31 de março de 2008

Oh céus

Por que há pessoas no mundo que preferem ficar lamentando da "sorte", do "azar", de "Deus" ou sei lá o que ao invés de perceberem que o que acontece com elas nada mais é do que resultado de suas próprias escolhas anteriores -- tenham tais escolhas sido tomadas lá atrás ou há apenas 5 minutos?

Há determinada pessoa que acompanho já há um certo tempo. Não é uma amizade, mas é um relacionamento estável, digamos assim (nada relacionado a sentimentos, por favor). E hoje a pessoa reclamou de algo que "aconteceu" com ela. Para sua infelicidade, pediu pra conversar comigo sobre o assunto. "Bonzinho" que sou, lá fomos nós nos divertir, quero dizer, conversar com a pessoa.

A conversa começou com a reclamação da vida, é claro. E eu, em um papel de psicólogo que, por meio da hipnose, volta à infância da pessoa (ok, nem tanto!), comecei a retornar no tempo e perguntar todas as escolhas da pessoa sobre tal tema desde que o mesmo surgiu. E retornei até o dia em que conversamos pela primeira vez sobre o assunto, em agosto do ano passado, quando eu disse à tal pessoa: "você vai se dar mal nisso". Morri de vontade de dizer aquela frase maravilhosa ("que que eu te disse?"), mas me segurei e fiquei quietinho.

Enfim, acho que as pessoas deveriam ter mais consciência do fato de que tudo na vida é resultado da fórmula "ação-reação": se uma decisão é tomada hoje, com certeza haverá uma reação a esta decisão -- boa ou ruim, cedo ou tarde. O importante é se manter estável (como me disse uma pessoa hoje) e não nos deixarmos influenciar pelo que acontece no dia-a-dia.

Aliás, termino esta postagem agradecendo a esta pessoa que trocou uns e-mails comigo hoje -- só a possibilidade de trocar idéias já fez retornar o interesse e a dedicação que são típicos da minha pessoa. Muito obrigado!


Melhoras no humor

Meu humor de longo prazo hoje melhorou devido ao meu almoço: há tempos não tinha um debate intelectual com alguém. E, ainda que o do almoço de hoje tenha sido curto -- não durou nem 10 minutos --, foi o suficiente pra me dar um novo ânimo em relação às coisas do intelecto. Nada como ver que ainda há pessoas que prezam um pouco o conhecimento de coisas que a maioria acha "inúteis"...


O porteiro do puteiro

O porteiro do Puteiro

Não havia no povoado pior ofício do que 'porteiro do puteiro'. Mas que outra coisa poderia fazer aquele homem? O fato é que nunca tinha aprendido a ler nem escrever, não tinha nenhuma outra atividade ou ofício.

Um dia, entrou como gerente do puteiro um jovem cheio de idéias, criativo e empreendedor, que decidiu modernizar o estabelecimento. Fez mudanças e chamou os funcionários para as novas instruções. Ao porteiro disse:

- A partir de hoje, o Senhor, além de ficar na portaria, vai preparar um relatório semanal onde registrará a quantidade de pessoas que entram e seus comentários e reclamações sobre os serviços.

- Eu adoraria fazer isso, Senhor - balbuciou - mas eu não sei ler nem escrever!

- Ah! Quanto eu sinto! Mas se é assim, já não poderá seguir trabalhando aqui.

- Mas Senhor, não pode me despedir, eu trabalhei nisto a minha vida inteira, não sei fazer outra coisa.

- Olhe, eu compreendo, mas não posso fazer nada pelo Senhor. Vamos dar-lhe uma boa indenização e espero que encontre algo que fazer. Eu sinto muito e desejo que tenha sorte.

Sem mais nem menos, deu meia volta e foi embora...

O porteiro sentiu como se o mundo desmoronasse. Que fazer? Lembrou que no prostíbulo, quando quebrava alguma cadeira ou mesa, ele a arrumava, com cuidado e carinho. Pensou que esta poderia ser uma boa ocupação até conseguir um emprego. Mas só contava com alguns pregos enferrujados e um alicate mal conservado. Usaria o dinheiro da indenização para comprar uma caixa de ferramentas completa. Como o povoado não tinha casa de ferragens, deveria viajar dois dias em uma mula para ir ao povoado mais próximo para realizar a compra.

E assim o fez. No seu regresso, um vizinho bateu à sua porta:

- Venho perguntar se você tem um martelo para me emprestar.

- Sim, acabo de comprá-lo, mas eu preciso dele para trabalhar... já que...

- Bom, mas eu o devolverei amanhã bem cedo.

- Se é assim, está bom.

Na manhã seguinte, como havia prometido, o vizinho bateu à porta e disse:

- Olha, eu ainda preciso do martelo. Porque você não o vende para mim?

- Não, eu preciso dele para trabalhar e além do mais, a casa de ferragens mais próxima está a dois dias mula de viagem.

- Façamos um trato - disse o vizinho. Eu pagarei os dias de ida e volta mais o preço do martelo, já que você está sem trabalho no momento. Que lhe parece?

Realmente, isto lhe daria trabalho por mais dois dias... Aceitou.

Voltou a montar na sua mula e viajou. No seu regresso, outro vizinho o esperava na porta de sua casa.

- Olá, vizinho. Você vendeu um martelo a nosso amigo. Eu necessito de algumas ferramentas, estou disposto a pagar-lhe seus dias de viagem, mais um pequeno lucro para que você as compre para mim, pois não disponho de tempo para viajar para fazer compras. Que lhe parece?

O ex-porteiro abriu sua caixa de ferramentas e seu vizinho escolheu um alicate, uma chave de fenda, um martelo e uma talhadeira. Pagou e foi embora. E nosso amigo guardou as palavras que escutara: 'não disponho de tempo para viajar para fazer compras'. Se isto fosse certo, muita gente poderia necessitar que ele viajasse para trazer as ferramentas. Na viagem seguinte, arriscou um pouco mais de dinheiro trazendo mais ferramentas do que as que havia vendido. De fato, poderia economizar algum tempo em viagens. A notícia começou a se espalhar pelo povoado e muitos, querendo economizar a viagem, faziam encomendas. Agora, como vendedor de ferramentas, uma vez por semana viajava e trazia o que precisavam seus clientes. Com o tempo, alugou um galpão para estocar as ferramentas e alguns meses depois, comprou uma vitrine e um balcão e transformou o galpão na primeira loja de ferragens do povoado. Todos estavam contentes e compravam dele. Já não viajava, os fabricantes lhe enviavam seus pedidos. Ele era um bom cliente. Com o tempo, as pessoas dos povoados vizinhos preferiam comprar na sua loja de ferragens, do que gastar dias em viagens.

Um dia ele lembrou de um amigo seu que era torneiro e ferreiro e pensou que este poderia fabricar as cabeças dos martelos. E logo, por que não, as chaves de fendas, os alicates, as talhadeiras, etc... E após foram os pregos e os parafusos... Em poucos anos, nosso amigo se transformou, com seu trabalho, em um rico e próspero fabricante de ferramentas.

Um dia decidiu doar uma escola ao povoado. Nela, além de ler e escrever, as crianças aprenderiam algum ofício. No dia da inauguração da escola, o prefeito lhe entregou as chaves da cidade, o abraçou e lhe disse:

- É com grande orgulho e gratidão que lhe pedimos que nos conceda a honra de colocar a sua assinatura na primeira página do Livro de atas desta nova escola.

- A honra seria minha - disse o homem. Seria a coisa que mais me daria prazer, assinar o Livro, mas eu não sei ler nem escrever, sou analfabeto.

- O Senhor?!?! - disse o prefeito sem acreditar. O Senhor construiu um império industrial sem saber ler nem escrever? Estou abismado. Eu pergunto: O que teria sido do Senhor se soubesse ler e escrever?

- Isso eu posso responder - disse o homem com calma. Se eu soubesse ler e escrever... Ainda seria o porteiro do puteiro!!!

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Geralmente as mudanças são vistas como adversidades. As adversidades podem ser bênçãos. As crises estão cheias de oportunidades.

Se alguém lhe bloquear a porta, não gaste energia com o confronto, procure as janelas.

Lembre-se da sabedoria da água: A água nunca discute com seus obstáculos, mas os contorna.


As outras dengues

(Recebi por e-mail.)

Artigo publicado no jornal O Globo, no dia 29/03/2008
Cristovam Buarque*
www.cristovam.org.br

O Brasil está assustado com a epidemia de dengue que afeta atualmente diversas cidades brasileiras, especialmente o Rio de Janeiro. As autoridades trocam acusações e discutem de quem é a culpa. Mas poucos se lembram dos que avisaram que ela aconteceria. Foram muitos os médicos, epidemiologistas e políticos que avisaram, cobraram, denunciaram que o Brasil, especificamente o Rio, caminhava para a epidemia que hoje testemunhamos.

O risco de epidemias previamente anunciadas não se limita apenas ao quadro de saúde. Há décadas os ecologistas avisam, como muitos avisaram da dengue, que o desflorestamento da Amazônia é uma praga que destrói o meio ambiente. Mas esses avisos foram e continuam sendo ignorados. Alguns grupos - não apenas os conservadores de direita - chegam a reagir, dizendo que proteger a natureza é um atraso, porque o progresso se mede por árvores derrubadas e transformadas em madeira. Há vinte anos, um marxista brasileiro dizia que a preocupação com o meio ambiente era uma invenção do imperialismo para impedir o desenvolvimentismo do Terceiro Mundo.

Nós, brasileiros, somos os Aedes Egyptis da Amazônia.

Em São Paulo, já se sabe que, um dia, o trânsito da cidade vai parar de vez por causa do excesso de automóveis, mas cada vez se produz, compra, dirige mais. Mesmo sabendo que a epidemia de carros vai paralisar o organismo de cidade, como a dengue vai paralisar o organismo do doente.

A corrupção, as medidas provisórias, o vazio do Congresso são o mosquito que contamina a democracia. A política brasileira está com dengue, com a previsão de que em breve será hemorrágica, mas nada fazemos para interromper a marcha da epidemia que conduz ao autoritarismo explícito. Muito maior do que o atual autoritarismo das medidas provisórias em excesso e sem justificativa de urgência. Mas os alertas caem no vazio, como há algum tempo caía no vazio a denúncia do risco de dengue.

Há anos é anunciada uma epidemia de desemprego, não por falta de vagas, mas por falta de formação. Uma epidemia que poderá, inclusive, reduzir o ritmo do crescimento em diversos setores. Todos os dias, sobram - na indústria, na agricultura, na construção, nos serviços - vagas não preenchidas, enquanto milhões de pessoas desempregadas querem trabalhar, mas não possuem a qualificação necessária.

Nos últimos 50 anos, diversos políticos, como Brizola, alertaram e tentaram convencer o Brasil a dar importância à educação. Tudo indica que essa epidemia também vai se agravar, porque a educação não avança como deveria, e porque as exigências de formação crescem mais rapidamente do que a formação - que, quando é oferecida, é insuficiente, incompleta e não oferece a complexidade que os tempos de hoje exigem.

Todos sabemos que há muitas outras epidemias se preparando para eclodir no Brasil, mas vamos esperar para manifestar nossa indignação e, fingindo surpresa, culpar os outros: o ministro vai culpar o prefeito, o prefeito vai culpar o governador.

A pior de todas as epidemias é a falta de consciência da necessidade de um projeto comum para a nação. A epidemia de imediatismo e corporativismo, que provoca a omissão e legitima o esquecimento do futuro. Impede o investimento de hoje, para evitar o que só vai acontecer amanhã. É por isso que nenhum de nós se responsabiliza pelo resto do Brasil. Deixamos água empoçada e crianças sem escola - desde que não sejam as nossas. Como se os terremotos epidêmicos deixassem de pé somente a casa da gente, e as outras não importassem. Assim, o cidadão omisso e os governos oportunistas olham apenas os votos de hoje, e não para as doenças de amanhã. Recusam-se a exigir sacrifícios no presente para construir o futuro.

O imediatismo e corporativismo nos impedem de identificar a epidemia da ausência de capital-conhecimento: ela não provoca febre e dores em cada indivíduo infectado, como faz a dengue, mas ameaça ainda mais o futuro da economia e das famílias do Brasil.

* Professor da Universidade de Brasília, Senador pelo PDT/DF


Estranho

Sei que isto não tem nada a ver com o contexto deste blog, mas como é estranho ficar com a pupila dilatada! Já havia feito isso outras vezes, mas desta vez parece-me que foi pior -- até porque o sol resolveu sair hoje e me castigar nos 5 minutos que demorei pra chegar em casa, vindo do hospital... E parece-me que foi tudo combinado, pois quando saí pra faculdade as luzes estavam tão mais fortes que o normal... :P


Retrocesso na educação

Sugiro a todos os meus (ex-)alunos que leiam a notícia abaixo, pois isto muito vos interessa. Como dizem lá de onde eu vim: "para bom entendedor, meia palavra basta". O negrito no meio do texto já veio assim da minha fonte.

Retrocesso na educação

29/03/2008 - Sob a alegação de que "escola não é padaria" e "educação não é mercadoria", o Ministério da Educação (MEC) pretende intervir, de modo indireto, nos processos de incorporações de universidades particulares, de lançamento de ações em bolsa por conglomerados educacionais e de participação de capitais internacionais em entidades brasileiras de ensino superior. A estimativa é de que o mercado educacional movimente anualmente cerca de R$ 40 bilhões.

Só nos dois primeiros meses de 2008 foram realizadas 9 operações de incorporação de empresas do setor, no valor de R$ 81 milhões. Em 2007 ocorreram 25 aquisições, das quais 14 realizadas por 4 empresas de capital aberto. Elas obtiveram R$ 1,4 bilhão com a venda de ações em bolsa, tendo aplicado os recursos na aquisição de universidades concorrentes para aumentar sua participação no mercado.

As demais aquisições foram realizadas por empresas de capital fechado, que cresceram adquirindo faculdades de porte médio e pequeno. Bancos de investimento nacionais e internacionais constituíram fundos específicos para adquirir participações em conglomerados educacionais. Para as autoridades educacionais, esse processo poderia levar à desnacionalização do setor. O que o governo mais teme é que a abertura do mercado educacional seja incluída nas negociações do Acordo Geral para o Comércio de Serviços, na Organização Mundial do Comércio (OMC). "Até que ponto não se retirará do poder público nacional o controle da regulamentação no País? É um risco para o projeto de desenvolvimento do Brasil aderir à proposta da OMC, porque a educação, na concepção governamental brasileira, é um bem público e um direito, não uma mercadoria", diz o secretário de Educação Superior do MEC, Ronaldo Mota.

Embora não existam obstáculos legais para a presença de capitais estrangeiros no setor educacional, o MEC vem tentando impor limites à sua participação. Pelo artigo 209 da Constituição, "o ensino é livre à iniciativa privada", cabendo ao poder público a responsabilidade pela "autorização e avaliação da qualidade". Numa interpretação extensiva desse artigo, o MEC tem elaborado pareceres nos quais afirma que quem tem competência para autorizar e avaliar também pode regular. Ou seja, pode estabelecer regras, sob a justificativa de exigir um padrão mínimo de qualidade.

Como disse Mota em entrevista ao jornal Valor, na década passada o poder público avaliava e o mercado regulava; agora, "o Estado é regulador", obrigando algumas universidades a reduzir a oferta de vagas, diminuir o número de alunos por sala de aula e a elevar exigências de qualificação do corpo docente. Embora seja óbvio que o papel do MEC é zelar pela qualidade do ensino, o modo como a questão é colocada pelo secretário de Educação Superior tem um tom de repulsa ao capital estrangeiro. A preocupação com a qualidade, em outras palavras, seria pretexto para criar empecilhos para empresas multinacionais que pretendam investir no mercado educacional brasileiro.

Essa impressão ficou ainda mais nítida depois que o secretário, em entrevistas e artigos, passou a pedir ao Congresso a votação do Projeto de Lei do Ensino Superior. O projeto foi enviado pelo Executivo em regime de urgência. Mas, por causa das críticas que sofreu, o pedido de urgência foi retirado e o projeto passou a tramitar vagarosamente nas comissões técnicas. Antes que o secretário de Educação Superior começasse a fazer o seu lobby, até as próprias lideranças governistas pareciam ter perdido o interesse na aprovação do projeto. Um dos exageros do texto é o dispositivo que define ensino privado como "função pública delegada" e prevê que 70% do capital votante das universidades pertença a brasileiros natos ou naturalizados.

Trata-se de uma medida obtusa. Por razões ideológicas, os autores do projeto não admitem que boas idéias e tecnologia de ponta podem vir junto com investimentos estrangeiros.

Defender a retomada de um projeto absurdo, que parece não interessar nem mesmo às lideranças governistas no Congresso e que permitiria ao governo maior interferência regulatória nas universidades privadas a pretexto de assegurar a qualidade, e evitar a "desnacionalização" do ensino, como o MEC está pretendendo, é um enorme retrocesso.

Fonte: O Estado de São Paulo


30 de março de 2008

Domingo...

Bom, mais um domingo termina. Mais uma semana vai embora. Mais minutos se foram, incontáveis e irrecuperáveis. E eu páro e penso: o que fiz nestes minutos, horas e dias desta última semana pra melhorar o mundo?

Este tem sido um questionamento um tanto quanto freqüente nas últimas semanas. Será que esta "vidinha" de acordar, trabalhar, estudar à tarde, trabalhar e dormir leva a alguma coisa?

Quando eu era mais novo tinha esta grande preocupação: sentia-me uma pessoa privilegiada no mundo por ter tido todo o acesso possível à educação. No meio em que vivia, mesmo em Santos, mas principalmente aqui, considerava-me um privilegiado, pois um monte de gente ao meu redor não tinha a mesma chance que eu tinha. Não podiam estudar: precisavam trabalhar e não tinham tempo pra se informar, pra se educar.

Cresci, e as oportunidades que tive se transformaram, durante certo tempo da minha vida, em um pequeno fardo. Perguntava-me sempre: pra que adquirir todo este conhecimento? Por que tudo isso só pra mim? Por que eu tinha isso e outros não? Qual seria a minha "função social" por adquirir todo o conhecimento que tinha (e que continuou, ao longo dos anos, aumentando ainda mais)? Por que toda a facilidade com o intelectual?

Aí comecei a dar aula, e encontrei nesta função minha vocação -- e a resposta para o meu auto-imposto fardo: aprendi muito pra poder colaborar com a formação de outras pessoas. Finalmente havia encontrado o equilíbrio -- fundamental em qualquer situação da vida -- entre o que sabia e a transferência disto pros outros. Sentia-me finalmente realizado: o conhecimento adquirido -- às vezes às duras penas, porque, diferentemente do que quase todo mundo acha, minha família não foi e não é rica -- estava servindo para o desenvolvimento de outros. Nada me alegrava (e ainda me alegra) mais do que ver os alunos aprendendo o conteúdo e indo além do feijão-com-arroz que dou dentro de sala de aula. Nada me estimulava (e ainda me estimula) mais do que ver alguém começando o semestre sem saber nada e terminando o semestre sabendo um mínimo além do que no início.

Estes 6 anos dando aula -- um pouquinho mais se eu levar em consideração algumas aulas que dei ainda quando estava na graduação --, se por um lado trouxeram pra mim a certeza do que eu queria na minha vida, por outro trouxeram uma decepção que, em princípio, era pequena e possível de ser ignorada, mas que já não o é mais: a decepção de ver a que ponto a humanidade chegou. A decepção de ver que, na média, o ser humano busca apenas um beneficiozinho em relação à sua situação atual, e não uma melhora efetiva de sua condição. A decepção de ver que, na média, as pessoas reclamam, reclamam, reclamam de tudo, mas não fazem por merecer pra poder ter seus desejos satisfeitos; preferem continuar jogando na loteria ou, como ouvi inúmeras vezes, "esperar a chance pra ir pro Big Brother e ganhar um milhão fácil, fácil". Doce ilusão.

Atualmente, nada me entristece mais do que ver alunos pagando pra não estudar, pois levam a coisa nas coxas e não se dedicam. Nada me entristece mais do que ver que, na média, os alunos buscam compreender apenas aquilo que lhes é apresentado, não indo além e não buscando aprofundar seus conhecimentos -- seja lá em que área for. Nada me entristece mais do que perceber a falta de interesse que as pessoas, em geral, têm em relação a praticamente todos os aspectos de suas vidas.

É algo extremamente pessoal, eu sei; mas parece-me que as pessoas pensam assim: se eu tiver o meu mínimo necessário pra viver, está bom, mesmo sabendo que posso obter ainda mais. Parece-me a lógica da Bolsa-Família aplicada a todos: pra que me esforçar mais se já tenho o mínimo necessário e/ou já tenho minhas vontades satisfeitas? Vejo algumas pessoas que -- parece-me -- têm tanto potencial, mas simplesmente se deixam levar pela energia circundante que as deixa estagnadas, e tais pessoas acabam agindo como a "massa" age -- ficando estagnada.

Enfim, o desânimo com esta situação foi tão grande nos últimos dias, especificamente nas últimas duas semanas, que cheguei a pensar em largar o emprego e buscar outra coisa pra fazer na vida. Fiquei pensando da mesma forma que o ditado: pra que jogar pérolas aos porcos? Não, não estou chamando nenhum aluno meu de porco, que fique devidamente registrado; mas às vezes tenho a impressão de estar falando muito mais pras paredes dos prédios nos quais eu dou aula -- e tenho a certeza de que, se tais paredes falassem, elas já saberiam muito mais do que vários de meus alunos, tamanha a apatia que vejo no rosto de tais pessoas.

Mas, para além do desânimo, da chateação e da desesperança, ainda vejo uma luz no fim do túnel -- quase uma vela, um fiozinho de luz que está lá no final. Ainda vejo algumas pessoas que se importam em ir além do padrão, do pré-estabelecido, além do "socialmente definido", e atualmente são tais pessoas que ainda me estimulam a ir dar aula. Mas deixo claro que, quando esta luz se apagar, pego minhas coisas e "peço pra sair".


27 de março de 2008

E a propósito...

A postagem que eu falei que talvez surpreenderia algumas pessoas ainda vai sair. Até o fim de semana ela está aqui, se tudo sair como estou programando.


Incrível

Não há outra palavra que possa vir à minha mente quando penso em determinadas situações. Apenas esta realmente aparece: "incrível".

É incrível a capacidade humana para a hipocrisia. Pessoas que até semana passada estavam falando mal de mim (pelas costas, é claro, porque são excessivamente frouxas e não têm coragem de falar na cara) nesta semana passaram a me tratar a pão-de-ló, "como se dizia no meu tempo" (hehehehe). Será que as pessoas são assim tão voláteis a ponto de alterarem seus discursos e suas opiniões em tão curto período de tempo?

Incrível também a capacidade humana para chatear o outro. Aquelas pessoas que são mais próximas de mim sabem que uma das coisas que eu mais detesto é que me venham com aquele papinho-furado de "me falaram isso de você". Quando é alguém em relação a quem não tenho nenhuma intimidade, estou cagando e andando -- afinal a pessoa não me conhece, não tem intimidade comigo e, muito provavelmente, não vai ter a possibilidade de tirar suas "dúvidas" sobre minha pessoa. Mas quando tal atitude vem de alguém que já se encontra dentro do meu "círculo de confiança", aí sim eu fico irritado -- e não é pouco não. Se a pessoa já tem um certo contato comigo, por que não chega e me pergunta se o que "ouviu falar" é verdade ou não? Será isto tão difícil assim? Quando alguém com proximidade age desta maneira acontecem duas coisas, em seqüência: 1) Fico irritado com a pessoa; 2) Fico decepcionado com a pessoa.

E o pior ainda é quando esta é a segunda decepção em um período relativamente curto de tempo (um mês e meio)...

Enfim, todo mundo é grandinho e sabe o que fazer da vida. Só espero que sejam grandinhos não apenas para agirem do jeito que agem (para eles, é a melhor maneira), mas, também, que sejam grandinhos para arcarem com as conseqüências que tais atos geram.