31 de janeiro de 2007

Finalmente algo sensato

Eu não gosto do nosso ministro da fazenda, Guido Mantega. Eu o considero desenvolvimentista demais, e realmente tenho um receio muito grande de que, se as "vontade políticas" dele fossem postas em prática, o Brasil perderia um pouco da sua atual estabilidade na esfera econômica. Sempre gostei do ex-ministro Pallocci, e agora que este está fora do governo, a última esperança está nas mãos do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

No entanto, na última segunda-feira o ministro "deu uma dentro": frente às diversas pressões divulgadas na mídia de que "o Brasil precisa crescer mais e seguir o ritmo de China, Índia e Rússia", o ministro afirmou que o Brasil não precisa crescer tanto quanto tais países. Copiei a matéria do site da BBC logo abaixo.

Surpreendi-me com tal frase não pelo que ela possa ter de polêmica -- de que o Brasil não precisa crescer tanto --, mas por ela ter vindo de quem veio. Nunca imaginei que o ministro Mantega fosse capaz de fazer tal declaração. No entanto, como não nasci ontem, não me deixo enganar: sei muito bem que ele diz isso devido ao cargo que ocupa e à orientação que o presidente Lula ainda segue -- a de Henrique Meirelles e de Antonio Pallocci. O ministro Mantega, por sua vez, sempre que pode dá uma alfinetada nos demais membros da equipe econômica, como fez na segunda passada, durante o lançamento do PAC.

A meu ver, o ministro "mandou bem" por um motivo muito simples, citado por ele na reportagem: os demais três países (China, Índia e Rússia) estão em graus de industrialização atrasados, em comparação com o Brasil. A China cresce porque só nos últimos 25 anos que começou a se industrializar. Além disso, tendo uma classe média de mais ou menos 250 a 300 milhões de habitantes, é claro que vai crescer (vale notar, entretanto, que proporcionalmente à sua população, a classe média chinesa é bem menor que a brasileira). Então, com tanta gente consumindo e com necessidade de atualizar e modernizar seu parque industrial, é claro que a China vai crescer. A Índia está mais ou menos na mesma situação: 60% de sua economia vem da agricultura, 12% da indústria e 28% dos serviços, enquanto no Brasil a proporção é, respectivamente, de 8%, 38% e 54%. A Rússia está também em recuperação: se considerarmos que de 1990 a 1998 o PIB russo "cresceu" -7,2% ao ano (ou seja, na verdade diminuiu durante toda a década de 1990), a média atual entre 1999 e 2006, de 6,7% ao ano, nada mais é do que uma recuperação do que foi perdido. Além disso, vale lembrar que a Rússia é a maior produtora mundial de petróleo e a maior (ou segunda maior, não me lembro) produtora mundial de gás natural. Ora, é claro que países assim irão crescer, e muito, e neste sentido a declaração do ministro é totalmente válida.

Não quero dizer com isto que a economia brasileira está "a mil maravilhas". De forma alguma. É claro que diversos ajustes precisam ser feitos, e é claro que o Brasil tem espaço para crescer mais do que está crescendo. Mas vale lembrar que os países desenvolvidos, especialmente europeus, ficam extremamente felizes quando crescem 2% ao ano. Por que? Porque são economias consolidadas, desenvolvidas, nas quais não tem mais muito espaço pra crescer. E é inegável que o Brasil, dos países em desenvolvimento, é um dos que tem o parque industrial mais desenvolvido. Então, é claro que o país pode crescer mais, pode se desenvolver mais, mas sem esta verdadeira "neura" que a imprensa brasileira vem tendo neste início de ano no sentido de "crescer a todo custo". Tentativas de crescer de qualquer jeito já foram feitas inúmeras vezes em nosso país, e a coisa sempre foi buraco abaixo. É melhor, portanto, ter um crescimento moderado, porém constante, do que crescer muito em um período e nada, ou até mesmo ter crescimento negativo, em outro.

29 de janeiro, 2007 - 20h56 GMT (18h56 Brasília)

Rogério Wassermann
De Londres

Mantega: Brasil não precisa crescer como Índia e China

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta segunda-feira em Londres que o Brasil não tem condições nem precisa crescer nos mesmos níveis da Índia e da China.

"Não precisamos crescer a 10% ao ano e nem temos condições para isso", afirmou Mantega.

O ministro argumentou que só países com mercados consumidores internos relativamente pouco desenvolvidos e num estágio menos avançado de industrialização conseguem crescer a taxas tão elevadas.

Mantega sugeriu que o Brasil está partindo de um estágio econômico mais avançado e usou uma metáfora automobilística para falar do crescimento brasileiro.

"Agora temos um carro melhor com uma estrada boa e podemos aumentar a velocidade de 80 km/h para 120 km/h."

Investimentos

Em relação aos investimentos públicos, o ministro da Fazenda disse que, embora o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) projete um aumento dos atuais 0,6% para 1,1% do PIB em 2007, esse porcentual pode chegar a 2% ou 2,5% se somados os investimentos das empresas estatais.

Segundo Mantega, apesar de a taxa de investimentos públicos ser de cerca de 10% na Índia e na China, "não cabe às condições do Brasil algo dessa magnitude".

O ministro descartou também comparações com a Argentina, que segundo ele, conseguiu ter elevadas taxas de crescimento nos últimos anos apenas porque está se recuperando da crise de 2001/2002.

"Temos que olhar as nossas condições e objetivar o máximo possível", disse o ministro.

"Com um crescimentom médio de 5% ao ano, será possível gerar empregos, fortalecer o mercado interno e o Brasil se tornar uma das maiores economias do mundo."

Encontro com Gordon Brown

Mantega reuniu-se nesta segunda-feira com o ministro das Finanças britânico, Gordon Brown, na residência oficial do britânico, no número 11 da Downing Street.

Segundo Mantega, o principal objetivo no encontro com Brown foi conhecer o sistema de confecção do Orçamento introduzido há dez anos pelos trabalhistas britânicos, e que permite ao governo aumentar seus gastos com investimentos sem comprometer o equilíbrio fiscal.

As regras adotadas na Grã-Bretanha na década passada determinam que o governo não pode se endividar a não ser para custear investimentos e estabelecem um teto para o endividamento público.

No caso do Brasil, disse Mantega, o governo não pretende se endividar para custear investimento. "O Brasil teve que conquistar a confiança dos investidores e não tem como fazer o mesmo que a Grã-Bretanha", afirmou o ministro.

Segundo ele, os dois governos coincidem na filosofia de que o investimento é um ativo, não um passivo.

"O modo de implementar é diferente, porque não vamos aumentar endividamento. Os dois governos concordam que o Estado precisa fazer mais investimentos não para substituir o setor privado, mas para melhorar as condições criadas pela globalização"

O conceito já foi utilizado em parte na confecção do PAC, que destina meio ponto percentual do PIB para investimentos considerados essenciais sem que esse gasto seja deduzido das contas para o superávit primário.

Mantega diz ter conversado com Brown também sobre a Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), relançada neste fim de semana durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

Brown teria reiterado a intenção do governo britânico de contribuir para o sucesso das negociações.

Além disso, os dois trataram das Parceria Público Privadas, as PPPs, outro conceito britânico que serviu de modelo ao governo brasileiro.

Mantega e Brown discutiram, por exemplo, a dificuldade de estabelecer uma remuneração justa os investidores privados.

Finalmente, os ministros concordaram com a formação de um grupo técnico regular de discussões entre Grã-Bretanha e Brasil para tratar de iniciativas comuns, incluindo a proposta de um fundo internacional de vacinação.

Gordon Brown é considerado o provável sucessor do atual primeiro-ministro, Tony Blair, quando este deixar o cargo neste ano.


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