24 de dezembro de 2007

Reflexões noturnas

Uma vez recebi determinada história que publico abaixo.

"Um homem estava ilhado em cima de sua casa decorrente de uma enchente que estava acontecendo em sua cidade. A força da correnteza o impedia de descer para fugir nadando.

"Este homem era um fervoroso cristão que considerava sua fé inabalável e, ao ver que poderia morrer ali, suplicou:

"- Deus, salva-me dessa enchente, salva minha vida, Senhor.

"Duas horas de espera, a água já estava subindo com uma velocidade impressionante. Foi quando este homem avistou um barco vindo em sua direção. O piloto do barco gritou:

"- Pule que vou te salvar.

"O homem que estava em cima da casa gritou:

"- Não! Deus vai me salvar.

"O piloto do barco tentou argumentar algum tempo, mas avistou mais gente necessitando de ajuda e acabou partindo, deixando o homem em cima da casa. Um tempo depois chega um helicóptero que plana sobre a casa desse homem e o salva-vidas no helicóptero grita:

"- Segure essa corda que vou te salvar!

"E mais uma vez, convicto de que seria salvo por Deus, ele respondeu:

"- Não! Deus irá me salvar.

"E mais uma vez, notando que perdia tempo ali, o helicóptero teve que partir.

"Após algum tempo em cima da casa o homem acabou morrendo. Chegando ao céu procurou a Deus e lhe perguntou:

"- Senhor, sempre fui fiel, sempre me dediquei à Palavra, e quando mais preciso de ti acabo morrendo. Por que deixastes, Senhor?

"E Deus responde: - Filho, tanto ouvi o que pedistes que mandei um barco e um helicóptero para te salvar."

Você que lê estas linhas provavelmente já conhece esta história. Se ela é tão batida, por que a publico aqui novamente?

Porque eu não entendo certos comportamentos das pessoas. Vivem dizendo que querem que Deus as ajude, mas não percebem quando a ajuda vem e acabam-na desperdiçando.

Todos queremos que Deus nos ajude, não há dúvida disso (pelo menos todos aqueles que acreditamos em Deus). Mas, muitas vezes, quando Ele nos manda a ajuda, não a aceitamos -- ficamos em dúvida: "será que é isto mesmo?", ou então dizemos "ah, não é isto que quero pra minha vida".

Por que fazemos isso?

Porque todos queremos a ajuda de Deus, mas queremos que Ele nos ajude do nosso modo, do jeito que nós achamos que é bom pra nós. Na verdade, vemos em Deus o mecanismo pelo qual nossos desejos deverão ser atendidos e satisfeitos.

Se Deus nos manda bênçãos, que ótimo! Mas se nos manda sofrimento e penúria, que horrível. Esquecemo-nos de que Deus nos manda exatamente aquilo que precisamos: se precisamos de sofrimento, Ele nos mandará o sofrimento; se precisamos penar, Ele nos mandará a penúria; se precisamos de alegria, Ele nos mandará a alegria. Afinal de contas, Ele não é perfeito e sabe exatamente do que precisamos?

Se a resposta à pergunta acima é "sim", então por que reclamamos da vida e dos problemas que surgem ao nosso redor? Ao invés disso, acho que deveríamos nos dar conta de que os males sempre vêm para o bem -- pois sempre aprendemos com o que nos acontece na vida. Deveríamos perceber que sempre estamos recebendo aquilo que Deus considera o melhor para nós (o que não necessariamente é o que nós, em nossa imperfeição, achamos que é o melhor pra nós). Acho que deveríamos aprender a não colocar a responsabilidade por nada do que nos acontece nos outros -- nem em Deus, nem em nenhuma outra pessoa (pois o que nos acontece na vida nada mais é do que uma reação à ação que tomamos anteriormente -- "para toda ação há uma reação oposta e de igual intensidade", já disse Isaac Newton). E -- mais importante -- acho que deveríamos aprender com tais altos e baixos a nos mantermos emocionalmente estáveis, sem tanto desespero pelo lado que chamamos de "ruim" da vida e, ao mesmo tempo, sem tanta euforia pelo lado que chamamos de "bom" da vida. Porque sempre as situações ruins serão sucedidas por situações boas, às quais se sucederão situações ruins, e assim sucessivamente. Acho que deveríamos nos lembrar de que não adianta nada chorar pelo leite derramado ou nos alegrarmos porque o leite não foi derramado: tudo está no caminho que foi planejado para nós e, principalmente, por nós mesmos.


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