20 de março de 2007

Maquiavel era maquiavélico?

Hoje a aula de "Metodologia Científica" para alunos de Sistemas de Informação foi interessante. Um grupo escolheu estudar o conceito de poder e sua aplicação na sociedade brasileira nos dias de hoje (juro que eu não os influenciei em nada na escolha do tema). E eles trouxeram, como objeto de pesquisa, dois dos autores que eu mais admiro: Nicolau Maquiavel e Max Weber.

Um deles já havia lido o livro "O príncipe", de Maquiavel, e estava meio que "deslumbrado", mostrando aos outros as supostas maquinações de Maquiavel e que, com o passar do tempo, deram origem ao adjetivo "maquiavélico" (como todos sabemos, tal adjetivo tem um sentido extremamente negativo: maquiavélico é aquele que é ardiloso, velhaco ou irônico). O aluno continuou sua "aula" falando sobre a famosa frase supostamente atribuída a Maquiavel: "Os fins justificam os meios".

Pois bem. Este aluno cometeu o erro clássico, que a grande maioria das pessoas comete: o de achar que Maquiavel foi realmente um filósofo político "malvado". Porém, Maquiavel não era nada disso: ao se analisar o conjunto de sua obra, percebe-se o caráter republicano (hoje diríamos democrático) de suas idéias e de suas propostas. Percebe-se, analisando-se o conjunto completo, que Maquiavel era totalmente favorável à participação popular (lembrando-se, sempre, de quem eram os "cidadãos" à época em que vive), o que até mesmo favoreceria a idéia lançada por Rousseau de que Maquiavel não escreveu um livro sobre como o governante deve governar, e sim um livro que mostrava ao povo como os governantes efetivamente se comportavam ao possuir o poder.

É inegável a importância do livro no cenário político contemporâneo. Ela realçou a questão das relações entre a política e a moral. Rompeu de maneira profunda com os clássicos políticos, notadamente com Platão e Aristóteles, dando origem a um novo "tipo" de Ciência Política -- aquela fundamentada no que é, e não no que deve ser. No entanto, a obra é muito mais citada do que lida, o que, eventualmente, traz problemas de interpretação como o citado anteriormente. É inegável, portanto, a necessidade premente de se ler o texto propriamente dito, ao invés de se buscar "o que disseram" sobre o mesmo. O livro pode ser facilmente encontrado em diversos sites na internet, e fica aqui a sugestão para que todos o leiam assim que possível.

3 comentários:

Káh disse...

É Chu! Maquiavel é massa mesmo, tudo bem que até hoje eu so li até a metade do livro mas tudo bem...
Só não entendi a relação dele com Platão que tu comentou no meu blog! :D

Beijos da leitora n.º01 ou a única kkkkkkkkkkkk

Samantha disse...

Querido Matheus :
Erro elementar foi o seu.
Maquiavel escreveu para os governantes e não para o povo .Tanto é que ele dedica a obra a Lorenzo de Médici, duqque de Urbino .
O termo Maquiavelico da forma como foi apresentada por seu colega não é somente errado como parece coisa de quem nem pegou no livro, ou pelo menos não entendeu chongas.
Maquiavel ganhou essa fama de malvado porque aconselhou os governantes a utilizarem o conhecimento por ele proferido, a respeito das estruturas de poder, para dominarem o povo.
Nem vc, nem ele e menos ainda essa tonta dessa Kamila entenderam Maquiavel.

Mateus disse...

Samantha:

Se analisada toda a obra do filósofo renascentista condirer-se-á que a significação (conceito bakhtiniano) contida na palavra "maquiavélico" é, de fato, extremamente infundada.

Entretanto, é (senso) comum cometer o erro de avaliar o autor por somente uma obra, dessa forma, muitos acham que John Maynard Keynes fora um economista defensor do protecionismo. Sim, ele o foi, todavia, também escreveu sobre "Teoria de Relações Internacionais", assim sendo, classificá-lo através de análise uma única obra é, digamos, errado.

Abraços