28 de julho de 2007

Diretor da Anac teve despesa paga pela TAM

(Original aqui)

Josef Barat aparece em lista de palestrantes de evento da companhia em Nova York.
Apesar de fiscalizar o setor aéreo, a Anac não considera o acontecimento antiético.

O nome do economista Josef Barat foi aprovado pelo Senado há um ano para ocupar uma diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil. Três dias depois do desastre com o avião da TAM, ele recebeu uma medalha por prestar notórios serviços à Aeronáutica.

No começo de dezembro do ano passado, Josef Barat viajou a Nova York com tudo pago pela TAM, para, segundo a Anac, proferir uma palestra. O tema: "A visão da Anac quanto ao futuro desenvolvimento do setor aéreo e suas questões”.

O que a Anac não disse é que a palestra fazia parte do "TAM Day", como registrado em um convite enviado pela empresa ao mercado. O nome do diretor é um dos destaques do evento – que tinha como objetivo apresentar a empresa a investidores internacionais.

A Anac diz que recebeu o convite da TAM e que decidiu indicar o nome de Barat para participar do evento, e confirmou que as despesas de transporte e hotel foram bancadas pela companhia aérea – que é fiscalizada pela Agência Nacional de Aviação Civil.

Como as despesas foram pagas pela promotora do evento – ou seja, a TAM – a Anac não sabe responder o valor das passagens e das diárias do hotel onde Barat se hospedou.

O 'Jornal da Globo' tentou ouvir Josef Barat, mas a assessoria da Anac informou que, diante das inúmeras demandas e compromissos, o diretor não poderia dar entrevista. A nota diz que Josef Barat não considera que tenha havido falta de ética porque, antes da viagem, a corregedoria da Anac foi consultada e afirmou que o convite não feria princípios da administração pública.

A comissão de Ética do governo informou que poderá analisar a questão na próxima reunião, segunda-feira que vem.

A relação entre a TAM e Barat é antiga. A empresa dele, a Planam Consult, prestou serviços para a companhia aérea em três ocasiões, entre 1990 e 2005.

Defesa da TAM

Em pelo menos um episódio, o diretor Josef Barat defendeu claramente os interesses da TAM.

Na semana que antecedeu o Natal do ano passado a companhia vendeu mais passagens do que podia oferecer. O resultado, o país inteiro assistiu: um dos piores episódios da crise aérea. No dia 29 de dezembro, a Anac informou à imprensa que havia decidido instaurar uma auditoria para “apurar as irregularidades praticadas pela TAM Linhas Aéreas".

Duas semanas depois, Barat fez questão de deixar registrado na ata da reunião da Anac que discordava da decisão da Anac de “realizar uma auditoria em uma empresa aérea, no caso, a TAM, posteriormente aos trabalhos da FTA" – a força-tarefa da Anac, que investigava as causas do apagão aéreo.

Barat disse ainda: "acredito que esta não seja a decisão mais inteligente de lidar com uma crise de tamanha complexidade e amplitude. Isto porque, a rigor, a desejada auditoria deveria ter sido feita, de forma preventiva, anteriormente à eclosão mais aguda da crise".

A viagem de Barat foi discutida pela corregedoria da Anac, que não viu conflito ético. Para a corregedoria: "nesse evento, o representante da Anac poderia contribuir de forma decisiva para o desenvolvimento do país”. Ele também demonstraria que “o Brasil possui uma agência reguladora independente, com o efeito de trazer mais divisas para o Brasil e contribuindo para a geração de empregos”.

Na opinião do cientista político Fernando Abrúcio, a viagem feriu, sim, princípios éticos do serviço público. “Isso é incompatível com o cargo que ele tinha. Ninguém que tem um cargo público pode ser pago pelo setor privado, exatamente na área em que o cargo regula aquele setor – no caso, a aviação”, afirma. “O que o diretor da Anac fez não é ético em relação a administração pública, e deveria merecer a perda do cargo”.


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