9 de fevereiro de 2007

Retorno à sala de aula

Hoje, dia 09/02/2007, efetivamente acabaram-se minhas férias. Dei minha primeira aula neste semestre (à exceção das aulas dadas na pós-graduação no fim de semana passado, que foram "por fora") . Dei aula nas Faculdades Espam, em Sobradinho, na qual há uma turma de Direito e, assim como na Faculdade Projeção, ministro a disciplina "Introdução à Ciência Política".

A Espam tem caracteristicas diferentes do Projeção. Em primeiro lugar, lá só tem uma turma de Direito por semestre. Explico: o curso de Direito foi aberto lá no segundo semestre do ano passado, o que justifica o fato de que hoje a Faculdade conta com mais ou menos apenas 100 alunos de Direito. O pessoal que entrou no ano passado compõe os "cobaias" e, para nossa alegria e satisfação, deu tudo certo. E, sendo um pouquinho metido, fui considerado o melhor professor de todos (na avaliação dos alunos, fiquei em primeiro lugar).

Outra diferença é que a própria instituição é pequena. O Projeção já tem 30 anos de estrada, tem colégio, tem pós-graduação, enquanto a Espam tem apenas supletivo e os cursos superiores. Olhando-se para o prédio da Espam, não damos nada, mas lá dentro a gente percebe que a faculdade não é mais uma dessas de fundo de quintal.

A turma de Direito deste semestre, segundo a tendência do semestre passado, é composta, em sua grande maioria, por pessoas adultas. Com isto, quero dizer que, visualmente falando, a média de idade da turma é de uns 27 a 30 anos (no mínimo). Ou seja, na turma não há molecada, como acontece no Projeção. Tal característica tem seu lado positivo: a aula rende muito mais.

Hoje, primeiro dia de aula, como sempre faço, dou aquele susto logo de cara. Falo da questão de plágio (inaceitável pra mim), falo da avaliação, falo que o pessoal tem de ler mesmo os meus "pequenos" textos (pra não escrever pérolas como "aparti" ou "pesso"), falo da questão da frequência... Enfim, dou uma visão geral sobre a disciplina. E, uma vez estando tudo claro, partimos para o conteúdo.

Eu deveria ter falado hoje sobre os conceitos de Política e de Ciência Política, fundamentais para o resto do curso. Mas não deu. Fiquei apenas no primeiro conceito, e por um motivo simples, mas adorável: o povo participou demais e não deu tempo de terminar o conteúdo. Por serem pessoas mais maduras e, principalmente, vividas, têm experiências próprias pra contar, sabem dialogar e trazer exemplos da vida prática pra sala de aula, o que enriquece o conteúdo e facilita o aprendizado. Por isso, a aula terminou no horário (11:35 h da manhã), mas não consegui falar sobre o segundo conceito porque o primeiro conceito dominou toda a aula (que começou às 8:50 h, mas tirando-se o tempo das explicações preliminares, começou mesmo às 10:10 h).

O que mais me importa, entretanto, não é tanto a participação dos alunos. Isso é ótimo e me agrada muitíssimo. Mas o melhor pra mim é ensiar. Estar em sala de aula e perceber que "o povo" tá aprendendo algo novo, tá ampliando seus horizontes, é algo que me satisfaz bastante. Perceber que, de repente, tem gente discutindo para além do que se fala no senso comum questões políticas -- que, por mais chatas que possam parecer/ser, são fundamentais em qualquer sociedade que se digne ser chamada como tal -- é um alento e tanto pra mim. Dou aula porque gosto, e sinto-me realizado quando o faço.

É uma pena que a grande maioria dos alunos não aproveita tal oportunidade. Não falo isso pra sacanear ninguém; é a realidade. Como disse em outro post, muitos alunos estão nas faculdades apenas pra ganhar o diploma, achando que isto já irá garantir a ele um lugar no Olimpo dos trabalhadores formais... Quanta ilusão! Há até uns 10 anos atrás, quem tinha curso superior era visto no mercado de trabalho como alguém de destaque, alguém para quem nunca faltaria emprego por ter curso superior. Hoje, "qualquer um" tem curso superior... Claro, estou generalizando, mas quero dizer que ter curso superior hoje em dia já não é garantia de um bom emprego. Ter curso superior hoje é como ter curso de inglês -- nem se pergunta mais se o indivíduo tem ou não, pois já se espera que ele tenha. E tem gente que perde tempo e diz que só faz faculdade "pra ter diploma ou pra passar em um concurso..."

Independentemente disso, eu continuo otimista em relação à minha função. Continuo acreditando que ensinar é algo muito bom, pois me satisfaz em todos os sentidos. Aqueles que não aproveitam a chance dada por Deus terão de prestar contas no futuro, de alguma maneira, e se eles não aproveitam, é problema deles -- por mais decepcionante que possa ser, como disse no outro post sobre filosofia. Mas é problema dele. O que me importa, e aí sou mesmo bem egoísta, é que eu estou fazendo minha parte -- passando o conhecimento adiante, tentando, de uma forma ou de outra, contribuir para que este mundo seja um pouco melhor do que ele é atualmente.


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