28 de outubro de 2007

Desabafos de um coitado

Sinto-me pressionado por todos os lados. Sou pressionado no meu trabalho pelo meu chefe, sou pressionado pelas minhas mulheres. Estou cansado de tanta pressão e quero descansar.

Gostaria de poder fugir para outra parte deste enorme mundo no qual vivemos. Gostaria de ter outra vida, de ter outras possibilidades de escolha para além desta minha vidinha chata e cansativa. Gostaria de poder desbravar o mundo sem nenhum tipo de restrição ou de questionamento por parte dos outros. Gostaria de ser livre.

Estou cansado da minha rotina. Todo dia acordo cedo e vou trabalhar. Trabalho até à noite, quando chego em casa e ainda tenho de ouvir coisas desagradáveis daqueles que estão em casa. Ganho pouco, e o pouco que ganho não me permite jogar tanto quanto eu gostaria de fazer.

Estou cansado das minhas mulheres. Não bastasse minha esposa me importunando todos os dias por causa de nossos parcos recursos, minhas quatro amantes também reclamam. Reclamam por mais tempo e atenção. Mas se não tenho como sustentar minha própria família, que me diga sustentar as amantes! Reclamam que só penso em trabalhar, mas quando preciso delas para alguma coisa, elas somem, como a água que escorre por dentre os dedos de minha mão.

Gostaria de fugir. Gostaria de ir para algum lugar para além das montanhas e, lá, na imensidão do desconhecido, gostaria de descansar. Gostaria de ficar sozinho por um momento apenas, de forma a pôr em ordem os pensamentos e os sentimentos. Gostaria de poder largar tudo e viver a vida que sempre sonhei, sem pressões, sem o barulho da cidade, sem a correria infernal que se apoderou dos homens nestes tempos modernos. Mas não posso; é o que chamam de progresso.

O texto acima se refere à transcrição de um trecho de uma carta de um operário russo da cidade de Omsk em 1816. Interessante como as preocupações de então, há quase duzentos anos atrás, preocupações de um indivíduo que se situava em uma conjuntura política, econômica e social bastante diferente da de hoje, podem ser consideradas como típicas do homem contemporâneo...


2 comentários:

Leandro Coelho disse...

Ai ai... "eu sou o Matheus, não aguento esse bando de mulher me secando, me consumindo... EU esse pedaço de mal caminho".

Cuidado para não ficar só pele e osso de novo, hein mulek!

Leandro Coelho disse...

Bem, cá entre nós, deu pra ver que não tinha lido o post todo para fazer o comentário anterior né?

Enfim, porra da mania de querer fazer as coisas correndo, só se fodendo para aprender a não baixar a qualidade do que se faz. Mesmo que seja ler.