23 de abril de 2007

Morre o ex-presidente da Rússia Boris Yeltsin

Notícia foi confirmada pelo Kremlin nesta segunda-feira (23).
Ele tinha 76 anos e morreu de 'falência cardíaca', segundo autoridades russas.

Morreu nesta segunda-feira (23) o ex-presidente da Rússia Boris Yeltsin, aos 76 anos, de falência cardíaca. Yeltsin foi o primeiro chefe de Estado russo depois da queda da União Soviética. Ele sofreu uma falência vascular e coronariana e morreu no Hospital Central de Moscou.

Segundo informações dadas pelo Kremlin, Yeltsin morreu "repentinamente". Ele governou o país de 1991 até 1999.

Yeltsin vai ser lembrado como uma figura contraditória. Ele participou do progresso de abertura política que levou ao fim do comunismo, mas, uma vez no poder, adotou atitudes despóticas e acabou levando a Rússia para uma debilitada situação econômica, com aumento do desemprego e da inflação.

Yeltsin começou a aparecer no cenário internacional quando a política de abertura promovida por Mikhail Gorbachev, o presidente da então União Soviética, ficou ameaçada.

O golpe planejado pela linha dura do exército comunista, em 1991, levou o povo às ruas de Moscou. Mulheres e homens de todas as idades enfrentaram os tanques em cenas impressionantes.

Ele liderou a resistência popular que acabou mudando o mapa do leste europeu. A tentativa de golpe tirou Gorbachev e a "perestroika" (reforma econômica) de cena, mas consolidou o desejo dos russos pela democracia.

Depois do colapso da União Soviética, Yeltsin se tornou o primeiro presidente eleito pelo voto democrático na Rússia, a república mais importante da antiga potência comunista. O novo governo abriu as portas do país ao capitalismo neoliberal. Mas a liberalização da economia e a democratização política acabaram custando caro.

Com Yeltsin, os russos conheceram o desemprego e a inflação. A corrupção minou as estruturas do Estado. A fome passou a atingir todas as categorias sociais e todos os setores da vida russa. Além da insatisfação popular, ele enfrentou uma batalha política nos primeiros tempos do seu governo.

Em 1993, a oposição se amotinou no parlamento, num desafio ao presidente. Sob o comando de Yeltsin, os tanques bombardearam o prédio.

No final do mesmo ano, Yeltsin não hesitou em lançar uma violenta ofensiva contra os separatistas da República da Chechênia.

A postura corajosa convivia com atitude debochada. Yeltsin gostava de beber e cometia gafes de todos os tipos. Diante das câmeras de tevê, ele beliscava secretárias. Ironizava a imprensa e fez o presidente dos EUA, Bill Clinton, soltar sonoras gargalhadas numa cena jamais imaginada durante a Guerra Fria.

Saúde

A saúde era outro ponto fraco de Yeltsin. Ele foi parar no hospital várias vezes. E parecia não ter forças para governar.

Ainda assim, com o apoio da comunidade internacional, conseguiu se reeleger. Dias antes da eleição, ele foi internado numa casa de repouso nos subúrbios de Moscou, só apareceu para votar e foi internado em seguida para uma série de exames. A saúde do número 1 do Kremlim era mais grave do que se imaginava e ele sofreu uma operação cardíaca, mas se recuperou e voltou a comandar o país. Mas por pouco tempo.

Para os eleitores, Yeltsin sempre dançou conforme a música. Em um comício durante a campanha da reeleição, ele mostrou ter fôlego para enfrentar todos os tipos de situação, até mesmo dançar rock.

Nos últimos tempos, além dos constantes problemas de saúde, Yeltsin passou a enfrentar o processo de degradação econômica e social do país. A Duma, Câmara dos Deputados russa, pediu o impeachment do presidente. O país foi à bancarrota e teve que recorrer ao fundo monetário internacional várias vezes.

Desacreditado pelas potências que o ajudaram a manter o poder, e constantemente afastado do Kremlin por conta da saúde frágil, Yeltsin acabou dividindo o governo com o ex-chefe da KGB, Yevgueny Primakov.

Em fevereiro de 1999, Yeltsin ignorava os médicos e abandonava o tratamento de uma úlcera para comparecer ao enterro do Rei Hussein, da Jordânia. A idéia era mostrar à comunidade intenacional que estava recuperado. Mas antes do fim do enterro ele foi embora aparentando mal-estar.

O presidente que foi às ruas corajosamente em defesa da democratização da rússia terminou seus dias abatido pelo desânimo de uma missão impossível: devolver a grandeza ao país dos czares.

Yeltsin nasceu em 1º de fevereiro de 1931, em uma família de camponeses, perto da cidade de Yekaterinburgo, nos montes Urais, e se formou engenheiro antes de entrar para a política no Partido Comunista, aos 37 anos.

Em junho de 1991, ele foi eleito o primeiro presidente da Federação Russa e, em agosto do mesmo ano, liderou os democratas a desafiar a junta de generais e burocratas do governo que depuseram Gorbachev em um golpe.

Foi reeleito em 3 de julho 1996. No entanto, desacreditado pela crises financeiras do verão (hemisfério norte) de 1998, Yeltsin renunciou repentinamente antes do fim de seu mandato, no dia 31 de dezembro de 1999.

Estados Unidos

Chamando Yeltsin de "figura histórica", a Casa Branca lamentou a morte do ex-presidente russo e ofereceu suas condolências à viúva.

"Foi uma figura histórica durante um tempo de grandes mudanças e desafios para a Rússia. Nossas condolências vão para a senhora Yeltsin, sua família e o povo da Rússia", disse o porta-voz da Segurança Nacional, Gordon Johndroe.

O último presidente soviético, Mikhail Gorbachev, esteve entre os primeiros a expressar condolências pela morte daquele que foi seu ex-adversário político.

"Dou minhas profundas condolências à família de um homem em cujos ombros repousaram muitas grandes obras para o bem do país e erros sérios: um trágico destino", disse o ex-líder soviético, citado pela agência Interfax.


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