26 de fevereiro de 2007

De novo sobre a justiça

Não sei o que me leva a escrever sobre o tema agora. Estou escrevendo de uma maneira muito reduzida, e tenho a intenção de escrever como Platão chegou a tal conclusão com mais detalhes. Mas isto ficará para algum momento no futuro.

Por justiça, Platão entendia ser a obrigação da sociedade em abrigar e encontrar uma função, a mais adequada possível, de acordo com as inclinações naturais de cada indivíduo, aperfeiçoadas pela educação. Neste sentido, os que têm coragem devem ser utilizados como os guardiões ou guerreiros da sociedade; os que são dominados predominantemente pelos seus apetites, devem ser os trabalhadores; os dotados de razão e de inteligência devem assumir o governo da sociedade como archontes (rei-filósofo).

A idéia de Justiça para Platão não estava comprometida necessariamente com o princípio da equanimidade, isto é, da igualdade de todos perante a lei: uma sociedade justa era apenas aquela proporcionava o lugar exato a cada um, de acordo com seus merecimentos. Além disso, para haver justiça cada homem deveria ser bom e sábio consigo mesmo, com os demais e com sua cidade. Se isto não estivesse presente, a sociedade cairia em ruínas.

Semelhanças com o mundo atual?


Reflexão

Às vezes paro pra pensar: isto tudo vale a pena? Pra que tudo isso? Pra que o jogo de ilusões -- que trazem bons e maus momentos alternadamente? Pra onde isso vai me (nos) levar?


25 de fevereiro de 2007

Sugestão de leitura

Talvez o sr. Eduardo Grillo devesse ler o blog do William Waack, seu companheiro dentro das Organizações Globo. A propósito, coloco abaixo um texto do Waack sobre a "geopolítica sem importância" (original disponível aqui).

Crise nuclear do Irã é verdadeiro desafio para os EUA hoje

É inevitável uma ação militar envolvendo, de um lado, Israel e os Estados Unidos e, de outro, o Irã? Ainda não se pode dizer que seja, mas o relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), de Viena, divulgado nesta quinta feira (22), dá a Tel Aviv e Washington a base para dizer que algo precisa ser feito, e rápido.

Os americanos sugerem sanções econômicas ainda mais duras, apesar de saberem perfeitamente que o Irã, com o barril do petróleo em torno dos US$ 60, tem gordura suficiente para queimar durante muito tempo de sanções. É bom lembrar que o Irã já vive sob vários tipos de sanções desde que guardas revolucionários invadiram a embaixada americana em Teerã, em novembro de 1979.

O relatório da AIEA é duro com os iranianos. Os inspetores da Agência (que tem excelente reputação, sobretudo pelo trabalho que fizeram no Iraque antes da invasão americana) recusaram-se a fornecer ao regime dos aiatolás um atestado de nada consta. Legalmente, isto é, dentro dos tratados e acordos internacionais que assinaram (o Tratado de Não Proliferação, por exemplo), os iranianos podem dizer que nada fazem de errado.

Mas eles desrespeitaram um ultimato, estabelecido dois dias antes do último Natal, para suspender as atividades de enriquecimento de urânio. Essas atividades já estão bem próximas da escala industrial, da qual os iranianos afirmam necessitar para abastecer com combustível nuclear os reatores que ainda nem acabaram de construir. Em compensação, os iranianos suspenderam todo tipo de experimento com reprocessamento (de onde sai o plutônio, e que costuma ser o meio mais rápido para se chegar à bomba).

A crise nuclear em torno do Irã é o verdadeiro desafio para os Estados Unidos - e Israel. O desastre no Iraque reduziu fortemente as opções dos americanos. O Irã é hoje a principal potência do Oriente Médio (depois de Israel) e ocupa uma posição geopolítica de inigualável importância, além das reservas de petróleo e gás. A influência direta do Irã se estende hoje de Herat, no Afeganistão, a Bagdá, no coração do Iraque - acentuando uma ironia que não escapou aos historiadores: é mais ou menos a mesma extensão territorial que alcançava, há uns 500 anos, o último grande império muçulmano a partir do que hoje é o Irã.

Se é pouco o que os americanos podem fazer do ponto de vista político, do ponto de vista militar é pouco também. Em 1981, quando atacou (no meio da guerra entre Irã e Iraque) um reator experimental que Saddam construíra no centro do país, a aviação israelense tinha um só alvo. No caso do Irã, são muitos, bastante espalhados, e não há garantia alguma de que um golpe militar possa interromper o que se supõe que seja o esforço iraniano de chegar a uma bomba.

Pior ainda: os iranianos têm como perturbar fortemente o fluxo de petróleo para os principais países ocidentais, e como desestabilizar ainda mais uma região que vai caminhando gradativamente para a beira de um conflito incontrolável, capaz de arrastar não só o Irã mas também países como a Turquia, a Síria e a Arábia Saudita, para mencionar apenas alguns.

Com enorme preocupação sobre tudo, analistas europeus apontam para as evidências da preparação de algum tipo de ação militar por parte dos americanos. O medo é generalizado: China e Rússia mostram-se também bastante nervosas com o comportamento dos iranianos, e mais ainda com a incapacidade de prever o que George W. Bush acabará decidindo. No momento, ele parece, mais uma vez, disposto a ignorar a maioria das opiniões, que são contrárias a uma ação militar contra o Irã.

Assessores do presidente americano estão comparando a situação de Bush ao isolamento que Winston Churchill vivia em 1938 - uma das poucas vozes, então, que dizia que tentar pacificar Hitler e Mussolini era a melhor maneira de se chegar à guerra (e os fatos mostraram que Churchill tinha toda razão). Aqui só cabe uma frase, que apesar de tão usada e abusada continua tão boa: todos sabemos que a história só se repete como farsa.


Leve irritação

Acho que todos que me conhecem sabem que eu adoro assistir ao "Jornal das 10", na Globonews. Aliás, entristece-me o fato de que, com o reinício das aulas, eu não poderei mais assistir a tal jornal com tanta freqüência. Mas não é sobre isto que quero falar agora.

O que me motivou a vir aqui hoje foi uma frase dita pelo Eduardo Grillo (apresentador que geralmente substitui o excelente André Trigueiro aos domingos). O jornal começou falando do Oscar 2007. Até aí problema nenhum, eu mesmo gostaria de poder assistir à premiação hoje à noite. O problema veio com o que ele falou depois. Foi algo mais ou menos assim: "Saindo do mundo de glamour e tranqüilidade do Oscar e indo ao mundo menos importante da geopolítica mundial...", e então apresentou uma reportagem sobre os recentes "conflitos" entre Irã e EUA.

A irritação é simples: como pode um apresentador de um excelente jornal dizer que a geopolítica mundial é pouco importante, ainda mais a geopolítica envolvendo os EUA, a Europa e o Oriente Médio? Onde este cara estava com a cabeça?

É uma pena que um apresentador faça este tipo de comentário! Acredito que ele foi extremamente infeliz ao fazê-lo. Talvez ele devesse ler o blog da minha amiga Kamila e o post que ela fez hoje sobre a soberania dos estados. Ele (o apresentador) deveria ter mais tato e perceber que a "geopolítica sem importância" pode, de uma maneira muito concreta, atingir a "vidinha" dele no Rio de Janeiro!


Estou triste

Hoje acabou-se o horário de verão. Há quem não goste e ache o horário de verão ruim.

Eu gosto.

Tanto gosto que acho que o país poderia economizar ainda mais se o horário de verão fosse mais comprido ainda do que os meros 4 meses. Hoje mesmo reparei: eram 19:30 h (ou seja, na verdade 18:30 h) e o sol ainda estava forte. O sol se pôs por volta de 20 h. Poderíamos ter o horário de verão por mais umas duas semanas, no mínimo, creio eu. Uma pena que acabou.


22 de fevereiro de 2007

Dobram os juros no Japão

O Banco Central do Japão, diante de sinais de crescimento da economia acima do esperado, resolveu dobrar sua taxa básica de juros.

Foi de 0,25% para 0,5%.


E eis que o ano começa...

Não apenas para mim, mas creio que para a grande maioria dos brasileiros.

Infelizmente, em nosso país, temos a tradição de deixar tudo "pra depois do carnaval". Todos temos, não estou me excluído. Amigos e colegas perguntavam quando vou comprar meu carro, e eu sempre dizendo "depois do carnaval eu penso nisso". O presidente Lula dizendo que não tem pressa pra fazer a reforma ministerial; "deixa pra depois do carnaval". Nós brasileiros temos a idéia de que as coisas só começam a funcionar depois do carnaval e, em um círculo vicioso (seria a força do pensamento? Eu acredito nisso), as coisas só funcionam mesmo depois do carnaval.

E não é que, pela primeira vez, o ano realmente começou pra mim só depois do carnaval? Hoje foi o primeiro dia de aula na Faculdade Projeção. Eu já havia dado aula antes, mas foram casos isolados -- em um fim de semana, em uma pós-graduação (não em um curso regular), e um dia nas Faculdades Espam (mas na sexta passada não dei aula porque pedi para ser dispensado, já que existia a possibilidade de eu viajar). Em resumo, só agora que a coisa começa mesmo.

Primeiro dia sempre é divertido. A gente entra na sala e tá todo mundo quietinho, sentadinho no seu canto, poucos olham pro lado... É interessante ver a cara de novidade dos alunos, cuja maioria acabou de sair do segundo grau (recuso-me a dizer "ensino médio"). Atentos, tão quietinhos, tímidos... Ah, se fossem assim pelo semestre inteiro, seria tão bom...

Do lado de cá, não tem jeito: em todo início de semestre, em todas as primeiras aulas, de todas as turmas, sinto um friozinho na barriga. Como serão os alunos? O que acharão? O que vão pensar? Serão bagunceiros? Ou serão devagar, quase parando? Será que me lembro de tudo que devo falar em sala de aula? Será que já vai dar pra começar com algum conteúdo?

Primeiro dia de aula sempre é divertido, tanto no sentido de mim comigo mesmo quanto no sentido de relacionamento com a turma. Ao final da manhã, professor e turma mais soltos, primeiros sorrisos, primeiras brincadeiras e -- para minha alegria -- primeiros comentários não inúteis. Alunos já debatendo o papel da ciência no acúmulo de conhecimento no mundo contemporâneo. Não gosto de criar expectativas e/ou de fazer pré-julgamentos, mas parece que esta turma vai ser muito boa.

Pela primeira vez, meu primeiro dia foi como professor de outra disciplina que não aquela na qual me formei: dei aula de Metodologia Científica. Disciplina que, a propósito, gosto muito -- ela é a consequência da evolução empírica da Filosofia, da qual gosto mais ainda. Daqui a pouco será a primeira turma de Introdução à Ciência Política. Sinto-me à vontade nas duas disciplinas, mas até mesmo pelo conteúdo, sinto-me mais satisfeito na Ciência Política -- pois, como é fácil incluir temas polêmicos, acabo conseguindo provocar mais os brios de meus alunos desta disciplina do que aqueles de Metodologia.

Mas o mais divertido do dia foi perceber como as pessoas mudam seu comportamento quando são alunos. Uma das pessoas que está na cúpula diretora do Projeção -- portanto, hierarquicamente acima de mim -- é minha aluna no NDA, onde dou aula de pós-graduação. Foi divertido -- no bom sentido, não no sentido de deboche -- ver esta pessoa dando um sermão pra alguns professores e, ao me ver -- chegando atrasado --, vir pedir desculpas por ainda não ter me entregue o trabalho que pedi...

À noite terei mais "emoções" a serem compartilhadas!


17 de fevereiro de 2007

Para pensar

"- Queria que nada disso tivesse acontecido!"

"- É o que dizem todos os que vivem para ver épocas como esta, mas não cabe a eles decidirem. Tudo o que você tem de decidir é o que fazer com o tempo que lhe é concedido."


O que é a justiça?

Não há uma resposta exata para tal pergunta. No entanto, com o objetivo de trazer certa luz a tal pergunta, irei colocar alguns excertos de alguns autores sobre o tema. O primeiro deles é um dos meus preferidos: Platão. Em seu livro "A República", Platão trata do tema de maneira a buscar a justiça para a cidade ideal. Abaixo, algumas poucas frases sobre o assunto. (Os números entre parênteses se referem ao número da página da qual a citação foi retirada. Referências: PLATÃO. A República. São Paulo: Ed. Martin Claret, 2003)

O que é justiça?

  • Consiste na verdade e em restituir aquilo que se tomou de alguém ou que essas mesmas coisas, umas vezes é justo, outras injusto fazê-las? (Pág. 15).
  • O pensamento de Simônides era, aparentemente, que a justiça consistia em restituir a cada um o que lhe convém, e a isso chamou ele restituir o que é devido (...). A justiça consiste em fazer bem aos amigos e mal aos inimigos? (Pág. 17).
  • A justiça é inútil quando nos servimos dela, e útil quando não nos servimos. (...) Então a justiça não poderia ser uma coisa lá muito importante, se se dá o caso de ser útil para as coisas que não são utilizadas. (Pág. 19).
  • A justiça é uma espécie de arte de furtar, mas para vantagem de amigos e dano de inimigos. (Pág. 19).
  • É justo fazer bem a um amigo bom e mal a um inimigo mau? (Pág. 21).
  • O homem justo é bom? – Absolutamente. – Então, Polemarco, fazer mal não é a ação do homem justo, quer seja a um amigo, quer a qualquer outra pessoa, mas, pelo contrário, é a ação de um homem injusto. (...) Em caso algum nos pareceu que fosse justo fazer mal a alguém. (Pág. 21-22).
  • Trasímaco: Cada governo estabelece as leis de acordo com a sua conveniência: a democracia, leis democráticas; a monarquia, monárquicas; e os outros, da mesma maneira. Uma vez promulgadas essas leis, fazem saber que é justo para os governos aquilo que lhes convém, e castigam os transgressores, a título de que violaram a lei e cometeram uma injustiça. Aqui tens, meu excelente amigo, aquilo que eu quero dizer, ao afirmar que há um só modelo de justiça em todos os estados, o que convém aos poderes constituídos? Ora, estes é que detêm a força. De onde resulta, para quem pensar corretamente, que a justiça é a mesma em toda a parte: a conveniência do mais forte. (Pág. 25).
  • Nenhum chefe, em qualquer lugar de comando, na medida em que é chefe, examina ou prescreve o que é vantajoso a ele mesmo, mas o que o é para o seu subordinado, para o qual exerce sua profissão, e é tendo esse homem em atenção, e o que lhe é vantajoso e conveniente, que diz o que diz e faz tudo quanto faz. (Pág. 30).
  • O justo revela-se-nos como bom e sábio, e o injusto, como ignorante e mau. A justiça é virtude e sabedoria, e a injustiça maldade e ignorância. (Pág. 38).
  • A injustiça parece ter uma força tal, em qualquer entidade em que se origine, quer seja um estado qualquer, nação, exército ou qualquer outra coisa, que, em primeiro lugar, a incapacita de atuar de acordo consigo mesma, devido às dissensões e discordâncias; e, além disso, tornam-na inimiga de si mesma e de todos os que lhe são contrários e que são justos. (Pág. 40).
  • Diremos também que existe uma virtude da alma? – Sim. – Então, Trasímaco, a alma algum dia desempenhará bem as suas funções, se for privada da sua virtude própria, ou é impossível? – É impossível. – Logo, é forçoso que quem tem uma alma má governe e dirija mal, e quem tem uma boa, faça tudo isso bem. – É forçoso. – Não concordamos que a justiça é uma virtude da alma, e a injustiça, um defeito? – Concordamos, efetivamente. – Então, a alma justa e o homem justo viverão bem, e o injusto, mal. – Assim parece, segundo o teu raciocínio. – Mas sem dúvida o que vive bem é feliz e venturoso, e o que não vive bem, inversamente. – Como não? – Logo, o homem justo é feliz, e o injusto é desgraçado. – Seja – respondeu. – Contudo, não há vantagem em se ser desgraçado, mas sim em se ser feliz. – Como não? – Então jamais a injustiça será mais vantajosa do que a justiça, ó bem-aventurado Trasímaco! (Pág. 42-43).

16 de fevereiro de 2007

A importância de Meirelles no BC

Há um tempo atrás, defendi a manutenção do atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Escrevi também sobre a necessidade da área monetarista do governo "vencer" a área desenvolvimentista, pois esta última trabalha inevitavelmente com o aumento da inflação.

Por que defendi e defendo tal posição, explicitada no post abaixo? Vejam o caso da Venezuela: é o país que mais vem crescendo na América Latina (8,8% ao ano). Cresce como? Por meio de uma agenda desenvolvimentista, na qual o Estado investe pesado -- gasta muito -- para dar a tão sonhada infra-estrutura ao país.

Qual o resultado? Inflação de 17% no ano de 2006, considerada muito alta para países com economias estáveis. A inflação mais alta da América Latina. Prejudicial a ponto do governo Hugo Chavez ter tomado a decisão de cortar três zeros do bolívar, a moeda venezuelana.

Pergunto: de que adianta crescer 8,8% com inflação de 17%? Houve crescimento real?

Eu não quero tal situação no Brasil. Por isso defendo ao máximo a permanência de Meirelles no BC e de Paulo Bernardo à frente do Ministério do Desenvolvimento, para poderem fazer frente à toda-poderosa Dilma Rousseff e ao poderoso Guido Mantega.