23 de abril de 2008

Vergonha nacional

(Original aqui.)

Exigências com Itaipu refletem diminuição da influência brasileira
Postado por William Waack em 22 de Abril de 2008 às 23:22

É perda de tempo procurar na questão aberta com Itaipu pelo Paraguai (e não apenas pela eleição do presidente) argumentos jurídicos ou comerciais. A questão é política e, portanto, foge às fórmulas de cálculo e aos dispositivos incluídos em textos legais.

Em certa medida, a exigência paraguaia, à qual o Brasil parece disposto a ceder – “parecer”, aqui, não é tática de negociação mas, simplesmente, confusão – encerra um ciclo. Itaipu é um símbolo da capacidade que a diplomacia brasileira demonstrou, algumas décadas atrás, de resolver um perigoso contencioso com seu mais importante vizinho, a Argentina. A celeuma em torno do gás da Bolívia e da energia de Itaipu marca o fim da forte influência do Brasil frente a seus vizinhos menos poderosos.

O que se pode notar no comportamento do governo brasileiro nesses últimos episódios é a noção – no meu entender amadorística – de que relações internacionais possam ser uma troca de favores. Ainda mais quando há, digamos, convergências de pontos de vista entre líderes políticos. Há uma difusa noção (e tudo que é difuso só atrapalha) de países “iguais”, em situações “semelhantes”, com regimes políticos “afinados”.

É necessário que se lembre que a superação dos principais contenciosos entre os dois “grandes” (Brasil e Argentina) ocorreu após a redemocratização dos dois países. Governos civis (Alfonsin e Sarney) dedicaram-se a aplainar diferenças que os militares em Brasília e Buenos Aires viam com grande desconfiança. É uma “afinação” política, no sentido de convergência, que levava em conta interesses de longo prazo. Interesses de Estado.

Não é o que se trata agora nas questões que neste momento nos interessam. É notável a presença e importância paraguaia no setor informal brasileiro – não é culpa ou mérito deles, é responsabilidade nossa. A rigor (e sem falsos moralismos) o Brasil ajudaria muito mais aos paraguaios, e a si mesmo, se fosse mais eficiente no combate ao contrabando, falsificação, pirataria, roubo de carga e crime organizado. As mazelas paraguaias não dependem das fórmulas de cálculo dos tratados que regem o funcionamento de Itaipu.

Boa parte da política externa brasileira está calcada num moralismo desfocado, recheado de expressões do tipo “dívida histórica”, “apelo aos poderosos”, e por aí vai. Há uma notável ausência, nessas formulações, do que seriam nossos interesses a longo prazo e, no curtíssimo, dos quais seriam os interesses dos nossos contribuintes e consumidores, os que são chamados a pagar a conta das nossas bravatas.

É em nome de um princípio político que cedemos à Bolívia e ao Paraguai. Supõe-se, por parte dos que compartilham esses princípios políticos, que o país amplie sua capacidade de ação junto a seus vizinhos e, portanto, satisfaça melhor as próprias necessidades. O que está acontecendo é o contrário.

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