25 de fevereiro de 2007

Sugestão de leitura

Talvez o sr. Eduardo Grillo devesse ler o blog do William Waack, seu companheiro dentro das Organizações Globo. A propósito, coloco abaixo um texto do Waack sobre a "geopolítica sem importância" (original disponível aqui).

Crise nuclear do Irã é verdadeiro desafio para os EUA hoje

É inevitável uma ação militar envolvendo, de um lado, Israel e os Estados Unidos e, de outro, o Irã? Ainda não se pode dizer que seja, mas o relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), de Viena, divulgado nesta quinta feira (22), dá a Tel Aviv e Washington a base para dizer que algo precisa ser feito, e rápido.

Os americanos sugerem sanções econômicas ainda mais duras, apesar de saberem perfeitamente que o Irã, com o barril do petróleo em torno dos US$ 60, tem gordura suficiente para queimar durante muito tempo de sanções. É bom lembrar que o Irã já vive sob vários tipos de sanções desde que guardas revolucionários invadiram a embaixada americana em Teerã, em novembro de 1979.

O relatório da AIEA é duro com os iranianos. Os inspetores da Agência (que tem excelente reputação, sobretudo pelo trabalho que fizeram no Iraque antes da invasão americana) recusaram-se a fornecer ao regime dos aiatolás um atestado de nada consta. Legalmente, isto é, dentro dos tratados e acordos internacionais que assinaram (o Tratado de Não Proliferação, por exemplo), os iranianos podem dizer que nada fazem de errado.

Mas eles desrespeitaram um ultimato, estabelecido dois dias antes do último Natal, para suspender as atividades de enriquecimento de urânio. Essas atividades já estão bem próximas da escala industrial, da qual os iranianos afirmam necessitar para abastecer com combustível nuclear os reatores que ainda nem acabaram de construir. Em compensação, os iranianos suspenderam todo tipo de experimento com reprocessamento (de onde sai o plutônio, e que costuma ser o meio mais rápido para se chegar à bomba).

A crise nuclear em torno do Irã é o verdadeiro desafio para os Estados Unidos - e Israel. O desastre no Iraque reduziu fortemente as opções dos americanos. O Irã é hoje a principal potência do Oriente Médio (depois de Israel) e ocupa uma posição geopolítica de inigualável importância, além das reservas de petróleo e gás. A influência direta do Irã se estende hoje de Herat, no Afeganistão, a Bagdá, no coração do Iraque - acentuando uma ironia que não escapou aos historiadores: é mais ou menos a mesma extensão territorial que alcançava, há uns 500 anos, o último grande império muçulmano a partir do que hoje é o Irã.

Se é pouco o que os americanos podem fazer do ponto de vista político, do ponto de vista militar é pouco também. Em 1981, quando atacou (no meio da guerra entre Irã e Iraque) um reator experimental que Saddam construíra no centro do país, a aviação israelense tinha um só alvo. No caso do Irã, são muitos, bastante espalhados, e não há garantia alguma de que um golpe militar possa interromper o que se supõe que seja o esforço iraniano de chegar a uma bomba.

Pior ainda: os iranianos têm como perturbar fortemente o fluxo de petróleo para os principais países ocidentais, e como desestabilizar ainda mais uma região que vai caminhando gradativamente para a beira de um conflito incontrolável, capaz de arrastar não só o Irã mas também países como a Turquia, a Síria e a Arábia Saudita, para mencionar apenas alguns.

Com enorme preocupação sobre tudo, analistas europeus apontam para as evidências da preparação de algum tipo de ação militar por parte dos americanos. O medo é generalizado: China e Rússia mostram-se também bastante nervosas com o comportamento dos iranianos, e mais ainda com a incapacidade de prever o que George W. Bush acabará decidindo. No momento, ele parece, mais uma vez, disposto a ignorar a maioria das opiniões, que são contrárias a uma ação militar contra o Irã.

Assessores do presidente americano estão comparando a situação de Bush ao isolamento que Winston Churchill vivia em 1938 - uma das poucas vozes, então, que dizia que tentar pacificar Hitler e Mussolini era a melhor maneira de se chegar à guerra (e os fatos mostraram que Churchill tinha toda razão). Aqui só cabe uma frase, que apesar de tão usada e abusada continua tão boa: todos sabemos que a história só se repete como farsa.


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