28 de agosto de 2008

Mais análise política da situação no Cáucaso

(Original aqui.)

Em transição
Crise na Geórgia expõe limite da reação ocidental e evidencia necessidade de adaptar a diplomacia a uma nova realidade

A Rússia , como era previsto, não se contentou em dar notícia de sua reafirmação geopolítica com a operação militar na Geórgia. O Kremlin põe-se agora a redesenhar o mapa do Cáucaso de acordo com seus interesses.

O reconhecimento russo da independência das Províncias georgianas rebeldes da Ossétia do Sul e da Abkházia, ambas de maioria pró-Moscou, torna improvável que as fronteiras na região retornem ao status quo anterior à crise. A Rússia afirma ao mundo que eventual tentativa de promover a reintegração territorial da Geórgia poderia detonar um conflito entre as duas maiores potências nucleares.

Não foi despropositada, assim, a menção do presidente russo, Dmitri Medvedev, a uma "nova Guerra Fria". Ele aposta em um cálculo frio das potências ocidentais: o socorro à Geórgia não compensa todos os riscos associados a um choque frontal com a Rússia. E não se trata apenas de um raciocínio militar.

A realidade européia difere da que prevalecia na época do conflito entre dois blocos estanques, o capitalista e o socialista. Após a ruína da URSS a interdependência se impôs, e coube à Rússia o papel de fornecedor-chave de energia para as principais economias da Europa. Os próprios americanos não têm interesse em queimar pontes com o Kremlin, importante para lidar com questões delicadas para Washington, como a ascensão do Irã.

Defender até as últimas conseqüências a causa da Geórgia, ademais, fica mais difícil quando se sabe que coube ao presidente georgiano, Mikhail Saakashvilli, a provocação militar que deu início e pretexto à maciça reação russa. Tampouco cai bem no governo de George W. Bush o figurino de defensor intransigente da integridade territorial alheia.

A contenção do neo-expansionismo russo, portanto, vai depender de uma reorientação dos grandes vetores da diplomacia internacional, a fim de que se adaptem aos novos tempos. Se a dialética mecânica da Guerra Fria está há muito enterrada, a crise na Geórgia é mais uma evidência do estreitamento da margem de manobra dos EUA -que parecia não encontrar limites após a queda do Muro de Berlim.

Por coincidência, essa transição por que passam as regras do jogo internacional encontra os Estados Unidos em plena campanha presidencial. Se tiverem captado a nova realidade, tanto John McCain como Barack Obama entenderão que precisam virar a página da política externa comandada, durante oito anos, por George W. Bush.

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