27 de julho de 2007

Turbulência mundial

(Original aqui)

Há dois problemas em torno dessa turbulência mundial nos mercados.

O primeiro está no campo da, digamos, economia real nos Estados Unidos. As famílias, já endividadas e com rendas menores, estão comprando menos casas e apartamentos e também reduziram o ritmo de início de novas obras. Construção civil é poderoso fator de crescimento econômico em qualquer país, mas muito especialmente nos Estados Unidos. Com juros muito baixos e eficiente sistema de financiamento e hipotecas, as famílias americanas passam boa parte da vida pagando a prestação da casa própria. Compram uma, pagam parcialmente, vendem, refinanciam e assim vai.

E dá-lhe cimento, ferro, aço, plásticos, madeiras, vidros, material elétrico, produção e comércio ativos.

Quando os juros sobem e esse negócio se retrai, a atividade econômica sente imediatamente.

Em resumo, há uma redução de crescimento nos EUA, por causa do setor imobiliário, principalmente, e isso afeta o mundo todo.

Por outro lado, há o problema financeiro. Os EUA e o mundo vieram tão bem nos últimos anos, desde 2003, que os investidores perderam o medo de sofrer prejuízos. Ficou parecendo que todos os negócios dão certo e sempre se ganha dinheiro.

Não é bem assim, como sabemos ou um dia aprendemos.

Mas na onda do tudo bem, pessoas e empresas tomaram muitos empréstimos, bancos concederam excesso de crédito.

No sistema imobiliário, por exemplo: a pessoa toma dinheiro emprestado para comprar uma casa. O banco não fica com esse crédito (dinheiro a receber, um ativo) em sua contabilidade. “Vende” a outros investidores (1 milhão a receber em dez anos pode valer uns 800 mil hoje) ou dá esse crédito em garantia de outros negócios.

Se o primeiro tomador de empréstimo não paga, se o banco recupera a casa e não consegue vendê-la ou só consegue a preço inferior ao do financiamento, ocorre não um prejuízo, mas uma cadeia de prejuízos.

Algo parecido ocorre com as fusões e aquisições, tão frequentes nos últimos anos. O fundo de investimento 1 toma dinheiro emprestado no banco A para comprar a companhia Alfa. A garantia está nas ações da companhia Alfa, a um dado valor. O banco A comercializa esse crédito garantido com outros investidores, isto é “vende” para outros fundos de investimento ou outros bancos. O fundo de investimento 1, da primeira compra, naturalmente espera que as ações da companhia Alfa se valorizem, para vendê-las de novo e pagar ao banco A .

E se as ações caem? E se os demais investidores entendem que o negócio ficou arriscado demais e se recusam a comprar o crédito do banco A? (Foi o que aconteceu com o banco que emprestou para um fundo de investimento comprar a Chrysler americana. Analistas acreditam que há cerca de US$ 300 bilhões, só nos últimos meses, desses empréstimos que diversos bancos não conseguiram revender. Por isso, as ações de grandes bancos caíram).

De novo, prejuízos seguem caindo como pedras de dominó.

Está todo mundo alavancado, ou seja, investindo com o dinheiro dos outros. O fundo pega dinheiro emprestado no Japão (os juros mais baratos) e compra ações no Brasil ou na China ou nos EUA. As ações caem ou ameaçam cair, bate o nervosismo, o fundo tem de vendê-las para cobrir o empréstimo de origem. Se não consegue fazer isso a tempo, compromete o emprestador de primeira instância.

Por isso o nervosismo se espalha em determinados momentos e leva às chamadas “ordens de venda” pelo mundo afora, o “stop loss” – cortar prejuízos, ou seja, vender mesmo com perdas para evitar perdas maiores.

Nessas situações, a manada pode ir toda para o abismo ou parar quando muitos percebem que os negócios reais vão bem. Nestes dias, por exemplo, houve muitos casos de empresas cujas ações despencaram nos pregões das bolsas, enquanto seus balanços mostravam resultados exuberantes (mais vendas, lucros e investimentos).

E todos os prognósticos indicam que o mundo está em crescimento e continuará assim no ano que vem.

Tudo bem?

Não. Crises financeiras podem levar a perda de riqueza e redução de investimentos (e pois, de crescimento) pelo mundo afora.

A ver.

Com um detalhe importante: o governo Lula até aqui só encontrou um cenário mundial de ótimo para melhor. Como se sairá diante de uma crise internacional? Se o padrão é esse que conhecemos...


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