terra onde a religiosidade popular é das mais autênticas, seguida dentre de seculares rituais. Tudo isto até agora sem a massificante interferência do país globalizador faminto de novos espaços para globalizar, massificar, e abrindo novos espaços para sua dominação econômica e cultural.

Manipular a religiosidade popular, semear intriga e discórdia como instrumento político em prol do separatismo é inescrupuloso gesto de violação dos direitos humanos. Isto porque o separatismo atiça guerras que colocam em risco vidas humanas. Usar o nome de Deus, o nome da liberdade e dos direitos humanos para defender interesses do poder hegemônico de não importa qual país prova que a política internacional, em pleno início do século XXI, não pode desprezar as lições históricas do passado. Só assim evitar-se-á que crimes hediondos ainda se cometam em nome do fanatismo religioso contra a paz duradoura, contra os direitos humanos e contra o direito de autodeterminação dos povos.

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