1 de junho de 2007

Lula: 'Chávez tem que cuidar da Venezuela'

(Original aqui)

Em Londres, o presidente comentou crítica de Chávez ao Congresso Brasileiro.
Ele disse que 'cada um tem responsabilidade pelo que fala'.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta (1º), em Londres, que "o [presidente venezuelano, Hugo] Chávez tem que cuidar da Venezuela, eu tenho que cuidar do Brasil, o [presidente dos EUA, George] Bush tem que cuidar dos Estados Unidos e assim por diante", de acordo com informações da Agência Brasil.

Lula foi informado por jornalistas de que Hugo Chávez criticou o Congresso Brasileiro devido aos senadores terem aprovado requerimento contra o fechamento da RCTV pelo governo venezuelano. Para Chávez, o Congresso brasileiro "repete como um papagaio" o que diz o Congresso americano em relação à situação venezuelana.

"Eu não posso falar de um discurso de um chefe de Estado só porque você está me fazendo a pergunta. Numa situação dessas, não sei se o Chávez falou ou não falou. Se ele falou, certamente o embaixador em Caracas vai comunicar o Itamaraty. E depois é o seguinte: todos nós somos adultos e cada um tem responsabilidade pelo que fala", disse Lula ainda de acordo com a agência.

Aos jornalistas, o presidente disse que "cada país faz aquilo da forma mais soberana que puder. No caso do Chávez, é um problema do Chávez com a televisão, a legislação da Venezuela. Não é um problema do Brasil. O problema do Brasil é outro, aqui temos uma prática extremamente democrática com a imprensa, e ela está consolidada. Acho que cada país tem que ter soberania para fazer o que tem que ser feito. Nada mais que isso."

Horas depois das declarações de Lula em Londres, o Itamaraty divulgou nota oficial repudiando as declarações de Chávez. Diz que o presidente Lula determinou a convocação do embaixador da Venezuela no Brasil para que sejam obtidos os "indispensáveis esclarecimentos".

Congresso

Os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), repudiaram nesta sexta as declarações de Chávez. Para Renan, Chávez está na "contramão" da democracia. Já Chinaglia disse que o venezuelano "errou gravemente".

"Um chefe de estado que não sabe conviver com manifestações democráticas como a do Senado é porque, provavelmente, está na contramão da democracia", afirmou Renan.

"Não cabe a ele (Chávez) fazer esse julgamento. O Congresso brasileiro foi eleito pelo povo e deve prestar contas ao povo", disse Chinaglia. "Chávez erra gravemente ao atribuir ao Congresso uma subordinação que não existe (aos EUA) por um outro poder, nem por qualquer poder estrangeiro", ressaltou o petista.

Renan, que apareceu no Senado nesta sexta somente para rebater Chávez, afirmou ainda que a Casa não vai se manifestar oficialmente sobre as declarações do venezuelano. "Não haverá resposta oficial porque é papel do Senado reagir com indignação toda vez que em qualquer fronteira em que os valores democráticos forem abalados", disse.

"Qualquer movimento contra a democracia, a liberdade de imprensa, o Senado repudiará", ressaltou.

Senado

Antes de Renan, outros senadores também repudiaram Chávez. O primeiro foi o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Casa, Heráclito Fortes (DEM-PI), que, em plenário, considerou um "desrespeito" a afirmação do venezuelano.

"Tenho pena do pacato e bom povo da Venezuela. Se toda essa pirotecnia do sr. Hugo Chávez fosse em benefício das melhorias sociais daquele povo, da diminuição dos desequilíbrios sociais daquela gente até que se justificaria, mas é uma pirotecnia que beira o rumo da paranóia", disse Fortes.

"O sr. Hugo Chávez, depois de interferir no Judiciário venezuelano, de garrotear o parlamento venezuelano e de alterar a Constituição, possibilitando reeleições infinitamente, quer agora atingir e agredir os países vizinhos", ressaltou. "Faço este registro lamentando o desrespeito desse aprendiz de ditador", disse Heráclito.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), também comentou as declarações do presidente da Venezuela. "É preciso entender que todos os países são independentes. O Congresso brasileiro tem o direito e o dever de zelar pela democracia na América do Sul", disse.

"O Congresso representa a autonomia do povo brasileiro. Não representa nenhum país, muito menos os EUA".

Outro senador que falou sobre o assunto foi Valter Pereira (PMDB-MS). "Nós temos a liberdade de imprensa com um patrimônio universal. E os congressistas não podem abrir mão disso", disse.

Segundo o presidente da Venezuela, "no Congresso do Brasil, lamentavelmente dominam os partidos de direita, então assistimos a uma declaração (do Senado) me instando a devolver a concessão àquela emissora".


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