É claro que eu não poderia ir dormir sem antes postar aqui o texto de William Waack sobre a Rússia. É juntar a fome com a vontade de comer (pelo menos para mim, hehehe).
(Original aqui)
Vladimir Putin e a arte de entender o Kremlin
Devemos agradecer a Vladimir Putin o ressurgimento da kremlinlogia, a arte (alguns pretendiam que fosse uma ciência) de adivinhar o que acontece dentro do Kremlin. A nomeação de um desconhecido novo primeiro-ministro, Viktor Zubkov, despertou rara curiosidade na imprensa internacional.
Por uma dupla razão: ninguém fora dos altos escalões da burocracia soviét....perdão, russa, sabe quem ele é. E saber quem pode ser designado para suceder a Putin no Krelim de fato importa. Importa mais do que saber como se comportariam eleitores russos (nos anos 90 não era tão fácil assim prever uma eleição na Rússia).
Zubkov provocou muitas manchetes nesta quinta (13/09) ao dizer, em resposta a perguntas de repórteres, que, se vier a ser reconhecido como um bom primeiro ministro, poderia, sim, concorrer à Presidência nas eleições do ano que vem. Foi tal a surpresa que alguns jornais (russos, sobretudo) apressaram-se a dizer que as palavras dele não deveriam ser levadas ao pé da letra, pois pareciam a de alguém que não está acostumado a flashes, luzes de câmeras e microfones.
Em outras palavras, um deslumbrado. O que se sabe de Zubkov até agora pode levar a várias especulações, menos a de que seja um deslumbrado. Trabalhou com Putin quando o atual presidente era o homem mais importante em São Petersburgo, há 17 anos, o que é típico no jeito russo de tocar o país: lealdades pessoais são mais importantes do que plataformas ou projetos políticos.
Zubkov foi o responsável até agora pela agência governamental russa que combate lavagem de dinheiro, um termo bastante elástico pelo qual as autoridades locais entendem também o envio de grandes quantias para o exterior. Zubkov é provavelmente quem mais sabe detalhes das finanças de alguns dos principais “oligarcas”, como são conhecidos os bilionários russos – um importante trunfo político.
Especula-se que a escolha, por parte de Putin, de personagem tão obscuro faria parte de uma grande estratégia, por parte do atual presidente, de colocar alguém ocupando seu lugar por quatro anos, enquanto ele mesmo se prepara para a volta. Putin cumprirá oito anos no comando do país e, pela Constituição, não pode se candidatar a um terceiro mandato – mas pode disputar outro depois.
Contra esse tipo de conjectura fala a própria carreira de Putin. Da mesma maneira que Zubkov hoje, Putin era completamente desconhecido fora da Rússia quando Boris Yeltsin o apontou primeiro ministro e, logo depois, candidato à própria sucessão (Yeltsin também ficou dois mandatos na presidência).
O que é mais marcante na carreira de Putin não são apenas alguns traços individuais bastante característicos, como a forte determinação de esmagar adversários, especialmente parte dos oligarcas. Putin restabeleceu com pleno vigor na Rússia o domínio dos “sloviki” (os que pertencem de uma maneira ou outra aos serviços secretos, como o próprio Putin) na administração e, principalmente, na formulação das principais políticas.
Desde a implosão da União Soviética os “sloviki” diziam para quem quisesse ouvir que a KGB, entre outros, não era simplesmente um serviço de espionagem ou uma polícia política. Na verdade, consistia também numa bem treinada burocracia – a única capaz de entender os problemas de um país tão gigantesco, e como governá-lo.
Se há algo que se pode afirmar sobre Zubkov com certa tranqüilidade é que ele só chegou ao posto de primeiro-ministro de acordo com o “sistema” – do qual Putin é chefe sobretudo por expressar suas normas e projetos. Uma das especulações mais ouvidas na imprensa russa, nestes dois dias, é a de que Zubkov poderá, sim, vir a ser presidente da Rússia.
Mas um presidente com menos poderes, diante de um novo cargo que seria criado para... Putin.
(Original aqui)
Vladimir Putin e a arte de entender o Kremlin
Devemos agradecer a Vladimir Putin o ressurgimento da kremlinlogia, a arte (alguns pretendiam que fosse uma ciência) de adivinhar o que acontece dentro do Kremlin. A nomeação de um desconhecido novo primeiro-ministro, Viktor Zubkov, despertou rara curiosidade na imprensa internacional.
Por uma dupla razão: ninguém fora dos altos escalões da burocracia soviét....perdão, russa, sabe quem ele é. E saber quem pode ser designado para suceder a Putin no Krelim de fato importa. Importa mais do que saber como se comportariam eleitores russos (nos anos 90 não era tão fácil assim prever uma eleição na Rússia).
Zubkov provocou muitas manchetes nesta quinta (13/09) ao dizer, em resposta a perguntas de repórteres, que, se vier a ser reconhecido como um bom primeiro ministro, poderia, sim, concorrer à Presidência nas eleições do ano que vem. Foi tal a surpresa que alguns jornais (russos, sobretudo) apressaram-se a dizer que as palavras dele não deveriam ser levadas ao pé da letra, pois pareciam a de alguém que não está acostumado a flashes, luzes de câmeras e microfones.
Em outras palavras, um deslumbrado. O que se sabe de Zubkov até agora pode levar a várias especulações, menos a de que seja um deslumbrado. Trabalhou com Putin quando o atual presidente era o homem mais importante em São Petersburgo, há 17 anos, o que é típico no jeito russo de tocar o país: lealdades pessoais são mais importantes do que plataformas ou projetos políticos.
Zubkov foi o responsável até agora pela agência governamental russa que combate lavagem de dinheiro, um termo bastante elástico pelo qual as autoridades locais entendem também o envio de grandes quantias para o exterior. Zubkov é provavelmente quem mais sabe detalhes das finanças de alguns dos principais “oligarcas”, como são conhecidos os bilionários russos – um importante trunfo político.
Especula-se que a escolha, por parte de Putin, de personagem tão obscuro faria parte de uma grande estratégia, por parte do atual presidente, de colocar alguém ocupando seu lugar por quatro anos, enquanto ele mesmo se prepara para a volta. Putin cumprirá oito anos no comando do país e, pela Constituição, não pode se candidatar a um terceiro mandato – mas pode disputar outro depois.
Contra esse tipo de conjectura fala a própria carreira de Putin. Da mesma maneira que Zubkov hoje, Putin era completamente desconhecido fora da Rússia quando Boris Yeltsin o apontou primeiro ministro e, logo depois, candidato à própria sucessão (Yeltsin também ficou dois mandatos na presidência).
O que é mais marcante na carreira de Putin não são apenas alguns traços individuais bastante característicos, como a forte determinação de esmagar adversários, especialmente parte dos oligarcas. Putin restabeleceu com pleno vigor na Rússia o domínio dos “sloviki” (os que pertencem de uma maneira ou outra aos serviços secretos, como o próprio Putin) na administração e, principalmente, na formulação das principais políticas.
Desde a implosão da União Soviética os “sloviki” diziam para quem quisesse ouvir que a KGB, entre outros, não era simplesmente um serviço de espionagem ou uma polícia política. Na verdade, consistia também numa bem treinada burocracia – a única capaz de entender os problemas de um país tão gigantesco, e como governá-lo.
Se há algo que se pode afirmar sobre Zubkov com certa tranqüilidade é que ele só chegou ao posto de primeiro-ministro de acordo com o “sistema” – do qual Putin é chefe sobretudo por expressar suas normas e projetos. Uma das especulações mais ouvidas na imprensa russa, nestes dois dias, é a de que Zubkov poderá, sim, vir a ser presidente da Rússia.
Mas um presidente com menos poderes, diante de um novo cargo que seria criado para... Putin.



Nenhum comentário:
Postar um comentário