26 de fevereiro de 2007

De novo sobre a justiça

Não sei o que me leva a escrever sobre o tema agora. Estou escrevendo de uma maneira muito reduzida, e tenho a intenção de escrever como Platão chegou a tal conclusão com mais detalhes. Mas isto ficará para algum momento no futuro.

Por justiça, Platão entendia ser a obrigação da sociedade em abrigar e encontrar uma função, a mais adequada possível, de acordo com as inclinações naturais de cada indivíduo, aperfeiçoadas pela educação. Neste sentido, os que têm coragem devem ser utilizados como os guardiões ou guerreiros da sociedade; os que são dominados predominantemente pelos seus apetites, devem ser os trabalhadores; os dotados de razão e de inteligência devem assumir o governo da sociedade como archontes (rei-filósofo).

A idéia de Justiça para Platão não estava comprometida necessariamente com o princípio da equanimidade, isto é, da igualdade de todos perante a lei: uma sociedade justa era apenas aquela proporcionava o lugar exato a cada um, de acordo com seus merecimentos. Além disso, para haver justiça cada homem deveria ser bom e sábio consigo mesmo, com os demais e com sua cidade. Se isto não estivesse presente, a sociedade cairia em ruínas.

Semelhanças com o mundo atual?


Reflexão

Às vezes paro pra pensar: isto tudo vale a pena? Pra que tudo isso? Pra que o jogo de ilusões -- que trazem bons e maus momentos alternadamente? Pra onde isso vai me (nos) levar?


25 de fevereiro de 2007

Sugestão de leitura

Talvez o sr. Eduardo Grillo devesse ler o blog do William Waack, seu companheiro dentro das Organizações Globo. A propósito, coloco abaixo um texto do Waack sobre a "geopolítica sem importância" (original disponível aqui).

Crise nuclear do Irã é verdadeiro desafio para os EUA hoje

É inevitável uma ação militar envolvendo, de um lado, Israel e os Estados Unidos e, de outro, o Irã? Ainda não se pode dizer que seja, mas o relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), de Viena, divulgado nesta quinta feira (22), dá a Tel Aviv e Washington a base para dizer que algo precisa ser feito, e rápido.

Os americanos sugerem sanções econômicas ainda mais duras, apesar de saberem perfeitamente que o Irã, com o barril do petróleo em torno dos US$ 60, tem gordura suficiente para queimar durante muito tempo de sanções. É bom lembrar que o Irã já vive sob vários tipos de sanções desde que guardas revolucionários invadiram a embaixada americana em Teerã, em novembro de 1979.

O relatório da AIEA é duro com os iranianos. Os inspetores da Agência (que tem excelente reputação, sobretudo pelo trabalho que fizeram no Iraque antes da invasão americana) recusaram-se a fornecer ao regime dos aiatolás um atestado de nada consta. Legalmente, isto é, dentro dos tratados e acordos internacionais que assinaram (o Tratado de Não Proliferação, por exemplo), os iranianos podem dizer que nada fazem de errado.

Mas eles desrespeitaram um ultimato, estabelecido dois dias antes do último Natal, para suspender as atividades de enriquecimento de urânio. Essas atividades já estão bem próximas da escala industrial, da qual os iranianos afirmam necessitar para abastecer com combustível nuclear os reatores que ainda nem acabaram de construir. Em compensação, os iranianos suspenderam todo tipo de experimento com reprocessamento (de onde sai o plutônio, e que costuma ser o meio mais rápido para se chegar à bomba).

A crise nuclear em torno do Irã é o verdadeiro desafio para os Estados Unidos - e Israel. O desastre no Iraque reduziu fortemente as opções dos americanos. O Irã é hoje a principal potência do Oriente Médio (depois de Israel) e ocupa uma posição geopolítica de inigualável importância, além das reservas de petróleo e gás. A influência direta do Irã se estende hoje de Herat, no Afeganistão, a Bagdá, no coração do Iraque - acentuando uma ironia que não escapou aos historiadores: é mais ou menos a mesma extensão territorial que alcançava, há uns 500 anos, o último grande império muçulmano a partir do que hoje é o Irã.

Se é pouco o que os americanos podem fazer do ponto de vista político, do ponto de vista militar é pouco também. Em 1981, quando atacou (no meio da guerra entre Irã e Iraque) um reator experimental que Saddam construíra no centro do país, a aviação israelense tinha um só alvo. No caso do Irã, são muitos, bastante espalhados, e não há garantia alguma de que um golpe militar possa interromper o que se supõe que seja o esforço iraniano de chegar a uma bomba.

Pior ainda: os iranianos têm como perturbar fortemente o fluxo de petróleo para os principais países ocidentais, e como desestabilizar ainda mais uma região que vai caminhando gradativamente para a beira de um conflito incontrolável, capaz de arrastar não só o Irã mas também países como a Turquia, a Síria e a Arábia Saudita, para mencionar apenas alguns.

Com enorme preocupação sobre tudo, analistas europeus apontam para as evidências da preparação de algum tipo de ação militar por parte dos americanos. O medo é generalizado: China e Rússia mostram-se também bastante nervosas com o comportamento dos iranianos, e mais ainda com a incapacidade de prever o que George W. Bush acabará decidindo. No momento, ele parece, mais uma vez, disposto a ignorar a maioria das opiniões, que são contrárias a uma ação militar contra o Irã.

Assessores do presidente americano estão comparando a situação de Bush ao isolamento que Winston Churchill vivia em 1938 - uma das poucas vozes, então, que dizia que tentar pacificar Hitler e Mussolini era a melhor maneira de se chegar à guerra (e os fatos mostraram que Churchill tinha toda razão). Aqui só cabe uma frase, que apesar de tão usada e abusada continua tão boa: todos sabemos que a história só se repete como farsa.


Leve irritação

Acho que todos que me conhecem sabem que eu adoro assistir ao "Jornal das 10", na Globonews. Aliás, entristece-me o fato de que, com o reinício das aulas, eu não poderei mais assistir a tal jornal com tanta freqüência. Mas não é sobre isto que quero falar agora.

O que me motivou a vir aqui hoje foi uma frase dita pelo Eduardo Grillo (apresentador que geralmente substitui o excelente André Trigueiro aos domingos). O jornal começou falando do Oscar 2007. Até aí problema nenhum, eu mesmo gostaria de poder assistir à premiação hoje à noite. O problema veio com o que ele falou depois. Foi algo mais ou menos assim: "Saindo do mundo de glamour e tranqüilidade do Oscar e indo ao mundo menos importante da geopolítica mundial...", e então apresentou uma reportagem sobre os recentes "conflitos" entre Irã e EUA.

A irritação é simples: como pode um apresentador de um excelente jornal dizer que a geopolítica mundial é pouco importante, ainda mais a geopolítica envolvendo os EUA, a Europa e o Oriente Médio? Onde este cara estava com a cabeça?

É uma pena que um apresentador faça este tipo de comentário! Acredito que ele foi extremamente infeliz ao fazê-lo. Talvez ele devesse ler o blog da minha amiga Kamila e o post que ela fez hoje sobre a soberania dos estados. Ele (o apresentador) deveria ter mais tato e perceber que a "geopolítica sem importância" pode, de uma maneira muito concreta, atingir a "vidinha" dele no Rio de Janeiro!


Estou triste

Hoje acabou-se o horário de verão. Há quem não goste e ache o horário de verão ruim.

Eu gosto.

Tanto gosto que acho que o país poderia economizar ainda mais se o horário de verão fosse mais comprido ainda do que os meros 4 meses. Hoje mesmo reparei: eram 19:30 h (ou seja, na verdade 18:30 h) e o sol ainda estava forte. O sol se pôs por volta de 20 h. Poderíamos ter o horário de verão por mais umas duas semanas, no mínimo, creio eu. Uma pena que acabou.


22 de fevereiro de 2007

Dobram os juros no Japão

O Banco Central do Japão, diante de sinais de crescimento da economia acima do esperado, resolveu dobrar sua taxa básica de juros.

Foi de 0,25% para 0,5%.


E eis que o ano começa...

Não apenas para mim, mas creio que para a grande maioria dos brasileiros.

Infelizmente, em nosso país, temos a tradição de deixar tudo "pra depois do carnaval". Todos temos, não estou me excluído. Amigos e colegas perguntavam quando vou comprar meu carro, e eu sempre dizendo "depois do carnaval eu penso nisso". O presidente Lula dizendo que não tem pressa pra fazer a reforma ministerial; "deixa pra depois do carnaval". Nós brasileiros temos a idéia de que as coisas só começam a funcionar depois do carnaval e, em um círculo vicioso (seria a força do pensamento? Eu acredito nisso), as coisas só funcionam mesmo depois do carnaval.

E não é que, pela primeira vez, o ano realmente começou pra mim só depois do carnaval? Hoje foi o primeiro dia de aula na Faculdade Projeção. Eu já havia dado aula antes, mas foram casos isolados -- em um fim de semana, em uma pós-graduação (não em um curso regular), e um dia nas Faculdades Espam (mas na sexta passada não dei aula porque pedi para ser dispensado, já que existia a possibilidade de eu viajar). Em resumo, só agora que a coisa começa mesmo.

Primeiro dia sempre é divertido. A gente entra na sala e tá todo mundo quietinho, sentadinho no seu canto, poucos olham pro lado... É interessante ver a cara de novidade dos alunos, cuja maioria acabou de sair do segundo grau (recuso-me a dizer "ensino médio"). Atentos, tão quietinhos, tímidos... Ah, se fossem assim pelo semestre inteiro, seria tão bom...

Do lado de cá, não tem jeito: em todo início de semestre, em todas as primeiras aulas, de todas as turmas, sinto um friozinho na barriga. Como serão os alunos? O que acharão? O que vão pensar? Serão bagunceiros? Ou serão devagar, quase parando? Será que me lembro de tudo que devo falar em sala de aula? Será que já vai dar pra começar com algum conteúdo?

Primeiro dia de aula sempre é divertido, tanto no sentido de mim comigo mesmo quanto no sentido de relacionamento com a turma. Ao final da manhã, professor e turma mais soltos, primeiros sorrisos, primeiras brincadeiras e -- para minha alegria -- primeiros comentários não inúteis. Alunos já debatendo o papel da ciência no acúmulo de conhecimento no mundo contemporâneo. Não gosto de criar expectativas e/ou de fazer pré-julgamentos, mas parece que esta turma vai ser muito boa.

Pela primeira vez, meu primeiro dia foi como professor de outra disciplina que não aquela na qual me formei: dei aula de Metodologia Científica. Disciplina que, a propósito, gosto muito -- ela é a consequência da evolução empírica da Filosofia, da qual gosto mais ainda. Daqui a pouco será a primeira turma de Introdução à Ciência Política. Sinto-me à vontade nas duas disciplinas, mas até mesmo pelo conteúdo, sinto-me mais satisfeito na Ciência Política -- pois, como é fácil incluir temas polêmicos, acabo conseguindo provocar mais os brios de meus alunos desta disciplina do que aqueles de Metodologia.

Mas o mais divertido do dia foi perceber como as pessoas mudam seu comportamento quando são alunos. Uma das pessoas que está na cúpula diretora do Projeção -- portanto, hierarquicamente acima de mim -- é minha aluna no NDA, onde dou aula de pós-graduação. Foi divertido -- no bom sentido, não no sentido de deboche -- ver esta pessoa dando um sermão pra alguns professores e, ao me ver -- chegando atrasado --, vir pedir desculpas por ainda não ter me entregue o trabalho que pedi...

À noite terei mais "emoções" a serem compartilhadas!


17 de fevereiro de 2007

Para pensar

"- Queria que nada disso tivesse acontecido!"

"- É o que dizem todos os que vivem para ver épocas como esta, mas não cabe a eles decidirem. Tudo o que você tem de decidir é o que fazer com o tempo que lhe é concedido."


O que é a justiça?

Não há uma resposta exata para tal pergunta. No entanto, com o objetivo de trazer certa luz a tal pergunta, irei colocar alguns excertos de alguns autores sobre o tema. O primeiro deles é um dos meus preferidos: Platão. Em seu livro "A República", Platão trata do tema de maneira a buscar a justiça para a cidade ideal. Abaixo, algumas poucas frases sobre o assunto. (Os números entre parênteses se referem ao número da página da qual a citação foi retirada. Referências: PLATÃO. A República. São Paulo: Ed. Martin Claret, 2003)

O que é justiça?

  • Consiste na verdade e em restituir aquilo que se tomou de alguém ou que essas mesmas coisas, umas vezes é justo, outras injusto fazê-las? (Pág. 15).
  • O pensamento de Simônides era, aparentemente, que a justiça consistia em restituir a cada um o que lhe convém, e a isso chamou ele restituir o que é devido (...). A justiça consiste em fazer bem aos amigos e mal aos inimigos? (Pág. 17).
  • A justiça é inútil quando nos servimos dela, e útil quando não nos servimos. (...) Então a justiça não poderia ser uma coisa lá muito importante, se se dá o caso de ser útil para as coisas que não são utilizadas. (Pág. 19).
  • A justiça é uma espécie de arte de furtar, mas para vantagem de amigos e dano de inimigos. (Pág. 19).
  • É justo fazer bem a um amigo bom e mal a um inimigo mau? (Pág. 21).
  • O homem justo é bom? – Absolutamente. – Então, Polemarco, fazer mal não é a ação do homem justo, quer seja a um amigo, quer a qualquer outra pessoa, mas, pelo contrário, é a ação de um homem injusto. (...) Em caso algum nos pareceu que fosse justo fazer mal a alguém. (Pág. 21-22).
  • Trasímaco: Cada governo estabelece as leis de acordo com a sua conveniência: a democracia, leis democráticas; a monarquia, monárquicas; e os outros, da mesma maneira. Uma vez promulgadas essas leis, fazem saber que é justo para os governos aquilo que lhes convém, e castigam os transgressores, a título de que violaram a lei e cometeram uma injustiça. Aqui tens, meu excelente amigo, aquilo que eu quero dizer, ao afirmar que há um só modelo de justiça em todos os estados, o que convém aos poderes constituídos? Ora, estes é que detêm a força. De onde resulta, para quem pensar corretamente, que a justiça é a mesma em toda a parte: a conveniência do mais forte. (Pág. 25).
  • Nenhum chefe, em qualquer lugar de comando, na medida em que é chefe, examina ou prescreve o que é vantajoso a ele mesmo, mas o que o é para o seu subordinado, para o qual exerce sua profissão, e é tendo esse homem em atenção, e o que lhe é vantajoso e conveniente, que diz o que diz e faz tudo quanto faz. (Pág. 30).
  • O justo revela-se-nos como bom e sábio, e o injusto, como ignorante e mau. A justiça é virtude e sabedoria, e a injustiça maldade e ignorância. (Pág. 38).
  • A injustiça parece ter uma força tal, em qualquer entidade em que se origine, quer seja um estado qualquer, nação, exército ou qualquer outra coisa, que, em primeiro lugar, a incapacita de atuar de acordo consigo mesma, devido às dissensões e discordâncias; e, além disso, tornam-na inimiga de si mesma e de todos os que lhe são contrários e que são justos. (Pág. 40).
  • Diremos também que existe uma virtude da alma? – Sim. – Então, Trasímaco, a alma algum dia desempenhará bem as suas funções, se for privada da sua virtude própria, ou é impossível? – É impossível. – Logo, é forçoso que quem tem uma alma má governe e dirija mal, e quem tem uma boa, faça tudo isso bem. – É forçoso. – Não concordamos que a justiça é uma virtude da alma, e a injustiça, um defeito? – Concordamos, efetivamente. – Então, a alma justa e o homem justo viverão bem, e o injusto, mal. – Assim parece, segundo o teu raciocínio. – Mas sem dúvida o que vive bem é feliz e venturoso, e o que não vive bem, inversamente. – Como não? – Logo, o homem justo é feliz, e o injusto é desgraçado. – Seja – respondeu. – Contudo, não há vantagem em se ser desgraçado, mas sim em se ser feliz. – Como não? – Então jamais a injustiça será mais vantajosa do que a justiça, ó bem-aventurado Trasímaco! (Pág. 42-43).

16 de fevereiro de 2007

A importância de Meirelles no BC

Há um tempo atrás, defendi a manutenção do atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Escrevi também sobre a necessidade da área monetarista do governo "vencer" a área desenvolvimentista, pois esta última trabalha inevitavelmente com o aumento da inflação.

Por que defendi e defendo tal posição, explicitada no post abaixo? Vejam o caso da Venezuela: é o país que mais vem crescendo na América Latina (8,8% ao ano). Cresce como? Por meio de uma agenda desenvolvimentista, na qual o Estado investe pesado -- gasta muito -- para dar a tão sonhada infra-estrutura ao país.

Qual o resultado? Inflação de 17% no ano de 2006, considerada muito alta para países com economias estáveis. A inflação mais alta da América Latina. Prejudicial a ponto do governo Hugo Chavez ter tomado a decisão de cortar três zeros do bolívar, a moeda venezuelana.

Pergunto: de que adianta crescer 8,8% com inflação de 17%? Houve crescimento real?

Eu não quero tal situação no Brasil. Por isso defendo ao máximo a permanência de Meirelles no BC e de Paulo Bernardo à frente do Ministério do Desenvolvimento, para poderem fazer frente à toda-poderosa Dilma Rousseff e ao poderoso Guido Mantega.


Uma ótima notícia

Para aqueles que, como eu, preferem crescer pouco, de maneira sustentada e sustentável, e com inflação baixa, abaixo vai uma ótima notícia. (original aqui)

Presidente manterá Meirelles no Banco Central

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai confirmar Henrique Meirelles na presidência do Banco Central (BC) e reafirmar a autonomia operacional da instituição na condução da política monetária.

Lula, segundo um auxiliar direto, ainda não conversou com Meirelles, mas já tomou a decisão de mantê-lo no cargo. Ainda não fez o anúncio porque considera uma descortesia com os outros ministros confirmar apenas o nome do presidente do BC neste momento.

O presidente, segundo um assessor, aprecia o " equilíbrio " existente hoje dentro da equipe econômica. O equilíbrio seria assegurado, de um lado, por um Ministério da Fazenda mais " aberto " e menos ortodoxo, e do outro por um Banco Central e um Ministério do Planejamento " cautelosos " nas áreas fiscal e monetária.

"O presidente não teme as divergências entre ministros e assessores. Considera-as saudáveis porque elas o ajudam a tomar decisões " , conta um assessor, referindo-se às diferenças de opinião existentes entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a diretoria do BC. " Mesmo o Guido está mais próximo do Meirelles nos últimos tempos" , revela um auxiliar de Lula.

Quando o presidente anunciar o novo ministério, Meirelles conversará com os integrantes da diretoria do BC. Há cerca de seis meses, para evitar especulações no mercado, ele pediu aos diretores que não tomassem qualquer decisão, sobre ficar ou deixar o governo, até Lula definir a equipe do segundo mandato. Há a possibilidade de mudanças.

Os rumores mais fortes dizem respeito ao diretor de Pesquisa Econômica, Afonso Bevilaqua. Há quase quatro anos no cargo, ele teria interesse em deixar o cargo por considerar que concluiu sua " missão " - trazer a inflação de 12,5% em 2002 para 3,1% em 2006, um índice inferior à meta fixada pelo governo. Além disso, já teria chegado o momento de iniciar sua vida no setor privado, um caminho natural para ex-diretores do Banco Central.

Bevilaqua é muito criticado pelo PT e pela área política do governo, que o responsabilizam pelo excesso de ortodoxia na condução da política de juros, embora o Comitê de Política Monetária (Copom) tenha outros sete integrantes. O diretor gosta do que faz. Ele tanto pode ficar quanto sair. " Se o Afonso quiser ficar, excelente! Não há óbice a que ele continue cargo " , disse ao Valor um ministro próximo de Lula.

Desde que assumiu o comando do BC, há quatro anos, Meirelles nomeou onze diretores. Os dois últimos - Paulo Vieira da Cunha (Assuntos Internacionais) e Mário Mesquita (Estudos Especiais) - foram escolhidos junto com o presidente Lula, portanto, com o seu aval direto. As nove nomeações anteriores, inclusive a de Bevilaqua, foram acertadas com o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e avalizadas num segundo momento pelo presidente.

Trata-se de uma sutileza importante. Até 2004, o Banco Central era uma autarquia que respondia ao Ministério da Fazenda. Por isso, as nomeações de diretores eram definidas pelo presidente do BC, em conjunto com o titular da Fazenda. Depois que passou a ter status de ministro, uma mudança ocorrida em 2005, o presidente da instituição passou a responder diretamente ao presidente da República. Por essa razão, a definição da diretoria passou a ser acompanhada e definida diretamente pelo presidente Lula.

Esse modelo institucional agrada ao presidente porque, embora deseje acelerar o ritmo de expansão da economia, Lula, segundo assessores, não quer " marola " na área financeira. Seu objetivo é liberar o ministro Guido Mantega para pensar em medidas que destravem o crescimento, enquanto ele mantém a retaguarda fiscal e monetária com Meirelles no BC e Paulo Bernardo no Planejamento.

(Cristiano Romero)


O Oriente Médio é igual ao Rio de Janeiro -- não tem solução

Eu nunca fui muito fã de Israel e/ou dos israelenses. Sempre estive do lado dos árabes, no eterno conflito árabe-israelense. Sempre achei que os palestinos tinham o direito de mandar uns foguetes contra Israel, devido a tudo que este país já fez contra o povo sem Estado. Já tive até mesmo, em alguns momentos, uma pequena simpatia pelo nazismo, que buscava exterminar os judeus... Mas isto é outra história. Enfim, sempre fui contra os israelenses, e desde que me entendo por gente tenho tal posição contrária a Israel e favorável aos árabes/palestinos.

Mas esta minha visão está mudando um pouco nos últimos tempos.

Não que eu vá "mudar de lado", isto de forma alguma. É impossível para mim ignorar o que os judeus já fizeram com os árabes naquele pequeno espaço (da mesma forma como é impossível para mim esquecer os erros da Igreja Católica durante quase toda sua existência -- mas isto também é outra história).

Mas venhamos e convenhamos: como é possível defender um povo cujo líder, por causa de uma reforma em uma rampa de acesso a uma mesquita, resolve convocar uma nova intifada contra Israel?

Vi esta notícia hoje no Jornal das 10 (na Globonews), e isto me chamou a atenção, e muito. Fiquei pensando: onde isso vai parar? Como é que um líder pode dizer aos seus liderados "vamos atacá-los com violência porque estão reformando uma rampa, e tal reforma é para nossa própria segurança"? A pergunta correta, talvez, seja a seguinte: como é possível que alguém com tal mentalidade se torne líder?

Se os palestinos fossem espertos, conseguiriam angariar a opinião pública mundial para sua causa e conseguiriam atingir seus objetivos. No entanto, ficam brigando entre si ao invés de se unirem e lutarem contra o "inimigo" comum -- o Estado de Israel. O exemplo mais claro desta falta de inteligência das lideranças palestinas foi a recente demora e quase impossibilidade se estabelecer um governo de coalizão entre o Fatah e o Hamas -- as duas principais lideranças político-religiosas daquele povo, que não se entendiam porque o primeiro-ministro é de uma facção e o presidente é de outra. Se os caras não conseguem se unir, como poderão atingir algum objetivo?

E agora, voltando à questão da intifada: Israel não é flor que se cheire, e poderia realizar a reforma com participação de engenheiros árabes/palestinos, por exemplo. Mas enfim, resolveu fazer a coisa por conta própria e não tem como voltar atrás. Mas será que é tão difícil para a liderança palestina entender a reforma como uma possibilidade de aproximação, ou como uma possibilidade até mesmo de obter uma brecha junto ao governo israelense? Não, eles têm de solicitar uma nova intifada. Depois, quando morrem, dizem que Israel é exagerado em suas reações militares.

A situação naquele pedaço de mundo segue tensa desde que Israel foi criado, em 1948. Todo mundo sabe os interesses diversos que todas as grandes potências têm na região, o que complica ainda mais a coisa. É por isso que eu coloquei como título o fato de que o problema ali não tem solução -- é igual ao Rio de Janeiro: enquanto houver interesses ganhando com o conflito, com a guerra, com a morte de pessoas inocentes (?), nada vai mudar. É igual ao Rio: só um poder ditatorial, que use a força em um primeiro momento, poderia solucionar o problema -- mas quem quer solucioná-lo?


15 de fevereiro de 2007

Onde está a verdade?

(Original disponível aqui)

“Certos discípulos vivem me perguntando onde está a verdade”, disse Maal-El. “Então, certo dia, resolvi apontar para uma direção qualquer, tentando mostrar que o importante é percorrer um caminho e não ficar pensando sobre ele.

“Ao invés de olhar para a direção que eu apontava, os discípulos começaram a examinar meu dedo, tentando descobrir onde a verdade estava escondida.

“Quando as pessoas procuram um mestre, deviam estar em busca de experiências que possam ajudá-las a evitar certos obstáculos. Mas, infelizmente, a realidade é outra: estão usando a lei do menor esforço, tentando encontrar respostas para tudo.

“Quem deseja beneficiar-se do esforço do mestre para poupar suas forças, nunca chegará a lugar nenhum e acabará por decepcionar-se.”


11 de fevereiro de 2007

Para pensar

"O aumento dos salários não consegue ser uma maneira de reduzir a pobreza pela simples razão de que o aumento de salários só ocorre para quem já tem emprego. E quem já tem um emprego regular, formal, já saiu do grau mais intenso de pobreza – porque dispõe de salário, vale-alimentação, vale-transporte, seguro-saúde – ou não sairá dela com o salário, porque lhe faltará bens e serviços essenciais, que não são comprados."

BUARQUE, Cristovam. A segunda abolição: um manifesto-proposta para a erradicação da pobreza no Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 1999. Pág. 41.


Mais uma do Sardenberg

A relativa falta de tempo neste fim de semana, mais especificamente hoje, domingo, aliada à falta de luz por pelo menos 4 horas seguidas, me fez ter a idéia de "simplesmente" copiar e colar o que Carlos Alberto Sardenberg escreveu em seu blog ontem, dia 10 (original aqui). No entanto, o fato de ser uma cópia não significa que não tenho nada a dizer, pois concordo plenamente com o que ele diz em seu texto. Mais uma dentro do comentarista da Globonews.

Amanhã, se tudo der certo, escrevo mais -- original, meu mesmo :)

O Brasil, segundo o Banco Central
Carlos Alberto Sardenberg

Estou em Lisboa, onde participei de um seminário sobre o Brasil promovido pela Fundação Luso-Brasileira, nas últimas quinta e sexta. Três temas: biocombustível, economia e política. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, fez a palestra de encerramento.

Para ele, do ponto de vista do BC, as coisas vão bastante bem: a inflação corre abaixo do centro da meta e isso não está errado, nem indica que o BC exagerou na dose de juros. Em países estáveis, é normal a inflação ficar abaixo da meta, o que ajuda a ancorar expectativas.

A taxa de juros, disse Meirelles, é a mais baixa em décadas. Já houve momentos de taxa real de juros mais baixa, mas por um motivo ruim, a inflação muito elevada. Hoje temos inflação na casa dos 3% ao ano, com taxa real de juros de 7,9%. E o presidente do BC e alardeia: é inédito isso.

Um exercício que agrada ao presidente do BC é apanhar projeções sobre os juros feitas há um , dois anos, por pessoas de fora do banco. Os 13% da atual taxa básica de juros, diz Meirelles, estão abaixo das previsões mais otimistas.

Mais ainda, comenta: políticos, inclusive do PT, e empresários, não faz muito tempo, “exigiam juros de pelo menos 15%...”

E as projeções indicam que os juros continuarão em queda.

Sobre o dólar, o presidente do BC mostrou a variação das cotações desde a introdução do câmbio flutuante, para concluir: a taxa atual está na média, nem alta, nem baixa.

Resumo da ópera, com base no discurso oficial e em conversa com o presidente do BC: ele está absolutamente seguro de que a condução da política monetária recente não é apenas correta, é um “case de sucesso”, estudado por outros BCs pelo mundo afora. Está seguro de que sua função é essa, entregar um ambiente de estabilidade duradoura.

O BC esclarece que não é um banco de fomento. Mas ao fornecer o ambiente de estabilidade e previsibilidade, facilita a vida dos investidores. Meirelles conta que tem recebido investidores estrangeiros que lhe dizem exatamente isso, que passaram a se interessar pelo Brasil uma vez estando convencidos de que a estabilidade é consistente.

Doce vingança

Estavam presentes no seminário os empresários Paulo Skaff e Benjamin Steinbruch, da Fiesp. Skaff fez palestra, dando a visão da indústria: os juros estão errados para cima, o dólar está errado para baixo, o crescimento é baixo e os industriais querem mais ousadia do governo e do BC.

Uma delegação, integrada, entre outros, pelos empresários e por Meirelles, visitou o presidente de Portugal, Cavaco Silva.

Lá pelas tantas, Skaff fez seu discurso pró-crescimento e Cavaco Silva, surpreendendo o empresário, saiu em defesa da política do BC. Disse que acompanha a atuação do BC brasileiro, que a derrubada da inflação foi notável, que o ambiente de estabilidade é um caso de sucesso e que é melhor crescer agora 4% com segurança do que se atirar em aventuras.

Meirelles não escondeu o sorriso de satisfação.


10 de fevereiro de 2007

Relações entre moral, direito e justiça

Em post anterior (mais antigo), citei Kant. Hoje estava lendo coisas que uma amiga minha escreveu, sobre a relação entre moral, direito e justiça, e lembrei-me deste autor fantástico. Devido ao avançado da hora, deixarei aqui apenas três parágrafos para reflexão. São idéias de Kant, autor que sugiro fortemente que todos -- especialmente alunos de Direito -- leiam.

"A norma moral tem a forma de um imperativo categórico. O comando nela contido assinala a relação entre um dever ser que a razão define objetivamente. O comando moral é categórico porque as ações a ele conformes são objetivamente necessárias, independentemente da sua finalidade material ou substantiva particular.

"A necessidade objetiva do comando categórico faz referência a que o dever moral vale para todos os homens enquanto seres racionais; o móbil, ou princípio subjetivo da ação, que pode variar segundo a situação ou o indivíduo, não determina o valor moral da ação. O critério para a definição da boa conduta moral é formal: a moralidade da ação consiste precisamente na sua universalidade segundo a razão.

"Os princípios morais estão subordinados a um princípio supremo dentro do qual está contida toda a moral kantiana. Este princípio supremo, ao qual Kant chamou de imperativo categórico, foi enunciado da seguinte forma: 'Trabalhe de tal maneira que a máxima de sua ação possa valer como princípio de uma legislação universal'."


9 de fevereiro de 2007

O que o PT ganharia com juros mais baixos e dólar desvalorizado?

Berzoini é da turma do "vamos abaixar os juros". Quer que o governo gaste mais (chama isto de "investimento"), reduza os juros (na marra) e controle o fluxo de dinheiro para que o dólar não caia tanto (idéia totalmente sem sentido -- pensem em um investidor: "O Brasil está controlando o que entra e o que sai de dinheiro> Não vou investir lá, pois o meu dinheiro poderá ficar retido"). Não é à toa que o PT fez o que fez para conquistar a presidência da Câmara. Só espero que o Lula realmente se mantenha firme e forte em suas palavras (ver post anterior) e não tire o Henrique Meirelles do comando do Banco Central. Se isto acontecer... Melhor nem pensar muito.

(O original da reportagem está aqui)

BERZOINI: EM DOCUMENTO, PT CRITICARÁ JUROS
Diretório Nacional do PT deve aprovar documento neste sábado (10).
PT não tomará posição sobre anistia a José Dirceu.
09/02/2007 - 16h53m - Atualizado em 09/02/2007 - 18h41m
Leandro Colon
Enviado especial do G1 a Salvador

O Diretório Nacional do PT deve aprovar neste sábado (10) um documento que, entre outras coisas, critica a política de juros do Banco Central. A informação foi confirmada pelo presidente do partido, Ricardo Berzoini, em entrevista ao G1, nesta sexta-feira (9), em Salvador, onde o PT comemora seus 27 anos de fundação.

O documento, segundo Berzoini, falará ainda da participação do PT no governo e da eleição de Arlindo Chinaglia (PT-SP) à presidência da Câmara dos Deputados. O presidente petista avisa que o partido não tomará posição sobre a campanha de anistia do Congresso ao deputado cassado José Dirceu.

Abaixo, os principais trechos da entrevista:

G1 - Quais os principais pontos do documento que o diretório nacional aprovará neste sábado?
Ricardo Berzoini - Estamos tentando construir um texto que faça uma boa avaliação sobre o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que busca fazer uma reflexão sobre a política brasileira, a retomada dos trabalhos do Congresso, a eleição do Chinaglia na Câmara e do Renan Calheiros (PMDB-AL) na presidência do Senado, a constituição das novas lideranças no Congresso dos partidos de coalizão, as novas comissões de trabalho no Congresso e também debater um pouco as questões econômicas, os desafios pela frente.

G1 - O documento criticará a política de juros?
Berzoini - O documento faz considerações que nós entendemos que são críticas em relação a essa última decisão do Copom [que reduziu a taxa de juros em 0,25 ponto percentual]. Não queremos transformar isso num centro do nosso documento. Mas achamos que a posição do partido é muito clara sobre isso. Nós entendemos que há um espaço na economia brasileira para reduzir os juros de maneira mais consistente. Agora, entendemos que, por outro lado, precisamos sempre ressalvar que a política econômica foi vitoriosa nos últimos quatros anos a ponto que hoje debatemos a agenda do crescimento e não a inflação.

G1 - E sobre espaço do PT no governo. O que o documento dirá?
Berzoini - Que o PT deve participar colaborando, cooperando, com quadros no governo, fortalecendo as políticas sociais e econômica, fortalecendo as áreas de infra-estrutura. Mas sempre lembrando que o PT é um dos partidos da coalizão. Não podemos esquecer que outros partidos têm o direito de pleitear áreas importantes do governo. Vamos falar que o PT quer ter uma participação qualitativa no governo, e que a decisão é do presidente Lula.

G1 - O PT vai discutir a anistia do Congresso a José Dirceu?
Berzoini - Não há movimento para evitar ou discutir. Temos a consciência muito grande de que esse é um assunto que deve ser tratado socialmente, não partidariamente. Algo que, se tiver base social, terá sucesso. Não haverá uma deliberação do partido sobre isso, até para que cada um possa se manifestar.

G1 - O encontro em Salvador ocorre depois dos escândalos do mensalão e do dossiê e ainda após a divulgação de documentos de grupos dentro do partido criticando a direção da legenda. Isso criou uma tensão interna?
Berzoini - A tensão é positiva. É uma maravilha que um partido como o PT seja tão aberto a ponto de se tornar o assunto principal dos jornais. Isso depois de eleger o presidente da Câmara. Democracia é isso. Nós percebemos que um partido como o nosso tem que debater todos os assuntos com franqueza. Há um sentimento de respeito dentro do partido. Vamos trabalhar. O Congresso [do PT] vai ser em julho. Faremos debate em todos os estados. A partir daí, teremos uma resolução do Congresso que dará as diretrizes aos militantes do partido.


Retorno à sala de aula

Hoje, dia 09/02/2007, efetivamente acabaram-se minhas férias. Dei minha primeira aula neste semestre (à exceção das aulas dadas na pós-graduação no fim de semana passado, que foram "por fora") . Dei aula nas Faculdades Espam, em Sobradinho, na qual há uma turma de Direito e, assim como na Faculdade Projeção, ministro a disciplina "Introdução à Ciência Política".

A Espam tem caracteristicas diferentes do Projeção. Em primeiro lugar, lá só tem uma turma de Direito por semestre. Explico: o curso de Direito foi aberto lá no segundo semestre do ano passado, o que justifica o fato de que hoje a Faculdade conta com mais ou menos apenas 100 alunos de Direito. O pessoal que entrou no ano passado compõe os "cobaias" e, para nossa alegria e satisfação, deu tudo certo. E, sendo um pouquinho metido, fui considerado o melhor professor de todos (na avaliação dos alunos, fiquei em primeiro lugar).

Outra diferença é que a própria instituição é pequena. O Projeção já tem 30 anos de estrada, tem colégio, tem pós-graduação, enquanto a Espam tem apenas supletivo e os cursos superiores. Olhando-se para o prédio da Espam, não damos nada, mas lá dentro a gente percebe que a faculdade não é mais uma dessas de fundo de quintal.

A turma de Direito deste semestre, segundo a tendência do semestre passado, é composta, em sua grande maioria, por pessoas adultas. Com isto, quero dizer que, visualmente falando, a média de idade da turma é de uns 27 a 30 anos (no mínimo). Ou seja, na turma não há molecada, como acontece no Projeção. Tal característica tem seu lado positivo: a aula rende muito mais.

Hoje, primeiro dia de aula, como sempre faço, dou aquele susto logo de cara. Falo da questão de plágio (inaceitável pra mim), falo da avaliação, falo que o pessoal tem de ler mesmo os meus "pequenos" textos (pra não escrever pérolas como "aparti" ou "pesso"), falo da questão da frequência... Enfim, dou uma visão geral sobre a disciplina. E, uma vez estando tudo claro, partimos para o conteúdo.

Eu deveria ter falado hoje sobre os conceitos de Política e de Ciência Política, fundamentais para o resto do curso. Mas não deu. Fiquei apenas no primeiro conceito, e por um motivo simples, mas adorável: o povo participou demais e não deu tempo de terminar o conteúdo. Por serem pessoas mais maduras e, principalmente, vividas, têm experiências próprias pra contar, sabem dialogar e trazer exemplos da vida prática pra sala de aula, o que enriquece o conteúdo e facilita o aprendizado. Por isso, a aula terminou no horário (11:35 h da manhã), mas não consegui falar sobre o segundo conceito porque o primeiro conceito dominou toda a aula (que começou às 8:50 h, mas tirando-se o tempo das explicações preliminares, começou mesmo às 10:10 h).

O que mais me importa, entretanto, não é tanto a participação dos alunos. Isso é ótimo e me agrada muitíssimo. Mas o melhor pra mim é ensiar. Estar em sala de aula e perceber que "o povo" tá aprendendo algo novo, tá ampliando seus horizontes, é algo que me satisfaz bastante. Perceber que, de repente, tem gente discutindo para além do que se fala no senso comum questões políticas -- que, por mais chatas que possam parecer/ser, são fundamentais em qualquer sociedade que se digne ser chamada como tal -- é um alento e tanto pra mim. Dou aula porque gosto, e sinto-me realizado quando o faço.

É uma pena que a grande maioria dos alunos não aproveita tal oportunidade. Não falo isso pra sacanear ninguém; é a realidade. Como disse em outro post, muitos alunos estão nas faculdades apenas pra ganhar o diploma, achando que isto já irá garantir a ele um lugar no Olimpo dos trabalhadores formais... Quanta ilusão! Há até uns 10 anos atrás, quem tinha curso superior era visto no mercado de trabalho como alguém de destaque, alguém para quem nunca faltaria emprego por ter curso superior. Hoje, "qualquer um" tem curso superior... Claro, estou generalizando, mas quero dizer que ter curso superior hoje em dia já não é garantia de um bom emprego. Ter curso superior hoje é como ter curso de inglês -- nem se pergunta mais se o indivíduo tem ou não, pois já se espera que ele tenha. E tem gente que perde tempo e diz que só faz faculdade "pra ter diploma ou pra passar em um concurso..."

Independentemente disso, eu continuo otimista em relação à minha função. Continuo acreditando que ensinar é algo muito bom, pois me satisfaz em todos os sentidos. Aqueles que não aproveitam a chance dada por Deus terão de prestar contas no futuro, de alguma maneira, e se eles não aproveitam, é problema deles -- por mais decepcionante que possa ser, como disse no outro post sobre filosofia. Mas é problema dele. O que me importa, e aí sou mesmo bem egoísta, é que eu estou fazendo minha parte -- passando o conhecimento adiante, tentando, de uma forma ou de outra, contribuir para que este mundo seja um pouco melhor do que ele é atualmente.


Juízo do presidente

Parece-me que o presidente tem juízo no que diz respeito à política econômica. Também, o Lula não é burro. Ele sabe muito bem que, se o trem sair dos trilhos, ele será o culpado e perderá o lugar na História do Brasil que tanto busca. É nele que estão minhas últimas esperanças no sentido de se manter a atual política econômica. Espero que as palavras dele, reproduzidas abaixo (original aqui) não sejam apenas jogadas ao vento para agradar a alguns.

LULA DEFENDE MEIRELLES E PEDE 'JUÍZO' A PT
Para presidente, críticos da política econômica são 'pessimistas'. "PT saiu de uma crise profunda e acho que está maduro", afirmou.
09/02/2007 - 19h16m - Atualizado em 09/02/2007 - 19h52m
Agência Estado

Um dia antes da reunião do Diretório Nacional do PT que deverá aprovar uma resolução política de crítica ao Banco Central, devido ao ritmo de redução da taxa de juros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta sexta, sem mencionar o nome, o presidente da instituição, Henrique Meirelles.

Lula lembrou a crise que a legenda viveu em 2005 e 2006 e pediu que os petistas tenham "juízo". Ele repudiou os "pessimistas" que criticam a política econômica, marcada por juros altos e câmbio valorizado.

Lula afirmou que pretende viajar pelo Brasil para difundir o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e difundir o otimismo.

"Acho que é um bom momento para o PT", afirmou o presidente, em entrevista após solenidade que marcou o início da produção comercial de gás natural do Projeto Manati, na Bahia.

"O PT saiu de uma crise profunda, o PT saiu fortalecido do processo eleitoral, elegeu cinco governadores, 83 deputados. Portanto, o povo deu uma chance enorme ao PT, dizendo: "Olhem, tomem juízo e sejam o partido grande que nós queremos que vocês sejam. E acho que o PT está maduro para isso."

Juros
Em crítica velada aos petistas que, em documentos internos, atacaram a política econômica do governo, Lula afirmou que a taxa básica de juros cai há nove meses seguidos e declarou que o câmbio será ajustado. E chegou a dizer, no discurso que as pessoas querem mágica, que só duram "enquanto o palhaço está no circo".

"Porque de vez em quando as pessoas acham que é possível resolver os problemas da economia do País com mágica. A economia do país hoje é sólida. Temos quase US$ 100 bilhões de reservas, exportações de mais de US$ 140 bilhões, saldo de balança comercial de mais de US$ 40 bilhões, superávit em conta corrente, inflação controlada."

Ele minimizou também a possibilidade de o partido influir na política econômica a ponto de mudá-la radicalmente. "E acho que as pessoas estão maduras para entender que a disputa interna não tem reflexo na política de governo, nem da Bahia, nem tampouco da presidência da Republica", declarou.


A semana do dólar

Dia 05/02 - US$ 1 = R$ 2,10
Dia 06/02 - US$ 1 = R$ 2,08
Dia 07/02 - US$ 1 = R$ 2,09
Dia 08/02 - US$ 1 = R$ 2,09
Dia 09/02 - US$ 1 = R$ 2,10

Esta foi a "semana do dólar". Em todos os jornais, todos os dias, a mesma ladainha: setores do governo e do PT reclamando que o dólar está muito baixo e que os juros estão muito altos. Tal situação, teoricamente, traz prejuízos para o Brasil: argumentam tais setores que, com juros altos, vêm ao Brasil apenas especuladores, que não têm compromisso com o futuro da economia brasileira (querem lucros altos em pouco tempo) e, com dólar baixo, os exportadores perdem, pois ao venderem no exterior, receberão menos em reais. Argumentam ainda que tal política econômica faz o Brasil perder mercados para a China, pois o produto brasileiro tornar-se-ia mais caro no exterior. A solução, segundo tais pessoas, é baixar drasticamente as taxas de juros, de uma só vez (ou, pelo menos, com cortes maiores por parte do Copom) e a rápida desvalorização do real frente ao dólar. Além disso, tais grupos defendem uma redução do superávit primário, de 4,25% do PIB para 3,75% do PIB, fazendo com que o governo gaste mais na forma de investimentos. Só assim, segundo "eles", tem o Brasil condições de voltar a crescer.

Ora, esta é uma grande falácia. Já comentei aqui o fato de que o Brasil tem realmente condições de crescer mais do que a taxa atual, mas que essa idéia de "crescer a 5% ou mais ao ano a qualquer custo" é totalmente inviável, até mesmo devido à estrutura industrial brasileira -- que já é relativamente consolidada se comparada com a estrutura da Rússia, da China e da Índia (países com os quais o Brasil é frequentemente comparado). E não vai ser desvalorizando o real ou diminuindo a taxa de juros, e nem mesmo com o governo investindo mais, que o país crescerá mais.

Se o governo diminui as taxas de juros e/ou desvaloriza o real, aposto que a inflação ressurge. É muito simples, especialmente em relação à taxa de juros. Se os juros estão baixos, todo mundo quer comprar. Se há uma forte demanda, o que o vendedor vai fazer? O brasileiro tem a idéia de que é melhor ganhar muito em apenas um produto, vendendo pouco do mesmo, do que ganhar um pouco em cada produto vendido, mas vendendo muito (o que, a longo prazo, é mais vantajoso). Então, é óbvio que, se o brasileiro passa a ter menores taxas de juros, vai querer comprar mais -- e o vendedor, é óbvio, vai aumentar o preço. Voilà! Bem-vinda novamente, inflação!

Eu não sou tão velho assim, mas eu vivi no tempo da inflação descontrolada. Eu vivi no tempo em que as coisas aumentavam 2% -- ao dia! Eu vivi no tempo em que tínhamos inflação, em um dia, equivalente ao que temos hoje em 8 meses. Eu me lembro bem de que, quando criança, queria comprar um fusquinha preto de metal. Um carrinho. Havia uma banca de jornal em frente à minha escola, e lá estava o meu "sonho de consumo". Eu ganhava uma semanada, e sempre juntava o dinheiro pra comprar o fusquinha. E toda segunda-feira, quando eu chegava na banca com o dinheiro certinho, contadinho, juntado durante a semana anterior, a dona da banca me dizia "desculpe, mas o preço aumentou" (depois de 2 meses e meio querendo comprar o carrinho, ela me vendeu pelo preço da semana anterior, sem aumentar o valor pra mim. Acho que ficou com pena de mim). Lembro-me de que meus pais recebiam no início do mês e ficávamos um dia inteiro no Carrefour Norte fazendo as compras do mês: não podíamos comprar durante a semana porque o preço aumentava. Lembro-me de que, quando tive uma poupança, ficava todo feliz quando via que "a poupança rendeu 40%", ou seja, meu dinheiro tinha aumentado quase a metade naquele mês! Mas aí comecei a entender um pouquinho de economia e via que meu dinheiro aumentava, na verdade, 1% (em média), já que a poupança sempre rendia esta taxa acima da inflação mensal.

Então, vamos desvalorizar o real? Vamos! Assim os exportadores continuam ficando cada vez mais ricos -- e não precisarão jogar suas batatas em um lixão. Vamos diminuir os juros? Vamos! Assim virá apenas o "investimento bonzinho", que tem consciência e que não vai querer prejudicar de forma alguma a economia brasileira. Só faço uma pergunta: alguém aqui investe em algo (seja lá no que for) sem ter a expectativa de ganhar alguma coisa? Alguém faz "investimento bonzinho"?

Pra terminar, deixo abaixo um texto escrito pelo Carlos Alberto Sardenberg, economista que sempre fala no Jornal das 10, na Globonews. Às vezes ele fala coisas que eu pessoalmente não concordo, mas no texto abaixo (disponível no blog dele, clique aqui para esta e outras notícias) ele "mandou bem".

O dólar barato é para muito tempo (06/02/2007)

Com o dólar a R$ 2,08, aumentam as pressões para que o Banco Central faça alguma coisa para impedir essa forte valorização do real. Segundo o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, o BC “está bobeando”.

Ocorre, porém, que o BC tem pouco o que fazer além do que já faz. E no curtíssimo prazo, não há nada que possa valorizar o dólar assim de bate-pronto.

O problema é que há muito dólar entrando no país. E a maior parte das entradas é considerada benigna, digamos assim. O pessoal acha que o BC deveria conter de algum modo a entrada do tal capital especulativo, que viria para cá se aproveitar das altas taxas de juros. Mas essa é a menor parte.

Entram dólares por:

. exportações – continuam fortes e subindo. (E todo mundo acha isso muito bom)
. investimentos diretos de empresas estrangeiras em fábricas, comércio, serviços. (E todo mundo também acha bom).
. financiamentos tomados por empresas brasileiras no mercado externo para investir aqui, na economia real. (Todo mundo acha bom).
. financiamentos tomados por bancos aqui instalados para emprestar a seus clientes. (Também é coisa boa).
. dinheiro trazido por turistas. (também todo mundo quer).
. e, claro, capital financeiro que entra para se aproveitar dos juros elevados. (É a menor parte. Bloquear este cria ruído no mercado financeiro e não refresca em nada).

E se o BC comprar mais dólares e diminuir os juros mais rapidamente? Funciona, mas não muito.

Observe os seguintes dados:

. de setembro de 2005 até aqui, a taxa básica de juros caiu de 19,75% para 13%. Nesse período, a cotação do dólar caiu de R$ 2,20 para os R$ 2,08 de hoje.
. de setembro de 2005 até aqui, o BC comprou cerca de US$ 50 bilhões, levando as reservas para os US$ 92,3 bilhões de ontem.
. E o risco Brasil caiu de 372 pontos base em setembro de 2005 para os 180 pontos de hoje.

Só tem um jeito de o dólar se valorizar: é o Brasil aumentar fortemente suas importações. Ou seja, precisamos gastar dólares.

Mas aí o pessoal da indústria acha ruim.

O Brasil não é para amadores.


6 de fevereiro de 2007

A filosofia está no nosso dia-a-dia

Hoje ouvi na faculdade um ex-aluno meu reclamando da aula de Filosofia Geral e Jurídica. O indivíduo, no intervalo, passou por mim resmungando algo como “não sei para quê estou estudando filosofia. Não tenho interesse algum em aprender nada, e sim obter apenas o diploma.”

Tais palavras entraram como um balde de água fria no meu entusiasmo professoral. Pra mim, só uma pessoa extremamente ignorante e com espírito de porco pode dizer que não se interessa por aprender. Não me refiro a aprender tudo, pois venhamos e convenhamos, tem certas coisas que são um saco mesmo e não dá a mínima vontade de aprendê-las. Mas este aluno falou bem claro: não tenho interesse algum em aprender nada. Como alguém pode não querer aprender nada? Mais ainda, como pode alguém não entender o verdadeiro sentido da filosofia?

Há alguns dias atrás discorri aqui sobre o fato de que as pessoas são desestimuladas a estudar a filosofia e os filósofos devido à linguagem rebuscada usada por livros e “intérpretes” dos grandes filósofos. Tento aqui deixar mais uma contribuição sobre o assunto, e espero que aqueles que leiam meu blog possam ter, por mínimo que seja, um interesse genuíno sobre a filosofia. Espero que aqueles que leiam estas linhas percebam que, a todo momento, estamos em contato com a filosofia na prática.

A palavra “filosofia” traz à mente a idéia de algo inútil, de perda de tempo. No entanto, o que significa filosofia? É a decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido.

A primeira característica da atitude filosófica é a negação: negar pré-conceitos, pré-juízos, valores, negar “o que todo mundo pensa”; essa é a chamada atitude crítica. A segunda característica da atitude filosófica é a positivação: perguntar positivamente o que são as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos. É uma interrogação do por quê disso tudo e de nós mesmos: “Por que é assim e não de outra maneira?”, e forma o chamado pensamento crítico.

Para que serve a filosofia? O senso comum afirma que a filosofia “não serve pra nada”, pois não se relaciona com a ciência e a técnica. No entanto, todo cientista sabe que seu trabalho depende fundamentalmente da filosofia, já que é esta que irá perguntar o por quê das coisas serem assim e não de outra forma, incentivando o “gênio criativo” do cientista e corrigindo e aumentando os conhecimentos existentes tendo como base as chamadas “perguntas filosóficas” – o que, por que e como. A filosofia é o pensamento interrogando-se a si mesmo, e trabalha por meio da reflexão. A reflexão filosófica é radical porque é um movimento de volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar como é possível o próprio pensamento. E, claro, a reflexão filosófica também se volta para as relações que mantemos com a realidade circundante.

Aprendestes que a filosofia é a possibilidade [de se fazer algo na prática]. Porque se refletir sobre o mundo fosse tentar entender como ele é, mas para não poder transformá-lo, diria então que a filosofia é uma espécie de sadismo intelectual. Se a filosofia for para fazermos exegeses de textos apenas, aprenderíamos só uma técnica filosófica, mas não toda a filosofia. A filosofia é tomar partido, no mais alto sentido político da palavra filosofia, que começou com Sócrates e paradoxalmente também com Platão. Deixai os louvores com os homens da ordem, com os conservadores, com os religiosos que gostam mais da letra de suas páginas sagradas do que de seus irmãos, ou então com os juristas que gostam mais das leis do que do justo. Sabeis que refletir sobre o direito é ver a injustiça, e ver a injustiça é procurar a justiça (MASCARO, Alysson. Filosofia do direito e filosofia política: a justiça é possível. São Paulo: Atlas, 2003. Pág. 20).

Portanto, em praticamente todos os momentos estamos filosofando, e no sentido acadêmico da palavra (não no sentido de estarmos falando abobrinhas). Quando perguntamos “por quê?” em relação a qualquer assunto, estamos questionando a situação atual, o status quo, e estamos buscando informações que não temos. Estamos, portanto, sendo “amigos do saber”, tradução literal da palavra filósofo. Ao perguntarmos “por que será que aqui em Taguatinga está chovendo sem parar desde a última sexta-feira?”, estamos filosofando. Ao perguntarmos “será que amanhã fará sol?” estamos filosofando. Ao perguntarmos a um(a) namorado(a) "Por que você me traiu?" estamos filosofando. Ao perguntarmos qualquer coisa, estamos filosofando. Ao buscarmos novas informações, estamos filosofando.

O problema maior, a meu ver, é fazer com que os filósofos acadêmicos percam sua postura de “quase-deuses” e passem a escrever de uma maneira acessível. O saco é agüentar o academicismo, que exige uma pomposidade na retórica que vai além dos limites pedagógicos e impede o bom entendimento do conteúdo. Mas este tema é um sobre o qual já me detive um pouco, anteriormente, e que, devido ao avançado da hora (são 23:50 h), deixarei para amanhã ou depois.

Para terminar: para aqueles que queiram ter contato com a história da filosofia, ainda que de maneira superficial, recomendo o livro O mundo de Sofia, de Jostein Gaarder. Ainda que superficial, por dar apenas apontamentos gerais sobre vários filósofos, o livro é fácil de ler e pode dar uma boa base para aqueles que terão a disciplina “Filosofia Geral e Jurídica” no curso de Direito. Aquele meu ex-aluno que reclamou da disciplina, sem dúvida alguma, teria outra visão da filosofia e do conhecimento de maneira geral se lesse tal livro -- coisa que, é claro, irei sugerir para que ele faça o mais rápido possível.


5 de fevereiro de 2007

E a politicagem continua

Agora, o outro lado da moeda. Claro que não quero, com a transcrição de tais notícias, fazer apologia a nenhum dos lados. Todos sabemos que é um jogo de cartas marcadas, e que se governo e oposição estivessem em situações contrárias, fariam a mesma coisa. Mas não deixa de ter certo sentido a frase do deputado Rodrigo Maia: a quem interessa a absolvição de José Dirceu?

SUPLICY E OPOSIÇÃO REJEITAM ANISTIA A DIRCEU
Para Suplicy, mensalão "não foi inteiramente explicitado".
Para líder tucano no Senado, anistia seria "tapa na face do povo".
05/02/2007 - 08h10m - Atualizado em 05/02/2007 - 08h39m
Agência Estado

A decisão do Campo Majoritário do PT de trabalhar pela anistia do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu foi criticada por parlamentares de vários partidos - inclusive do próprio PT. Para o senador petista Eduardo Suplicy (SP), a idéia não se sustenta enquanto houver dúvidas quanto à participação de Dirceu no mensalão.

“Antes da anistia, tudo tem que ser, ainda, objeto muito maior daquilo que aconteceu e que até agora não foi inteiramente explicitado”, alegou o senador. Suplicy lembrou ter defendido, no decorrer da CPI dos Correios, que José Dirceu comparecesse ao Congresso para se defender - proposta que o ex-ministro rejeitou. Suplicy filiou-se ao Campo Majoritário em maio de 2005, a convite do então tesoureiro Delúbio Soares. Meses mais tarde, o próprio Delúbio pediu sua saída, depois de ele ter assinado o requerimento para criação da CPI dos Correios.

Para o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (SP), a anistia “seria um tapa na face do povo brasileiro”. “Deu a louca no PT”, reforça o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ). Outro pefelista, o corregedor do Senado, Romeu Tuma (SP), considera a idéia “uma afronta a todo o trabalho de investigação feito em defesa do Congresso” e “uma tentativa sem sentido de pressionar os parlamentares”.

Tuma prevê que, se levada adiante, a absolvição de José Dirceu na Câmara refletirá no Judiciário, onde ele foi denunciado pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, como um dos chefes do esquema do mensalão.

“Se não foi bom para o Judiciário a anistia daqueles absolvidos pelo plenário, imagine, então, nesse caso”, insistiu Tuma. Para ele, “a população não vai entender, seria uma afronta, um desequilíbrio perante a sociedade”.

Na avaliação de Rodrigo Maia, o assunto poderá tumultuar a agenda de votações do Congresso, trazendo para a pauta um assunto que não é de interesse de nenhum partido, apenas dos integrantes do Campo Majoritário do PT. “E não faz sentido que esse pedido de anistia se torne prioridade para a Câmara. Temos assuntos muito mais importantes para discutir no Congresso.”

“A eleição do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) para a 1ª Secretaria da Câmara mostra que muitos parlamentares defendem claramente a ética dentro do Congresso”, prosseguiu o deputado pefelista. Serraglio foi o relator da CPI dos Correios, que recomendou a cassação de Dirceu - aprovada depois no Conselho de Ética e pelo plenário. “Vi muita gente dizendo que ia votar nele justamente porque tinha sido o relator da CPI”, garantiu.

O tucano Virgílio apontou o favorecimento a Dirceu como um dos pontos que levaram ele e outros tucanos a rejeitarem o nome de Arlindo Chinaglia (PT-SP) para a presidência da Câmara.

(Original disponível aqui.)


Existe democracia? Existe representatividade?

Há alguns minutos escrevi um pouco sobre democracia e sobre o problema da representatividade da política frente aos cidadãos.

Como confio na capacidade intelectual de todos que visitam este blog, simplesmente copiei e colei uma notícia divulgada hoje de manhã. Deixo para cada um a possibilidade de se indignarem com o fato. Após a leitura desta notícia, pergunto a vocês: a vontade popular é refletida nas ações da elite política brasileira? A representatividade realmente existe? Mais ainda, a democracia realmente existe? Conclusões por conta de vocês.

GARCIA APÓIA PEDIDO DE ANISTIA PARA JOSÉ DIRCEU
"Quando o projeto vier é claro que apóio", declarou. Dirceu foi cassado em 1º de dezembro de 2005.
05/02/2007 - 07h58m - Atualizado em 05/02/2007 - 14h27m
Agência Estado

A operação de resgate do ex-ministro-chefe da Casa Civil e deputado cassado do PT José Dirceu ganhou, no domingo (4), reforço importante da cúpula do governo Lula. Marco Aurélio Garcia, assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, pregou publicamente anistia para o ex-ministro.

"Quando o projeto vier é claro que apóio", declarou Marco Aurélio, à saída do encontro promovido pelo Campo Majoritário, principal tendência do partido, em um hotel de luxo de São Roque, a 60 quilômetros de São Paulo. "Se fui contra a cassação dele, como não posso ser favorável à anistia?", enfatizou o auxiliar direto de Lula.

Cassado a 1.º de dezembro de 2005, sob suspeita de envolvimento no esquema do mensalão, Dirceu perdeu os direitos políticos e ficou inelegível até 2015. O ex-ministro jamais aceitou a acusação. Também nunca escondeu sua ambição de logo voltar à Câmara.

O caminho não é tão simples. O projeto de perdão deve contar com 1,5 milhão de assinaturas para que o Congresso admita colocá-lo em pauta.

Os companheiros de Dirceu estimam que ele terá êxito. Eles avaliam que a manifestação de Marco Aurélio é um primeiro apoio de peso que poderá impulsionar o projeto.

Na manhã de sábado, quando fez críticas à política de juros do Banco Central, Dirceu foi ovacionado por seus pares. A cena fez lembrar o início do primeiro governo Lula, quando o então ministro detinha o título de homem forte da República.

Reflexão
Oficialmente, o indulto a Dirceu não estava na pauta do Campo Majoritário, ala do PT que perdeu força por causa da ligação de alguns de seus integrantes com o valerioduto. O encontro de São Roque deveria tratar prioritariamente de uma reflexão sobre o futuro da legenda e um manifesto de apoio ao PAC, o programa de Lula para acelerar o crescimento do país. Mas nos bastidores da reunião um tema predominante foi a volta de Dirceu.

Marco Aurélio, que fez uma explanação sobre socialismo na tarde de sábado, conversou com Dirceu, mas garante que a anistia não foi assunto. "Ele não falou disso, ele disse que não está preocupado em colocar na ordem do dia isso."

A aprovação ao retorno de Dirceu foi endossada pelo presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (PT-SP). "Assino o projeto, sou favorável. Como filiado ao PT e militante. Ele merece retomar os seus direitos políticos porque foi punido injustamente, sem provas."

Berzoini garantiu que o perdão não foi debatido. "Não conversei com ele, mas conversaria se provocado. Não se trata de uma questão partidária, não deve ser objeto de deliberação, mas do ponto de vista estatutário há possibilidade sim de o partido discutir. Ele tem o direito de pleitear sua anistia."

A anuência ao projeto de resgate de Dirceu tomou conta da assembléia de petistas. Sua força e influência ficaram demonstradas quando atacou o Banco Central e sua fala foi interrompida pelos aplausos. O ex-ministro atribuiu à última reunião do Copom (que reduziu 0,25 ponto porcentual da taxa Selic) 'uma contundente ameaça ao crescimento do país'.

Indagado se Dirceu tem autoridade para criticar o BC, Berzoini enfatizou: "Ele tem autoridade de cidadão brasileiro, é filiado ao PT." E enumerou elogios. "Ele tem uma participação histórica, uma biografia muito importante. Combateu a ditadura quando muita gente apoiava. É importante respeitar também as pessoas e não estigmatizá-las por conta de processos que ainda estão para ser julgados no Supremo Tribunal Federal." E sublinhou: "Assino a anistia porque a cassação foi injusta, incorreta, não se baseou em provas. Uma decisão política de um setor que queria afastá-lo da vida pública."

O secretário de Comunicação da ex-prefeita Marta Suplicy e vereador José Américo Dias também saiu em defesa do ex-ministro. "Se aparecer qualquer documento eu assino."

Em seu blog na Internet, Dirceu afirmou que não está organizando sua campanha de anistia, mas acrescentou: "Tenho recebido apoios e vou viajar por todo o País, aceitando convites de personalidades, militantes de esquerda, do PT e de partidos que apóiam o governo, em apoio a minha anistia."

(Original disponível aqui.)


Agora não tem mais desculpa (2)

Venho aqui apenas retificar a informação que postei antes.

O governo tem, como base de apoio no Congresso Nacional, 350 deputados e 50 senadores. Será que agora alguém pode reclamar de não ter apoio do Congresso?


Sobre o conceito de democracia e outros devaneios

No sábado à noite, enquanto, por um lado, eu estava morto de cansaço devido ao fato de ter dado 8 horas de aula quase seguidas, e, por outro, via a chuva que me impediu de ir ao baile de formatura de um dos meus melhores amigos, assisti a um programa na Globonews chamado "Entre Aspas". O programa chamou minha atenção porque os participantes iriam debater sobre a democracia nos dias de hoje. E, como o tema "democracia" é uma das minhas principais áreas de pesquisa, lá fui eu ver o que os caras iam falar.

Participaram do debate um historiador e um sociólogo. Ambos falaram da importância da democracia nos dias de hoje. O historiador fez uma breve retrospectiva do conceito de democracia e lembrou que, em toda a história da chamada "civilização ocidental", o conceito de democracia só esteve presente entre os séculos VI e III a.C., entre os séculos I e IV d.C. e após a Revolução Francesa, em 1789. Ou seja, em um período relativamente longo, a democracia, em suas diversas variantes, esteve presente em curtos períodos de tempo.

Depois disso, o sociólogo começou a falar sobre o Fórum Social Mundial (FSM - tal historiador foi um dos organizadores do 1º FSM) e sobre a importância do FSM no processo de participação popular na definição dos rumos políticos de qualquer país. O sociólogo lembrou a importância de outros mecanismos de participação popular que não apenas o voto, tais como o plebiscito e o referendo, e defendeu a idéia de que iniciativas como o FSM são fundamentais para se garantir a representatividade da população junto à esfera política.

O historiador ressaltou, na mesma linha, a importância de se fortalecer o sistema democrático atual, já que a democracia, na visão dele, é a única boa maneira de se governar. Ele afirmou que a democracia brasileira ainda está em um estágio inicial, mas mesmo assim é necessário revitalizá-la. Afirmou também que é necessário fortalecer a democracia representativa, pois é por meio dela que a população consegue exercer o poder: segundo ele, "há coisas que devemos delegar a representantes, tais como a possibilidade de criar leis e administrar o país".

É aqui que o tema fica "interessante": infelizmente, a grande maioria os intelectuais já "jogou a toalha" e acredita que o único tipo de democracia possível é a democracia liberal, caracterizada principalmente, em primeiro lugar (como o próprio nome diz), pela delegação de poderes dos cidadãos de maneira geral para representantes eleitos democracitamente, e, em segundo lugar, pela alegada liberdade que todos temos ao escolhermos tais representantes. Se 1) Existe o direito ao voto; 2) Se tal voto é definido da maneira mais "livre" possível; e 3) Existem mecanismos complementares de expressão popular, como plebiscitos, referendos e liberdade de expressão (incluída aí a liberdade de imprensa), então a sociedade é democrática. Ou seja, ao afirmarem que é necessário aprofundar o modelo atual, tais pensadores apenas defendem, com palavras bonitinhas, a manutenção do status quo, ao invés de buscarem novas idéias que possam mudar a situação política atual.

Acredito ser óbvio para todos que estão lendo este blog a relação entre política e economia. Acho que é óbvio para todos que a situação econômica influencia a situação política, e vice- versa. Neste sentido, não é possível ignorar a relação entre infra-estrutura e superestrutura desenvolvida por Marx: o que acontece na esfera da economia traz reflexos para todas as demais esferas sociais, e estas, por sua vez, dão continuidade ao status quo na esfera da economia. Um círculo vicioso que, na visão de Marx, só terminaria com uma revolução proletária.

Mas não estou aqui para falar de revoluções (ainda não), e sim do fato de que seguir as idéias postuladas por Robert Dahl em seu texto Poliarquia é chover no molhado: acreditar que política e economia andam em lados opostos da rua é de ingenuidade tremenda. E ingenuidade maior ainda é ir à televisão e dizer que "do jeito que está não está bom, mas podemos melhorar fazendo mais do mesmo".

Será possível fazer mais do mesmo? Será que o leitor destas linhas, o leitor minimamente consciente, ainda acredita nos ideais positivistas de "ordem e progresso"? Será possível melhorar a situação de bilhões de pessoas no mundo mantendo-se a estrutura política e econômica atual? Ontem mesmo reli na Revista Época nº 454, de 29 de janeiro de 2007, à pág. 104:

"Em média, cada habitante da Terra dispõe de US$ 5.760 por ano, e a cada ano a economia mundial cresce 3%. No entanto, parece que somos mais eficientes em produzir riqueza que em distribuí-la, já que um cidadão de Luxemburgo dispõe de US$ 69.400 por ano, enquanto, no mesmo período, um cidadão do Burundi dispõe de apenas US$ 90."

Não questiono aqui a idéia, muitas vezes defendida por alguns pensadores, de que temos de mudar tudo de uma hora para outra. Bem que eu gostaria, mas isso é, obviamente, impossível. Também não estou aqui querendo ser contra a democracia (apesar de reconhecer que tenho uma veia didatorial e autoritária muito forte). Mas estou aqui criticando o fato de alguém ir para a TV e dizer "a coisa está ruim, mas não temos muito o que fazer além de garantir o que já temos". Acho um absurdo um dito "pensador" afirmar, com outras palavras, que "é a vida", e que temos de nos conformar com tal situação mesmo sabendo que tal situação é insustentável. E chama-me ainda mais a atenção por ser dizerem isto em relação ao nosso atual modelo democrático, que -- todos sabemos -- necessita urgentemente ser melhorado. E não apenas com reformas políticas, mas mudanças realmente paradigmáticas que possam fazer com que a humanidade dê um salto qualidativo, como fez durante os períodos das Revoluções Francesa e Russa.

Como exemplo da necessidade de mudança paradigmática, trago um exemplo que talvez já nem surpreenda por ser bem corriqueiro: os novos parlamentares tomaram posse na última quinta-feira, dia 1º de fevereiro. Até ontem, dia 4 de fevereiro, 22 parlamentares já haviam trocado de partido. Ou seja, em 3 dias 5% dos parlamentares já trocaram de camisa. Dá para alguém realmente se sentir representado deste jeito? Dá para alguém realmente acreditar que "é necessário fortalecer a democracia representativa"? Dá para acreditar no atual modelo de representação e de democracia mesmo quando os representantes dão mostras cabais de que não se preocupam com a população? Dá para acreditar que este modelo representativo vale alguma coisa quando, no dia seguinte à sua vitória, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, afirma que "lutará por teto salarial único nos 3 poderes", indiretamente afirmando (como confirmado hoje) que lutará pelo aumento de 91% dos salários?

Mudanças são necessárias. Quais mudanças, em qual rumo, em qual direção... Não sei. Ainda não sei. Mas o fato de não saber não me impede de criticar o modelo atual, de mostrar suas falhas e, mais que isso, de tentar conscientizar os demais de que é sim necessário fazer alguma coisa para acabar com tal situação. A questão do clima, tão debatida no momento, é um exemplo de que as pessoas precisam se unir e trabalhar em conjunto porque senão todas perdem. Espero um dia poder ver tal união também na política, pois o raciocínio é o mesmo -- se as pessoas não se conscientizarem de que algo precisa ser feito, todas irão perder.

É de se louvar as idéias de diversos pensadores que afirmam que a população pode pressionar e ter suas demandas satisfeitas quando se unem e fazem pressão sobre os governos, e é de conhecimento comum o fato de que a sociedade civil organizada, principalmente nos últimos quinze anos, conseguiu atingir objetivos e satisfazer demandas de maneira nunca antes feita. O fortalecimento da sociedade civil organizada, nos últimos quinze anos, comprovaria a eficácia das teorias que defendem a democracia liberal baseada em teorias pluralistas e em teorias de escolha racional. É possível, no entanto, fazermos a seguinte pergunta: e a sociedade civil “desorganizada”? E aqueles que não têm condições de participar de um movimento social qualquer? E aqueles que, antes de buscar a garantia de seus direitos -- que dirá a satisfação de suas demandas --, preferem -- ou melhor, precisam -- buscar a garantia do seu almoço? Análises pluralistas da política ignoram tais pessoas, mesmo sabendo da existência das mesmas e mesmo sabendo que elas correspondem a uma parcela razoável da sociedade dos países "em desenvolvimento". À pergunta “o que fazer com tais pessoas?” as teorias pluralistas e liberais não têm respostas.

Não há como garantir boas relações entre estado e sociedade, não há como aperfeiçoar modelos democráticos, não há como garantir a liberdade individual se a busca da igualdade -- social, política, econômica -- não for a base do pensamento político de qualquer partido, de qualquer governo, de qualquer indivíduo. Não adianta buscar melhorias dentro do sistema atual se o próprio sistema atual, como sabemos, se auto-reproduz, se perpetua, com a conseqüente perpetuação das desigualdades. Como diria Alysson Mascaro, em seu livro Filosofia do direito e filosofia política: a justiça é possível (pág. 18-19), “De que valerá poderem os africanos contar cada qual um voto, sendo que as grandes decisões do mundo se fazem nos gabinetes refrigerados das grandes multinacionais que não perguntam sobre vontade dos votos ou democracia?”

Claro que buscar um mundo melhor não é tarefa fácil nem simples, quanto mais atingi-lo, e há quem possa dizer que “o mundo é assim” e que, portanto, não há nada a fazer. Mas algo deve ser feito quando vivemos em uma sociedade extremamente desigual, como é o caso do Brasil, onde 4,7% da população (8 milhões de pessoas) vive com menos de um dólar por dia; onde 11,6% da população (20 milhões de pessoas) vive na indigência, com menos de um quarto de salário mínimo por mês; onde 30,6% da população (52,3 milhões de pessoas) é considerada pobre, vivendo com menos de meio salário mínimo por mês; e onde os 20% mais pobres (34,2 milhões de pessoas) possuem 4,2% da renda nacional, enquanto os 20% mais ricos se apropriam de 56,8% da renda nacional (dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada em 2004). Vale destacar que tais números são otimistas: de acordo com dados da Cepal, a porcentagem de pessoas que vive abaixo da linha de indigência é de 13,2%, ou aproximadamente 22,6 milhões de pessoas. Face a tal situação, perguntamos: será que os 20 milhões de brasileiros considerados indigentes pelo IPEA têm condições de se organizar em movimentos sociais e buscar uma melhor participação política? Será que os 52,3 milhões de brasileiros que vivem com menos de R$ 175,00 (cento e setenta e cinco reais, meio salário mínimo) por mês têm condições de exercer suas vozes em organizações não-governamentais com o objetivo de melhorar suas vidas? A “nova economia” do século XXI trouxe algum benefício para os indigentes e pobres? A resposta é óbvia para todos aqueles que tenham o mínimo de bom senso.

Para terminar: como disse antes, não tenho ainda a resposta a tais dúvidas. Mas se as pessoas se derem conta de tal situação e começarem a pensar sobre o assunto, quem sabe não surgirá alguma possibilidade de solucionar tal situação e melhorar a vida -- política, econômica e social -- da grande massa de excluídos do mundo inteiro... ?


Ausência

Estive ausente nos últimos dias. Ausência justificada: dei aula na última sexta, no último sábado e no último domingo (respectivamente, dias 2, 3 e 4 de fevereiro) em uma pós-graduação aqui em Taguatinga. Ministrei aulas de Metodologia Científica para alunos dos cursos de Gestão de Recursos Humanos, Docência em Ensino Superior e Direito Público Constitucional, Administrativo e Tributário. Em termos de conteúdo, bastante tranquilo, pois tenho conhecimento sobre o assunto. O cansativo foi dar várias horas de aula seguidas. Além, é claro, de ter de lidar com visões diferentes advindas da origem distinta dos alunos, no que diz respeito aos cursos... Mas tudo bem, nada que me fizesse perder as estribeiras.

Por outro lado, esta carga de trabalho me impediu de escrever aqui no blog. E logo neste fim de semana, quando algumas coisas interessantes aconteceram... Sendo assim, vou escrevendo ao longo da semana sobre coisas que considero interessante.

Por enquanto é só! Até mais.


1 de fevereiro de 2007

Agora não tem mais desculpa

Maioria (indireta e simples) no Senado, com 20 senadores do PMDB e 11 senadores do PT, totalizando 31 senadores -- a oposição direta tem 30 senadores (17 do PFL e 13 do PSDB). O presidente do Senado, Renan Calheiros, reeleito hoje, teve 51 votos, contra 28 votos de seu oponente.

Maioria na Câmara dos Deputados, com 91 deputados do PMDB, 83 deputados do PT, 41 deputados do PP e (provavelmente) 13 deputados do PC do B, totalizando 228 deputados. A oposição na Câmara soma 126 deputados, sendo 64 do PSDB e 62 do PFL. O presidente da Câmara dos Deputados eleito hoje, Arlindo Chinaglia, teve 261 votos.

Em outras palavras: o presidente Lula está com a faca e o queijo na mão. Possui maiorias relativamente consolidadas nas duas Casas do Congresso Nacional e, em ambas, seus respectivos presidentes são de partidos que compõem a base de apoio ao presidente. O que significa dizer que, agora, ele não pode dizer que "não tem o apoio do Congresso" para fazer o que precisa. Vamos ver se ele efetivamente faz alguma coisa, e o primeiro teste será a aprovação do PAC pelo Congresso Nacional -- sem muitas mudanças, é claro.

Para terminar, porque já são 23:20 h e, de ontem para hoje, eu dormi apenas 3 h, estou aqui morrendo de sono e sem muita inspiração, deixo uma notícia que vi hoje: um em cada sete deputados que tomaram posse hoje já respondeu a processo ou foi investigado por crime. Ou seja, dos 513 deputados atuais, 73 já responderam a processo ou foram investigados. O que esperar desta nova legislatura? A esperança é que ela seja menos ruim do que a anterior, evitando cometer os erros que os deputados anteriores cometeram.


Controle de leitura

Só para informar que hoje, das 13:35 h às 18:10 h, li as últimas 285 páginas do livro "A sala de âmbar". O livro é bastante interessante e fácil de ler. Recomendo.

Depois escrevo mais.


Para rir um pouco

http://www.youtube.com/watch?v=7RMLt28n0-M

http://www.youtube.com/watch?v=KNIUfFqujS0

Não sei se é montagem, mas que é engraçado, isto lá é...