31 de janeiro de 2007

Mais um filme

Hoje eu estava meio desanimado pra escrever. Até pensei umas duas ou três vezes no blog durante o dia, pensei em escrever algo, mas "escrever o que?" Estava sem inspiração e, além disso, estava com a mente ocupada montando os planos de ensino de todas as minhas turmas deste semestre (já que as aulas recomeçam na próxima segunda-feira, dia 5). No entanto, nada como ver um filme intelectualmente instigante para fazer com que as idéias passassem a borbulhar na minha cabeça a ponto de me fazerem vir aqui para escrever às 23 h, quando eu gostaria de estar entrando no banho.

O tema sobre o qual vou falar um pouco hoje tem sido recorrente na mídia desde o início do ano: mudanças climáticas. Já senti vontade de escrever sobre isto antes, mas achei que seria apenas "mais um", já que quase todo dia passavam notícias no Jornal Nacional e, em todos os domingos, tá passando uma série de reportagens sobre o tema no Fantástico. Mas, após ver o filme, resolvi escrever um pouco não especificamente sobre mudanças climáticas (apesar de que eu vou colocar umas coisinhas mais pro final do texto), mas mais sobre a questão política que está subjacente à questão climática.

O nome do filme do dia é "Uma verdade inconveniente". O filme é apresentado pelo Al Gore, ex-vice presidente dos Estados Unidos durante o período Clinton (1992-2000). Foi derrotado (injusta e incorretamente, na minha modesta opinião) nas eleições de 2000 pelo atual presidente dos EUA, George W. Bush (também conhecido como "mula" ou "jumento", se bem que isto é ofender os pobres dos animaizinhos). Uma análise do filme pode ser lida clicando-se aqui (apesar de que, pela primeira vez, não gostei muito da análise deste site).

O filme gira em torno, obviamente, das mudanças climáticas. Este filme esteve em cartaz nos cinemas brasileiros no final do ano passado, mas não sei precisar por quanto tempo (pois, assim que o filme entrou, eu viajei para MG e meio que perdi o contato com o mundo, hehehe). Eu não havia visto o filme no cinema, mas tinha ouvido (e lido) diversos comentários positivos sobre o mesmo. Sendo assim, peguei o filme e o assisti no final da tarde/início da noite de ontem.

O filme foi feito para chocar. Durante quase todo a sua duração, Al Gore joga no telão estatísticas e mais estatísticas provando por A + B que o gás carbônico realmente causa o efeito estufa e que este, por sua vez, causa mudanças climáticas que poderão ser irreversíveis. Uma destas estatísticas mostra que, se metade da Groenlândia e metade da parte ocidental da Antártida derreterem, mais de 100 milhões de pessoas no mundo ficarão desabrigadas por causa do aumento do nível dos mares (isto, é claro, sem contar o que os outros bilhões de pessoas sofrerão com tempestades e/ou secas, furacões e coisas do tipo).

Como disse anteriormente, não vou ficar falando sobre as mudanças climáticas em si, porque apesar de entender um pouco sobre o tema (já fiz um estágio no Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, há um tempo atrás), não é minha área específica. Quero me concentrar na politicagem que impede que ações mais positivas frente às mudanças climáticas sejam tomadas.

Por exemplo: mais para o final do filme, Al Gore mostra que um dos principais assessores de George W. Bush falsificou um documento do próprio governo americano. Neste documento, alarmava-se sobre os perigos do aquecimento global, e o assessor riscou o texto dizendo que "aquilo era apenas especulação científica" e que tal informação não deveria ser publicada. O filme mostra também a conexão direta entre membros do governo que trabalhavam (ou trabalham) na área ambiental e têm, ao mesmo tempo, tinham (ou têm) fortes ligações com a indústria petrolífera. A pergunta que fica no ar é: será que alguém que trabalha na indústria petrolífera, uma das principais responsáveis pelo aquecimento global, vai querer divulgar informações dizendo que a sua própria indústria é diretamente responsável pelos problemas ambientais atuais?

AInda na questão política, há um trecho do filme no qual Gore está fazendo uma apresentação na China. Lá ele conversa com algumas pessoas ligadas à área carbonífera e constata o que qualquer ambientalista teria pavor de saber: a China está sobre uma das maiores reservas mundiais de carvão, e -- é claro -- se utiliza do mesmo para financiar energeticamente seu crescimento (que, a título de curiosidade, ficou em 10,7% no ano passado -- o quarto ano seguido em que a China cresce mais de 10%). Ora, para qualquer pessoa que tem bom senso, dá pra imaginar a preocupação de Al Gore: o carvão é mais poluente ainda do que os derivados de petróleo; a China tem a maior reserva mundial do produto; a China tem 1,3 bilhão de habitantes, e uma parte considerável dos mesmos são ávidos por consumir cada vez mais; a China precisa de energia; a China tem problemas para conter seu crescimento exagerado (não estou zoando, é verdade); qual a possível conclusão de tudo isto junto? Muito simples: a China se tornando o segundo maior emissor individual de CO2 do mundo (atrás dos EUA que, por sinal, usam carvão em mais de 52% da sua geração de energia elétrica). Só que o "detalhe" é que a China é um país "em desenvolvimento", enquanto os EUA são desenvolvidos. No entanto, o que impede cada um dos 1,3 bilhão de chineses de querer ter o mesmo nível de vida que os 300 milhões de norte-americanos? Nada impede, a não ser uma coisa: o próprio planeta, que não dá conta de sustentar esta verdadeira ganância.

Outra coisa que achei interessante (ainda que não relacionada diretamente com política) foi Gore mostrando que as seguradoras já perceberam o aumento do valor pago devido a catástrofes naturais. Ele apresenta no filme um gráfico no qual é mostrado tal evolução, e fica bem claro que, a cada ano que passa, mais e mais desastres ambientais acontecem.

Em suma, vai ser interessante e, ao mesmo tempo, preocupante, assistir e analisar o jogo político por trás desta questão ambiental daqui pra frente. O filme mostra que o processo está acontecendo e, pior, está acelerado e, ainda, acelerado nas distorções que, em princípio, fogem de todos os padrões científicos no que diz respeito ao clima. Vai ser interessante ver como o governo federal americano vai se comportar enquanto mais e mais cidades americanas aderem individualmente ao Protocolo de Kyoto -- aquele protocolo para conter as emissões de poluentes que os EUA assinaram mas não ratificaram. Tanto vai ser interessante que o pai dos burros (e não é o Aurélio), em seu discurso na semana passada, defendeu que os EUA reduzam seu consumo de petróleo em 20%. Ainda que tal anúncio tenha motivações muito mais políticas, econômicas e geopolíticas que ambientais -- tanto que Bush defendeu o etanol feito de milho, que polui quase tanto quanto a gasolina --, não deixa de ser uma boa notícia indireta, já que os EUA são responsáveis por mais de 30% das emissões de gases poluentes na atmosfera.

Por fim, acredito ser interessante destacar algumas frases que estão disponíveis no site do filme, que já divulguei em outro post mas que repito aqui: www.climatecrisis.net. Estas estatísticas e informações estão disponíveis em inglês e foram traduzidas por mim mesmo. Algumas são válidas para nós, mas outras (como o aquecimento central dentro de casa, presente nos itens 5 e 7) já não valem pra todo mundo (porque nem todos no Brasil têm calefação em casa). O título do panfleto é "Dez coisas para fazer", e o texto é o que se segue:

Quer fazer alguma coisa para ajudar a parar o aquecimento global? Aqui estão 10 coisas simples que você pode fazer e o quanto de dióxido de carbono que você deixará de lançar ao fazê-las.

1) Mude a lâmpada. Ao trocar uma lâmpada comum, fosforescente, por uma lâmpada fluorescente compacta, você evitará que 68 kg de dióxido de carbono sejam lançados na atmosfera.

2) Dirija menos. Ande a pé, de bicicleta, de carona ou de transporte coletivo com mais freqüência. A cada 1 km que você não andar de carro, estará evitando que 0,226 kg de dióxido de carbono seja lançado na atmosfera.

3) Recicle mais. Você pode evitar que 1.088 kg de dióxido de carbono sejam lançados na atmosfera por ano reciclando apenas metade do lixo da sua casa.

4) Verifique os pneus do seu carro. Deixar os pneus de seu carro corretamente calibrados melhora o consumo em até 3%. Cada litro de combustível não gasto evita que 2,4 kg de dióxido de carbono sejam lançados na atmosfera.

5) Use menos água quente. Gasta-se muita energia para se aquecer água. Use menos água quente instalando um chuveiro de pequena vazão (menos 159 kg de dióxido de carbono lançados na atmosfera por ano) e lavando suas roupas com água fria ou apenas morna (menos 227 kg de dióxido de carbono lançados na atmosfera por ano).

6) Evite produtos com muitas embalagens. Você pode evitar que 545 kg de dióxido de carbono sejam lançados na atmosfera por ano se reduzir seu lixo em 10%.

7) Ajuste seu termostato. Movimente seu termostato apenas 2 graus para cima no inverno e, no verão, dois graus para baixo. Com este simples ajuste, você pode evitar que 907 kg de dióxido de carbono sejam lançados na atmosfera por ano.

8) Plante uma árvore. Uma única árvore absorve uma tonelada de dióxido de carbono durante toda sua vida.

9) Desligue equipamentos eletrônicos. Apenas desligando sua televisão, seu aparelho de DVD, seu aparelho de som e seu computador quando você não os estiver utilizando já evitará que milhares de kg de dióxido de carbono sejam lançados na atmosfera.

10) Divulgue a idéia! Encoraje seus amigos a ver o filme "Uma verdade inconveniente".

Para terminar: se alguém se interessar pelo filme e quiser ver, é só pedir pra mim. Realmente vale a pena ver a situação em que a natureza se encontra.


Nenhum comentário: