4 de abril de 2009

Do medo (II)

(Continuação...)

É principalmente quando sob a sua influência recobramos a coragem que ele nos tirara contra o que o dever e a honra determinavam, que o medo revela sua ação mais intensa. Na primeira batalha séria que tiveram – e perderam – os romanos contra Aníbal, sob o consulado de Semprônio, um exército de cerca de 10.000 infantes, tomado de pavor, debandou e, na sua covardia, não descobrindo por onde passar, jogou-se contra o grosso do inimigo. Tanto e tão bem fez que, depois de matar grande número de cartagineses, rompeu-lhes as fileiras, pagando uma fuga vergonhosa com os mesmos esforços que teriam de fazer para alcançar uma vida gloriosa.

O medo é a coisa de que mais medo tenho no mundo. Ele ultrapassa, pelos incidentes agudos que provoca, qualquer outra espécie de acidente. Que aflição será mais penosa e justificável do que a dos amigos de Pompeu, testemunhas em seu próprio navio de horrível massacre? No entanto, o medo que lhes causou a aproximação das velas egípcias abafou neles esse sentimento, a tal ponto que se observou terem pensado apenas em instar os marinheiros para que, à força de remos, lhes facilitassem a fuga até chegarem a Tiro e, já sem receios, tiveram o lazer de meditar sobre a perda sofrida e dar livre curso aos lamentos que as lágrimas que o medo, mais forte do que a dor, paralisara. Os que têm motivo para temer a perda de seus bens, o exílio ou a servidão, vivem em constante angústia. Não comem nem bebem, nem dormem, enquanto em idênticas circunstâncias, os pobres, os banidos, os servos, continuam a viver, não raro tão alegremente como de costume. Quantas pessoas, atormentadas pelas fustigações do medo, não se enforcaram, se afogaram ou se atiraram em precipícios, demonstrando ser o medo mais importuno e insuportável do que a própria morte!

Os gregos admitem um outro tipo de medo, que não provém de um erro de nosso raciocínio, mas ocorre sem causa aparente e por vontade dos deuses. E povos inteiros e exércitos inteiros o experimentam. Dessa ordem foi o que provocou em Cartago tão prodigiosa desolação. Só se ouviam gritos de pavor; os habitantes precipitavam-se fora de suas casas, como a um sinal de alarma, e se atacavam mutuamente, e se feriam, e se matavam, como se inimigos houvessem entrado na cidade. A desordem e o tumulto imperavam. E a isso, que só findou quando, mediante preces e sacrifícios, conseguiram acalmar a cólera dos deuses, chamam os gregos "Terror Pânico".

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